domingo, 31 de dezembro de 2023

Especial de Cinema


CINEMA

Os melhores e os piores filmes de 2023

Faltam quatro horas para o ano de 2023 acabar. E como é tradição, segue a minha lista dos melhores (35 ao todo) e dos piores (20) filmes de 2023, produzidos e lançados em 2023, assistidos em festivais de cinema (presenciais e online), em salas de cinema e no streaming. Na última parte da lista, fiz um extra com os 15 melhores filmes de 2022, porém que estrearam no Brasil em 2023 (para nós, brasileiros, esses de 2022 seriam os melhores do ano, pois passaram esse ano nos cinemas).

OBS 1 – Quanto aos filmes produzidos e lançados em 2023, muitos deles, por ter sido exibidos em festivais, só devem entrar no circuito nacional em 2024. OBS 2 – Todos os filmes não estão na ordem de preferência, e sim em ordem alfabética.

Foi um ano de muitos filmes bons e também de produções desastrosas (2023 foi um dos meus recordes, vi 1047 longas-metragens, sendo 383 estreias).
Aproveito para desejar a todos os leitores do Cinema na Web um feliz Ano Novo, com luz, união, saúde, paz e prosperidade. 2024 promete, e com certeza será um ano de muitas possibilidades e conquistas!

 

 

Melhores filmes de 2023 (produzidos e lançados em 2023)

 

·         Anatomia de uma queda

·         As Tartarugas Ninja: Caos mutante

·         Assassinos da Lua das Flores

·         Atiraram no pianista

·         Barbie

·         Crescendo juntas

·         De tirar o folego

·         DogMan

·         Elementos

·         Ervas secas

·         Folhas de outono

·         Godzilla minus one

·         Guardiões da galáxia 3

·         Homem-Aranha: Através do aranhaverso

·         Incompatível com a vida

·         John wick 4 – Baba Yaga

·         Kill bookson

·         Marcados: A História do racismo nos EUA

·         Missão: Impossível – Acerto de contas: Parte 1

·         Monster

·         Nosso sonho

·         O assassino

·         O pacto

·         O urso do pó branco

·         Oppenheimer

·         Pedágio

·         Pereio, eu te odeio

·         Pobres criaturas

·         Priscilla

·         Retratos fantasmas

·         Saltburn

·         Still: Ainda sou Michael J. Fox

·         Uma revolução em quadros

·         Vidas passadas

·         Zona de interesse

 






Piores Filmes de 2023 (produzidos e lançados em 2023)

 

·         A mãe

·         After: Para sempre

·         Agente Stone

·         Bird box: Barcelona

·         Casamento em família

·         Cemitério maldito – A origem

·         Ghosted – Sem resposta

·         Megatubarão 2

·         Meus sogros tão pro crime

·         O convento

·         O exorcista – O devoto

·         O jogo da invocação

·         Os mercenários 4

·         Pequenos espiões: Apocalipse

·         Rebel moon - Parte 1: A menina do fogo

·         Teen Wolf – O filme

·         Terror nas profundezas

·         Uma fada veio me visitar

·         Ursinho Pooh – Sangue e mel

·         Velozes e furiosos 10

 

Melhores filmes de 2022, porém lançados no Brasil em 2023

 

·         A baleia

·         A esposa de Tchaikovsky

·         A sindicalista

·         Babilônia

·         Blue Jean

·         Close

·         Conto de fadas

·         Criaturas do senhor

·         Entre mulheres

·         Gato de botas 2 – O último pedido

·         Os banshees de Inesherin

·         Os Fabelmans

·         Propriedade

·         Sem ursos

·         Visões de Ramsés

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Resenhas especiais


Filmes para ver em casa nessas férias de fim de ano.

