sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Cine Lançamento



Cemitério maldito

Os Creed mudam-se para uma casa na zona rural do Maine, próxima a um velho cemitério de animais de estimação, nos arredores de uma floresta. Louis (Jason Clarke), médico e o pai da família, fica sabendo que o local serviu para enterrar indígenas e havia ali uma maldição: tudo o que era sepultado naquelas terras podia ressuscitar, porém com consequências horripilantes. Quando uma tragédia abala os Creed, Louis recorre ao cemitério maldito.

Vivemos a era dos remakes, produzidos em massa pelo cinema americano. É uma forma de a indústria cinematográfica ganhar dinheiro, ressuscitando franquias para contar as mesmas histórias para uma geração nova. A onda existe há um bom tempo, e o bolo cresce cada vez mais. “Cemitério maldito” não podia ficar de fora da lista de refilmagens... Ganhou este ano uma nova versão, três décadas depois do filme original (de 1989), que na época arrepiou o público e fez certo sucesso nos cinemas, tendo uma continuação inferior em 1992. Aliás, várias histórias de Stephen King (sejam romances ou contos) têm espaço de predileção na fila das novas adaptações para o cinema depois de terem virado filmes e séries no passado – recentemente foi o caso de “It: A coisa”, “O nevoeiro”, “Carrie, a estranha” e o já mencionado “Cemitério maldito”.
A refilmagem de “Pet sematary” é boa (não excelente, ainda prefiro o original), continua perturbadora, indigesta, com momentos repulsivos. Incrementaram cenas extras que não existiam no filme de 1989, como o ritual infantil na floresta, inverteram ações dos personagens centrais, com mais violência e sangue (agora explícitos), para satisfazer o público jovem atual. Segundo o próprio escritor Stephen King, que tem “Cemitério maldito” como seu livro mais chocante, o remake ficou melhor que o de 1989. Discordo, apesar de ter gostado bastante (pra mim o filme anterior dá mais medo, o roteiro é mais arquitetado, nos deixa com mais calafrios, tem um final mais horripilante). Como toda refilmagem há altos e baixos. Pontos negativos: não considero Jason Clarke a escolha perfeita para o protagonista, o ator é inexpressivo, e a personagem da esposa mal aparece. Pontos positivos: a garotinha-revelação Jeté Laurence, que rouba as cenas; o veterano John Lithgow tem presença de destaque como o vizinho (antes vivido por Fred Gwynne); criaram um gato Church macabro; os jump scares funcionam e as cenas da floresta e do cemitério têm clima, assustam mesmo, concebidas sob uma direção de arte sombria, como um pesadelo aterrador, bem no gosto dos diretores belgas Kevin Kölsch e Dennis Widmyer, como haviam feito anteriormente em suas produções independentes. Assim sendo, fãs de terror devem conferir (e creio eu que não vão reclamar).

Rodado em Montreal e partes em Chicago, o filme teve uma morna recepção do público; esperava-se mais do que os U$ 57 milhões na estreia (lembrando que o orçamento bateu U$ 21 milhões). Com o passar do tempo pode ser que aconteça o mesmo com o filme de 1989, que vire cult...
Chegou esta semana em DVD pela Paramount. No disco há um final alternativo (menos memorável), sete cenas deletadas/estendidas e quatro sequências especiais com os personagens da história.

Cemitério maldito (Pet sematary). EUA, 2019, 101 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Kevin Kölsch e Dennis Widmyer. Distribuição: Paramount Pictures

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Nota do Blogueiro


Coisa de cinema!
Vejam só os lançamentos em DVD da distribuidora Obras-primas do Cinema, muitos deles em edições especiais para colecionadores.
Para os fãs de terror tem o box "Trilogia Karnstein", com três filmes britânicos baseados nas macabras histórias do escritor Joseph S. LeFanu - Carmilla, a vampira de Karnstein (1970), Luxúria de vampiros (1971) e As filhas de Drácula (1971), além da "Coleção Estúdio Hammer - volume 3", uma caixa contendo seis obras máximas do famoso estúdio inglês especializado em fitas de horror; tem Sangue no sarcófago da múmia (1971), O homem que enganou a morte (1959), O fantasma da ópera (1962), Terror que mata (1955), Patrulha fantasma (1962) e A serpente (1966). 
Quem curte cinema policial antigo há o box "Sherlock Holmes no cinema mudo", com quatro filmes inspirados nas aventuras de Sherlock Holmes; são eles as duas primeiras versões de "Sherlock Holmes" (1916 e 1922) e as duas primeiras versões de "O cão dos Baskervilles" (1914 e 1929). 
Aos vidrados em cinema cult tem o box "Margarethe Von Trotta", com três produções da premiada cineasta alemã: A honra perdida de Katharina Blum (1975), Os anos de chumbo (1981) e Rosa Luxemburgo (1986).
E por fim tem filmes avulsos sendo lançados, como "Narciso negro" (1947), "O destino mudou sua vida" (1980) e "Double dragon" (1994).
Todos os filmes e boxes acompanham cards especiais e extras imperdíveis! Valeu, pessoal da OPC, pelo envio das amostras :)









quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Nota do Blogueiro


"Quando eles chegaram a Paris, Nicole estava cansada demais para ir à grande festa de luzes na Exposição de Artes Decorativas como eles haviam planejado. Eles a deixaram no Hotel Roi George e, enquanto ela desaparecia entre a interseção de planos criados pelas luzes da entrada das portas de vidro, a opressão de Rosemary diminuiu. Nicole era uma força - não necessariamente bem humorada ou previsível, como sua mãe - uma força incalculável. Rosemary tinha um pouco de medo dela.
Às onze horas, ela se sentou com Dick e os Norths em um café que acabara de abrir dentro de um barco no Sena. O rio tremeluzia com luzes vindas das pontes e abrigava muitas luas frias. Aos domingos, às vezes, quando Rosemary e sua mãe haviam vivido em Paris, elas haviam tomado o pequeno barco a vapor até Suresnes e falado a respeito de planos para o futuro".

