segunda-feira, 30 de abril de 2018

Resenha Especial


A górgona

Alemanha, início do século XX. Na pequena cidade de Vandorf, uma série de mortes bizarras aterroriza a população. Homens são transformados em pedra, em noites de lua cheia. Sem entender os motivos, policiais e médicos iniciam uma investigação que os leva a crer no impossível: a lenda de uma górgona de épocas remotas, que voltou para assombrar o lugar. Como desfazer essa maldição?

Excelente terror gótico da Hammer dirigido pelo lendário Terence Fisher (1904–1980), cineasta inglês que realizou 50 filmes do autêntico horror britânico, quase todos nesse estúdio que marcou época. Dois dos maiores atores do gênero participam aqui, Christopher Lee e Peter Cushing, respectivamente na pele de um professor e o outro, de um médico, que investigam o caso de uma górgona que ataca uma cidadezinha alemã em 1910. Quando o espectro aparece do nada, as pessoas, surpresas, miram nos olhos do monstro, em sequência são transformadas em pedra (a górgona mais lembrada por nós é a Medusa, um ser ctônico horripilante da mitologia grega, que tem serpentes nos cabelos, igual a que vemos neste filme). 
No meio da investigação as autoridades cruzam o caminho do mal, e pouca gente sobra para contar história... cuidado ao assistir, até você corre o risco de virar pedra!
“A górgona” destaca-se pela elegância visual da cenografia de época, além do roteiro perspicaz, considerado um dos ótimos representantes da cultuada Hammer Film Productions, companhia britânica especializada em terror, fundada em 1934. Os filmes da Hammer tinham distribuição mundial, feita pela Warner e Columbia, inspirados nos clássicos de horror da Sétima Arte, como Drácula, A múmia, O lobisomem, Frankenstein e monstros mitológicos, como o caso da Górgona, além das histórias de Karmilla, a vampira lésbica, e ainda investidas na ficção científica. Foram centenas de obras produzidas, com um time de atores excepcionais, como Christopher Lee, Ingrid Pitt, Peter Cushing, Oliver Reed e Michael Gough, alcançando sucessos absolutos nas sessões noturnas de cinema na Europa. Faliu no final da década de 70, quando passou a produzir séries televisas britânicas de terror, mas na metade dos anos 2000 voltou a produzir cinema, com produtoras associadas, como no caso de “A mulher de preto” (2012). Está na ativa, porém com pouca força, subordinada a tantas distribuidoras de cinema do mercado atual.
Assistam a “A górgona”, que saiu no box “Coleção Estúdio Hammer”, lançamento de março da Obras-Primas do Cinema. A caixa reúne seis clássicos de terror produzidos no macabro estúdio, dentre eles dois outros dirigidos por Terence Fisher – “A múmia” (1959) e “A maldição do lobisomem” (1961), além de “O beijo do vampiro” (1963), “Maniac” (1963) e “Fanatismo macabro” (1965). Acompanha extras na parte dos bônus e cards especiais para colecionar. Boa sessão!



A górgona (The gorgon). Reino Unido, 1964, 83 min. Terror. Colorido. Dirigido por Terence Fisher. Distribuição: Obras-Primas do Cinema

* Publicado na coluna Middia Cinema, na revista Middia, edição de abril/maio de 2018

domingo, 29 de abril de 2018

Morre aos 98 anos o diretor Michael Anderson


Passou despercebida a morte de um grande cineasta, dos meus preferidos, Michael Anderson, aos 98 anos, ocorrida quatro dias atrás.
Britânico, dirigiu 40 longas, dentre eles "A volta ao mundo em 80 dias" (1956) - pelo qual recebeu indicação ao Oscar e ao Globo de Ouro de melhor direção (este ganhou o Oscar de melhor filme), a primeira versão de "1984" (1956), "O navio condenado" (1959), "A tortura da suspeita" (1961), "As sandálias do pescador" (1968), "Fuga no século 23" (1976) e "Orca - A baleia assassina" (1977). RIP


Resenha Especial


Audazes e malditos

Num forte militar no Arizona, em 1881, um crime abala os oficiais. O líder do grupo foi assassinado juntamente com a filha, após ter sido estuprada. O principal suspeito é o sargento negro Rutledge (Woody Strode), levado para a corte marcial para julgamento. Acreditando na inocência do colega, o tenente Tom Cantrell (Jeffrey Hunter) assume a defesa do réu, num esforço tremendo para livrar Rutledge da prisão.


