sábado, 16 de março de 2024

Resenhas especiais


Jogo sujo

O detetive Lou Torrey (Charles Bronson) é transferido de Nova York a Los Angeles, onde terá de investigar uma complexa rede de crimes cometidos pela máfia siciliana.

Vigoroso filme policial com Charles Bronson, que foi o rosto do cinema de ação dos anos 70, aqui repetindo o papel de um investigador durão, disposto a ir até o fim para resolver os casos que caem em suas mãos. Realizado no auge da Nova Hollywood, durante as grandes transformações nas produções do cinema americano, que propunha um viés mais autoral nas obras, esse thriller violento com boas cenas de ação é um prato cheio para os fãs de cinema policial e do ator Charles Bronson – em mais uma parceria com o diretor inglês Michael Winner; juntos fizeram o faroeste ‘Renegado vingador’ (1972), o notórios filme de ação que ganhou remake ‘Assassino a preço fixo’ (1972) e a retumbante trilogia ‘Deseja de matar’, um clássico absoluto, rodada entre 1974 e 1985.
O vencedor do Oscar Martin Balsam interpreta o vilão, o chefe da máfia siciliana, perseguido pelo detetive que quer desmantelar sua quadrilha.
Baseado no livro de John Gardner, com roteiro de Gerard Wilson, roteirista de outros filmes de Winner, como ‘Mato em nome da lei’ (1971) e um de meus preferidos, ‘Scorpio’ (1973).




Em DVD, disponível no box ‘Cinema Policial – vol. 8’, da Versátil Home Video, caixa que reúne três bons clássicos do gênero, ‘Os 26 do expresso postal’ (1967), ‘O golpe de John Anderson’ (1971) e ‘Duas ovelhas negras’ (1974).

Jogo sujo (The stone killer). EUA, 1973, 95 minutos. Ação/Policial. Colorido. Dirigido por Michael Winner. Distribuição: Versátil Home Video


A luta de Barbara e Alan

Barbara Lisicki (Ruth Madeleye) e Alan Holdsworth (Arthur Hughes) são dois deficientes físicos que lutam pelos direitos dos PCDs na Grã-Bretanha do final dos anos 80.

É incrível como tem filmes bons escondidos no catálogo da Netflix. Esse, por exemplo, assisti quando foi lançado lá em setembro de 2022, e essa semana revi com muita satisfação. Que filme bonito, delicado, com dois ótimos atores (desconhecidos), que esbanjam talento e carisma – os dois são PCDs, a atriz Ruth Madeleye é cadeirante, fez séries no Reino Unido, e Arthur Hughes, também ator de seriados e novelas no Reino Unido, tem deficiência nas mãos, braços e pernas. Eles interpretam os reais ativistas Barbara Lisicki e Alan Holdsworth, que eram artistas de rua e lideraram enormes manifestações na Grã-Bretanha entre 1989 e 1993 em busca de seus direitos e dos direitos de toda a comunidade com deficiência física, motora e intelectual.
O filme é muito curto, tem apenas 67 minutos, parece um episódio de série, e recomendo todos assistirem. Enquanto os atores contracenam para contar essa história de superação e luta, há reportagens da época entrelaçadas no filme, com narração da atriz principal.



Roteiro de Jack Thorne, roteirista colaborador de vários filmes, como ‘Extraordinário’ (2017), ‘Enola Holmes’ (2020) e ‘As nadadoras’ (2022). O filme foi produzido e distribuído pela BBC no Reino Unido; depois, em parceria com a Netflix, a BBC distribuiu o longa no restante do mundo.

A luta de Barbara e Alan (Then Barbara met Alan). Reino Unido, 2022, 67 minutos. Drama. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Bruce Goodison e Amit Sharma. Distribuição: Netflix

sexta-feira, 15 de março de 2024

Resenhas Especiais


Filmes de terror lançados em DVD pela Versátil Home Video - parte 4

Especiais efeitos

Neville (Eric Bogosian) é um diretor de cinema com a carreira em baixa. Ele acaba assassinando uma de suas atrizes e grava o crime. Dias depois, procura uma sósia para refazer a cena, que irá integrar seu futuro longa-metragem.