Trecho de "Suave é a noite" ("Tender is the night"), quarto romance e um dos mais importantes do escritor norte-americano F. Scott Fitzgerald. Publicado pela primeira vez em 1934, ganhou recentemente edição no Brasil em capa dura pela Martin Claret (2019, 478 páginas, tradução e notas de Solange Pinheiro).
Ambientado na Riviera Francesa dos anos 20, narra o relacionamento amoroso entre o psiquiatra Dick e sua paciente Nicole, marcado por angústias, tristezas e tédio. Até que um dia a vida do casal dá uma reviravolta quando surge uma atriz chamada Rosemary, que se apaixona por Dick e é correspondida por ele.
Dividido em três partes, o romance é pautado por temas fundamentais do universo de Fitzgerald, como a ambição, as questões de classe, a decadência do ser humano e o machismo; as passagens novamente envolvem ambientes glamourosos, e o autor escreve um drama com toques de ironia.
"Suave é a noite" ganhou uma versão para cinema, de mesmo título, em 1962 (com  Jennifer Jones e Jason Robards) e uma minissérie em 1985 (com  Peter Strauss, Mary Steenburgen e Sean Young).
Já está disponível nas melhores livrarias!
Obrigado, pessoal da Martin Claret, pelo envio do livro.



sábado, 17 de agosto de 2019

Resenhas Especiais



Primeiro ano

Antoine (Vincent Lacoste) matricula-se pela terceira vez no primeiro ano de faculdade de Medicina em Paris. Fica amigo de Benjamin (William Lebghil), um estudante que saiu direto do Ensino Médio para a universidade, considerado um garoto prodígio. Num ambiente marcado pela competição e por altas horas de estudos, Antoine e Benjamin precisarão abrir mão de velhos hábitos para encarar a longa jornada em busca de conhecimento para se tornar médicos.

Terceira parte da trilogia sobre o mundo da Medicina iniciada em “Hipócrates” (2014), seguida de “Insubstituível” (2016), criada pelo diretor francês Thomas Lilti, que na verdade é um médico, que atua como “médico de família” nas províncias. Nos três filmes de drama ele discute a dedicação incessante do médico, os dilemas da profissão e a ética, em tom leve, contemplativo. Em “Primeiro ano” (2018) trouxe de volta o jovem ator de “Hipócrates”, Vincent Lacoste, que aparece em quase todos os filmes franceses atuais (ele tem 26 anos, começou a carreira aos 16 e já estrelou 35 produções). Agora ele não é mais um residente e sim um estudante que desistiu duas vezes da faculdade de Medicina e resolveu retornar aos estudos. Com problemas de relacionamento, aceitação e foco, torna-se amigo de um rapaz oposto a ele, que gosta de estudar e ensinar os outros (logicamente este também tem suas dificuldades, em outras áreas). Juntos terão de encontrar equilíbrio emocional para não desistirem.
A dupla Vincent Lacoste e William Lebghil compõem o retrato fiel dos adolescentes angustiados no sacrificante mundo da universidade (ainda mais do campo médico, exigente ao extremo). Eles estão bem, alternando emoções, condizem com o papel encenado.


O diretor Thomas Lilti insere em seus roteiros traços biográficos, do que viu e viveu na Medicina. Tem propriedade para discursar sobre o tema, optando pela discrição, sem apelos ou exageros. Em “Primeiro ano” obteve autorização para gravar dentro do Instituto de Medicina da renomada Universidade Paris-Descartes (ou Paris V, do Grupo Sorbonne), legitimando o cenário, as convenções, os personagens, e assim encerra adequadamente a trilogia – ela fez tanto sucesso nos cinemas da França que o cineasta criou uma série para a TV chamada “Hippocrate” (2018), o mesmo título do primeiro filme, uma espécie de “Plantão Médico”, retornando ao dia a dia dos estudantes de Medicina num hospital.

Primeiro ano (Première année). França, 2018, 92 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Thomas Lilti. Distribuição: Focus Filmes


Estás me matando, Susana

Numa manhã Eligio (Gael García Bernal) acorda e percebe que a esposa Susana (Verónica Echegui) desapareceu sem deixar vestígios. Desesperado, procura pistas com amigos, sem sucesso. Ao desconfiar que ela viajou para Iowa, nos Estados Unidos, parte da Cidade do México, onde moravam, em busca da mulher. Nessa ampla jornada Eligio ficará frente a frente com seus velhos demônios.

Comédia dramática coproduzida entre Estados Unidos, Canadá e México, com diálogos a mil, de narrativa lenta e com ar cult, estrelada pelo ator mais popular do México, Gael García Bernal (já ganhador do Globo de Ouro, de prêmios especiais em Cannes, Veneza etc). Ele é a alma do filme, bem fotografado nos variados planos abertos e fechados – o ator usufrui ampla carreira internacional, inclusive virá ao Brasil em outubro para a abertura da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, onde lançará junto com Wagner Moura o thriller “Wasp network” (2019).
“Estás me matando, Susana” retrata a jornada interminável de um homem carente na tentativa de reconciliação com a esposa, que o deixou sem motivo aparente. Com diálogos sinceros, uns bem doloridos, tem uma ou outra reviravolta marcante, sempre em torno do protagonista Eligio, prestes a enlouquecer. “Se amas, deixa-a livre. Se ela não voltar, vá atrás” é a tagline do pôster, que ajuda a compreender as idas e vindas do casal em crise, quando tudo parece já ter chegado ao fim.