Faroeste marcante e diferente de John Ford, um gênio no assunto, num de seus últimos trabalhos, inteiramente filmado nas locações preferidas do diretor, Monument Valley, no Arizona. É uma obra incomum por tratar de três assuntos distantes do mundo do western: racismo (o sargento negro torna-se presa fácil de comentários preconceituosos e xingamentos), estupro (era tabu tratar dessa questão no cinema também) e julgamento (70% do filme ocorre no tribunal), apurados de forma vigorosa pelo mestre John Ford. Conseguiu arrancar dos dois atores principais um trabalho visceral – é o grande momento de Woody Strode, sujeito visto sempre como coadjuvante em papeis pequenos, e do galã Jeffrey Hunter, que no ano seguinte seria Jesus Cristo em “O rei dos reis” (1961), e morreria prematuramente em 1969, aos 42 anos, de derrame cerebral. Do início na rígida corte marcial que irá dar o veredicto a Rutledge ao final inesperado, o filme é pautado por flashbacks curiosos e reveladores, com ótimos diálogos milimetricamente construídos e claras referências ao término da Guerra Civil Americana, que, na história, acabara uma década e meia antes. Nas entrelinhas, os comentários acerca do final da Guerra de Secessão reafirmam o preconceito em torno dos negros e da não aceitação da derrota dos Confederados (o Estado do Arizona, onde se passa o filme, apoiou os Confederados, que eram escravistas e tinham o negro como mão-de-obra). Além da carga policial em tom investigativo, “Audazes e malditos” pode ser considerado um faroeste psicológico de tribunal, tamanho o leque de possibilidades que o cineasta John Ford deu a esta obra-prima. Filmão de primeira qualidade!
Está disponível em DVD por duas distribuidoras: pela Versátil, no box “Cinema Faroeste – volume 1” (com outros cinco filmes) e recentemente pela Classicline (com a diferença do áudio também em português).

Audazes e malditos (Sergeant Rutledge). EUA, 1960, 111 min. Faroeste. Colorido. Dirigido por John Ford. Distribuição: Classicline e Versátil

* Publicado na coluna Middia Cinema, na revista Middia, edição de abril/maio de 2018




quinta-feira, 26 de abril de 2018

Nota do blogueiro


O último (e aguardado) lançamento em DVD da Sony Pictures, o belíssimo drama "Me chame pelo seu nome" (2017), indicado a quatro Oscars e ganhador do de melhor roteiro adaptado. Gentilmente a @sonypicturesbr enviou um exemplar do filme e também um do livro original, de André Aciman, campeão de vendas em todo o mundo e lançado no Brasil pela editora Intrinseca - @intrinseca @intrinsecaeditorabrasil. Vou reassistir no final de semana e começar a leitura! Obrigado, @2014mada, pelo envio desses dois lindões. 🎬📚💻📽😍 





quarta-feira, 25 de abril de 2018

Nota do blogueiro


Fantástico esse super lançamento da Paramount Pictures: o Steelbook do bluray de "O exterminador do futuro: Gênesis" (2015), o quinto da franquia, numa versão especial para colecionadores. Filmaço em alta resolução com a qualidade máxima de som. Nos extras há três documentários a mais do que a da edição em DVD. Já nas lojas, a preço promocional.
Obrigado, @paramountbrasil @2014mada, pelo envio do material.




Nota do Blogueiro


Mais Cinema!
Olhem só os cinco filmes imperdíveis que acabaram de ser lançados em DVD pela Paramount e a Sony Pictures. O drama "Roman J. Israel" (2017), indicado ao Oscar de melhor ator para Denzel Washington; a animação "A estrela de Belém" (2017), indicada ao Globo de Ouro de canção; a comédia "Pai em dose dupla 2" (2017); e os dois filmes da franquia Jumanji - "Jumanji" (1995), relançado com nova capa, e a divertidíssima continuação, "Jumanji: Bem-vindo à selva" (2017), que obteve uma das maiores bilheterias do cinema neste ano. Nos DVDs, extras especiais em todos eles. Disponível também em Bluray. Agradeço à @sonypicturesbr @paramountbrasil @2014mada pelo envio dos exemplares. 🎬😃






terça-feira, 24 de abril de 2018

Cine Lançamento


Somos todos iguais

Marchand de carreira internacional, Ron Hall (Greg Kinnear) enfrenta maus momentos no casamento com Debbie (Renée Zellweger). Ela está engajada em trabalhos voluntários e abre um restaurante para servir refeições a pessoas carentes. Forçado pela esposa, Ron vai auxiliá-la no projeto social, e lá conhece o andarilho Denver Moore (Djimon Hounsou), que irá mudar para sempre a vida dele.