Fita independente de suspense com terror pouco conhecida do público, que virou cult com o passar do tempo. Bebe na fonte do cinema de Brian De Palma, em especial traz elementos e clima de ‘Um tiro na noite’ (1981) e ‘Dublê de corpo’ (1984 – lançado dois meses antes de ‘Especiais efeitos’). O diretor e roteirista Larry Cohen vinha de uma carreira consolidada no cinema policial com terror, fez o bizarro e nojento ‘Nasce um monstro’ (1974), o estranhíssimo e apocalíptico ‘Foi Deus quem mandou’ (1976), a fantasia com monstros ‘Q – A serpente alada’ (1982) e o terror escatológico inúmeras vezes exibido na TV ‘A coisa’ (1985), e aqui rodou um curioso filme independente metalinguístico, sobre a produção de cinema, um filme dentro de outro, utilizando um assassinato real como pano de fundo. É a história de um diretor decadente que mata a atriz de seus filmes e depois procura uma mulher que se pareça com a vítima para refazer o crime na frente das câmeras. Com o desenrolar dos dias, o sádico cineasta vai perdendo a sanidade. A ideia central do filme de Cohen é discutir os ‘Video nasties’, aqueles com crimes reais que ganhavam força na época, e também tratar dos artifícios do cinema, como a montagem de um filme e as inspirações de um diretor.





Marcou a estreia do ator Eric Bogosian, de ‘Talk radio – Verdades que matam’ (1988), e foi o segundo filme da atriz Zoë Lund (1962-1999), que enfrentou problemas com as drogas e virou musa do cineasta Abel Ferrara, trabalhando com ele como protagonista nos violentos ‘Sedução e vingança’ (1981) e ‘Vício frenético’ (1992). A fotografia faz as cores explodirem na tela, numa mistura de pop art com psicodelismo, feita pelo diretor de fotografia Paul Glickman, parceiro de Larry Cohen em vários filmes.
Filme em ótima cópia, disponível em DVD no box ‘Obras-primas do terror: Anos 80 - Vol. 3’, da Versátil Home Video, numa caixa contendo os longas ‘O mensageiro de satanás’ (1981), ‘O enigma do mal’ (1982), ‘Tudo por uma verdade’ (1984), ‘Morte no inverno’ (1987) e ‘Sem face’ (1988).

Especiais efeitos (Special effects). EUA, 1984, 106 minutos. Suspense/Terror. Colorido. Dirigido por Larry Cohen. Distribuição: Versátil Home Video


Morte no inverno

Uma atriz em busca de trabalho (Mary Steenburgen) recebe a proposta de fazer um filme. Ela irá substituir a atriz principal de uma produção, que teve uma crise nervosa e abandonou as gravações. No entanto, terá de ficar isolada no casarão de um veterano diretor de cinema (Jan Rubes). Levada até lá pelo motorista do cineasta (Roddy McDowall), a atriz desconfia que caiu numa armadilha mortal.

Um dos suspenses mais instigantes dos anos 80, um thriller angustiante com pitadas de horror em que Mary Steenburgen, vencedora do Oscar, interpreta três personagens – ao longo do filme descobre-se o motivo. O veterano diretor Arthur Penn, três vezes indicado ao Oscar, de ‘Bonnie e Clyde – Uma rajada de balas’ (1967), ‘Pequeno grande homem’ (1970) e ‘Um lance no escuro’ (1975), caprichou na trama complexa, que vai se tornando uma fita diabólica, envolvendo assassinato, ocultação de cadáver, herança etc.
Mary está bem, carismática e fotogênica como de praxe, Roddy McDowall e Jan Rubes são dois bons vilões de peso dispostos a tudo nesse filme com viés de terror psicológico levado às últimas consequências. Imprevisível, o filme se passa integralmente num casarão isolado na neve, e parece uma peça de teatro, com poucos atores em cena e o mínimo de cenários. O diretor de fotografia inventa enquadramentos inusitados, por cima, por baixo, de lado, e até nisso o filme é criativo. Levemente inspirado em um romance de Anthony Gilbert, conta com uma fotografia sofisticada de interiores de Jan Weincke, de ‘Zappa’ (1983).