Trabalho autoral do mexicano Roberto Sneider, produtor de “Frida” (2002) e diretor de “Arranca-me a vida” (2008), com roteiro e produção dele, baseado no romance “Ciudades desiertas” (1982), de José Agustín.
Vale pelo trabalho do ator principal e pela bonita fotografia, com locações na neve (o filme se passa nos Estados Unidos, mas foi gravado no inverno do Canadá). Para público específico, acostumado a um tipo de cinema mais dialogado, reflexivo, com pouca ação. Em DVD pela Focus.

Estás me matando, Susana (Me estás matando Susana). México/EUA/Canadá, 2016, 100 minutos. Comédia dramática. Colorido. Dirigido por Roberto Sneider. Distribuição: Focus Filmes

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Resenha Especial



Boris Godunov

Pouco tempo depois de assumir o trono do Império Russo, o czar Boris Godunov (Sergey Bondarchuk) descobre uma trama que poderá colocar fim ao seu governo; um impostor surge apoiado pelos camponeses afirmando ser o filho morto de Ivan, o Terrível, herdeiro do trono que Godunov ocupa. Das terras rurais congeladas rumo a Moscou a população se ergue dando início a uma série de conflitos armados nessa disputa pelo poder.

Houveram muitos filmes soviéticos que contavam a vida do czar Boris Feodorovich Godunov (1551-1605), desde óperas a minisséries, mas nenhuma versão chegou perto desse épico sombrio dirigido por Sergey Bondarchuk, que também interpreta a figura central e ainda escreveu o roteiro, baseado na peça de teatro de Aleksandr Pushkin (um dos maiores poetas do Romantismo Russo). A história de ambição e política funciona bem, tudo se encaixa nessa biografia que remonta os sete anos do czarismo de Godunov, de 1598 até sua morte, em 1605. Um período curto, marcado por truques, dilemas, traições e violência, quando a Rússia se fortalecia como império. Godunov reinou brevemente com apoio dos boiardos (a aristocracia da época). Aos poucos viu os aliados minguarem deixando-o cada vez mais solitário e apreensivo. Um grande número deles passou a acreditar que Godunov havia envenenado o czar anterior, Dimitry, filho de Ivan, o Terrível, para obter a coroa real. Assombrado pelos boatos, Godunov viu seu derradeiro fim, quando um impostor que alegava ser o verdadeiro Dimitry surgiu com respaldo de camponeses insatisfeitos reivindicando por meio de revoltas o poder que lhe pertencia.


O roteiro funcional e direto, com traços das tragédias shakespearianas, encaixa-se como uma luva na trilha sonora brilhante de Vyacheslav Ovchinnikov, falecido este ano, o compositor de “Andrei Rublev” (1966). Utilizaram bem a fotografia de Vadim Yusov, de “Solaris” (1972), recorrendo a uma direção de arte nota 10, de Ilya Amursky, o mesmo de “Sibéria” (1998).
Versátil, Sergey Bondarchuk (1920-1994) era um homem múltiplo na Sétima Arte; atuava, escrevia roteiros e dirigia. É dele “O destino de um homem” (1959) e o longo épico ganhador do Oscar de filme estrangeiro “Guerra e paz” (1966). Foi casado duas vezes, com duas atrizes, primeiro com Inna Makarova (com quem teve uma filha atriz, Natalya Bondarchuk), depois com Irina Skobtseva, e até hoje ocupa forte posição como um dos maiores cineastas russos de todos os tempos. “Boris Godunov” foi o último trabalho dele como diretor e comprova nitidamente o talento do realizador – o filme recebeu indicação à Palma de Ouro em Cannes em 1986.
Ganhou este mês uma excelente edição no Brasil, pela primeira vez lançado em DVD. Saiu pela CPC-Umes Filmes, na série “Cinema Soviético”, em cópia restaurada.

Boris Godunov (Idem). URSS/ Tchecoslováquia/ Polônia/ Alemanha, 1986, 138 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Sergey Bondarchuk. Distribuição: CPC-Umes Filmes

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Cine Lançamento


Normandia nua

Os agricultores de uma pequena aldeia da Normandia são afetados pela crise econômica que se alastra pela Europa. O empenhado prefeito Georges Balbuzard (François Cluzet) procura todos os meios para ajudar seu povoado, como organizar greves e fechar as principais vias de acesso da cidadezinha. Paralelamente um renomado fotógrafo conceitual que trabalha com modelos nus viaja pela região, despertando a ideia do prefeito de mobilizar os habitantes para posarem para o artista, como forma de protesto. Resta saber se os homens e as mulheres do povoado aceitarão ficar pelados diante das lentes fotográficas.

Deliciei-me no final de semana com essa carismática comédia francesa repleta de críticas sociais, a bem da verdade uma sátira inteligente às convenções, leis e à política, feita com bom humor e inspiração. Foi escrita e dirigida por Philippe Le Guay, realizador das caprichadas comédias “As mulheres do sexto andar” (2010), “Pedalando com Molière” (2013) e “A viagem de meu pai” (2015), todas disponíveis no Brasil.
Passa-se na minúscula Le Mêle-sur-Sarthe, uma pacata comuna rural na Normandia, cuja população é de 710 habitantes (o filme foi realmente rodado lá, com todos os detalhes das casas, campos, ruas etc), e aborda uma história pitoresca: um prefeito, conhecido como defensor das causas da população, está em ponto de bala por causa de uma crise econômica nunca antes vista. Sem saída, ele faz um estranho apelo ao seu povo, como reinvindicação de melhores condições de trabalho para eles: que fiquem nus no campo para posarem de modelos para um fotógrafo famoso. A notícia gera dúvida, incômodo, risos, piadas. O tempo é curto para eles decidirem...


À frente do elenco composto basicamente por atores franceses (muitos homens, poucas mulheres) encontra-se François Cluzet, um dos maiores destaques do cinema da França, no papel do prefeito cheio de dignidade, que segura o restante dos personagens; Cluzet tem 63 anos, já ganhou o César, ficou famoso por “Intocáveis” (2011) e participou de 80 produções desde a década de 80. Ele brilha em mais uma obra representante da boa safra de comédias do cinema francês atual. E que felizmente chega ao Brasil por causa de seus inúmeros adeptos.

