segunda-feira, 30 de abril de 2012

Cine Lançamento



Uma vida melhor

Carlos Galindo (Demián Bichir) é um jardineiro mexicano que vive em Los Angeles. Trabalha arduamente em luxuosas mansões prestando serviços de paisagismo, a fim de garantir um bom futuro para seu filho Luís (José Julián). Até que o furto de uma camionete colocará em cheque a rotina desse simples trabalhador.

O mexicano Demián Bichir, de 48 anos, pouco conhecido aqui no Brasil, recebeu, esse ano, indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante pelo papel de um jardineiro humilde em busca de novas oportunidades para o filho. Nesse drama sobre realidades contrastantes, Bichir interpreta a voz de milhares de imigrantes ilegais que vivem nos Estados Unidos - o filme explica pouco sobre a situação de Galindo, no entanto sentimos na pele as dificuldades desse homem sem perspectivas, afundado em problemas financeiros.
Foi enorme fracasso nas bilheterias – com orçamento total de U$ 10 milhões, rendeu dez vezes menos na estreia, porém firmou a carreira do ator Demián Bichir, em atuação surpreendente (foi ele quem encarnou o presidente cubano Fidel Castro nas duas partes de “Che”, o equivocado trabalho pessoal de Steven Soderbergh).
Em uma safra de fitas escassas de temática séria, surge esse drama independente bem bonito, rodado em locações na fronteira México-EUA, cuja temática traça a relação de pai e filho levada a extremos. Filme sobre pessoas simples, com roteiro simples (de Eric Eason a partir do livro de Roger L. Simon), algo que lembra Neorrealismo Italiano, em especial “Ladrões de bicicleta” (1945), a contundente obra-prima de Vittorio De Sica. É também o melhor momento do diretor Chris Weitz, amplamente criticado por bobagens teens, como a primeira parte de “American Pie” e o sucesso de bilheteria “Lua nova”, e que depois da excelente comédia dramática “Um grande garoto” nunca mais acertou.
Confira!

Uma vida melhor (A better life). EUA, 2011, 98 min. Drama. Dirigido por Chris Weitz. Distribuição: Paris Filmes

terça-feira, 24 de abril de 2012

Cine Lançamento



Feliz que minha mãe esteja viva

Abandonado pela mãe aos quatro anos de idade, o jovem Thomas (Vincent Rottiers) rejeita os pais adotivos, com quem mora. Desde pequeno procura pela mãe biológica, até o dia em que descobre o lugar onde ela vive. Vai ao seu encontro e inicia um conturbado relacionamento com aquela mulher.

Estranha fita francesa exibida no circuito de arte e com pouca repercussão no Brasil. Um caso raro de pai e filho cineastas (Claude e Nathan Miller) dirigirem a quatro mãos o mesmo trabalho, nesse caso um complexo estudo sobre a identidade juvenil.
Difícil até de classificá-lo. Transita entre o drama familiar e o suspense psicológico, com revelações surpreendentes. O bom Vincent Rottiers, indicado ao César de melhor ator-revelação em 2010, interpreta o protagonista, um rapaz frustrado, em crise existencial, que não aceita o fato de ter sido abandonado pela mãe quando criança, juntamente com o irmão. E se não bastasse isto, rejeita os pais adotivos e as pessoas em geral, desenvolvendo certa sociopatia.
Até a ocasião quando reencontra a mãe biológica, o que causará sentimentos controversos a ele, como o amor de um homem por uma mulher – isso mesmo, a trama insinua incesto.
Atente-se para o trágico desfecho, que provoca tensão e bastante discussão. Antecipo que não é um filme para todos. Por isso assista com cuidado, de preferência em dia especial.
Produzido em 2009, saiu diretamente em DVD no Brasil, no ano passado, pela distribuidora Imovision, especializada em filmes de arte. O filme será exibido no ‘Festival Sesc Melhores Filmes’ na próxima segunda-feira, às 21 horas. Confira programação abaixo.