Não confundir com a fita policial de espionagem com humor de mesmo título em português, com Jeff Bridges e John Huston, de 1979.
Saiu em DVD no box ‘Obras-primas do terror: Anos 80 - Vol. 3’ - foto acima, pela Versátil Home Video, juntamente com os longas ‘O mensageiro de satanás’ (1981), ‘O enigma do mal’ (1982), ‘Especiais efeitos’ (1984), ‘Tudo por uma verdade’ (1984) e ‘Sem face’ (1988).

Morte no inverno (Dead winter). EUA, 1987, 101 minutos. Suspense/Terror. Colorido. Dirigido por Arthur Penn. Distribuição: Versátil Home Video

segunda-feira, 11 de março de 2024

Especial de cinema


Noite de Oscar: ‘Oppenheimer’ ganha sete prêmios, e cerimônia tem discursos contra a guerra em Gaza e na Ucrânia

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood realizou na noite de ontem a entrega do Oscar 2024, numa cerimônia marcada por discursos políticos. ‘Oppenheimer’ ganhou sete Oscars, os principais da noite, como melhor filme, diretor e ator, para Cillian Murphy. ‘Pobres criaturas’ ficou em segundo lugar, recebendo quatro prêmios, dentre eles uma das boas surpresas da noite, a de melhor atriz para Emma Stone. Surpresas também foram os prêmios de melhor filme estrangeiro, para o instigante drama ‘Zona de interesse’, melhor animação, para o japonês ‘O menino e a garça’, e roteiro adaptado para ‘Ficção americana’.
Durante a premiação houve discursos contra a guerra da Ucrânia - quando o diretor ucraniano Mstyslav Chernov subiu ao palco para receber o Oscar de melhor documentário, pelo contundente ’20 dias em Mariupol’, além de equipes de outros filmes criticarem a guerra na Faixa de Gaza. Quase no final da cerimônia, o apresentador Jimmy Kimmel zombou de Donald Trump, pedindo a prisão dele, após o ex-presidente ridicularizar Kimmel nas redes sociais durante o evento.
Num dos blocos do evento, o ator John Cena chegou nu ao palco, tapando as partes íntimas com o envelope de melhor figurino, o que causou furor e muito riso na plateia; na hora de anunciar o ganhador, Cena vestiu rapidamente uma túnica.
A 96ª edição do Oscar ocorreu em Los Angeles e foi transmitido no Brasil pela TNT e MAX. Confira abaixo a lista completa dos vencedores.

 


Melhor Filme

 

Oppenheimer

 

 

Melhor Ator

 

Cillian Murphy, por “Oppenheimer”

 

 

Melhor Atriz

 

Emma Stone, por “Pobres Criaturas”

 

 

Melhor Direção

 

Christopher Nolan, por “Oppenheimer”

 

 

Melhor Ator Coadjuvante

 

Robert Downey Jr., por “Oppenheimer”

 

 

Melhor Atriz Coadjuvante

 

Da’Vine Joy Randolph, por “Os Rejeitados”

 

 



Melhor Filme Internacional

 

Zona de Interesse (Reino Unido)

 

 

Melhor Roteiro Original

 

Anatomia de uma Queda

 

 

Melhor Roteiro Adaptado

 

Ficção Americana

 

 

Melhor Fotografia

 

Oppenheimer

 

 

Melhor Montagem

 

Oppenheimer

 

 

Melhor Animação em Longa-Metragem

 

O Menino e a Garça

 

 



Melhor Documentário de Longa-Metragem

 

20 Dias em Mariupol

 

 

Melhor Som

 

Zona de Interesse

 

 

Melhores Efeitos Visuais

 

Godzilla Minus One

 

 