Normandia nua (Normandie nue). França, 2018, 109 minutos. Comédia/Drama. Colorido. Dirigido por Philippe Le Guay. Distribuição: Flashstar

sábado, 10 de agosto de 2019

Resenhas Especiais


Dica para o fim de semana: quatro filmes produzidos e estrelados por Seth Rogen (três comédias malucas e uma animação para adultos).


Vizinhos

Casados e com um bebê pequeno, Mac (Seth Rogen) e Kelly (Rose Byrne) têm como novos vizinhos um grupo de universitários baderneiros, liderado por Teddy (Zac Efron), que fazem festas até altas horas da noite com o som no último volume. Não suportando mais os abusos, o casal cria uma série de armadilhas e situações inusitadas para expulsá-los do bairro, o que dá início a uma guerra interminável.

Seth Rogen (também produtor) e Rose Byrne numa química excepcional dão o ar da graça nessa comédia escrachada de gigantesca bilheteria (fechou com U$ 270 milhões no mundo todo, e olha que custou pouco, somente U$ 18 milhões, o que rapidamente fizeram com que os produtores bolassem a continuação, lançada dois anos depois). A dupla interpreta um casal que vivia feliz no pacato bairro até a chegada dos novos vizinhos, um bando de universitários bagunceiros que dá festas a todo vapor até de madrugada. A paz de Mac e Kelly é ameaçada, eles tentam um acordo amigável, sem sucesso, então partem para a guerra.
Prepare-se para piadas insanas com vômitos e sexo, algumas politicamente incorretas com drogas e bebedeira, além de brincadeiras com camisinha e trotes acadêmicos.
O astro Zac Efron e o ator Dave Franco, irmão mais novo de James Franco, ajudam no time dos antagonistas dessa comédia passageira, com várias referências ao cinema (como “Taxi driver”), e voltada aos teenagers  - felizmente tem uma crítica aos universitários sem limites que perturbam o sossego dos vizinhos em suas repúblicas agitadas – eu mesmo já fui vítima de um grupo numa ocasião no passado. Haja paciência!
O diretor Nicholas Stoller realizou comédias do mesmo naipe, como “Ressaca de amor” (2008), e a continuação, “Vizinhos 2” (2016, que não fez tanto sucesso como este, traz o mesmo elenco, repete as piadas, e no final diverte).

Vizinhos (Neighbors). EUA, 2014, 96 min. Comédia. Colorido. Dirigido por Nicholas Stoller. Distribuição: Universal Pictures


Vizinhos 2

Mac (Seth Rogen) e Kelly (Rose Byrne) vivem uma fase tranquila de suas vidas: não têm mais os vizinhos barulhentos dos anos anteriores, pretendem se mudar para um condomínio nobre em breve e esperam um novo bebê. A calmaria chega ao fim quando são informados que a casa vizinha voltará a ser uma república de jovens, desta vez para uma fraternidade feminina, liderada por Shelby (Chloë Grace Moretz). As garotas também curtem festas até a madrugada, gerando uma nova guerra contra o casal.

Ainda mais absurdo e caótico que o primeiro filme, lançado dois anos antes, em 2014, a continuação “Vizinhos 2” traz o elenco de volta, os produtores e o diretor, retomando as piadas, num humor malcriado, bizarro e cheio de palavrões, que beira a insanidade. Tem absorventes sujos voando de um lado para o outro, zoeiras com sexo e genitais, e por aí vai, bem ao gosto dos adolescentes americanos. Não fez tanto sucesso como o anterior, mas ainda diverte o público que esteja pronto para esse tipo de comédia pastelão contemporânea.
Seth Rogen e Rose Byrne repetem a dose como o casal amoroso, agora com um novo bebê a caminho. Eles tentam vender a antiga casa deles, que está em caução, e na república ao lado, antes composta por meninos, entra em jogo um time de garotas, dentre elas Chloë Grace Moretz no papel da líder da fraternidade Kappa Nu. Elas parecem boazinhas e calmas, no entanto são um inferno, farão festas barulhentas até piores que os garotos do filme 1. E assim uma nova guerra será travada com o casal vizinho que só quer paz.
Quem curtiu o primeiro vai se encontrar nesse capítulo, dirigido novamente por Nicholas Stoller e produzida por Rogen. Aparecem de quebra dois atores de destaque do anterior, Zac Efron e Dave Franco (com uma novidade bem interessante).

Vizinhos 2 (Neighbors 2: Sorority rising). EUA/China, 2016, 92 min. Comédia. Colorido. Dirigido por Nicholas Stoller. Distribuição: Universal Pictures


É o fim

Os atores Seth Rogen e Jay Baruchel vão a uma festa badalada na casa do astro James Franco, em Los Angeles. Lá encontram outros velhos parceiros de cinema, como Jonah Hill, Craig Robinson, Emma Watson e Michael Cera. Bebem, dançam, jogam conversa fora até que um terremoto anuncia o Dia do Julgamento Final. A terra se abre e desperta forças do inferno para a cidade. Os poucos amigos sobreviventes se escondem na casa de Franco, que é uma fortaleza com muros altos, enquanto o apocalipse toma conta do mundo.

