sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Cine Lançamento



Paulo, apóstolo de Cristo

Roma, 67 d.C. O apóstolo Paulo de Tarso (James Faulkner) está encarcerado no porão de uma prisão romana, enquanto aguarda sua execução. Velho e doente, ele é constantemente torturado pelos soldados do imperador Nero, e nos poucos momentos de alívio reflete acerca de seu trágico passado. Quando recebe a visita do apóstolo Lucas (Jim Caviezel), que é médico e escritor, Paulo recebe cuidados do amigo e passa a contar a ele sua trajetória de vida. Nascem então as “Cartas de São Paulo”, que se tornaram os textos mais célebres do Novo Testamento.

Um bonito (e triste) retrato do Apóstolo Paulo, que de perseguidor de cristãos converteu-se ao Cristianismo, religião proibida na época, tornando-se um homem idealista e intrépido defensor das palavras de Cristo. De apelo religioso, o filme, uma produção independente norte-americana de qualidade, é o lançamento do mês da Sony Pictures, exibido nos cinemas há três meses com pouca repercussão (eu gostei e acredito que irá agradar aqueles que têm proximidade com fitas bíblicas).
Serve de pesquisa didática para os cristãos estudarem duas figuras interessantes que existiram após a morte de Cristo: Paulo de Tarso (chamado de Saulo, depois São Paulo e também Apóstolo dos Gentios), quando esteve preso, em seus últimos dias de vida, e Lucas, o apóstolo e médico grego, inteligente e sensível, que ficou ao lado de Paulo até a decapitação dele a mando do insano imperador Nero.
Jim Caviezel ressurge das cinzas num bom papel de Lucas, sério e honesto - ele havia sido Jesus Cristo em “A Paixão de Cristo” (2004), ao lado do inglês James Faulkner, que dá dignidade ao personagem-título, sem cair em melodramas (o ator ficou conhecido no Brasil por séries como “Downton Abbey” e “Game of Thrones”). Ambos procuram sensatez na atuação nutrindo uma química especial, algo que proporciona a luz do filme.
A história não fica presa à relação de amizade dos dois. Aparecem flashbacks do passado trágico de Paulo, quando criança, e misturam-se tramas paralelas, como a de Mauritius, o chefe da prisão romana, que tem a filha doente (papel de outro ator sumido, Olivier Martinez), fechando com uma resolução consistente. Apesar da primeira parte com aparência de fita para TV, tanto a qualidade técnica quanto o roteiro ganham mais vida da metade para frente. O filme é bom e deixo como dica aos interessados!
Foi rodado nas ilhas maltesas, no Mar Mediterrâneo, com custo baixo (U$ 5 milhões), atingindo bilheteria regular para um tipo de obra como essa, por ser bíblica (arrecadou, no total, U$ 23 milhões). O estúdio é o mesmo que realizou filmes de pegada bíblica como “Ressurreição” (2016), e a direção é de Andrew Hyatt, realizador de obras religiosas independentes.

Paulo, apóstolo de Cristo (Paul, apostle of Christ). EUA, 2018, 108 min. Drama. Colorido. Dirigido por Andrew Hyatt. Distribuição: Sony Pictures

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Nota do Blogueiro


Dois super lançamentos em DVD! Pela Universal, "Maria Madalena", uma versão revisionista e feminista protagonizada por Rooney Mara no papel-título e Joaquin Phoenix soberbo como Jesus Cristo, num dos melhores filmes do ano; e também "Paulo, apóstolo de Cristo", pela Sony Pictures, um bom drama bíblico sobre os últimos dias de Paulo de Tarso e a amizade dele com o apóstolo Lucas (com Jim Caviezel e James Faulkner). Já nas locadoras! Obrigado, @m2.comunicacao @sonypicturesbr @universalpicsbr e @2014mada, pelo envio dos DVDs. Essa semana saem resenhas de ambos no blog Cinema na Web. 



domingo, 26 de agosto de 2018

Nota do Blogueiro


"O Sr. Incrível, a Mulher Elástica e Gelado logo chegaram em um carro alugado na frente do quartel DevTech. O arranha-céu moderno parecia se esticar até as nuvens. Quando saíram do carro, o motorista entregou a cada um deles um distintivo de segurança. Em seguida, guiou-os pela porta giratória, prédio adentro".