Melhor Design de Produção

 

Pobres Criaturas

 

 

Melhor Cabelo e Maquiagem

 

Pobres Criaturas

 

 

Melhor Figurino

 

Pobres Criaturas

 

 

Melhor Trilha Sonora Original

 

Oppenheimer

 

 

Melhor Canção Original

 

“What Was I Made For”, de “Barbie”

 

 

Melhor Documentário de Curta-Metragem

 

The Last Repair Shop

 

 

Melhor Curta-Metragem em Live-Action

 

A Incrível História de Henry Sugar

 

 

Melhor Animação em Curta-Metragem

 

War is Over! Inspired by the music of John & Yoko

 

 

sexta-feira, 8 de março de 2024

Resenhas Especiais


Filmes de terror lançados em DVD pela Versátil Home Video - parte 3

O mensageiro de satanás

Vítima constante de bullying na corporação militar, o cadete Coopersmith (Clint Howard) está prestes a surtar. Um dia, encontra no porão da academia de polícia um livro em latim. Com a ajuda de um computador, traduz os escritos, o que o faz invocar o diabo. Tomado pelo mal e com sede de vingança, ele irá eliminar seus colegas um a um.

Do começo ao fim, ‘O mensageiro de satanás’ é um filme assustador, com cenas macabras de assassinato, ambientado nos porões escuros de uma academia militar que mais parece uma igreja medieval decadente. A fotografia enegrecida dá o tom funesto desse terror oitentista original e de classificação indicativa 18 anos – no Reino Unido, por exemplo, foi banido, taxado de ‘Video nasty’.
Clint Howard, de ‘Um sonho distante’ (1992), é um rosto coadjuvante conhecido, começou a carreira como ator mirim, aos cinco anos de idade, participou de mais de 200 longas e aqui é o protagonista, um cadete da academia militar que invoca o diabo por meio de um computador para acabar com seus colegas que fazem bullying com ele – os estudantes da academia militar batem nele, jogam-no ao chão, fazem piadas por ser gordinho e ter bochechas grandes. Quando invoca o diabo pelo computador, a máquina pede ‘sangue humano’, o que levará o jovem a matar todos para saciar a sede monstruosa do equipamento eletrônico. Lançado em 1981, já se discutia o perigo do uso indevido do computador – na época as máquinas eram de propriedade dos militares e dos governos, para estratégias de guerra, e só anos depois viriam a ser de uso doméstico.
Prepare-se para um filme forte, de violência brutal, com direito a uma chacina no final com várias cabeças sendo decapitadas.
Co-estrelam o veterano R.G. Armstrong, de ‘O predador’ (1987), Joe Cortese, de ‘A outra história americana’ (1998), Don Stark, de ‘Peggy Sue, seu passado a espera’ (1986), e Claude Earl Jones, de ‘Miracle Mile’ (1988). Estreia na direção de Eric Weston, que escreveu o roteiro, e depois dirigiria ‘Marvin e Tige - Todo mundo precisa de alguém’ (1983) e ‘Triângulo de ferro’ (1989).




Filme em ótima cópia, disponível em DVD no box ‘Obras-primas do terror: Anos 80 - Vol. 3’, da Versátil Home Video, caixa contendo os filmes ‘O enigma do mal’ (1982), ‘Especiais efeitos’ (1984), ‘Tudo por uma verdade’ (1984), ‘Morte no inverno’ (1987) e ‘Sem face’ (1988). Aqui nos é apresentada a versão com cortes, de 92 minutos, em vez da original de cinema com cinco minutos a mais.

O mensageiro de satanás (Evilspeak). EUA, 1981, 92 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Eric Weston. Distribuição: Versátil Home Video


Sem face

Detetive particular investiga o desaparecimento de uma modelo. Tudo leva a uma clínica de cirurgia plástica, mantida pelo Dr. Flamand (Helmut Berger), local que esconde segredos sinistros.