Comédia nonsense e histérica produzida, escrita e dirigida pela dupla Seth Rogen e Evan Goldberg, e que no ano seguinte fariam outra comédia, só que com apelo político, “A entrevista” (2014). A ideia central de “É o fim” (2013) foi reinventada a partir do curta-metragem “Jay and Seth vs. The Apocalypse” (2007), sobre os amigos Jay Baruchel e Seth Rogen presos num apartamento durante o fim do mundo. Agora, no longa, a brincadeira entre velhos colegas de cena retorna com muito mais absurdos, destruição, sangue jorrando e criaturas demoníacas. É um “inside joke” bem bacana, com zoeira entre eles, relacionado a bastidores dos filmes que participaram juntos nos últimos 10 anos. Irá funcionar melhor se você conhecer as referências. Por exemplo, há menção a “Superbad: É hoje” (2007), “O besouro verde” (2011) e “Segurando as pontas” (2008).
Seth Rogen e Jay Baruchel fazem eles mesmos numa autocrítica danada e várias trolagens, mostrando uma versão de cada um fora do cinema. Não só eles como o elenco inteiro brinca e se diverte, todos à vontade, como se estivessem numa festa em casa. Dentre os nomes do elenco estão os amigos íntimos James Franco, Jonah Hill, Danny McBride, Michael Cera, Emma Watson e Christopher Mintz-Plasse, além de Paul Rudd, Jason Segel, Kevin Hart, Aziz Ansari, Channing Tatum, a cantora Rihanna e Craig Robinson (ufa, são tantos!). E boa parte abriu mão do cachê!
Praticamente a história inteira se passa na verdadeira casa do ator James Franco. Isolados por conta do apocalipse os atores precisam encontrar soluções para se salvar de estranhos e macabros acontecimentos – a primeira meia hora do filme é realista, depois a comédia vira do avesso, fala do Julgamento Final, com aparição do Satanás abrindo as portas do inferno para cumprir o livro do Apocalipse; por isso, da metade pro fim o tom realista se transforma numa farsa sem tamanho, com humor negro, caos e muita bizarrice. Tem inclusive paródias a clássicos do cinema, como o terror “O exorcista”!
Acaba sendo um filme-catástrofe inserido numa comédia anárquica e metalinguística, para quem curte entretenimento sem pensar demais. Nos Estados o filme pegou entre os jovens e fãs dos atores; rendeu quatro vezes o custo da produção (que havia sido de U$ 32 milhões).

É o fim (This is the end). EUA, 2013, 105 min. Comédia. Colorido. Dirigido por Evan Goldberg e Seth Rogen. Distribuição: Sony Pictures


Festa da salsicha

Uma salsicha lidera um grupo de alimentos num supermercado para descobrir o que acontece quando eles saem das prateleiras, compradas pelos fregueses. O caminho será marcado por uma série de aventuras aterrorizantes, com direito a refogados, cozimento, apetites violentos e fugas bizarras.

Outra brincadeira entre amigos de velha data, Seth Rogen, Jonah Hill e Evan Goldberg, que escreveram juntos mais uma fita nonsense e maluca, agora uma animação em computação gráfica para adultos. Aliás, cuidado... Siga o conselho do pôster do filme, “essa não é uma animação para crianças”. É sério, tudo gira em torno de piadas infames e atrevidas de sexo, com palavrões desmedidos, a começar pela salsicha (símbolo fálico) apaixonada por um pão de hot dog feminino e erotizado, que quer a todo custo entrar nela! Essa é uma das tantas sacanagens surgidas no roteiro, e não se iluda, haverá uma tonelada delas durante o filme – por isso recebeu classificação indicativa de 16 anos tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil.
Obviamente é muito original, causa espanto pelo teor de besteiras por ser um desenho animado, lotado de humor negro e violência (a sequência do esquartejamento das salsichas e dos legumes na cozinha é uma delícia à parte, e pode chocar as crianças que entrarem na sala sem querer).
Rogen e seu colegiado dão o tom para as engraçadas vozes dos personagens, que gritam, esperneiam, transam, mas também correm dos humanos famintos! Tem no elenco Michael Cera, Jonah Hill, James Franco, Danny McBride, Craig Robinson e Paul Rudd, além de Kristen Wiig, Salma Hayek e Edward Norton. Dá para imaginar onde isto vai chegar?
Eu achei divertido, ri bastante e recomendo, até porque animação com um quê pornográfico é meio raro - engraçado é ver o diretor de desenhos bem infantis Greg Tiernan, do trenzinho “Thomas e sua turma”, se jogar numa fita ousada igual essa. Co-dirige com ele o ator Conrad Vernon, também diretor de animações, como “Shrek 2” (2004) e “Madagascar 3: Os procurados” (2012).
Custou pouco para os padrões americanos (U$19 milhões) e fez sucesso nos Estados Unidos, rendendo U$ 140 milhões. Volto a frisar, assista longe dos pequenos. E se prepare para altas risadas!

Festa da salsicha (Sausage party). EUA, 2016, 89 minutos. Animação. Colorido. Dirigido por Greg Tiernan e Conrad Vernon. Distribuição: Sony Pictures

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Resenha Especial



Escape room

Seis desconhecidos recebem um estranho convite para um reality show diferente, que dará no final um prêmio de U$ 10 mil dólares ao ganhador. Mas o misterioso jogo chamado “Escape Room” custará a vida de cada participante.

Com elementos dos filmes de terror “Jogos mortais”, “Jogos vorazes” e “1408”, “Escape room” é um passatempo teen eletrizante com caçadas humanas e disputa pela sobrevivência, envolvendo um grupo de pessoas trancadas em ambientes que se modificam, cheios de armadilhas perigosas. Os personagens (são seis, entre jovens e adultos) são convidados para um escape room imersivo onde as salas são verdadeiros labirintos mutáveis; eles correm contra o tempo para encontrar pistas a fim de resolver quebra-cabeças lançados, e se não acharem logo poderão morrer.
É bem difícil classificar o gênero desse tipo de produção; é ação, aventura, suspense, ficção científica e terror ao mesmo tempo, numa mistura interessante, com momentos assustadores (sem contar a angústia que passamos diante da TV!).
Os atores se entrosam bem em cena, e são pouco conhecidos do grande público. Tem a protagonista Taylor Russell (do seriado “Perdidos no espaço”), Logan Miller (dos filmes “Como sobreviver a um ataque zumbi” e “Com amor, Simon”), Jay Ellis (da série “Insecure”), Nik Dodani (da série do Netflix “Atypical”) e outros.