Trecho do livro "Os Incríveis 2", uma adaptação em texto do filme de sucesso da Disney Pixar, que acaba de sair no Brasil pela Editora Pixel, do Grupo Ediouro/Nova Fronteira (2018, 144 páginas, adaptação por Suzanne Francis). A obra literária traz as novas aventuras da Família Incrível a partir da animação que foi campeã de bilheteria nas salas de cinema do mundo todo. Vem também oito páginas ilustradas com o perfil dos personagens. Além do livro, a Pixel lançou junto a HQ de "Os Incríveis 2", com um projeto gráfico de primeira. É a história do filme em quadrinhos, com 58 páginas, uma criação exclusiva da Disney Publishing Worldwide. Ambos estão disponíveis nas principais livrarias do país. Agradeço a @editorapixel pelo envio dos lindos livros que agora vão para minha coleção.







quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Cine Lançamento


Um lugar silencioso

Num mundo pós-apocalíptico, uma família vive em silêncio para se proteger de um mal que ronda o lugar e só aparece quando há ruídos.

Prepare-se para um grande filme de suspense, altamente criativo, que provoca angústia, tensão e medo, apontado como um dos melhores deste ano. Produzido por Michael Bay, fez enorme sucesso nas salas de cinema, com lucro acima da média (custou U$ 17 milhões, atingindo U$ 335 milhões de bilheteria mundial, um fenômeno por se tratar de uma fita de suspense com terror).
O filme abre no 89º dia de um futuro incerto, apresentando uma família que vive em extremo silêncio e mora próxima a uma floresta na cidadezinha de Little Falls, no estado de Nova York. Pelos jornais abandonados nas ruas sabemos de um suposto apocalipse (que não se fala sobre), não existe ninguém nas ruas, há desolação por todos os cantos, e a família é a única sobrevivente daquela região. Ela é composta pelo pai (John Krasinski), a mãe grávida (Emily Blunt) e dois filhos, uma menina surda (Millicent Simmonds, que é deficiente auditiva na vida real) e um garoto (Noah Jupe). Comunicam-se em língua de sinais, com pequenos sussurros e andam na ponta dos pés. Como João e Maria do famoso conto dos Irmãos Grimm, fazem rastros de areia no chão para não se perderem (e com luzes também). Para que tudo isto? Pois qualquer barulho que façam pode atrair um mal desconhecido que habita a floresta que cerca a residência onde vivem.
Lógico que sons serão emitidos, a mãe, grávida, terá um bebê, que complicará a vida do casal devido o choro do recém-nascido, personagens irão se perder pela perigosa noite afora, personagens estranhos aparecerão etc. O filme, de apenas 90 minutos, tem um ritmo intenso, com apenas quatro personagens em cena e uma ambientação intrigante, cujas situações podem causar mal estar. Por isto um trabalho difícil de ser realizado - o elenco teve restrições a sons, permaneceu em silêncio total, só caminhando com movimentos sutis, dando oportunidades a expressões corporais e faciais (Emily Blunt está brilhante, com momentos de muito sofrimento).
“Um lugar silencioso” vai além de um filme de suspense com terror e pitadas de ficção científica: é acima de tudo um drama familiar de sobrevivência, sobre um futuro desolador, com forte simbologia a uma sociedade que vive sob censurada.
Dirigido e estrelado por John Krasinski, o ator da série “The Office”, em seu terceiro trabalho como cineasta (rodou antes duas comédias, “Brief interviews with hideous men”, de 2009, que não veio ao Brasil, e “Família Hollar”, de 2016). Acertou ao escalar a própria esposa, a atriz vencedora do Globo do Ouro Emily Blunt (com quem tem dois filhos), e juntos dão um sabor especial ao surpreendente filme. O elenco mirim também está super adequado, Millicent Simmonds, de “Sem fôlego” (2017), e Noah Jupe, de “Extraordinário” (2017). Destaque para Millicent cujo papel cresce a cada tomada. Criaram um recurso de retirar o som quando ela aparece em primeira pessoa, como forma de estarmos na pele dela, sem ouvir nada.
Outros pontos altos são a assustadora trilha sonora de Marco Beltrami, duas vezes indicado ao Oscar, e as bonitas locações no campo, com fotografia da dinamarquesa Charlotte Bruus Christensen, de “A caça” (2012).
Deu tanto certo que já anunciaram a sequência para 2020. 
Não perca de jeito nenhum! Já em DVD e Bluray.