OBS: Claude Miller, que co-dirige com o filho Nathan, faleceu no dia 04 de abril, aos 70 anos, em Paris. Diretor de grande competência, foi assistente de Godard e Truffaut. Iniciou a carreira produzindo curtas e dirigiu pouco mais de dez longas. Seu primeiro trabalho (e o mais famoso) é “A melhor maneira de andar” (1976), lançado recentemente em DVD pela Cult Classic. Por Felipe Brida

Feliz que minha mãe esteja viva (Je suis heureux que ma mère soit vivante). França, 2009, 90 min. Drama. Dirigido por Claude Miller/Nathan Miller. Distribuição: Imovision

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Cine Lançamento

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O palhaço

Pai e filho, Valdemar (Paulo José) e Benjamin (Selton Mello) formam a dupla de palhaços Puro Sangue e Pangaré. Eles divertem a plateia com as trapalhadas no picadeiro. Mas sem maquiagem Benjamin não tem identidade, é um rapaz taciturno e triste, à procura de duas coisas para dar sentido à sua vida: um ventilador e um amor. Mesmo com as dificuldades em tomar conta do circo Esperança, tenta buscar seus sonhos.

Um filme poético e encantador sobre o mundo do circo, dirigido com sensibilidade pelo ator Selton Mello, que também atua como protagonista e é dele o roteiro, escrito a duas mãos com Marcelo Vindicato, seu parceiro de cinema.
É o segundo longa atrás das câmeras, muito mais acessível que o anterior, “Feliz natal” (2008), que era uma fita primorosa, porém amarga e difícil, que continha infinitas referências cinematográficas, ou seja, distante para o público comum.
Com mão mais leve, Mello, em “O palhaço”, faz uma viagem ao próprio passado, retornando às origens. Natural de Passos, cidadezinha no interior de Minas Gerais, rodou boa parte do filme na região onde viveu a infância. E acompanhando a rotina de figuras marcantes do tempo de garoto, como a trupe circense. Por isso resulta em uma obra autoral e nostálgica, com fundinho biográfico.
O ator interpreta o desalentado Benjamin, um rapaz sem identidade, sem CPF, sem amor e que sonha em comprar um ventilador. Ocupa o tempo trabalhando como o palhaço Pangaré ao lado do pai, o Puro Sangue (Paulo José, como sempre brilhante), em um pequeno circo itinerante chamado Esperança – o nome dá indícios da situação do grupo de artistas mambembes e do desejo deles. Na primeira oportunidade, Benjamin (ou Pangaré) tentará trilhar novos rumos para um futuro melhor.
São diretas as influências de Fellini nesse singelo retrato sobre os personagens do circo, seus sonhos, anseios e as transformações de personalidade (homem/artista). O próprio clima onírico do filme lembra as técnicas do maior cineasta italiano de todos os tempos. Uma brilhante homenagem!
“O palhaço” concorreu a prêmios estrangeiros e ganhou o APCA de melhor diretor em 2012 - o prêmio da Associação dos Críticos de São Paulo.
O elenco, além da perfeita dupla Selton Mello e Paulo José, traz participações especiais de Tonico Pereira (em papel de dois irmãos gêmeos), Jorge Loredo (o eterno ‘Zé Bonitinho’), Moacyr Franco (irreconhecível como um delegado – venceu o prêmio de melhor ator coadjuvante no Festival de Paulínia, em sua estreia no cinema) e Phil Miller (prefeito), além de Ferrugem, Erom Cordeiro e Jackson Antunes.
A fita foi produzida pela Bananeira Filmes, da empresária e produtora Vânia Catani, responsável por “Narradores de Javé”, “A festa da menina morta” e o próprio “Feliz Natal”.
Já disponível em DVD pela Imagem Filmes. Por Felipe Brida

O palhaço
(Idem). Brasil, 2011, 89 min. Drama. Dirigido por Selton Mello. Distribuição: Imagem Filmes