Crônicas de Natal

Os irmãos Kate (Darby Camp) e Teddy (Judah Lewis), ao tentar filmar o Papai Noel pousando o trenó próximo à chaminé de casa, causam um acidente; eles derrubam o Bom Velhinho (Kurt Russell), o veículo se espatifa no chão e as renas fogem. Noel e as duas crianças saem então numa louca aventura pelas ruas de Chicago para capturar os animais e assim salvar o Natal.

Aventura natalina fantasiosa e cheia de graça, voltada a crianças e jovens, com um Papai Noel de verdade envolvendo-se em loucas aventuras em Chicago. O destaque do filme é para Kurt Russell com longa barba grisalha, no papel do Bom Velhinho – Russell é ex-ator mirim de séries dos anos 60, depois astro de fitas de ação e casado há muito tempo com a atriz Goldie Hawn – ela aparece no finzinho, como a Mamãe Noel, porém na continuação, de 2020, ela tem mais presença na trama.
É uma historinha agradável e de espírito jovem, uma corrida contra o tempo de dois irmãos pequenos para salvar o Natal – como as renas fugiram, elas precisam localizar os animais para que Papai Noel entregue a tempo os presentes das crianças ao redor do mundo. Eles fogem da polícia, correm de carro em alta velocidade pelas ruas vazias na véspera de Natal, cruzam com bandidos e até entram num portal com passagem para o Polo Norte.
Bem recebido pelo público e pela crítica nos Estados Unidos, o filme é uma produção da Netflix, disponível na plataforma. Do mesmo diretor de ‘Angry Birds – O filme’ (2016), Clay Kaytis.


Crônicas de Natal (The Christmas chronicles). EUA, 2018, 104 minutos. Aventura/Comédia. Colorido. Dirigido por Clay Kaytis. Distribuição: Netflix


Crônicas de Natal 2

Dois anos depois de se aventurarem com o Papai Noel em Chicago, os irmãos Kate (Darby Camp) e Teddy (Judah Lewis) têm uma nova missão pela frente – barrar um rapaz maquiavélico que, com poderes mágicos, planeja cancelar o Natal no mundo.

Com o sucesso de ‘Crônicas de Natal’ (2018), era inevitável uma continuação. Dois anos depois, a Netflix, produtora original, realizou essa segunda parte, uma continuação com mais fantasia e perigos, inferior ao original, mas que nessa época de fim de ano funciona, pelo clima de amenidades e sonhos que o Natal provoca nas pessoas. Retornam o elenco original os jovens Darby Camp e Judah Lewis, como os irmãos, agora crescidos, e Kurt Russell como o Papai Noel. Os três se reúnem novamente para acabar com os poderes de um rapaz encrenqueiro que quer eliminar o Natal do calendário – ele usa uma luva mágica destruidora e tem como aliados elfos do mal. Goldie Hawn, esposa de Kurt Russell na vida real, ganha mais destaque como a Mamãe Noel, que se dispõe a sair do Polo Norte para ajudar o marido e as crianças, ao lado de seus elfos bonzinhos.
É mais uma aventura com fantasia – ou como os americanos chamam, ‘a family movie’, cheia de peripécias, perseguições de trenós, animais fantásticos e criaturas numa luta do bem contra o mal. Sempre mostrado de maneira lúdica e divertida.


Além do elenco, voltam os mesmos produtores, com a substituição do diretor, que agora é o mestre dos filmes infantis dos anos 90 Chris Columbus, de ‘Esqueceram de mim 1 e 2’ (1990 e 1992), ‘Uma babá quase perfeita’ (1993), e do primeiro filme da franquia Harry Potter, ‘Harry Potter e a pedra filosofal’ (2001). Da Netflix, disponível no catálogo da produtora/distribuidora.


Crônicas de Natal 2 (The Christmas chronicles – Part two). EUA, 2020, 112 minutos. Aventura/Comédia. Colorido. Dirigido por Chris Columbus. Distribuição: Netflix


Megarrromântico

Natalie (Rebel Wilson), uma jovem arquiteta, não acredita no amor. Dedicada ao trabalho, tenta o reconhecimento na firma. Um dia, é assaltada no metrô, bate a cabeça e desmaia. Quando acorda, se vê presa num filme de comédia romântica interminável.