Um lugar silencioso (A quiet place). EUA, 2018, 90 min. Suspense/Terror. Colorido. Dirigido por John Krasinski. Distribuição: Paramount Pictures

Cine Lançamento


Boneco de neve

O expert detetive Harry Hole (Michael Fassbender), com a ajuda da recruta da Divisão de Desaparecidos Katrine Bratt (Rebecca Ferguson), lidera a investigação de mulheres desaparecidas no temível inverno da Noruega. A dupla encontra corpos mutilados e suspeitam de que um serial killer do passado voltou a atacar.

Um bom suspense de investigação baseado no livro campeão de vendas, de mesmo nome, do escritor e músico norueguês Jo Nesbø, que escreveu uma série de 11 obras com o detetive lacônico e alcoólatra Harry Hole – este é o sétimo, lançado em 2007, único que virou filme – do mesmo autor saiu sete anos atrás “Headhunters”, um ótimo thriller.
Não entendo o auê da crítica americana em detonar “Boneco de neve”, até citando-o como um dos piores de 2017, apesar do fracasso na bilheteria (teve custo de U$ 35 milhões e não rendeu mais que U$ 7 mi). O filme é um pouco apressado, com falhas de roteiro, falta emoção e humor, mas tem atrativos generosos, como a belíssima fotografia no gelo e o bom trabalho da dupla de investigadores, uma composição interessante de Michael Fassbender (duas vezes indicado ao Oscar), que fala sussurrando com voz grossa, e Rebecca Ferguson, linda de cabelos pretos, franja e olhar penetrante. Está longe de ser uma fita ruim, é um suspense regular com policial envolvendo crimes brutais, investigação e um jogo de gato e rato que serve para manter o público apreensivo por duas horas diante da TV - o próprio diretor Tomas Alfredson desabafou que teve problemas com imposições do estúdio, e o resultado não foi o que esperava.
Fassbender e Rebecca investigam desaparecimentos no frio congelante da Noruega até se deparar com um psicopata insano que se autointitula “O Assassino do Boneco de Neve”. Ele dopa as vítimas com uma injeção, arranca partes do corpo com uma ferramenta de corte e coloca bonecos de neve na cena do crime. Os desaparecimentos atuais fazem os policiais voltarem ao passado, pois um serial killer com o mesmo modus operandi nunca foi preso e pode ser ele atacando de novo.
Rodado na Noruega, em locações de puro gelo nas cidades de Oslo, Rjukan e Bergen, o filme foi desafiador para a produção, pois as externas foram gravadas sob uma temperatura de 17 graus negativos, que captam imagens impressionantes da neve real. Assim o ambiente gera o clima de medo necessário para o percurso da mórbida história.
As ideias vieram do livro original atrelada à criatividade do cineasta sueco indicado ao Bafta Tomas Alfredson, de “Deixa ela entrar” (2008, a versão original) e “O espião que sabia demais” (2011). O diretor soube utilizar inflexões, texturas e ritmos para cada personagem, o que dá ingredientes charmosos nas composições do filme. Circundando os dois personagens centrais aparece um elenco diversificado em papéis menores e pouco aproveitados, como Val Kilmer (debaixo de uma forte maquiagem, bochechudo), Chloë Sevigny (em papel, duplo, de irmãs gêmeas), J. K. Simmons, Charlotte Gainsbourg, Toby Jones, Anne Reid e James D'Arcy, além de atores suecos e noruegueses.
Produzido por Martin Scorsese (que iria dirigir, mas abandonou o projeto), o filme termina com possibilidade de uma nova investigação do detetive Harry Hole. Vamos esperar!
Gostei do suspense quando assisti na estreia, no final do ano passado, e agora revi em DVD, recém-lançado pela Universal. No disco há cinco extras bem legais para se conhecer a fundo a produção.


Boneco de neve (The snowman). EUA/Reino Unido/Suécia, 2017, 119 min. Suspense/Policial. Colorido. Dirigido por Tomas Alfredson. Distribuição: Universal Pictures

sábado, 11 de agosto de 2018

Cine Lançamento


CineMagia – A história das videolocadoras de São Paulo

Documentário sobre o nascimento das primeiras videolocadoras na cidade de São Paulo, na metade dos anos 70, e o fechamento delas quarenta anos depois.