Uma emocionante história real que mal teve distribuição nos cinemas mundiais, baseada no best seller homônimo de Ron Hall e Denver Moore (que são os dois personagens masculinos de destaque do filme), organizado pela jornalista Lynn Vincent. A produção americana trata do poder transformador do ser humano, de pessoas que nascem para fazer o bem e como elas podem modificar o meio onde vivem com ações simples. De um lado temos um mercador de quadros, Ron Hall, fechado em seu mundo dos negócios, distante da família. Passa por um período delicado na relação com a esposa, uma mulher de virtudes, Deborah Hall, dedicada a causas sociais, que cria com muito custo um espaço para marginalizados se socializarem em almoços coletivos (aparece por lá gente de todos os tipos, indigentes, prostitutas, marginais, traficantes etc). Ela convence o marido a visitar o local, e ele aceita ser um novo voluntário. Até a vida de ambos mudar com a chegada de um andarilho estressado, de nome Denver Moore, que quebra mesas e cadeiras com seu bastão de madeira. Por trás desse homem de aparência hostil esconde-se um ser humano sensível, inteligente na oratória e sábio nas palavras de inspiração. Nascia ali uma amizade verdadeira, despida de preconceitos, que durou décadas, até o falecimento de Moore. O título em português resume tudo: “Somos todos iguais”.
A intrínseca trajetória de vida de Hall, Moore e Debbie é contada com paixão, poesia, romance e encantamento, com uma atuação excelente do trio de atores indicados ao Oscar – Greg Kinnear andava sumido, com raras participações em cinema, Djimon Hounsou ficou bem no papel envelhecido e Renée Zellweger está irreconhecível depois das plásticas mal sucedidas, que a deixaram com o rosto deformado. Conta também com uma rápida participação do veterano Jon Voight, como o pai preconceituoso de Ron Hall.
Estreia do diretor Michael Carney, que assina o roteiro e a produção, num belo filme inspirador, capaz de emocionar todos os públicos e arrancar lágrimas dos mais sensíveis. Todos têm de assistir!
Acaba de sair em DVD pela Paramount, com bons extras sobre os bastidores da produção.

Somos todos iguais (Same kind of different as me). EUA, 2017, 119 min. Drama. Colorido. Dirigido por Michael Carney. Distribuição: Paramount Pictures

Nota do blogueiro


Quatro lindos boxes lançados pela distribuidora Obras-Primas do Cinema em março, para cinéfilo nenhum botar defeito. Na caixa D. W. Griffith, as cópias restauradas e integrais de dois dos principais filmes do pai da linguagem cinematográfica americana, "O nascimento de uma nação" (1915) e "Intolerância" (1916), controversos e até hoje alvo de polêmicas. Em Sessão Anos 80, quatro filmes-pipoca que marcaram gerações: "Admiradora secreta" (1985), "A lenda de Billy Jean" (1985), "Alguém muito especial" (1987) e "Deu a louca nos monstros" (1987). Na Coleção Estúdio Hammer, seis obras de terror do famoso estúdio britânico - "A múmia" (1959), "A maldição do lobisomem" (1961), "O beijo do vampiro" (1963) "Maniac" (1963), "A górgona" (1964) e "Fanatismo macabro" (1965). Por último, o relançamento do box Ang Lee - Trilogia, que havia saído pela distribuidora em dezembro do ano passado, contendo três filmes do premiado diretor em fase inicial de carreira, rodados em Hong Kong - "A arte de viver" (1992), "Banquete de casamento" (1993) e "Comer beber viver" (1994). Todos acompanham disco especial com extras e cards colecionáveis ilustrados com as capas dos filmes. Já nas lojas. Obrigado, pessoal da @obrasprimas_docinema, pelo envio dos boxes. 😊🎬 🎥😄









segunda-feira, 23 de abril de 2018

Cine Lançamento


A morte te dá parabéns

Tree (Jessica Rothe) é uma estudante egoísta, adora baladas e curte sair com amigos. No dia do seu aniversário é assassinada brutalmente. Porém, quando morre, o dia recomeça, e ela viverá tudo de novo, num looping eterno. Sabendo disto, Tree procura a identidade do assassino mascarado ao mesmo tempo em que dribla a morte.

