segunda-feira, 30 de novembro de 2020

Cine Cult


Juan dos Mortos

Juan (Alexis Díaz de Villegas), um cidadão cubano que não gosta de fazer nada, sente algo estranho no ar. Em Havana, onde mora, descobre uma contaminação que transforma as pessoas em mortos-vivos. Ao lado do amigo Lázaro (Jorge Molina), esconde-se num prédio e tenta ganhar dinheiro abrindo um negócio empreendedor para a comunidade local: matar os zumbis a um preço acessível.

Pode não parecer, mas a divertida comédia de humor negro “Juan dos Mortos” é uma fita política, engajada e extremamente crítica ao governo cubano. É um “terrir” escrachado, com banhos de sangue e mortes bem recriadas, e ao mesmo tempo aborda com critério e forte análise social o regime castrista na Cuba contemporânea (o filme é de 2011, Fidel Castro ainda estava na ativa). Cenas inteligentes dão o recado para abalar o regime cubano, com enfoque na centralização do Estado, na opressão, no bloqueio econômico da ilha, ao sistema de saúde etc
Admira-se a boa maquiagem por ser uma fita de zumbi de baixo orçamento, rodada em um país que não faz cinema de terror. E foi rodado inteiramente nas ruas de Havana, em prédios e casas populares, sem recursos de cenários mirabolantes ou efeitos digitais.
Exibido no Festival do Rio em 2011. Assina a direção o argentino Alejandro Brugués, realizador de fitas B de horror.


Um filme descontraído, rápido e gerador de reflexões, com uma ótima dupla em cena que se completa, Alexis Díaz de Villegas e Jorge Molina. Assista!

Juan dos Mortos (Juan de los Muertos). Cuba/Espanha, 2011, 92 minutos. Ação/ Comédia. Colorido. Dirigido por Alejandro Brugués. Distribuição: Imovision

sábado, 28 de novembro de 2020

Cine Cult


Guerra e paz

Na Rússia czarista do início do século XIX, três famílias aristocratas veem seus dias mudarem de maneira drástica, envolvendo-se em paixões secretas, traição, interesses pessoais, disputas amorosas e tragédias durante as guerras napoleônicas.

Épico extraordinário rodado na URSS, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 1968, é um dos longas-metragens de maior duração da História (totaliza 420 minutos), que demorou três anos para ser feito. É também a versão mais fidedigna do consagrado romance original, “Guerra e paz”, do russo Liev Tolstoi. E agora vem a boa notícia: para presentear os colecionadores nesse final de ano, a CPC-Umes Filmes acaba de lançar a edição integral do filme em bluray, com as quatro partes restauradas, que na verdade são quatro fitas independentes: “Guerra e paz I - Andrey Bolkonsky” (de 1965, com 140 minutos), “Guerra e paz II - Natasha Rostova” (1966, 93 min), “Guerra e paz III – O ano de 1812” (1967, 77 min) e “Guerra e paz IV - Pierre Bezukhov” (1967, 92 min).
Havia no mercado a cópia em DVD pela Obras-Primas do Cinema, num box com três discos, cuja imagem era mediana, e contendo como extra duas horas de material promocional, making of etc. Esta nova edição restaurada, em bluray, pela CPC-Umes, está um primor de imagem e som, essencial para os colecionadores que optam pela qualidade (mas sem extras como o da Obras-primas, exceto trailers); são dois discos numa caixa com quatro cards e um pôster com a capa original. Parabéns à CPC-Umes!!
Voltando ao filme, “Guerra e paz” é a saga de ímpetos amorosos e disputas pessoais de três famílias russas, os Bolkonsky, Rostova e Bezukhov, durante as guerras napoleônicas. Acompanhamos desde a Batalha de Austerlitz, em 1805, onde Napoleão venceu o exército austro-russo, à invasão da Rússia por Napoleão em 1812, quando houve uma virada para os russos, e os franceses foram derrotados pela tática de ‘terra arrasada’, com a ajuda da cavalaria cossaca e o ponto crucial de derrota, o inverno rigoroso (isso abalou a hegemonia da França e enfraqueceu Napoleão). Entre os momentos de guerra, vem os romances e relacionamentos na alta sociedade da Rússia, entre príncipes, princesas, reis, culminando em traições, brigas, divórcios, ou seja, além do filme recorrer a um tom de guerra, há o drama, sobre os costumes da aristocracia russa do século XIX, bem como o heroísmo do povo e o fortalecimento do regime czarista.