Torna-se o melhor trabalho do norte-americano Adam Robitel, diretor de “A possessão de Deborah Logan” (2014) e “Sobrenatural: A última chave” (2018), que investe a carreira no cinema de terror independente. “Escape room” é outra de suas produções modestas, custou U$ 9 milhões, tem boa finalização técnica, como os efeitos visuais impactantes, e uma história envolvente. E de forma inesperada surpreendeu nas bilheterias – fechou os três meses da estreia pelo mundo com U$ 155 milhões (ou seja, 18 vezes o orçamento!). O sucesso não poderia dar outro destino ao filme: haverá uma continuação prevista para agosto de 2020, com o mesmo diretor de volta com o roteirista Bragi F. Schut, de “Caça às bruxas” (2011); Schut escreveu junto com Maria Melnik, das séries “American Gods” e “Counterpart”.

Escape room (Idem). EUA/África do Sul, 2019, 99 minutos. Ação/Suspense. Colorido. Dirigido por Adam Robitel. Distribuição: Sony Pictures

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Resenha Especial



Stonewall – Onde o Orgulho começou

* Resenha escrita a quatro mãos, pelo jornalista, crítico de cinema e professor de Comunicação e Artes Felipe Brida, e pelo ator, professor de teatro no Senac Catanduva e membro do Conselho Municipal dos Direitos LGBT de Catanduva Thales Maniezzo

O jovem Danny (Jeremy Irvine) é expulso de casa pelo pai conservador, pelo fato de ser gay. Sem lugar para morar, muda-se para Nova York e é acolhido por um grupo de travestis (gays afeminados) e garotos de programa. Pouco tempo depois estoura a Rebelião de Stonewall, em 1969, o primeiro grande movimento em prol dos direitos LGBTQIA+, o chamado, até então, Orgulho Gay.

Infelizmente fracassou nas bilheterias esse bom drama baseado em fatos verídicos, um feito pessoal do cineasta alemão Roland Emmerich, cuja filmografia ficou calcada em blockbusters de ficção científica repleta de desastres e efeitos visuais absurdos, como “Independence Day” (1996), “Godzilla” (1998) e “2012” (2009). Ele fugiu do seu tradicional cinemão para prestar uma homenagem à luta do público LGBTQIA+ em busca da igualdade de direitos. Emmerich foi lá atrás, em 1969 (há exatos 50 anos, comemorado no dia 28 de junho), para traçar a história do lendário bar do Greenwich Village de Nova York Stonewall, onde tudo começou. Um local frequentado por gays, gerenciado pela máfia nova-iorquina, que virou palco de uma revolta violenta em 28 de junho de 1969, que mudaria para sempre o curso da História. Na época, os gays eram proibidos de trabalhar, viviam em completo abandono social; cansados de serem achincalhados em batidas policiais no bar Stonewall (além de apanhar e até sofrer abusos), resistiram nas ruas por três dias quando a tropa de choque cercou o local. A polícia foi expulsa, e a partir daí ganhava corpo o Gay Power, uma revolução que ao longo dos anos alcançou o mundo inteiro.

Emmerich fez um filme histórico e com ponto de partida real, mesmo utilizando boa parte de personagens ficcionais (alguns existiram, nos letreiros finais mostra quem é quem e como a trajetória deles terminou). De forma humana, mostra uma sociedade doente, que reprimia gays e lésbicas (e ainda reprime), uma polícia autoritária que espancava os homossexuais (e matavam, desovando os corpos em rios e áreas abandonadas, como cita nos diálogos), ou seja, pessoas movidas pelo ódio contra gente que apenas tinha relação com outros do mesmo sexo.
Os clichês e as poucas cenas ousadas (o que poderiam ter investido mais) não deixam o filme mais pobre, como muita gente criticou. Que bom que existe esse filme para discutir o tema!
Rodado no Canadá, tem boa ambientação e parte técnica adequada. A própria comunidade gay americana não gostou com reações negativas ao protagonista branco e bonito e ao diretor Roland Emmerich; diziam que ele era hétero, que não conhecia outro cinema exceto o de ficção científica – mas logo depois ele se declarou gay e um ativista do movimento. Filme gera opinião, então não dá para agradar todos...
Destaque para o trabalho do elenco, como o protagonista Jeremy Irvine (revelado em “Cavalo de guerra”) e Jonny Beauchamp (como Ramona), além dos já conhecidos Jonathan Rhys Meyers (num papel fantástico), Matt Craven e Ron Perlman.
Há outras versões para cinema sobre a Rebelião de Stonewall (de filmes, séries e documentários), mas este, até agora, mesmo não sendo uma maravilha da Sétima Arte, é o que melhor explica sobre as origens dos movimentos do Orgulho Gay e da força LGBT, de extrema importância para as novas gerações.

“Conga: Se eu não tivesse pego, nada seria meu”

O que mais teremos que pegar? Qual o preço que você paga para poder existir?
Triste pensar que o caminho entreaberto que nós LGBTQIA+ temos hoje foi conquistado através de muita luta, resistência e sangue derramado. Quem abriu esse caminho, e merecia mais protagonismo no filme “Stonewall” (2015), eram os coadjuvantes como Marsha P. Johnson e Ray - as pessoas trans, drags e gay afeminados sempre foram os primeiros a darem a cara à tapa na luta pelos direitos LGBTQIA+. A grande polêmica desse filme se dá pelo fato de Danny ser branco, um típico menino do interior e pintá-lo como herói, principalmente na cena em que ele atira o tijolo na janela do bar Stonewall iniciando o motim contra os policiais; talvez tenha sido o maior tiro no pé do diretor, tornando o filme datado para essa produção que, mesmo tendo apelo comercial com um protagonista galã e branco, abre margem para uma questão: Será que héteros o assistirão pela temática? E os LGBTQIA+ se sentirão completamente representados?