Uma inteligente fita de mistério com horror que foi um verdadeiro sucesso nos Estados Unidos e pegou aqui no Brasil, produzida pela Blumhouse, especializada no gênero, a mesma produtora de “Corra”, “Sobrenatural”, “Uma noite de crime”, “O presente” e dos dois últimos bons trabalhos de M. Night Shyamalan, “A visita” e “Fragmentado”.
Com toques de humor à moda americana, também é uma brincadeira aterrorizante em homenagem aos sanguinários slashers dos anos 80, com psicopata mascarado, mortes horrendas e perseguições a pé – até a capa lembra o cultuado slasher de título semelhante “Feliz aniversário para mim” (1981).
Conta a angustiante história de uma universitária presa no tempo (boa interpretação da linda Jessica Rothe, de “La La Land: Cantando estações”), que revive todos os dias o seu próprio assassinato, num circuito macabro. No vai e volta repleto de sangue, ela procura respostas para desvendar a identidade do criminoso, disfarçado com máscara de criança. Os amigos passam a ser suspeitos, outros crimes entram em cena, e o assassino inventa mil e uma armadilhas para capturá-la. Quem quer matar Tree e quais as intenções por trás desse crime chocante? Assista logo para descobrir!
O lance máximo de “A morte te dá parabéns” está no looping. A personagem sabe tudo o que vai acontecer, passo a passo, de quando acorda com um ficante na república até o encontro com o mascarado, numa recurso intenso de repetição temporal, com jogo de câmeras resultando em ângulos absolutamente modernos. O looping de tempo, no caso o de morrer e voltar, não é criação nova, mas numa obra de terror deu certo, chegando a ser original no gênero – o estilo apareceu em “Meia-noite e um” (1993), “Feitiço no tempo” (1993) e no recente “No limite do amanhã” (2014). Perceba que aparece até na abertura, uma sacada brilhante com a logo da Universal (distribuidora do filme).
Perseguições, tensão e sustos não vão faltar nesse que foi o terror mais original do ano passado, garantia de sucesso agora em DVD e Bluray. Custou U$ 5 mi, um orçamento mínimo de filme independente, e rendeu 24 vezes mais no mundo todo, com um recorde de U$ 122 milhões, ficando dois meses e meio em cartaz nas principais salas do país.
O diretor Christopher Landon havia experimentado o terror no descartável “Atividade paranormal: Marcados pelo mal” (2014) e subvertido o gênero no mediano “Como sobreviver a um ataque zumbi” (2015), realizando aqui o melhor trabalho, ao lado do roteirista dos desenhos de “X-Men” e “Godzilla” dos anos 90, Scott Lobdell. O cineasta anunciou a parte 2, prevista para 2019.
Destaque para a fotografia com intensas cores quentes, que reforça o medo e a maturidade dos personagens. Foi assinada pelo diretor de fotografia Toby Oliver, responsável por outras produções da Blumhouse, como “Corra”, “A escuridão” (2016) e “Sobrenatural: A última chave” (2018).
Gostei demais quando assisti no cinema, revi dias atrás em DVD e deixo como dica aos interessados. Ah, no DVD, vejam os extras sobre a produção, cenas excluídas e o final alternativo. 

A morte te dá parabéns (Happy death day). EUA, 2017, 96 min. Terror/Suspense. Colorido. Dirigido por Christopher Landon. Distribuição: Universal Pictures

domingo, 22 de abril de 2018

Nota do Blogueiro


"Desde a queda de Napoleão, todo vislumbre de galanteria havia sido rigorosamente banido dos costumes da província. Todos tinham medo de ser demitidos. Os mais espertos buscavam apoio na congregação e a hipocrisia fazia os mais belos progressos, mesmo entre as classes liberais. O tédio se multiplicava. Não restava outro prazer além da leitura e da agricultura".