Um dos melhores documentários brasileiros do ano passado, emocionante e nostálgico, que recupera a história das principais videolocadoras de São Paulo, entre os anos 70 e 2010, como a Omni Video, 2001 Video, Hobby, Charada, Real Video, Video Norte, HM, Firefox, Roma, CineMagia (que deu o nome a este filme), Space, Virtual, Top Cine, Splash, entre outras, que marcaram gerações inteiras na era do VHS e depois a do DVD.
Em seu primeiro longa-metragem, os jovens diretores Alan Oliveira e Guilherme Midler, dois amigos queridos, construíram um poético “filme memória”, com extensa pesquisa no assunto e muitas referências cinematográficas, cujo projeto demorou três anos para ser finalizado (começou a ser gravado em 2015 até estrear nas salas de cinema, em novembro de 2017, e agora saiu em DVD pela Versátil).
Oliveira (responsável também pelo roteiro e montagem) e Midler (na assistência de direção e no som) conseguiram registrar com maestria essa saudosa época que durou 40 anos, recorrendo a 50 depoimentos de fundadores e proprietários de locadoras de filmes, funcionários e clientes, além de distribuidoras (como a CIC e a Look) e críticos de cinema. Tudo contado de maneira singela, coesa e inteligente, com evidente paixão da dupla de realizadores.
Eu vivi intensamente o período do home video. Quando pequeno, no final da década de 80, locava filmes em locadoras da minha cidade (Catanduva) nos finais de semana, era uma delícia correr até as prateleiras lotadas de fitas para escolher duas ou três, cresci feliz no circuito de VHS, que foi minha maior formação cinematográfica, e na juventude cheguei a conhecer algumas das locadoras que aparecem no documentário, como a saudosa 2001 Video da Avenida Paulista, a Hobby, a Omni (fundada por Ghaba, que tem espaço especial no filme) e a Paradiso (em Santos). Identifiquei-me com a história aqui tratada, e nas duas vezes que assisti me emocionei ao relembrar a gostosa época do “cinema em casa”.
“CineMagia” segue uma linha cronológica das mídias que existiram no Brasil, primeiro com a Betamax (ou Beta), em seguida o VHS (que reinou por décadas), depois substituído pelo DVD nos anos 2000, em seguida o Bluray, que não pegou direito entre o público - e agora vivemos no mundo do streaming, liderado pelo Netflix, que reformulou o mercado de cinema e contribuiu para o fechamento das locadoras em todo o país. O documentário discute ainda os efeitos da pirataria (outro fator que ajudou na derrocada das vídeos) e um pouco sobre as leis que regulamentam a distribuição de filmes.
Estreou em poucas salas de cinema de São Paulo na primeira quinzena de novembro de 2017, e agora pode ser visto em DVD. Saiu recentemente numa linda edição de luxo, limitada, em dois discos - um com o filme e o segundo com mais de duas horas de material extra, esclarecedor e imperdível, como trailer, teaser, clipe da pré-estreia, bastidores, especial sobre Ghaba (o precursor do VHS no Brasil), agradecimentos dos proprietários aos clientes, esboços de animação da abertura do filme, processo de criação da trilha sonora e homenagem a pessoas que faleceram após a gravação do doc. Destaque também para o projeto gráfico da caixa do DVD, que relembra uma fita VHS, tanto a capa quanto por dentro, com cor envelhecida e selinhos afixados na lateral e na frente. Acompanha quatro cards colecionáveis com dois pôsteres alternativos e dois que homenageiam os antigos cartões de locação que vinham no VHS.
Não deixe de conferir e se emocionar, ainda mais se você viveu a época de ouro das videolocadoras!

CineMagia – A história das videolocadoras de São Paulo (Idem). Brasil, 2017, 100 min. Documentário. Colorido. Dirigido por Alan Oliveira. Distribuição: Versátil Home Video

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Viva Nostalgia!


A quarta aliança da Sra. Margarida

O jovem Sofren (Einar Röd) é escolhido para ser pastor em um vilarejo norueguês. Ao chegar à misteriosa congregação rural, fica receoso com os velhos hábitos que ditam as regras ali. Uma delas é de que terá de se casar com a viúva do pastor recém-falecido. Trata-se de Margarida (Hildur Carlberg), uma estranha senhora de 75 anos, que já enterrou três maridos e dizem ser bruxa. Mas Sofren tem uma noiva, Mari (Greta Almroth), e ao levá-la junto, apresenta a jovem à comunidade como sua irmã. Os dois então planejarão a morte de Margarida.