Se por um lado temos esse protagonismo questionável, nós temos a reafirmação (mesmo de forma branda) que os precursores do movimento e da ocupação daquele espaço (da rua e do bar) eram os afeminados.
A sociedade tendo como herança um modelo patriarcal e com um machismo estrutural impregnado ainda coloca a mulher ou quem fizer referência às características do “dito feminino” como inferior. O filme ignora esse fato trazendo esse protagonismo masculino focado no mundo Gay, e deixando todas as outras siglas L_BTQIA+ meio como pano de fundo, mas o filme não nega a história e traz à luz o que, de certa forma, ainda acontece na sociedade: a aceitação maior do homem Gay, apenas pelo fato dele pertencer ao gênero masculino.
Se ainda acreditarmos que rosa é de menina e azul é de menino, continuarmos atribuindo gênero às cores, tecidos, brinquedos, roupas e comportamento, talvez o filme não seja de todo mal, talvez seja uma forma didática necessária e até contundente de dizer o que pra nós LGBTQIA+ já seja óbvio, mas que pros héteros ou menino gay do interior talvez não seja: o lugar que cada um ocupa na sua escala de privilégio e como a história se deu e se repete.
E para aqueles que acreditam que seja incoerente colocarmos nomes e mais letras à sigla que começou como GLS (gays, lésbicas e simpatizantes) já que lutamos tantos por igualdade e não deveríamos “segregar” a nós mesmos em siglas ou nomenclaturas, um recado: isso só é feito para que você, hétero, entenda que existem pessoas diferentes de você. E que a todo mundo deveria ter representatividade, voz e os mesmos direitos que vocês usufruem, nem que para isso tenhamos que pegar algo que deveria já ser nosso tacando um tijolo na janela da heteronormatividade.

Stonewall – Onde o Orgulho começou (Stonewall). EUA, 2015, 129 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Roland Emmerich. Distribuição: Flashstar

domingo, 4 de agosto de 2019

Resenhas Especiais



Histórias de amor que não pertencem a este mundo

Os professores Claudia (Lucia Mascino) e Flavio (Thomas Trabacchi) ficaram juntos por muitos anos, um casal muito apaixonado aos olhos dos outros. Agora veem o relacionamento chegar ao fim, então cada um segue seu caminho. Claudia tem dificuldade em recomeçar sua vida aos 50 anos, pois ainda nutre um sentimento por Flavio. Ao passar dos dias adquire coragem para conhecer novas pessoas e até fazer coisas que nunca imaginou.

Romance italiano de primeira classe, esse filme com título longo concorreu ao Golden Globe da Itália e ao principal prêmio no importante Festival de Locarno. Lançado em 2017, chegou aos cinemas brasileiros com pouca repercussão no final do mesmo ano, e agora pode ser assistido em DVD, pela Mares.
Destinado ao público romântico, tem um humor brando, é bonitinho e descompromissado, com algumas cenas ousadas de sexo para dar uma apimentada (inclusive uma gay). A história corre em dois tempos, passado e presente, alternando situações reais e imaginações da personagem principal, Lucia, para tratar de um tema pouco explorado no cinema, o amor entre duas pessoas de meia idade. No filme o relacionamento do casal de professores chega ao fim, e cada um é obrigado a recomeçar mesmo quando tudo parece não ter mais sentido. No longo caminho pela frente haverá para ambos aventuras amorosas diferentes e reflexões acerca da qualidade de vida que levam, para que o bem estar se equilibre diante da perda do companheiro de longa data.


Traz uma ótima atuação da atriz Lucia Mascino (que fez poucos filmes), bem dirigida pela cineasta italiana Francesca Comencini, que escreveu o roteiro a partir de um livro seu de mesmo nome, de 2013 – ela dirigiu quatro longas, alguns documentários e ficou conhecida pela série “Gomorra”, de 2014. Francesca vem de uma família dedicada ao cinema: é filha do famoso diretor italiano Luigi Comencini, já falecido (de “Pão, amor e fantasia”, “Pecado à italiana”, dentre outros), irmã da cineasta Cristina Comencini (de “O mais belo dia da minha vida” e “Segredos do coração”) e tem ainda duas irmãs que trabalham como diretoras de produção (Eleonora e Paola).

Histórias de amor que não pertencem a este mundo (Amori che non sanno stare al mondo). Itália, 2017, 91 minutos. Romance. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Francesca Comencini. Distribuição: Mares Filmes


O resgate de uma vida

Willie (Thomas Haden Church) é um mendigo que vive nas perigosas ruas de Los Angeles. À procura de comida no lixo encontra o diário de uma garotinha, tornando-o seu companheiro de leitura todas as noites. Um dia recebe a proposta de ganhar dinheiro em lutas clandestinas mantidas por jovens ricos, fazendo com que Willie entre com tudo nesse submundo da violência.

Dois atores indicados ao Oscar, Thomas Haden Church (correto como o protagonista) e Terrence Howard (numa participação rápida) dão o destaque para esse pequeno drama independente filmado nas ruas de Los Angeles, sobre um homem buscando salvação no mundo cão da indigência.
Haden Church tem uma carreira de altos e baixos, ultimamente é pouco visto no cinema, e aqui está num de seus melhores dias como o morador de rua Willie, um cara gentil, sem perspectivas, arruinado moralmente. Observador, conhece na palma da mão os perigos da marginalidade. Dorme numa caixa de papelão e revira as latas de lixo em busca de comida até encontrar um diário, de uma garotinha solitária, e passa a “dialogar” com a menina. E também se envolve em lutas clandestinas pagas por riquinhos da cidade; por ter um punho certeiro, recebe o apelido de “Boxeador da Caixa de Papelão” (título original do filme, “Cardboard Boxer”). A violência nesse circuito é grande, muitos sofrem sequelas e outros morrem. Qual será o destino de Willie?


