O Crocodilo
O produtor de cinema Bruno Bonomo (Silvio Orlando) enfrenta uma terrível crise financeira. Seu casamento também anda mal. Certo dia, recebe um roteiro chamativo da novata cineasta Teresa (Jasmine Trinca), sobre a história de um homem corrupto. Ao analisar o roteiro, descobre ser baseado na trajetória do primeiro-ministro italiano Sílvio Berlusconi. A busca de Bonomo por recursos financeiros para rodar o filme será uma árdua tarefa.
Sempre apreciei o trabalho do diretor Nanni Moretti, ora com seus dramas familiares (o maravilhoso e comovente “O Quarto do Filho”), ora com as comédias em tons biográficos (“Aprile” e “Caro Diário”). Todos eles filmes pessoais e com o próprio Moretti atuando como personagem central. Em “O Crocodilo”, provocou polêmica ao construir um retrato cínico de Sílvio Berlusconi, presidente do Conselho dos ministros da Itália entre 2001 e 2006, e considerado o homem mais rico da Itália e o 15º mais rico do mundo, com fortuna estimada em 20 bilhões de dólares. Empresário do setor de comunicação e proprietário de redes bancárias, foi acusado de corrupção e de ligação com a máfia. Gerou ódio entre os italianos após apoiar a guerra dos EUA contra o Iraque, defender candidatos fascistas e subestimar as civilizações islâmicas. Este é o tal Berlusconi.
Moretti é tão descarado e tão anti-Berlusconi que ele mesmo faz o papel do ator contratado para interpretar o político acusado de corrupção. E cabe a ele atacar seu alvo de todos os jeitos possíveis. Chega ao ponto de colocar cenas reais das gafes do ex-primeiro ministro em sessões públicas do Conselho e mostrar a população tirando sarro dele. Em tom de “crítica camuflada” no gênero comédia, não deixa de ser cruel.
Moretti, assim, utilizou o cinema para uma campanha contra Berlusconi. Nesse aspecto não acho interessante fazer cinema com o intuito de chacotear pessoas, por mais terríveis que elas sejam. Para comprovar minha teoria, vejam a emboscada: o filme foi lançado nos cinemas italianos no início de 2006, semanas antes das eleições gerais no país. Tornou-se sucesso de público e, coincidência ou não, Berlusconi não foi reeleito. O político deve ter tantos desafetos que, em 2006, saiu outro filme retratando sua imagem negativa, “Bye Bye Berlusconi” (e dirigido por um alemão!).
“O Crocodilo” soa interessante, mas nada divertido ou agradável. E tampouco serve para o grande público. Primeiro porque é um filme que fala sobre filme, ou seja, é pura metalinguagem em torno do mundo do cinema (mostra-se, por exemplo, a tarefa dos produtores em captar recursos e juntar elenco). Segundo, para acompanhar o desenvolvimento e entender as infinitas sacadas políticas, é bom conhecer um pouco sobre a história de Berlusconi. Por isso, eu tive de recorrer à internet para saber mais sobre o político, desconhecido entre a maioria dos brasileiros. Obviamente que poucos irão se dar ao trabalho de ir pesquisar antes de ver a fita.
Concorreu a prêmios, como a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2006 (levou prêmio especial de melhor diretor no festival), e venceu seis David di Donatello (o Oscar Italiano), incluindo filme, ator para Sílvio Orlando (fica num meio termo, ele tem cara de enfado e grita demais) e diretor.
Em muitos aspectos, a postura de Berlusconi e as gafes são semelhantes às de George W. Bush. Sobra ao político “fuzilado” o apelido-título da fita, “O Caimão”, o grande lagarto. Poderia resumir como um filme interessante, crítico, com boas sacadas e sem boas intenções. Longe, mas bem longe de ser um grande feito de Nanni Moretti. Por Felipe Brida
Título original: Il Caimano
País/Ano: ITA, 2006
Elenco: Silvio Orlando, Margherita Buy, Jasmine Trinca, Michele Placido, Giuliano Montaldo, Elio de Capitani, Nanni Moretti.
Direção: Nanni Moretti
Gênero: Comédia/ Drama
Duração: 112 min.
O produtor de cinema Bruno Bonomo (Silvio Orlando) enfrenta uma terrível crise financeira. Seu casamento também anda mal. Certo dia, recebe um roteiro chamativo da novata cineasta Teresa (Jasmine Trinca), sobre a história de um homem corrupto. Ao analisar o roteiro, descobre ser baseado na trajetória do primeiro-ministro italiano Sílvio Berlusconi. A busca de Bonomo por recursos financeiros para rodar o filme será uma árdua tarefa.
Sempre apreciei o trabalho do diretor Nanni Moretti, ora com seus dramas familiares (o maravilhoso e comovente “O Quarto do Filho”), ora com as comédias em tons biográficos (“Aprile” e “Caro Diário”). Todos eles filmes pessoais e com o próprio Moretti atuando como personagem central. Em “O Crocodilo”, provocou polêmica ao construir um retrato cínico de Sílvio Berlusconi, presidente do Conselho dos ministros da Itália entre 2001 e 2006, e considerado o homem mais rico da Itália e o 15º mais rico do mundo, com fortuna estimada em 20 bilhões de dólares. Empresário do setor de comunicação e proprietário de redes bancárias, foi acusado de corrupção e de ligação com a máfia. Gerou ódio entre os italianos após apoiar a guerra dos EUA contra o Iraque, defender candidatos fascistas e subestimar as civilizações islâmicas. Este é o tal Berlusconi.