Trecho de "O vermelho e o negro", clássico da literatura francesa escrito por Stendhal, publicado pela primeira vez em 1830. O monumental romance histórico e psicológico, dividido em duas partes, se passa no período da Restauração Francesa, após o fim do império napoleônico, com foco no jovem ambicioso Julien Sorel, da vida pequena no interior a sua ida ao seminário em Paris e a idade adulta, quando acusado de assassinato. Pelo personagem, Stendhal analisa as intensas transformações sociais, econômicas e políticas do país nesse período de transição. Um marco da literatura, que reflete a passagem do Romantismo para o Realismo, que inspirou diversas versões para o cinema. Acaba de sair em nova edição, com capa dura, pela editora Martin Claret (512 páginas, 2018, tradução de Herculano Villas-Boas). Já nas melhores livrarias. Obrigado, @editoramartinclaret, pelo envio desse maravilhoso exemplar! 




quarta-feira, 18 de abril de 2018

Cine Lançamento



Sieranevada

Um mês se passou da morte do patriarca de uma família romena. Para homenagear o pai morto, Larry (Mimi Branescu), um médico quarentão, reúne os parentes em um sábado. Naquele dia, ele e os familiares, de várias gerações, irão se confrontar com duras memórias e reviver um passado de perguntas sem respostas.

Indicado à Palma de Ouro em Cannes em 2016, “Sieranevada” foi o representante oficial da Romênia ao Oscar, mas não chegou à lista dos finalistas. Neste melancólico drama de família, a falta do diálogo nas relações humanas e o conflito de gerações exprimem a natureza existencial dos personagens, um tanto obscuros, integrantes de uma tradicional família de classe média. O sábado de encontro para homenagear o patriarca falecido contorna para temas filosóficos intermináveis, atingindo política e religião, que provoca comentários intolerantes e atritos de pensamento entre o grupo.
O diretor e roteirista Cristi Puiu, o maior realizador da Romênia atual, assume a posição de um observador da vida dessas pessoas de diferentes faixas etárias, a partir de detalhes das longas conversas travadas na sala de jantar, na cozinha, nos cômodos. Ele traça breves linhas dos rituais de celebração que reconciliam, dissolvidos por acalorados desentendimentos banais, captados por uma câmera posicionada num canto discreto. Por ela passam homens e mulheres, em enquadramentos inusitados, laterais, com objetos e cenários a mais no plano. O cineasta explora o pequeno espaço do apartamento onde tudo acontece, sem preocupação com o tempo (o filme atinge três horas de duração). Tudo num único dia, antes e após o almoço, com 10 atores em cena, como num teatro – há pouquíssimas sequências externas, como a da demorada abertura, na rua, durante uma colisão entre dois carros.
De monotonia compreensiva, tom tragicômico, extensos planos sequências e sem trilha sonora, o bom “Sieranevada” resulta num estudo complexo das relações de afeto/desafeto, do distanciamento de uma família por fatos equivocados do passado, com as qualidades máximas do cinema cult.
Autêntico exemplar de um país que pouco realiza cinema – na verdade é uma co-produção da Romênia com a França, Bósnia e Herzegovina, Croácia e a Macedônia, inteiramente rodada em Bucareste.
Grande obra do diretor Cristi Puiu, figura conhecida em Cannes pelos seus filmes – dois deles são “A morte do Sr. Lazarescu” (2005) e “Aurora” (2010). Já em DVD pela Mares Filmes.

Sieranevada (Idem). Romênia/ França/ Bósnia e Herzegovina/ Croácia/ Macedônia, 2016, 173 min. Drama. Colorido. Dirigido por Cristi Puiu. Distribuição: Mares Filmes.

Nota do blogueiro


"O cemitério de Santa Cecília estava coberto por um mar de velas e flores. Famílias estavam reunidas nos túmulos de seus entes queridos para deixar lembrancinhas e ornamentos. Nenhuma tumba estava mais bem decorada que o grande mausoléu no centro: pertencia a Ernesto de la Cruz. Miguel se aproximou do mausoléu e deu a volta sorrateiramente pela lateral. Dante começou a latir".

Trecho do livro "Viva: A vida é uma festa", lançado agora no Brasil pela editora Pixel, do grupo Ediouro. Esta é uma feliz adaptação literária da animação da Disney, que fez sucesso estrondoso nos cinemas do mundo todo e ganhou dois Oscar este ano. Conheça a história do garotinho mexicano Miguel, que sonha em ser músico, mas para isto terá de enfrentar a desaprovação dos pais e seguir com essa busca no mundo dos mortos. Assim como o filme, o livro é pura magia e poesia!
Com um acabamento visual caprichado, a obra contém 136 páginas, reúne diversas imagens do filme e já está à venda nas principais livrarias.
Obrigado, equipe da @editorapixel, pelo envio do lindo exemplar.




terça-feira, 17 de abril de 2018

Cine Lançamento



Papa Francisco – Conquistando corações

Vida e feitos de Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, desde a juventude em Buenos Aires até se tornar arcebispo da capital argentina e depois ser eleito o 266º Papa da Igreja Católica.