Releitura do clássico filme de terror “Os olhos sem rosto” (1960), com muita violência, crimes brutais, sangue e erotismo, dirigido pelo mestre do cinema exploitation Jesús Franco, que também assinava como Jess Franco – nascido na Espanha, escreveu, dirigiu e produziu mais de 130 filmes na Espanha, Itália e França, como ‘O terrível Dr. Orloff’ (1962 – e várias continuações de ‘Dr. Orloff’), ‘O diabólico Dr. Z’ (1967), ‘Ela matou em êxtase’ (1971) e ‘Lua sangrenta’ (1981).
‘Sem face’ é um eurotrash com uma história tensa e cheia de mistério, sobre um cirurgião plástico cujos procedimentos estéticos não são nem um pouco ortodoxos. Mulheres começam a desaparecer em Paris ao passarem pela clínica dele, e a polícia inicia uma exaustiva investigação, partindo da clínica do médico até boates e outros points da noite parisiense.
Helmut Berger, Telly Savallas, Christopher Mitchum (filho do veterano Robert Mitchum), Stéphane Audran, Caroline Munro e Brigitte Lahaie são alguns nomes conhecidos que aparecem no filme. Cuidado com a classificação indicativa, devido às cenas fortes – duas delas causam impacto, como a da injeção no olho e uma decapitação horrenda.




Filme em ótima cópia, disponível em DVD no box ‘Obras-primas do terror: Anos 80 - Vol. 3’, da Versátil Home Video, caixa contendo os longas-metragens ‘O mensageiro de satanás’ (1981), ‘O enigma do mal’ (1982), ‘Tudo por uma verdade’ (1984), ‘Especiais efeitos’ (1984) e ‘Morte no inverno’ (1987).


Sem face (Les predateurs de la nuit/ Faceless). França, 1988, 98 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Jesús Franco. Distribuição: Versatil Home Video

quarta-feira, 6 de março de 2024

Cine Clássico


Os abutres têm fome

O pistoleiro Hogan (Clint Eastwood) salva uma freira, Sara (Shirley MacLaine), de um ataque de três homens no deserto do México. De personalidades opostas, precisam deixar as diferenças de lado para cruzar o deserto e assim sobreviver. Hogan tem uma missão de vida ou morte e é obrigado a levar a freira junto: encontrar um quartel francês para desmantelá-lo, acabar com os soldados que oprimem cruelmente o povo mexicano e roubar deles ouro para distribuí-lo aos moradores locais.

Faroeste classe A empolgante e inusitado, com assinatura da Malpaso, produtora de Clint Eastwood, que realizou praticamente todos os filmes do ator/diretor entre os anos de 1960 e 2010. Eastwood repete o papel do pistoleiro solitário e caladão, mortífero no gatilho, com um figurino semelhante ao da ‘Trilogia do Dólar’. Com olhar sagaz e desconfiado, ele atira sem piedade, joga dinamites e está disposto a eliminar um quartel inteiro para apreender cargas de ouro roubada do povo mexicano. Mas ao seu lado estará uma figura ilustre, uma freira que ele salvou do estupro no deserto – papel brilhante de Shirley MacLaine, de ‘Se meu apartamento falasse’ (1960), no auge da carreira. Uma dupla improvável, que não se dá bem, e que ao longo da história será balançada por surpresas.
O contexto do filme é o México do reinado do imperador Maximiliano, entre os anos de 1864 e 1867, quando forças francesas invadiram e ocuparam áreas do México. A história se passa ali, no meio do calor do deserto e das armadilhas selvagens dos foras-da-lei. A fotografia ensolarada de Gabriel Figueroa e a direção de arte condizem com essa ambientação – o filme foi rodado nos desertos do México, nas regiões de Sonora e Chihuahua, uma produção difícil, num calor insuportável, contam os produtores. A trilha, não poderia ser diferente, é memorável, de Ennio Morricone, o pai das trilhas dos western spaghetti. Roteiro de Budd Boetticher, que dirigiu muitos faroestes com Randolph Scott, como ‘Entardecer sangrento’ (1957).