Raríssima fita de Carl Theodor Dreyer (1889–1968), um dos mais respeitados cineastas da Dinamarca, que realizou uma grandiosa fita sombria que joga com gêneros diferentes, a comédia, o drama e o horror inspirado no movimento expressionista, que começava a percorrer a Alemanha. Mudo e preto-e-branco, lançado em 1920, este filme, o segundo da carreira do diretor, abre em um tom reflexivo sobre a natureza, pontua momentos de afeto e comicidade em torno do casal Sofren e Mari e, com a aprição da senhora Margarida, cresce do suspense ao terror, num desfecho com ar existencialista embasada nas ideias do filósofo Kierkegaard. Tanto Dreyer quanto Kierkegaard estudaram e produziram materiais sobre a cristandade, a moralidade e a ética, com metáforas e ironias, cada qual à sua linguagem. Neste filme percebemos tais tratamentos e temas, sob influência da infância maltratada de Dreyer, que foi abandonado pela mãe ainda pequeno e logo adotado por uma família severa, com valores cristãos intrínsecos (por isto seus filmes tratam de fé, moral, opressão, dúvidas e excessos); por ter sido jornalista, Dreyer escrevia os roteiros com minúcias, como aqui, e por ter trabalhado em empresas de montagem de cinema, sabia das técnicas como ninguém e detinha um olhar atencioso. Buscou a naturalidade no trabalho dos atores e no uso dos cenários, métodos de um cinema artesanal que pregou até o final da vida – ele realizou 14 longas num espaço de 45 anos (entre 1919 e 1964).
No final das gravações a atriz sueca Hildur Carlberg, que interpreta a enigmática senhora Margarida, morreu aos 76 anos.
Uma curiosidade: o filme foi rodado na bucólica Lillehammer, comuna norueguesa próxima da capital, Oslo, bastante visitada hoje. Além da Noruega, Dreyer rodou seus filmes na Dinamarca, país natal, na Alemanha e na Suécia.
O filme havia saído no mercado brasileiro pela Magnus Opus e agora pode ser assistido em novo máster pela Obras-Primas do Cinema, que resgatou o diretor num box em disco duplo contendo “Michael” (1924), “A queda do tirano” (1925) e sete curtas-metragens, com extras (entrevistas e vídeos especiais sobre o cineasta). Vem quatro cards colecionáveis, com as capas dos filmes.
Quem curtir pode procurar também as três obras-primas de Dreyer, “A paixão de Joana D’Arc” (1928), “O vampiro” (1932) e “A palavra” (1955), disponíveis em excelentes edições pela Versatil.

A quarta aliança da Sra. Margarida (Prästänkan/ The Parson's widow). Suécia, 1920, 71 min. Comédia/Drama/Horror. Preto-e-branco. Dirigido por Carl T. Dreyer. Distribuição: Obras-Primas do Cinema

* Publicado na coluna Middia Cinema, na revista Middia, edição de julho/agosto de 2018


Viva Nostalgia!


Sonhos de um sedutor

Crítico de cinema apaixonado por “Casablanca”, Allan Felix (Woody Allen) tenta se recuperar do divórcio. Um casal de amigos, Dick (Tony Roberts) e Linda (Diane Keaton), leva-o para encontros românticos com novas mulheres, que sempre terminam de maneira frustrante. Felix busca consolo nos filmes que devora e troca figurinhas diariamente com o fantasma do ator de Casablanca Humphrey Bogart (Jerry Lacy). Com alterações de humor, acaba atraído por Linda, sua ‘chegada’, carregando a culpa por gostar da esposa de um dos seus melhores amigos.