Moretti é tão descarado e tão anti-Berlusconi que ele mesmo faz o papel do ator contratado para interpretar o político acusado de corrupção. E cabe a ele atacar seu alvo de todos os jeitos possíveis. Chega ao ponto de colocar cenas reais das gafes do ex-primeiro ministro em sessões públicas do Conselho e mostrar a população tirando sarro dele. Em tom de “crítica camuflada” no gênero comédia, não deixa de ser cruel.
Moretti, assim, utilizou o cinema para uma campanha contra Berlusconi. Nesse aspecto não acho interessante fazer cinema com o intuito de chacotear pessoas, por mais terríveis que elas sejam. Para comprovar minha teoria, vejam a emboscada: o filme foi lançado nos cinemas italianos no início de 2006, semanas antes das eleições gerais no país. Tornou-se sucesso de público e, coincidência ou não, Berlusconi não foi reeleito. O político deve ter tantos desafetos que, em 2006, saiu outro filme retratando sua imagem negativa, “Bye Bye Berlusconi” (e dirigido por um alemão!).
“O Crocodilo” soa interessante, mas nada divertido ou agradável. E tampouco serve para o grande público. Primeiro porque é um filme que fala sobre filme, ou seja, é pura metalinguagem em torno do mundo do cinema (mostra-se, por exemplo, a tarefa dos produtores em captar recursos e juntar elenco). Segundo, para acompanhar o desenvolvimento e entender as infinitas sacadas políticas, é bom conhecer um pouco sobre a história de Berlusconi. Por isso, eu tive de recorrer à internet para saber mais sobre o político, desconhecido entre a maioria dos brasileiros. Obviamente que poucos irão se dar ao trabalho de ir pesquisar antes de ver a fita.
Concorreu a prêmios, como a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2006 (levou prêmio especial de melhor diretor no festival), e venceu seis David di Donatello (o Oscar Italiano), incluindo filme, ator para Sílvio Orlando (fica num meio termo, ele tem cara de enfado e grita demais) e diretor.
Em muitos aspectos, a postura de Berlusconi e as gafes são semelhantes às de George W. Bush. Sobra ao político “fuzilado” o apelido-título da fita, “O Caimão”, o grande lagarto. Poderia resumir como um filme interessante, crítico, com boas sacadas e sem boas intenções. Longe, mas bem longe de ser um grande feito de Nanni Moretti. Por Felipe Brida
Título original: Il Caimano
País/Ano: ITA, 2006
Elenco: Silvio Orlando, Margherita Buy, Jasmine Trinca, Michele Placido, Giuliano Montaldo, Elio de Capitani, Nanni Moretti.
Direção: Nanni Moretti
Gênero: Comédia/ Drama
Duração: 112 min.
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A Língua das Mariposas Espanha, 1936. Pouco antes de estourar a Guerra Civil, o pequeno Moncho (Manuel Lozano), de apenas oito anos, entra para a escola e conhece novos amigos. O professor, Don Gregorio (Fernando Fernán Gómez), homem idoso e dotado de inigualável sapiência, torna-se um tutor do jovem aprendiz. Mas as agitações políticas começam a dividir o país, e o destino de cada um toma rumos diferentes.
Prestigiado em festivais europeus e norte-americanos, “A Língua das Mariposas” ganhou o Goya (Oscar espanhol) de melhor roteiro adaptado em 2000, além de ter sido indicado a outras 12 categorias na mesma premiação, incluindo melhor filme, melhor diretor e melhor ator principal para Fernán Gómez. Indicações merecidas para uma pequena obra-prima do cinema espanhol, cinema este que a cada ano vai se solidificando no cenário mundial.
Sempre ouvi bons comentários sobre ele, e infelizmente demorei a assistir. Aceitei o convite da querida amiga antropóloga e professora Niminon Suzel Pinheiro, quando estive em sua casa, em São José do Rio Preto, no início do mês, para definirmos as aulas do Cine Clube. E ela ficou espantada quando respondi que ainda não havia visto “A Língua”.
Só tive sensações boas. Uma história bonita, comovente, cheia de ensinamentos. Um menino inexperiente que aprende noções de mundo e de vida com um professor que mais parece seu pai, rígido na conversa e de coração imenso. São personagens fáceis de nos identificarmos. A história permite clara reflexão entre escola e educação.
O desfecho, forte e simbólico, é de deixar o público com um nó na garganta e sufocado. Confesso que me atingiu profundamente, fiquei abalado com toda aquela união de forças em torno do Fascismo, regime autoritário que, a partir de 1939, comanda a Espanha por 34 anos, sob a presidência de Francisco Franco.
Na trilha sonora, músicas do diretor espanhol Alejandro Amenábar (de “Os Outros” e “Mar Adentro”), compostas na medida certa.
Uma fita com interpretações marcantes. O pequeno Alonzo, no papel do aluno, é um encaixe perfeito ao personagem do professor-tutor, interpretado pelo notório Fernán-Gómez (falecido no ano passado). Ambos conseguem transmitir as mensagens que o filme faz transpor. Filme para ser visto e revisto. Por Felipe Brida
Título original: La Lengua de las mariposas
País/Ano: ESP, 1999
Elenco: Fernando Fernán Gómez, Manuel Lozano, Uxía Blanco, Gonzale Uriarte, Aléxis de los Santos, Jesús Castejón, Elena Fernández.
Direção: José Luis Cuerda
Gênero: Drama
Duração: 96 min.
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