Shirley MacLaine não se deu com o diretor, Don Siegel, que aqui fortaleceria uma duradoura parceria com Clint Eastwood; ela está num papel de alívio cômico, que originalmente seria de Elizabeth Taylor. MacLaine traz o humor necessário para uma história de violência e opressão - na época o faroeste causou burburinho pelas cenas violentas, de tiros com sangue, algo que não acontecia nas produções americanas. O desfecho, o ataque ao forte francês, é uma sequência estrondosa, de 10 minutos de tiros e explosões.
É um dos filmes da minha vida, já o assisti umas dez vezes e nunca me canso. Saiu em DVD e em bluray pela Classicline, em edições diferentes – o filme em DVD tem a metragem de cinema, 114 minutos, enquanto o bluray, com ótima imagem, traz o corte para a TV americana, com 10 min a menos. Em 2002 o filme já havia saído em DVD pela primeira vez no Brasil pela Universal Pictures.

Os abutres têm fome (Two mules for Sister Sara). EUA/México, 1970, 114 min. (em DVD) e 104 min. (em BD). Faroeste/Aventura. Colorido. Direção: Don Siegel. Distribuição: Classicline

Cine Clássico


Duas vidas

Michel Marnay (Charles Boyer), um playboy francês, e a ex-cantora Terry McKay (Irene Dunne) apaixonam-se a bordo de um navio. Porém ambos já são comprometidos e decidem se reencontrar meses depois, após se separarem. O local combinado é o topo do Empire State Building, cartão-postal de Nova York. No dia do marcado, uma tragédia trará um rumo inesperado para o casal.

‘Duas vidas’ é o exemplar perfeito do cinema romântico da ‘velha Hollywood’, um filme estilizado, bonito, adorado pelos americanos, muito fotogênico, mas de teor trágico. Desde o início sabemos que o casal terá dificuldades – um playboy casado conhece uma ex-cantora que tem um namorado, em pleno cruzeiro transatlântico. Eles não podem trair – lembrando que o cinema nessa época era extremamente moralista, portanto, combinam uma data futura para o reencontro, depois das devidas separações. Mas, no dia marcado, uma fatalidade colocará a vida dos dois em jogo. A história pode soar conhecida para alguns – é o mesmo roteiro de ‘Tarde demais para esquecer’, de 1957, feito pelo mesmo diretor, Leo McCarey, que o recriou com mais romantismo e o fez colorido, trazendo para a cena Cary Grant e Deborah Kerr. E o filme também teve outro remake, em 1994, com o casal Warren Beatty e Annette Bening, no último trabalho de Katherine Hepburn, ‘Segredos do coração’.




O francês Charles Boyer está ok no papel principal, e Irene Dunne, uma das divas do cinema, interpreta muito bem uma mulher inteligente e à frente de seu tempo. Os apaixonados vão se encantar e torcer pelo casal.
Recebeu seis indicações ao Oscar – melhor filme, atriz para Irene, atriz coadjuvante para Maria Ouspenskaya, roteiro original, direção de arte e canção.
Ganhou edição especial em DVD pela Obras-primas do Cinema, numa cópia restaurada - na abertura fala-se da restauração, feita em 2020 pelo Museu de Arte Moderna, o MoMa, em parceria com a Lobster Films, a partir de uma cópia 35mm; essa é a cópia final desse belíssimo filme da RKO Pictures, um clássico notável. No DVD da OPC há dois extras especiais.

Duas vidas (Love affair). EUA, 1939, 88 minutos. Drama/Romance. Colorido. Dirigido por Leo Mccarey. Distribuição: Obras-primas do Cinema

sexta-feira, 1 de março de 2024

Resenha Especial


Logan


Num futuro indeterminado, Logan (Hugh Jackman), um velho e cansado Wolverine, cuida do professor Xavier (Patrick Stewart), que está bem doente, fechado em sua cadeira de rodas, com memória fraca. Os dois estão escondidos num silo de uma usina desativada, na fronteira do México com os Estados Unidos. Até que um dia Logan recebe a missão de proteger Laura (Dafne Keen), uma garotinha que não fala. Ela é uma nova mutante, que fugiu de um laboratório, e está sendo perseguida por cientistas e mercenários. Laura irá revirar o mundo de Logan.