Comédia de fino trato escrita por Woody Allen a partir de uma peça própria, dirigida por Herbert Ross, inédita até agora em DVD, lançada com primor pela Classicline, distribuidora brasileira especializada em fitas clássicas. Foi a primeira parceria de Allen com a atriz e musa de seus filmes Diane Keaton, numa química voraz e desdobramentos imprevisíveis.
Na época, 1972, Allen iniciava a carreira como roteirista de seriados de comédia, tinha dirigido apenas três pequenos filmes e atuava em todos eles. Este trabalho seria uma preparação para tudo o que faria depois, no cinema de autor pelo qual virou ícone. O filme, mesmo não sendo dirigido por ele, carrega sua marca. Allen, como sempre, está à vontade no papel, aqui de um neurótico, destruído pelo fim do casamento. Com a verve deliciosamente cômica, dispara comentários ácidos sobre relacionamentos, família e religião, reclama, devolve tiradas com inteligência e é desastrado. Como de praxe, conversa com o espectador, numa mise-en-cene de alto nível – é ele quem dá os comandos, como se estivesse na pele do diretor. 
Na direção ficou Herbert Ross, entendido do assunto, pois realizou inúmeras comédias em estilo teatral, projetando nas telas obras de Neil Simon, como “Uma dupla desajustada” (1975), “A garota do adeus” (1977), “Califórnia Suite” (1978) e “Hollywood, cheguei!” (1982).
Além do humor inteligente, traz referências ao cinema clássico, com homenagem direta à obra-prima “Casablanca”. A começar pelo título, “Play it again, Sam” – Allan Felix (Allen) enfrenta momentos de amargura e desprezo, assim como o personagem Rick Blaine (Humphrey Bogart) em Casablanca, que, entristecido, pedia para o pianista Sam (Dooley Wilson) tocar músicas no piano. Felix, aficionado por este filme, coleciona em casa pôsteres e objetos de Casablanca e se encontra com Bogart em seu apartamento – há aparições bacanas do ator Jerry Lacy como Bogart, com o típico sobretudo e o chapéu (a voz ficou parecida também).
Originalmente da Paramount, foi produzido pela Rollins-Joffe, parceiros de Allen por décadas. Estranhamente não recebeu indicação a prêmios importantes.
Uma pérola a ser revisitada, de um Woody Allen novinho, já comprovando a alta qualidade de seus trabalhos no cinema de autor.

Sonhos de um sedutor (Play it again, Sam). EUA, 1972, 85 min. Comédia romântica. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Herbert Ross. Distribuição: Classicline

* Publicado na coluna Middia Cinema, na revista Middia, edição de julho/agosto de 2018


quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Resenha Especial


Terra selvagem (* Reedição)

O caçador Cory (Jeremy Renner), traumatizado pela morte da filha adolescente, localiza o corpo de uma indígena nas montanhas de neve em Wyoming. Junto com o xerife local, Ben (Graham Greene) e a agente do FBI Jane (Elizabeth Olsen), inicia uma investigação que os levará a um perigoso grupo que domina a região.
  
Baseado em fatos reais, estreou em Cannes, ganhando lá o prêmio Un certain regard, de melhor diretor para Taylor Sheridan, também responsável pelo roteiro. Com carreira em ascensão, Sheridan, um ex-ator de séries, escreveu mais um filme eletrizante de ação, cotado, na época do lançamento em novembro do ano passado, para os principais prêmios do cinema americano (mas ficou fora do Globo de Ouro, Oscar, apenas nomeado em festivais internacionais menores). Enquanto as histórias dos seus anteriores “Sicário: Terra de ninguém” (2015) e “A qualquer custo” (2016) se passavam no calor infernal do Texas e do México, em "Terra selvagem" leva o telespectador para o extremo frio das montanhas congeladas de Wyoming. Numa reserva indígena chamada Wind River, o corpo de uma jovem nativa é encontrado com marcas de violência. A Polícia Tribal, liderada por um bom Graham Greene (com atuação de destaque), investiga o caso com o apoio de uma agente novata do FBI (Elizabeth Olsen, super bem), que não conhece a inóspita região, e de um caçador de coiotes bom de pontaria, inconformado com a morte da filha (Jeremy Renner). Tudo se complica quando descobrem outros corpos na neve gerando ao público um clima de desconfiança e tensão a todo minuto.
Assisti a esse thriller policial em cabine da Califórnia Filmes em novembro de 2017, saí empolgado da sessão para a crítica, e ontem resolvi rever em DVD (recém-lançado). Continuou me impressionando, e recomendo ao público por bons motivos: a fotografia no gelo impressiona (há tempos não via a neve tão bem mostrada nas telas), o roteiro é caprichado (uma caçada a assassinos com investigação criminal envolta em um quebra-cabeça de peças soltas), o elenco, integrado. E Taylor Sheridan nos arrebata com uma direção segura, criando personagens violentos, produtos do meio hostil onde vivem, fazedores das suas próprias leis. Imperdível! Já em DVD.