Demorou três anos para ser produzido (entre 1965 e 1967), sendo o filme mais caro feito na antiga União Soviética, e percebe-se o cuidado técnico nessa produção de grande magnitude. Há duas cenas especiais de guerra, que impressionam até hoje, difíceis de serem gravadas, com gruas e uso de aviões para a imagem panorâmica de devastação – em uma delas, a Batalha de Borodino, vemos 300 atores em cena, 120 mil figurantes portando 100 mil fuzis de verdade, além de 200 canhões... uma reprodução de cair o queixo!
A CPC-Umes já lançou outras obras do diretor, Sergey Bondarchuk, como “O destino de um homem” (1959), “Boris Godunov” (1986) e “Eles lutaram pela pátria” (1975 – que saiu esse mês) – ele é uma figura importante no cinema de lá, também foi ator e roteirista.


Curiosidade: Existem muitas versões para o cinema do romance fatalista “Guerra e paz”, mas esta é sem dúvida a mais fiel – outra que recomendo é a de 1956, feita nos EUA, mais romantizada, de King Vidor, com Audrey Hepburn, Mel Ferrer e Henry Fonda (disponível em DVD e Bluray pela Paramount Pictures).

Guerra e paz (Voyna i mir). URSS, 1965-1967, 420 minutos. Drama/Guerra. Colorido. Dirigido por Sergey Bondarchuk. Distribuição: CPC-Umes Filmes

Cine Cult


Sobrevivente

No inverno de 1984, um barco choca-se com a Costa da Islândia. Toda a tripulação morre, exceto Gulli (Ólafur Darri Ólafsson). Perdido nas águas congelantes, ele nada até chegar à praia, numa jornada tenebrosa que durou mais de seis horas.

Representaria a Islândia no Oscar 2013 (mas não entrou para a lista dos finalistas) esse drama peculiar de ritmo lento e ares de aventura baseado em uma história real ocorrida no inverno de 1984, que repercutiu na imprensa do mundo inteiro. Dividido em duas partes, uma com a vida do homem comum Gulli e a outra com o naufrágio e a jornada de sobrevivência dele nas águas glaciares, o filme se sustenta pelo bom trabalho do protagonista, Ólafur Darri Ólafsson, americano de origem islandesa, que vem trabalhando como coadjuvante em muitos filmes blockbusters nos Estados Unidos, exemplo, “O bom gigante amigo” (2016) e “Animais fantásticos: Os crimes de Grindelwald” (2018). A direção consistente do islandês Baltasar Kormákur dá o tom de angústia para a história trágica - e ele foi além para proporcionar o realismo, chegou a afundou um barco de verdade pensando nas cenas do desastre. Tudo na mais perfeita forma e intensidade!


Kormákur, que é produtor, roteirista e ator, fez filmes premiados em sua terra natal como “O mar” (2002), além de fitas de ação nos EUA, como “Contrabando” (2012). Dois outros longas do cineasta seguem uma linha parecida com esse “Sobrevivente”, ambos baseados em fatos verídicos, “Evereste” (2015) e “Vidas à deriva” (2018). Confira! Em DVD pela Imovision.

Sobrevivente (Djúpið/ The deep). Islândia, 2012, 95 minutos. Ação/ Drama. Colorido. Dirigido por Baltasar Kormákur. Distribuição: Imovision

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Cine Lançamento


O homem invisível

Esposa de um cientista milionário, Cecilia (Elisabeth Moss) foge do marido controlador e violento na calada da noite, sem ele desconfiar. Abriga-se na casa de um amigo, e dias depois é informada que o cientista morreu repentinamente. A partir daí uma série de estranhos incidentes colocará Cecilia em dúvida sobre sua sanidade. A vida de Cecilia corre risco, assim como a daqueles que estão próximos a ela.

Incrível a bilheteria desse longa-metragem americano independente, coproduzido no Canadá e Austrália, que custou apenas U$ 7 milhões, e arrecadou U$ 130 mi. no mundo – estreou no início de 2020, e há chances de Elisabeth Moss receber indicação ao Oscar em 2021, pois seu papel de protagonista é um deslumbre (ela ganhou dois Globos de Ouro, pelas séries ‘Top of the lake’ e ‘O conto da aia’, e vem fazendo muito cinema nos últimos anos).
O cineasta (e ex-ator) Leigh Whannell, diretor de um filme intrigante chamado “Upgrade: Atualização” (2018), transformou o famigerado romance de horror e ficção cientifica do final do século XIX “O homem invisível”, do britânico H.G. Wells, em um conto moderno sobre violência feminina. Ele contextualiza a antiga história nonsense numa trama altamente realista, num cenário sobre feminicídio e de como as mulheres podem se empoderar, fugir dos agressores e denunciar a violência sofrida (mesmo que os outros duvidem, com o argumento da sociedade machista de culpar a vítima) – Elisabeth é a esposa “perseguida” pelo marido “morto”, um homem dominador e que mantém com ela um convívio abusivo. Dentro do suspense, o filme levanta outra questão, a do uso irrestrito da tecnologia para o crime – não vou contar, assista para descobrir.