Bateu recorde de bilheteria esse filme de drama e ação que é um universo paralelo de um dos personagens mais queridos dos X-Men, Wolverine - o filme custou US$ 97 milhões e teve faturamento bruto mundial de US$ 619 milhões.
A história é complexa, passa-se num futuro indeterminado, em que os X-Men foram dizimados. Só restaram Wolverine/Logan e o professor Charles Xavier, hoje velhos, cansados e doentes – uma desconstrução total dos super-heróis que conhecemos, imbatíveis e que não sofrem. Logan protege Xavier, que está na beira do leito de morte. Vivem escondidos numa usina desativada, até que recebem a incumbência de proteger uma garotinha perseguida por cientistas e mercenários – ela é uma nova X-Men, cuidada por uma enfermeira mexicana, e foi vítima de sinistras experiências que a transformaram numa espécie de Wolverine, com garras mortais. Daí a trama se desenrola, sempre com tom dramático, e algumas, mas eficientes cenas de ação – vão surgindo figuras excêntricas, como Caliban - papel de Stephen Merchant, de ‘Jojo Rabbit’ (2019), um mutante de capa e chapéu, que não pode ficar no sol, e Pierce, chefe dos Carniceiros, um rapaz com braço biônico – papel de Boyd Holbrook, de ‘A hospedeira’ (2013).
Inspirado na série de HQ ‘Velho Logan’, do escocês Mark Millar, é um mundo alternativo baseado no arco da história de Wolverine, lançado entre 2008 e 2009, depois retomado em 2015. Logan era o apelido de James Howlett, o Wolverine, personagem importante dos X-Men, que apareceu pela primeira vez numa HQ de ‘O incrível Hulk’, em 1974. Aqui, agora, o personagem Logan tem os poderes enfraquecidos, abandonou a vida de herói para ser chofer de limusine, levando pessoas a casamentos e a funerais. E ele cuida do professor/mentor Charles Xavier, que está com Alzheimer, fragilizado.
Na época do lançamento, em 2017, foi o 10º longa-metragem da série de filmes dos ‘X-Men’ e o terceiro focado no Wolverine, antecedido por ‘X-Men Origens: Wolverine’ (2009) e ‘Wolverine: Imortal’ (2013) – este último, dirigido também por James Mangold, e todos foram muito bem de bilheteria. Mangold é um entusiasta do cinema de aventura e ação, com filmes variados na carreira; também produtor e roteirista, dirigiu policiais como ‘Cop land’ (1997) e ‘Encontro explosivo’ (2010), o faroeste ‘Os indomáveis’ (2010), os dramas biográficos ‘Garota, interrompida’ (1999), ‘Johnny e June’ (2005) e ‘Ford vs. Ferrari’ (2019), o suspense ‘Identidade’ (2003), o já mencionado ‘Wolverine: Imortal’ (2013) e recentemente a aventura ‘Indiana Jones e a relíquia do destino’ (2023).





Indicado ao Oscar de melhor roteiro adaptado, ‘Logan’ teve sua première no Festival de Berlim. Não é um filme qualquer de super-herói, tem mais clima dramático, os personagens são humanizados, há tragédias reveladas e um desfecho amargo, que deu uma pontada de tristeza nos fãs desse popular personagem. Hugh Jackman foi o ator de todas as versões para cinema de Wolverine, da Marvel, desde ‘X-Men – O filme’ em 2000, e tornou-se querido no papel. Tem participação de célebres atores veteranos, como Richard E. Grant, indicado ao Oscar por ‘Poderia me perdoar?’ (2018), como o líder dos cientistas maus, e, claro, Patrick Stewart, como Xavier – ele repetiu o papel em quase todos os longas anteriores.
Tem fortes traços com os faroestes ‘Os imperdoáveis’ (1992) e ‘Os brutos também amam’ (1953) – aliás, este clássico aparece na TV quando Xavier a liga, e os cenários desérticos com corrida de carro lembram a franquia ‘Mad Max’.
Saiu em bluray pela 20th Century Fox, numa edição simples, e depois, a versão chamada ‘Logan Noir’, em preto-e-branco, junto com a versão colorida de cinema – experimentem ver em PB, é outra sensação e outro filme! A metragem original é de 137 minutos, porém, em regiões da China, devido à violência, o filme teve um corte de 15 minutos, saindo com 122 minutos – há cenas sangrentas, por isso - numa delas, no começo, Logan, para se proteger de um ataque, corta os braços de um bandido e enfinca suas garras na cabeça de um ladrão. No Brasil e nos EUA, teve classificação de 16 anos.