Terra selvagem (Wind River). EUA/Reino Unido/Canadá, 2017, 106 min. Policial/Ação. Colorido. Dirigido por Taylor Sheridan. Distribuição: Califórnia Filmes

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Nota do Blogueiro


CPC-Umes Filmes com super promoção para o Dia dos Pais. Confiram os preços especiais no site da distribuidora, que já lançou mais de 30 títulos raros dos cinemas soviético e russo no mercado brasileiro. Tenho todos os filmes, que estão em ótima cópia, e recomendo aos cinéfilos e colecionadores. Destaque para os três últimos lançamentos da CPC-Umes: "Dersu Uzala" (1975), "Os ciganos vão para o céu" (1976) e "O destino de um homem" (1959 - que acabou de sair).
Acessem: http://www.cpcumesfilmes.org.br


terça-feira, 7 de agosto de 2018

Resenha Especial


Missão: Impossível - Nação secreta

O agente especial Ethan Hunt (Tom Cruise) reúne mais uma vez sua equipe de elite, desta vez para destruir uma organização secreta de assassinos profissionais chamada Sindicato, composta por agentes traidores que têm como plano eliminar a IMF e a CIA.

Novo diretor, novo filmaço. Christopher McQuarrie, roteirista vencedor do Oscar por “Os suspeitos” (1995) e diretor do criativo “Jack Reacher: O último tiro” (2012), reuniu novamente o ator e produtor Tom Cruise para essa excepcional fita de ação, a quinta da franquia “Missão: Impossível” e para mim a melhor, até agora a mais rentável – custou pouco mais que o anterior, U$ 150 milhões, e rendeu quase U$ 690 milhões em todo o mundo.
Baseado na célebre série de sucesso dos anos 60 e 70, este thriller de espionagem para público com nervos de aço homenageia James Bond e Jason Bourne, e continua do final do anterior, “Protocolo Fantasma”, que mencionava o Sindicato (que existiu na série). Antecede os acontecimentos do sexto filme, “Efeito Fallout” (em exibição nos cinemas – que é muito bom também, mas não o ‘the best one’), mostrando pela primeira vez o tal do Sindicato, uma organização criminosa constituída por agentes renegados treinados para matar. Tom Cruise, com 53 anos, está formidável na pele do ágil agente da IMF Ethan Hunt, optando pela construção de um personagem mais sólido, maduro e ainda mais explosivo. Aqui, Hunt e sua equipe terá um tempo escasso para destruir a corporação do mal e escapar com vida de armadilhas atrozes implantadas em diversos países.
O filme já abre com uma cena estupenda de ação, em Minsk (Belarus), com Cruise, sem dublê, tentando entrar em um Airburs A400M em plena decolagem (90% das cenas o ator dispensou dublê, assim como nos anteriores – por isso já quebrou braço e outras partes do corpo dezenas de vezes).
O que não falta neste quinto capítulo são momentos de pura adrenalina, como a luta na Casa de Ópera de Viena ao som da lindíssima “Nessun Dorma” (de Puccini) e o mergulho no sistema hídrico em Marrocos, seguido por perseguições de carro e moto, em alta voltagem, pelas ruas estreitas do país. As sequências tiram o fôlego, planejadas em enquadramentos mágicos e tratadas em uma edição nervosa.
Retornam personagens da equipe da IMF como Luther (Ving Rhames), Benji (Simon Pegg) e Brandt (Jeremy Renner), e entram em cena bons atores, com destaque para Alec Baldwin como Hunley, um dos chefões da CIA (meio vilão), Rebecca Ferguson, a sexy agente Ilsa, infiltrada da MI6 (a bonita atriz sueca se parece muito com a conterrânea Ingrid Bergman), e Sean Harris como o sinistro líder do Sindicato Solomon Lane.
Não poderiam faltar três ingredientes aguardados pelos fãs, com nova roupagem: a abertura com o pavio aceso, que logo se explode; a mensagem que se autodestrói; e a trilha sonora da série antiga, do argentino Lalo Schifrin, com outro toque, agora por Joe Kraemer.
Assista sem falta antes de conferir “Missão: Impossível – Efeito Fallout”, que estreou há duas semanas nos cinemas, e que desdobra a história deste filme, novamente com direção (e roteiro) caprichada de Christopher McQuarrie. Já em DVD e Bluray.