Respire fundo, segure o coração e dê play nesse que é um dos melhores filmes de 2020, da produtora Blumhouse, especializada em obras instigantes de terror moderno, como “Sobrenatural” (2010), “A morte te dá parabéns!” (2017), “Corra!” (2017) e “A caçada” (2020). Em DVD e Bluray pela Universal.

O homem invisível (The invisible man). EUA/Canadá/Austrália, 2020, 124 minutos. Drama/Terror. Colorido. Dirigido por Leigh Whannell. Distribuição: Universal Pictures

Cine Lançamento



A favorita

Início do século XVIII na Inglaterra. Instável e fragilizada emocionalmente, a rainha Anne (Olivia Colman) entrega os poderes para a jovem Sarah (Rachel Weisz) governar em seu lugar. A chegada de uma nova criada no palácio, Abigail (Emma Stone), cria uma série de desavenças, disputas e obsessão entra ela, Sarah e a rainha.

Um embate estelar de um trio de atrizes em plena forma, no filme mais criativo e curioso de 2018, e o mais acessível do incógnito cineasta grego Yorgos Lanthimos, de “Dente canino” (2009), “O lagosta” (2015) e “O sacrifício do cervo sagrado” (2017). As três estão bem, mas é Olivia Colman quem arrebenta, no papel da rainha chorona, manipulada por uma jovem duquesa/ama/mentora e entregue a paixões ocas (inspirada na verdadeira rainha Anne da Grã-Bretanha, que governou o país entre 1702 e 1714). Um roteiro amarrado, que cresce a cada instante, e culmina num desfecho simbólico, tomado por uma aura misteriosa e com estranhezas típicas do diretor (ele subverte a narrativa, usa enquadramentos desproporcionais com jogo de lentes de grande ocular que provocam a sensação de alienação etc). Na história contextualiza fatos supostamente reais da rainha e que ganham força, como seu lado temperamental, uma mulher doente e instável, com o coração dividido entre duas mulheres.
Levou apenas o Oscar de atriz para Olivia, e indicado, merecidamente, a outros nove prêmios da Academia: melhor filme, direção, as duas atrizes coadjuvantes – Emma e Rachel, figurino, fotografia, edição, design de produção e roteiro original (aliás, brilhante). Engoliu mais prêmios, como Globo de Ouro de atriz, sete estatuetas no Bafta e dois no Festival de Veneza, incluindo o Grande Prêmio do Júri.


Assisti na Mostra de Cinema de SP em 2018, depois revi duas vezes, e estou apto para ver mais uma! Um arraso total, procurem já! Disponível em DVD e Bluray pela Fox.

A favorita (The favourite). Irlanda/Reino Unido/EUA, 2018, 119 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Yorgos Lanthimos. Distribuição: 20th Century Fox

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Cine Lançamento


Alita: Anjo de combate

Criada com peças de sucata num laboratório pelo cientista Dyson Ido (Christoph Waltz), a ciborgue Alita (Rosa Salazar) procura por pistas de seu passado. Ela desconhece a força que possui até se envolver em uma guerra contra robôs poderosos.

“Alita” retorna às salas de cinema nas próximas semanas, depois de ter enfrentado baixas na bilheteria no ano passado. Era uma aposta alta dos produtores,  os mesmos de “Avatar”, porém fracassou, e já se encontra em DVD e Bluray.
Uma pena as pessoas não terem visto na telona esse filmão de ação do melhor nível, com roteiro e produção de James Cameron (diretor, roteirista e criador de “O exterminador do futuro” e outras fitas revolucionárias de ficção científica), em parceria com Laeta Kalogridis (de “Ilha do medo”), baseado no mangá scifi dos anos 90 do japonês Yukito Kishiro, chamado “Gunnm”. Entre tiros, destruição e porradas, misturando ação e ficção científica, o entretenimento fala sobre memórias, esperança e empoderamento feminino, com uma cyborg lutando, no futuro, contra o mal numa sociedade criminosa e opressora, dominada por homens.
As cenas de ação são inspiradoras, para ninguém botar defeito, com um design potente, todo criado em CG. Nem vemos passar os 122 minutos, o filme é uma obra vibrante! No elenco tem Rosa Salazar (“coberta” por efeitos visuais para virar a protagonista), Christoph Waltz (ganhador de dois Oscars), Ed Skrein, Jeff Fahey, Jennifer Connelly, e nos papéis dos vilões, Mahershala Ali (duas vezes ganhador do Oscar) e Jackie Earle Haley.