Logan (Idem). EUA, 2017, 137 minutos. Ação. Colorido (versão de cinema) e Preto-e-branco (versão ‘Logan noir’, em bluray). Dirigido por James Mangold. Distribuição: 20th Century Fox.

Cine Especial


O pequeno gângster

Rikkie Boskamp (Thor Braun) é um garoto alvo de zoeiras na escola por ser nerd. Quando assiste na TV a um filme de máfia, promete ser igual ao personagem, um destemido gângster. Ele se muda com o pai para outra vizinhança, começa a se vestir como um mafioso, de jaqueta de couro e óculos escuros, e espalha na nova escola e na comunidade que seu pai é um perigoso chefão do crime. Rikkie passa a ser respeitado, com sua postura de valentão. Os vizinhos temem o garoto e seu pai, até que um antigo rival de Rikkie aparece para pôr fim ao seu reinado de mentira.

Entre os anos de 2005 e 2015, a Holanda produziu muitos filmes infantis com histórias inusitadas, como ‘A história de Wim de A a Z’ (2015), uma espécie de Oliver Twist dos Países Baixos, sobre um menino órfão forçado a trabalhar numa fábrica e que se envolve em aventuras mágicas, e esse outro bom exemplar, ‘O pequeno gângster’ (2015), uma brincadeira infanto-juvenil com o mundo da máfia. É uma farsa com gags engraçadas, de um menino vítima de bullying na escola que dá a volta por cima contando uma mentirinha, de que ele e seu pai são mafiosos – o boato cresce e vira uma aventura maluca de peripécias mil.
O filme tem composição minimalista, com poucos cenários e personagens, fotografia pastel e momentos cômicos – numa das cenas, o menino, vestido de gângster, olha para o espelho e imita Robert De Niro em ‘Taxi Driver’, repetindo a célebre frase do filme, ‘Você está falando comigo’?
É uma sessão da tarde para assistir sem compromisso, um filme criativo com breve teor metalinguístico, já que o garoto – o bom ator Thor Braun, que depois fez mais seriados na Holanda – imita a máfia a partir de cenas de um filme policial que viu na TV. Falando nisso, os créditos iniciais são um barato, em preto-e-branco, cujo letreiro é com tipografia antiga, imagem embaçada e com ranhuras.
Baseado no livro infantil de sucesso ‘De Boskampi's’, da escritora holandesa Marjon Hoffman, publicado em 2004, o filme recebeu prêmio especial no Festival de Hamburgo. Foi dirigido pelo holandês Arne Toonen, do policial ‘Estado de emergência’ (2019), que também assina como produtor.



Não se deixe levar pela capa meio tosca – é uma fitinha bacana, bem realizada e criativa. Outro filme que explora a máfia pelo ponto de vista das crianças é a comédia musical com aventura ‘Quando as metralhadoras cospem’ (1976), de Alan Parker, indicada ao Oscar de melhor trilha sonora.
Em DVD pela Flashstar, pode ser visto na plataforma Prime Video. Disponível, para locação, nos streamings Google Play Video, Apple TV e Youtube Filmes.

O pequeno gângster (De Boskampi's). Holanda, 2015, 101 minutos. Comédia. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Arne Toonen. Distribuição: Flashstar