Missão: Impossível - Nação secreta (Mission: Impossible - Rogue nation). EUA/China/Hong Kong, 2015, 131 min. Ação. Colorido. Dirigido por Christopher McQuarrie. Distribuição: Paramount Pictures

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Resenha Especial


Mamma Mia! – O filme

* REEDIÇÃO

Prestes a se casar na ilha grega de Kalokairi, a jovem Sophie (Amanda Seyfried) resolve desvendar um antigo mistério: quem é o seu verdadeiro pai. Ela descobre em um diário que a mãe, Donna (Meryl Streep), relacionou-se com três homens diferentes em um curto espaço de tempo. Para saber a verdade, Sophie, sem contar para a mãe, convida para o casamento os três supostos genitores – Sam (Pierce Brosnan), Bill (Stellan Skarsgard) e Harry (Colin Firth). A confusão está armada quando Donna reencontra com os amores passados e, diante da filha, terá de revelar o segredo.

Com a estreia de “Mamma Mia! - Lá vamos nós de novo” amanhã nos cinemas, a Universal Pictures acaba de relançar este mês em DVD uma edição comemorativa de 10º aniversário do musical que encantou o público e recebeu duas indicações ao Globo de Ouro (melhor filme e atriz para Meryl Streep). O DVD, fresquinho nas lojas, traz como atração uma nova arte de capa, puramente feminina (com a foto de Meryl e Amanda em primeiro plano), e mais de 1h30 de novos extras (encontrados apenas na edição dupla em Bluray, pois em DVD continuam os mesmos da versão antiga).
Megassucesso nas salas de cinema em todo o mundo arrecadando U$ 615 milhões, a comédia musical é baseada na peça de teatro homônima originalmente montada em Londres em 1999. Há razões para o estrondoso sucesso de público: o filme é alto astral e as músicas, todas elas do Abba, contagiam. Traz fascinantes locações de uma ilha paradisíaca numa Grécia banhada por um exuberante mar azul. É irresistível acompanhar as traquinagens e os desastres cometidos pelo trio feminino de cinquentonas – Meryl Streep, Julie Walters e Christine Baranski, que estão à vontade em papéis de molecas. Há doses de humor equilibradas com momentos dramáticos bem bonitos – como a reprodução do clássico “The winner takes it all” e de “Slipping through my fingers”.
Apesar do charme e do colorido todo, o musical tem um enredo fácil, até bobinho. É basicamente uma história de reencontro e descobertas, cujo mote se centraliza no desejo de uma garota em busca do sonho – não materialista – de conhecer o pai. Para conquistá-lo, acaba armando uma confusão daquelas ao reunir os três supostos pais para festejar o casamento.
Como o elenco todo solta a voz, temos de perdoar o tom desajeitado dos atores – e até esquecer as desafinadas de  Julie Walters e Meryl Streep. Pena que os homens da fita, nomes fortes do cinema, não têm o mesmo destaque do trio composto pelo sexo oposto. Por ser tudo tão alegre, tão divertido, a fita cativa, e deixamos de olhar as falhas.
Assim como eu, fãs do Abba deverão curtir a fita. Quem dançou ao som da banda sueca nos anos 70 e início dos 80 vai lembrar com saudosismo de ritmos que marcaram época, como “Dancing Queen”, “Super trouper”, “SOS”, “Take a chance on me”, “Honey, honey” e, obviamente, a canção-título, um dos melhores momentos do filme, em que Meryl Streep, de macacão azul, anda pelos telhados da casa.
Além do casal Tom Hanks e Rita Wilson, estão ligados na produção executiva do filme os ex-integrantes do Abba, Björn Ulvaeus e Benny Andersson, que ainda aparecem como figurantes em duas sequências. E este é o primeiro trabalho da diretora inglesa Phyllida Lloyd, que também dirigiu a remontagem da peça na Broadway anos atrás (três anos depois faria com Meryl “A dama de ferro”, que deu à atriz o terceiro Oscar).
Recebeu ainda indicação ao Grammy e ao Bafta – e no Razzie, o dos piores do ano, Pierce Brosnan ganhou.
Assistam antes de ir à sessão da segunda parte, que entra amanhã nos cinemas de todo o Brasil. Também disponível no Netflix.

Mamma Mia! – O filme (Mamma mia!). EUA/Reino Unido/Alemanha, 2008, 108 min. Comédia/Musical. Colorido. Dirigido por Phyllida Lloyd. Distribuição: Universal Pictures