É uma fita dramática curiosa, com um final ambíguo e emocionante, mal ficou conhecida do público. É o primeiro filme do roteirista de “O sequestro” (2017) e de “Os novos mutantes” (que estreia em 2020), Knate Lee. Disponível em DVD pela Focus Filmes, do grupo A2 Filmes.

O resgate de uma vida (Cardboard boxer). EUA, 2016, 88 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Knate Lee. Distribuição: Focus Filmes

sábado, 3 de agosto de 2019

Resenhas Especiais



A garota na névoa

O investigador Vogel (Toni Servillo) dá início a uma incessante busca por uma garota de 16 anos desaparecida nos Alpes italianos.

Fez grande sucesso nos cinemas da Itália esse thriller de investigação baseado no best seller de mesmo título do escritor e jornalista Donato Carrisi, que adaptou o roteiro para cinema e ainda por cima dirigiu (é a estreia dele como diretor). Ocupou várias funções para fidelizar ao extremo o argumento criado por ele.
O trunfo consiste no enredo engenhoso sob forte clima de tensão, que segura o público até os segundos finais, num desfecho surpreendente. Deve-se prestar atenção nos diálogos cheio de pistas e nos detalhes das ações dos personagens para que se compreenda melhor o final.
Tudo gira ao redor de uma jovem que some quando sai de casa, num dia de muita névoa, na cidade montanhosa de Avechot, cravada nos Alpes congelados. Um detetive com métodos nada convencionais é convocado para decifrar o enigma, passando a interrogar uma série de pessoas da comunidade. Ele vasculha por pistas, percebe fatos obscuros por trás do sumiço até que um suspeito é preso despertando o frisson da mídia.


Quem se destaca é o ator Toni Servillo, como o detetive solitário em busca de respostas para o difícil caso de desaparecimento; ele é um dos atores italianos mais famosos da atualidade, trabalhou em vários filmes de Paolo Sorrentino, como “Um homem a mais” (2001), “As consequências do amor” (2004), “A grande beleza” (2013) e do novo “Loro” (2018) – também se destacou em “Gomorra” (2008), “Viva a liberdade” (2013) e “As confissões” (2016). Ele é 100% do filme, aparecem pouquíssimos coadjuvantes, dentre eles Jean Reno, como o psiquiatra do protagonista, e a atriz Greta Scacchi, no papel de uma jornalista na cadeira de rodas. Curiosidade legal: em duas cenas toca a música “Dança da solidão”, na voz de Beth Carvalho!
Se você curte suspense com final surpresa irá aprovar “A garota na névoa”. A fita ganhou o David di Donatello de melhor direção e concorreu a três prêmios lá (roteiro, design de produção e edição) – é a premiação de cinema mais importante da Itália, entregue pela Academia de Cinema do país e considerado o “Oscar italiano”.

A garota na névoa (La ragazza nella nebbia). Itália/Alemanha/França, 2017, 128 minutos. Suspense. Colorido. Dirigido por Donato Carrisi. Distribuição: Focus Filmes



Em busca da liberdade

Primeiro medalhista de ouro da China e também um dos maiores nomes da corrida da Escócia, o atleta Eric Liddell (Joseph Fiennes) regressa às pressas a Tianjin, sua cidade natal, localizada na China, ocupada pelos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial. Ele é preso e levado para o campo de concentração, iniciando sua derradeira jornada espiritual.

Delicado (e pouco visto) drama independente baseado na biografia do atleta medalhista de Ouro Eric Liddell (1902-1945), com Joseph Fiennes, lembrado pelo público por “Shakespeare apaixonado” (1998) e “Círculo de fogo” (2001), que interpreta com seriedade e realismo o papel do protagonista torturado no campo de concentração, numa história comovente que fala ao coração, sobre fé, sobre a monstruosidade da guerra e de como o esporte pode implodir os obstáculos da vida.
Descendente de escoceses, mas nascido e radicado na China, Eric Liddell era filho de um reverendo, que voltou ao Reino Unido para estudar Ciências na Universidade de Edimburgo. No ambiente acadêmico envolveu-se com o esporte representando a faculdade em competições de atletismo até ser convocado para os Jogos Olímpicos de 1924, em Paris (um fato que o marcou para sempre e ficou mundialmente conhecido foi sua recusa em correr num dos dias por ser domingo, data reservada para honrar a Deus) – todos esses fatos estão registrados no filme “Carruagens de fogo”, de 1981, que ganhou quatro Oscars, como o de melhor filme. “Em busca da liberdade” trata de outro momento da vida do personagem, posterior à juventude destinada ao esporte, de quando retornou à China para atuar como missionário, causa que seus pais também se dedicaram. O filme é dramático, triste e foca na guerra, de quando Liddell foi preso pelos japoneses e conduzido à força ao campo de concentração onde viu de perto os horrores e atrocidades do ser humano. Mesmo assim não perdeu a humanidade; com fé e esperança tentou se salvar e ajudar vítimas como ele.


Rodado na verdadeira Tianjin, cidade portuária da China, o drama estreou em 2016 e foi escrito e dirigido pelo cineasta de Hong Kong Stephen Shin, produtor de cinema de ação dos anos 80 e 90, de filmes como “Perseguição explosiva” (1989), “Porto da morte” (1991) e do indicado ao Bafta “A assassina” (2015). Saiu em DVD no Brasil pela Flashstar e vale ser conhecido.

Em busca da liberdade (On wings of eagles). EUA/China/Hong Kong, 2016, 96 minutos. Drama/Guerra. Colorido. Dirigido por Stephen Shin. Distribuição: Flashstar