Produção caprichada e engenhosa da Netflix, uma super comédia romântica musical com fantasia voltada ao público teen, protagonizada pela australiana Rebel Wilson num de seus melhores trabalhos no cinema. Ela é uma das produtoras executivas do filme, está bem no papel principal, menos debochada e menos over do que em fitas que a revelaram, como a trilogia ‘A escolha perfeita’ (2012, 2015 e 2017), ‘Como ser solteira’ (2017) e ‘As trapaceiras’ (2019). Leve e engraçado, é uma crítica aos filmes românticos e aos casais perfeitos do cinema - abre com uma garotinha gordinha, que é a protagonista na infância, que se encanta com Julia Roberts na TV, no filme ‘Uma linda mulher’, mas é censurada pela mãe, que diz que amor daquele jeito não existe. Ela cresce acreditando que não há amor perfeito, e após um incidente, quando é assaltada e bate a cabeça, fica presa em vários filmes de comédia romântica. Ao longo da história vão sendo recriados, em tom de paródia, cenas de fitas de comédia romântica modernas, como ‘Harry e Sally – Feitos um para o outro’ (1989), ‘De repente 30’ (2004), e claro, ‘Uma linda mulher’ (1990). E ela acaba encontrando um amor nesse trajeto – o namorado no filme é o ator Liam Hemsworth, irmão de Chris, o Thor do cinema.
A trilha tem ‘Oh, pretty woman’, com Roy Orbison, ‘No more I love you's’, de Annie Lennox, ‘The lady in red’, de Chris De Burgh, e ‘Breakout’, de Swing out sister, e várias sequências musicais, em que Rebel e o elenco cantam e dançam – numa das cenas mais hilárias, ela agita o público num pub com ‘I wanna dance with somebody’.


De acordo com o diretor Todd Strauss-Schulson, ele reviu quase 100 filmes de comédia romântica, anotou cenas clichês e as refez – tem o casal se beijando na chuva, banhos de espuma, reencontros em câmera lenta etc – sempre usando a piada e a metalinguagem para criticar esse tipo de cinema.
O título em português, bem oposto ao original em inglês, é assim mesmo, com três ‘R’, ‘Megarrromântico’. Um filme leve, alto astral, para o fim de ano, produzido e distribuído pela Netflix.

Megarrromântico (Isn't it romantic). EUA, 2019, 89 minutos. Comédia romântica. Colorido. Dirigido por Todd Strauss-Schulson. Distribuição: Netflix

domingo, 24 de dezembro de 2023

Cine Especial - Natal



Aconteceu na 5ª Avenida

Aloysius McKeever (Victor Moore) é um sem-teto que perambula pelas ruas de Nova York. Todo final de ano, invade a mansão do magnata Mike O’Connor (Charles Ruggles), que fica fechada, já que ele e sua família passam o Natal fora, e lá McKeever fica uma pequena temporada. Dessa vez leva junto outro morador de rua, Jim Bullock (Don DeFore). No casarão, os dois comem do bom e do melhor, dormem em camas aconchegantes e organizam festinhas onde aparecem outros sem-teto. Até que um dia a filha de O’Connor, Mary (Ann Harding), chega inesperadamente na casa. McKeever inventa que é um amigo do pai e está lá para vigiar o local. Ela acredita e acaba se apaixonando por Bullock.