A Alpha Filmes, distribuidora de filmes religiosos do grupo A2 Filmes, lança em DVD esta sincera e detalhada cinebiografia do Papa Francisco, uma das figuras mais emblemáticas da Igreja Católica. Nesta obra tocante, com mensagem positiva sobre fé, determinação e altruísmo, conhecemos o homem Jorge Bergoglio antes e por trás do papa, em várias etapas de sua vida: na juventude, época em que se aventurava em namoros furtivos até se apaixonar por uma garota; as discussões com mãe, que insistia que fosse estudar Medicina; até atingir a vida adulta, quando abandonou a família e seguiu para o seminário - virou arcebispo e depois cardeal, sempre na terra natal, Buenos Aires. Paciente, de espírito leve e jeito bondoso, em suas atividades eclesiásticas ampliou os atendimentos à população carente, propagando o amor e a fé (ele era jesuíta), adquirindo uma força descomunal aos olhos da comunidade católica. Tamanho os feitos dele que no Conclave de 2013 foi eleito papa com entusiasmo pelos cardeais votantes (ele recebeu mais de 90 dos 115 votos), assumindo como sucessor do alemão Bento XVI, que abdicou ao papado naquele ano. A nomeação de Papa Francisco foi comemorada em toda a América Latina, pois é o primeiro papa do Novo Mundo, também o primeiro do Hemisfério Sul e o primeiro fora da Europa em mais de 1200 anos!
O filme, como o título em português evidencia, reforça as razões de ele conquistar corações. Carismático, sempre com sorriso no rosto, é conhecido por propor mudanças desafiadoras em questões não aclamadas pela igreja, com uma visão complacente sobre o casamento gay, o divórcio e o aborto. Um religioso que há tempos não se via no mundo cristão, que dá uma lição de humildade e acolhimento.
Quem interpreta o Sumo Pontífice é o argentino Darío Grandinetti, de “Fale com ela” (2002), “Relatos selvagens” (2014) e “Julieta” (2016), que não se parece com o Bergoglio, mas é ótimo ator e nos brinda com uma atuação sincera. O filme nos leva ainda a uma gostosa viagem por Buenos Aires, nos créditos iniciais, ao som de tango instrumental. Há sequências belíssimas filmadas no Vaticano, com destaque para o figurino recriado com exatidão e uma fotografia rica em detalhes, e no encerramento, momentos reais do Papa pelo mundo afora, com a expressiva canção “Gloria” ao fundo, interpretada pela voz do povo argentino Mercedes Sosa.
Exibido nos cinemas brasileiros em março de 2017, a produção reuniu três países ferrenhamente católicos (Espanha, Argentina e Itália) e conquistou os religiosos determinados e a crítica europeia. Eu gostei e super-recomendo esta bonita cinebiografia do Papa Francisco.

Papa Francisco – Conquistando corações (Francisco - El Padre Jorge). Espanha/Argentina/Itália, 2015, 104 min. Drama. Colorido. Dirigido por Beda Docampo Feijóo. Distribuição: Alpha Filmes

sexta-feira, 13 de abril de 2018

Cine Lançamento


Kite: Anjo da vingança

A morte brutal de seus pais leva a jovem Sawa (India Eisley) a uma busca implacável pelos criminosos. Vagando pelo submundo da cidade grande, ela conta com a ajuda de um investigador policial, Karl Aker (Samuel L. Jackson), disposto a tudo para encontrar os algozes.