Filme natalino espirituoso e nostálgico, com tom de parábola, que só os americanos sabiam fazer - na época de ouro do cinema hollywoodiano. Carismático, deleitoso, com uma moral no final e uma trama impossível de se suceder, ‘Aconteceu na 5ª Avenida’ acompanha a véspera e o Natal de dois sem-teto que invadem uma luxuosa mansão na badalada 5ª Avenida, em Nova York, enquanto os proprietários viajam. De esfarrapados viram bon-vivants. Até que são surpreendidos pela filha do dono da casa, que brigou com a família e voltou para o lar. Ela se junta à dupla, apaixona-se por um deles, e uma nova surpresa pinta, quando o pai vai atrás da filha e encontra os moradores de rua nos seus aposentos. A armação está montada, e no desenrolar do filme, romance, muito humor, energia e momentos graciosos. Tudo vai bem devido ao trabalho do elenco, em especial ao quarteto central que sustenta o filme – os dois que interpretam os sem-teto, Victor Moore, de ‘Ritmo louco’ (1936), e Don DeFore, de ‘Lágrimas tardias’ (1949), e o pai e a filha, papéis de Charles Ruggles, de ‘Levada da breca’ (1938), e Ann Harding, indicada ao Oscar de atriz por ‘Holiday’ (1931). Há momentos musicais bacaninhas, e uma bonita fotografia em preto-e-branco. Originalmente seria dirigido por Frank Capra, que deixou o projeto para assumir um dos maiores clássicos do cinema, o também natalino ‘A felicidade não se compra’ (1946). É o filme mais lembrado do diretor Roy Del Ruth, que dirigiu 120 longas-metragens, como ‘A canção do deserto’ (1929).




Indicado ao Oscar de melhor roteiro original, está disponível em DVD pela Classicline, numa ótima cópia.

Aconteceu na 5ª Avenida (It happened on Fifth Avenue). EUA, 1947, 116 min. Comédia/Romance. Preto-e-branco. Direção: Roy Del Ruth. Distribuição: Classicline


Os fantasmas contra-atacam

Executivo de uma popular TV americana, Frank Cross (Bill Murray) é um homem egoísta, inescrupuloso e que se orgulha em destratar seus funcionários. Na véspera do Natal, é assombrado por três fantasmas que o fazem refletir sobre sua vida.

Um dos filmes de Natal que mais assisti na vida, reprisado muitas vezes na TV aberta nos finais de ano. Divertido à beça, é uma das melhores adaptações para o cinema do notório romance ‘Um conto de Natal’, do inglês Charles Dickens, publicado em 1843 e que inspirou gerações de escritores e leitores ao redor do mundo – algumas versões famosas para o cinema foram os bons “Adorável avarento” (1970), com Albert Finney, indicado a quatro Oscars, e a animação em CG “Os fantasmas de Scrooge” (2009), com Jim Carrey.
Primeiro filme de Bill Murray após “Os caça-fantasmas” (1984) - longa que o consagrou, e que não gostou do resultado – segundo ele, teve conflitos com o diretor Richard Donner, que o rodou no intervalo entre “Máquina mortífera” (1987) e “Máquina mortífera 2” (1989).
O filme é uma fantasia com fundo moral, que trata das armadilhas do tempo. O protagonista é um chefe chato e egoísta que atua numa TV e atormenta os subordinados. É véspera de Natal, e ele recebe a visita de três fantasmas – um do passado, um do presente e outro do futuro, e todos propõe que ele reveja suas atitudes e passe a limpo sua vida.





Há momentos marcantes, com Murray protagonizando cenas hilárias. Não foi bem de bilheteria na época e virou cult. Os coadjuvantes estão ótimos: David Johansen como o espírito do passado, um taxista assustador; Carol Kane, o espírito do presente, uma fada muito doida; e participação de Karen Allen, Bobcat Goldthwait, Robert Mitchum, Alfre Woodard e John Glover. Indicado ao Oscar de maquiagem - um trabalho impressionante, com destaque para a maquiagem no veterano John Forsythe, irreconhecível como um zumbi que adora um whisky.
Em DVD pela Paramount e em bluray exclusivo na loja online da FamDVD. Está online para aluguel no Prime Video e na Apple TV.

Os fantasmas contra-atacam (Scrooged). EUA, 1988, 101 min. Comédia. Colorido. Direção: Richard Donner. Distribuição: Paramount Pictures

sábado, 23 de dezembro de 2023

Cine Cult


Em trânsito

Georg (Franz Rogowski) foge da França após a invasão nazista. Sem rumo, assume a identidade de um escritor falecido. Com os documentos do morto, passa a viver sob a pele dele. Em Marselha, é preso e conhece uma jovem, Marie (Paula Beer), que procura o marido desaparecido. Os dois se apaixonam e encaram um romance complexo.

A Versátil Home Video lançou, dois anos atrás, em parceria com a Supo Mungam, um dos filmes mais complexos e disruptivos do cinema alemão atual, ‘Em trânsito’ (2018), obra fundamental do diretor Christian Petzold. O diretor é um dos nomes mais importantes da ‘Berliner Schule’, a ‘Escola de Berlim’, um movimento cinematográfico alemão contemporâneo inspirado no cinema de autor decorrente do Novo Cinema Alemão dos anos 60 e 70. Pupilo de Harun Farocki, diretor e roteirista alemão daquele período, Petzold fez com ele uma parceria que rendeu vários filmes, incluindo ‘Em trânsito’ – Farocki morreu em 2014 e não viu o longa ser feito, já que foi lançado em 2018. Petzold e Farocki escreveram o complexo roteiro baseado no romance da escritora alemã Anna Seghers, escrito e publicado no fim da Segunda Guerra Mundial. Alteraram o perfil dos personagens originais e ousaram rompendo a diegese – o filme se passa na invasão nazista na França, mas não mais nos anos 40, e sim como se fosse o tempo presente (percebe-se isso pelos carros atuais, roupas e bares modernos). Assim como os filmes produzidos na ‘Escola de Berlim’, esse também trata de temas como crise de identidade e incerteza social, com figuras psicologicamente perturbadas e fugindo de seus problemas diários. Aqui, um rapaz tenta escapar da perseguição nazista, assume a identidade de um homem morto num vagão de trem e vai para a cidade do falecido ter uma nova vida. Tudo é muito estranho para ele (e estranho é o cinema de Petzold), sempre há olhares desconfiados das pessoas, como se algo estivesse na iminência de ocorrer. Uma narração seca, em off, de alguém que o conhece muito bem, explica o cotidiano do personagem. Nunca fica claro se o que o protagonista enfrenta é real ou é imaginado, o medo da guerra deixou-o em estado de atenção constante.
Esse é o cinema desse diretor criativo, cuja narrativa é desconexa e cíclica – tudo volta ao começo, e você notará isso no final do filme. Como característica da Escola de Berlim, há pouca trilha sonora. É um denso estudo de personagem em uma história fria. Indico para os conhecedores do diretor e para quem curte filmes cult.
É possível fazer um paralelo de ‘Em trânsito’ com outro bom longa do diretor, ‘Phoenix’ (2014), de uma mulher desfigurada no Holocausto que busca encontrar o marido desaparecido.





Os alemães Franz Rogowski e Paula Beer ganharam destaque no cinema de Petzold, e agora vem trabalhando em diversos filmes de outros diretores – ele fez ‘Victoria’ (2015) e ‘Great freedom’ (2021),  e ela, ‘Frantz’ (2016) e os dois últimos de Petzold, ‘Undine’ (2020) e ‘Afire’ (2023 - que estreou no Brasil em 03/11).
‘Em trânsito’ recebeu indicação ao Urso de Ouro no Festival de Berlim. Em bluray, sai numa edição em disco único, com luva reforçada e uma hora de extras.

Em trânsito (Transit). Alemanha/França, 2018, 101 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Christian Petzold. Distribuição: Versátil Home Video

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Resenhas Especiais


Os bárbaros

Dois irmãos gêmeos, Gore e Kutchek (David e Peter Paul), são adotados quando crianças por uma tribo, os Ragnicks, que mora num povoado tranquilo no meio das cavernas. Um dia, um maligno senhor da guerra, Kadar (Richard Lynch), invade o local, trucida os moradores e rapta os irmãos, preparando-os para serem gladiadores. Até que uma disputa por um rubi sagrado fará Gore e Kutchek entrar em uma jornada inesperada com muitos perigos.