Lançado em 1999, o anime “A kite”, de Yasuomi Umetsu, conquistou fãs pelo mundo, especialmente no Japão, e quinze anos depois (em 2014) ganhou essa versão americanizada violenta e corriqueira, porém estilosa, construída com tiros sem parar e cores fortes, que se passa no submundo das drogas, numa sociedade corrupta tomada pela violência urbana. O eixo central do original japonês permaneceu, sobre a vingança de uma garota, Sawa, pelo assassinato dos pais. De cabelo rosa (inspirado em mangás), ela adquire forças descomunais quando se alia a um parceiro de caçada (Samuel L. Jackson), um homem sombrio, meio conselheiro, e juntos eliminam sem piedade os bandidos, pertencentes a gangues de rua.
Para não decepcionar os seguidores da história original, o filme recebeu um tratamento conforme a moda clássica do anime: narrativa duramente cruel, onde predomina a violência gráfica, e uma edição ágil, cheia de movimentos de câmera. Mesmo com o cuidado técnico, não agradou o público em geral, também maltratado pela crítica estrangeira – esqueçam os chatos de plantão e a crítica altamente exigente, e divirtam-se com “Kite”, que em muitos momentos lembra “O profissional” (1994), de Luc Besson.
A ideia partiu do diretor Ralph Ziman, nascido na África do Sul, que fez bons filmes em sua terra, como “The zookeeper” (2001) e “Jerusalema” (2008), e retornou às origens para gravar “Kite” em Joanesburgo. Confiram! Já em DVD pela Flashstar.

Kite: Anjo da vingança (Kite). EUA/México, 2014, 89 min. Ação. Colorido. Dirigido por Ralph Ziman. Distribuição: Flashstar

terça-feira, 10 de abril de 2018

Resenhas Especiais


Dois bons lançamentos da Focus Filmes, já disponíveis em DVD

Aprisionados

Em uma delegacia remota no interior da Escócia, um misterioso homem chamado Six (Liam Cunningham), vindo do inferno, dá as caras no local, e a partir daí estranhos fatos começam a ocorrer. Ele tem o misterioso poder de invadir a mente das pessoas, e o faz com os desiludidos que lá se mantêm presos. Os policiais, amedrontados, iniciam táticas para controlar Six, enquanto a novata policial Rachel (Pollyanna McIntosh) ficará frente a frente com o pior de seus pesadelos.

Boa dica de cinema para quem procura um filme de terror de qualidade e originalidade. Se gostou da sinopse, não deixe de assistir a esta obra megaindependente, rodada na Irlanda, produzida no Reino Unido, de baixo orçamento, com cenários mínimos, bastante sangue e ação. Ninguém ficou sabendo do filme, apenas exibido na Europa no ano de seu lançamento (2014), e agora recém-lançado em DVD no Brasil pela Focus.
O excelente ator irlandês Liam Cunningham (o Davos Seaworth, de Game of Thrones) interpreta a figura central, o demoníaco Six, um coletor de almas, considerado um justiceiro do inferno, que morreu trinta anos atrás, e retorna para o mundo dos vivos na incessante busca por um segredo guardado a sete chaves. Vagando pelo espaço e tempo, chega à remota delegacia numa noite aparentemente tranquila. Toma o lugar e assume a mente daquele bando de gente aprisionada, além dos policiais, confinando-os. As luzes se apagam, os cidadãos adotam atitudes estranhas, a violência brota numa explosão de assassinatos, num autêntico clima de apocalipse, até fechar com um final imprevisível, tão sinistro quanto a índole de Six. Um filme curto (tem 1h32) para ver sem pretensão ou pressa.
Fiquei admirado com a qualidade do longa, em especial o roteiro e os elementos gráficos dos efeitos visuais, uma criação do diretor estreante Brian O'Malley, cujo segundo trabalho acabou de ser lançado nos cinemas da Europa - outro terror, “The lodgers”, sem previsão de estreia no Brasil.
Prepare-se para vivenciar muita tensão e desespero! Já nas locadoras e também disponível para venda.

Aprisionados (Let us prey). Reino Unido/Irlanda, 2014, 92 min. Ação/Horror. Dirigido por Brian O'Malley. Distribuição: Focus Filmes


Infiltrado

Chefe de uma rede criminosa, Shun (Wallace Chung) é procurado pelos quatro cantos de Hong Kong. Depois de uma tentativa falsa de suicídio, segue para o hospital, onde fica acamado aguardando cirurgia. Tudo faz parte de um plano, logo Shun será resgatado pelos seus comparsas em uma grande operação. Mas um inteligente inspetor, Ken (Louis Koo), percebe o esquema e promete revidar com sua equipe de policiais bem treinados.