Filme B que divertiu uma juventude inteira nas sessões da tarde, uma coprodução EUA/Itália de aventura com guerreiros e monstros numa civilização perdida. Por isso o filme não tem um tempo certo, é uma fantasia maluca entre a Idade da Pedra e a Idade Média, sem preocupação com a História – há neandertais, arena de gladiadores do Império Romano, cavaleiros das Cruzadas e monstros mitológicos – ou seja, um mundo um tanto distópico e estranho.
É um filme descontraído para ver sem exigências, sem reclamar dos canastrões que desfilam na tela. Dois deles são os irmãos gêmeos protagonistas, David e Peter Paul, fisioculturistas e ex-lutadores de luta livre, que depois fizeram filmes de comédia e ação como ‘Confusão em dobro’ (1992) e ‘Duas babás nada perfeitas’ (1994) – David faleceu em 2020, enquanto Peter continua se apresentando na TV. Richard Lynch faz um vilão, um violento senhor da guerra – o ator fez mais de 150 filmes, muitos como antagonista, como ‘Invasão U.S.A.’ (1985) e ‘A volta do mestre dos brinquedos’ (1991).




O filme deu prejuízo na época e foi mal-recebido pela crítica. Todo rodado na Itália (para ter custo de produção mais baixo), conta com figurinos reaproveitados de uma fita parecida, ‘Guerreiros de fogo’ (1985), com Arnold Schwarzenegger. A trilha sonora é do italiano Pino Donaggio, de ‘Vestida para matar’ (1980).
Outro italiano era o diretor, Ruggero Deodato, falecido recentemente, que assinou um dos trabalhos mais provocadores de terror dos anos 80, ‘Holocausto canibal’ (1980), vendido como um ‘filme proibido’, um snuff sobre canibalismo que até levou Deodato para a cadeia. Rodou nos EUA alguns longas, mas nunca deixou a Itália. ‘Os bárbaros’ é seu longa mais popular e cultuado, lançado recentemente em DVD pela Obras-primas do Cinema numa boa cópia.

Os bárbaros (The barbarians). EUA/Itália, 1987, 87 minutos. Ação/Aventura. Colorido. Dirigido por Ruggero Deodato. Distribuição: Obras-primas do Cinema



O dentista

Dr. Feinstone (Corbin Bernsen) é um dentista conceituado que vive com a esposa numa mansão. Quando flagra a mulher traindo-o com o jardineiro, entra em parafuso. Ele desenvolve uma estranha forma de se livrar desse trauma: matando seus clientes na cadeira de dentista.

A distribuidora Obras-primas do Cinema acaba de lançar uma edição especial com os dois filmes de terror da franquia ‘O dentista’, feitos entre 1996 e 1998. É um disco em DVD, envolto numa luva especial, com capa dupla face e trailers como extra. Ambos os filmes, B, misturam terror, um slasher gore, com sadismo e humor negro, com um Corbin Bernsen sinistro como o protagonista. Ele é um maníaco perturbado pela traição da esposa, que passa a matar pessoas dentro e fora do consultório, com requintes de crueldade.
Há cenas de tortura com instrumentos odontológicos, com aquele motorzinho chato arrebentando os dentes e as gengivas dos coitados – quem tem aflição deve evitar. Como não lembrar de uma cena icônica do cinema, que deve ter inspirado o diretor Brian Yuzna (de ‘A sociedade dos amigos do diabo’), a de Dustin Hoffman sendo aterrorizado na cadeira de dentista pelo maquiavélico nazista interpretado por Laurence Olivier no fantástico thriller ‘Maratona da morte’ (1976)?
Com enquadramentos tortuosos que dão dor de cabeça, repleto de plongée e contra-plongée, ‘O dentista’ fez sucesso na época do home vídeo e ganhou continuação dois anos depois, com mesmo diretor e elenco.

O dentista (The dentist). EUA, 1996, 92 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Brian Yuzna. Distribuição: Obras-primas do Cinema





O dentista 2

Internado num sanatório por ter matado seus pacientes no consultório, o sádico dentista Dr. Feinstone (Corbin Bernsen) foge de lá, muda de identidade e instala-se em uma cidadezinha do interior. Tenta uma nova vida, mas a vontade de matar aumenta. Ele então passa a tocar o terror em sua nova clínica odontológica.

Com mais humor negro e mortes mais violentas, com muita sangueira, ‘O dentista 2’ causa furor e aflição com suas sequências de tortura e assassinato no consultório odontológico. Corbin Bernsen, de ‘Garra de campeões’ (1989), retorna com mais loucura no papel-título, o cruel dentista que depois de fugir do sanatório, tenta uma nova vida, mas a vontade de matar é maior.
Brian Yuzna retorna também na direção – o diretor filipino consolidou-se em filmes de terror B, no fim dos anos 80 com o ‘A sociedade dos amigos do diabo’ (1989), depois ‘A noiva de Re-Animator’ (1990), ‘Natal sangrento 4 – A iniciação (1990), ‘A volta dos mortos-vivos 3’ (1993), um dos segmentos de ‘Necronomicon – O livro proibido dos mortos’ (1993) e outros.
Saiu em DVD numa edição especial com o filme anterior, lançado pela Obras-primas do Cinema. Cuidado com a classificação indicativa – 18 anos!

O dentista 2 (The dentist 2). EUA, 1998, 99 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Brian Yuzna. Distribuição: Obras-primas do Cinema


A ilha de Bergman

Na ilha de Fårö, no mar báltico, o diretor sueco Ingmar Bergman (1918-2007) abre sua casa para uma conversa com a diretora Marie Nyreröd, em que falará sobre seus filmes, os amores e a rotina.

A Versátil Home Video lançou a versão reduzida desse documentário feito para a TV sueca, produzido pela Sveriges Television (SVT) em parceria com a Svensk Filmindustri (SF) – esta, produziu a maioria dos filmes do diretor sueco. A versão, curta, de 83 minutos, é uma edição americana, sendo que na Suécia o telefilme saiu com 174 minutos. Mesmo com um corte bruto, conseguimos entrar na alma do cineasta e compreender seu mundo particular. Nessa longa conversa com a diretora Marie Nyreröd, Bergman, sozinho percorrendo os cômodos de sua casa na ilha de Fårö, mostra sua rotina, discute como realizou grande parte de seus filmes em sua residência, fala de seus casamentos e amores, a difícil relação com os filhos, os divórcios (que viraram motivo de tema dos filmes e também de seus tormentos) e também relembra um passado distante, de quando começou no teatro antes do cinema. É uma conversa íntima e pessoal, conduzida por um dos maiores mestres da Sétima Arte - o diretor sueco, nove vezes indicado ao Oscar, dirigiu 75 filmes e telefilmes, entre 1944 e 2003, foi casado com a atriz e musa de seus longas, Liv Ullman, e na época do documentário estava com 86 anos.


O documentário vem como extra no bluray de “O sétimo selo” (1957), lançado pela Versátil há poucos anos. Atenção, pois há um filme recente de mesmo título, lançado em 2021, com Vicky Krieps, Tim Roth e Mia Wasikowska, que se passa na ilha de Fårö e faz uma homenagem a Bergman.


A ilha de Bergman (Bergman och filmen, Bergman och teatern, Bergman och Fårö). Suécia/Dinamarca/Noruega/Finlândia, 2004, 83 minutos. Documentário. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Marie Nyreröd. Distribuição: Versátil Home Video