China e Hong Kong produzem com excelência o cinema de ação desde muitas décadas atrás, com filmes de puro lazer e gosto popular, que pegou até no Brasil. Dou três exemplos icônicos de cineastas mestres no assunto, John Woo, Ronny Yu e Kar-Wai Wong, amplamente lembrados entre os cinéfilos. E um quarto nome seria Johnnie To, o diretor honconguês deste “Infiltrado”, já indicado a Cannes, Berlim e Veneza, que contabiliza no currículo 70 trabalhos (também como produtor), como “Eleição” (2005), “Vingança” (2009) e “Drug war” (2012). Em “Inflitrado”, sua nova fita, reforça a magnitude do gênero, reinventando-o numa trama explosiva, sedutora e complexa, toda dentro de um hospital, que da noite para o dia vira um cerco, servindo como um espaço de acerto de contas entre polícia e criminosos foragidos, com punição de inocentes. Os cenários são brandos, os personagens desconfiam até da própria sombra e há momentos que induzem ao erro, abrilhantado por sacadas visuais, cenas astutas de tiros em escadarias e altas perseguições. Como não podia faltar nos filmes de To, o humor anda no compasso das sequências de mais pura adrenalina, para extrair do público risos nervosos. E o desfecho surpreende (preste atenção em todos os detalhes para entender melhor o final).
Ao conferir “Infiltrado” você saberá as razões de o cineasta ser tão elogiado e possuir uma marca tão expressiva. Gostei e indico sem receio. Divirta-se com Shun, Ken e suas armações perigosas. O DVD saiu no Brasil há poucos meses pela Focus Filmes.

Infiltrado (San ren xing/ Three). Hong Kong/China, 2016, 87 min. Ação. Dirigido por Johnnie To. Distribuição: Focus Filmes

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Nota do Blogueiro


"É que o western continua sendo o gênero menos compreendido. Para o produtor e o distribuidor, o western não passa de um filme infantil e popular fadado a acabar na televisão, ou em uma superprodução ambiciosa com grandes estrelas. Apenas a bilheteria dos intérpretes ou do diretor justifica o esforço de publicidade e de distribuição. Entre os dois, fica-se ao deus-dará e ninguém - e, é preciso dizer, nem mesmo o crítico ou o distribuidor - faz a diferença sensível entre os filmes produzidos com a marca western".

Trecho do livro "O que é o cinema?", de André Bazin, que acaba de chegar nas livrarias em uma primorosa edição ilustrada da Ubu. Originalmente lançado em quatro volumes entre 1959 e 1961 como uma obra póstuma do crítico de cinema francês André Bazin (1918-1958), reúne 36 textos seminais escritos por ele, que na década de 50 seria um dos fundadores da revista Cahiers du Cinéma e mentor da Nouvelle Vague. Pena que sua vida artística foi interrompida de maneira prematura - faleceu aos 39 anos, vítima de leucemia. Nesta obra, Bazin analisa criteriosamente, com extrema lucidez, temas como Ontologia, pintura e fotografia, linguagem cinematográfica e métodos de criação, o cinema soviético, o western, o erotismo e o Neo-Realismo. É ver para crer! Nas páginas ainda temos apresentação e apêndice do professor e crítico de cinema Ismail Xavier.
Um livro fundamental para qualquer pessoa que queira desvendar as raízes da Sétima Arte. Já nas melhores livrarias! Agradeço ao pessoal da @ubueditora, que gentilmente enviou um exemplar para mim. Obrigado!



terça-feira, 3 de abril de 2018

Nota do blogueiro


"Cinema é um processo colaborativo. Não adianta subir no pedestal e se achar mais do que alguém pelo fato de ser diretor. As pessoas estão ali para ajudar e, mesmo que você saiba exatamente aonde quer chegar, não pode estar fechado para pessoas que querem o melhor para o filme e que eventualmente serão capazes de contribuir efetivamente com o resultado".

Trecho do livro "Rio, eu te amo", lançado em 2015 pela editora Gryphus (196 páginas). A obra, organizada pelo jornalista Pedro Butcher, com pesquisa de Flavia Mattar, trata dos métodos, linguagem e visões de mundo dos 11 diretores brasileiros e estrangeiros premiados que dirigiram o filme "Rio, eu te amo" (2014), como Fernando Meirelles, José Padilha, Paolo Sorrentino e Guillermo Arriaga. Traz junto entrevistas com esses brilhantes cineastas, muitas fotos e histórias dos bastidores das gravações do longa, que foi o terceiro filme integrante do projeto "Cities of love". Já à venda nas livrarias! Obrigado, @gryphus.geek2722, pelo envio do livro.