É, disparado, o melhor filme em anos do visionário diretor Robert Rodriguez (de “Um drink no inferno”). Se puder, assista com o som no máximo!

Alita: Anjo de combate (Alita: Battle angel). EUA/Japão/Canadá, 2019, 122 minutos. Ação. Colorido. Dirigido por Robert Rodriguez. Distribuição: 20th Century Fox

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Resenha Especial


Mogambo

* Reedição da resenha publicada no blog em maio de 2014

Na perigosa selva do Quênia, o caçador Victor Marswell (Clark Gable) gerencia com rigidez um acampamento que recebe diariamente visitantes de todos os lugares do mundo. Os dias seguem iguais, até que conhece, lá, duas charmosas turistas, Eloise Kelly (Ava Gardner) e Linda Nordley (Grace Kelly), que balançam o coração de velho homem. Como ironia do destino, ambas também se apaixonam por Victor, que terá de escolher com quem ficar. Mas só depois de encerrar a arriscada cruzada de conduzir aventureiros pela floresta para caçar gorilas africanos.

John Ford, gênio número 1 do western americano, dirigiu com pompa e elegância essa aventura romântica pelas selvas quenianas, onde um velho caçador disputará o amor de duas mulheres de beleza magnânima. Em vez do rigor na forma, Ford optou por uma fita caseira, sem artefatos e reflexões; na verdade buscou um entretenimento de fácil acesso ao público, num momento de descontração pessoal – por isto, “Mogambo” virou moda na época e teve fãs em todo o mundo, inclusive no Brasil.
Não há como não gostar de um filme desses, que lembra “Hatari!” (1962), que surgiria quase 10 anos depois e apresenta a mesma ambientação – só não me recordo do país africano (no lugar dos gorilas, John Wayne caça rinocerontes com um grupo de bravos, e há também um romance melindrado).
Ford (sou aficionado pelo cineasta, perceberam?) reuniu um trio que faz e acontece, composto por nomes icônicos da Era de Ouro de Hollywood: Clark Gable, Ava Gardner e Grace Kelly. Aliás, as duas atrizes do filme concorreram ao Oscar em 1954 – Ava como principal e Kelly como coadjuvante (esta ganhou o Globo de Ouro na categoria). Há um clima de tensão no que tange ao romance entre os três, com consequente disputa. Para o caçador Victor, a disputa é ainda maior, pois além da “dor de cabeça” causada pelas mulheres, o cidadão tem a dura missão de organizar um bando de homens na caçada aos macacos (e pela frente irão se deparar com onças raivosas, colocando a vida em jogo).
Grande parte da produção foi rodada na República Democrática do Congo, no Parque Nacional do Quênia, na Uganda e na Tanzânia, e outra em estúdios na Inglaterra.


Indicado ao Bafta de melhor filme, “Mogambo” é uma delícia de passatempo para todas as idades, sem contar que é uma viagem incrível pela África selvagem. Acaba de ser relançado em DVD pela Classicline, numa cópia boa – o filme tinha saído em DVD no Brasil pela primeira vez em 2014, pela extinta Colecione Clássicos (hoje Obras-Primas do Cinema).

Mogambo (Idem). EUA, 1953, 111 min. Aventura/Romance. Colorido. Dirigido por John Ford. Distribuição: Classicline (DVD de 2020) e Colecione Clássicos (DVD de 2014)

Cinema Especial


Lançamentos em DVD da Classicline. Uma boa pedida para os colecionadores. Olhem só os títulos:

- Mogambo (1953, aventura, de John Ford, que teve duas indicações ao Oscar - atriz para Ava Gardner e atriz coadjuvante para Grace Kelly)

- O voo da Fênix (1965, aventura, com James Stewart, que teve duas indicações ao Oscar - ator coadjuvante para Ian Bannen e melhor edição)

- Coleção 'Elvira', com os filmes "Elvira, a rainha das trevas" (1988) e a continuação, "As loucas aventuras de Elvira " (2001) - duas comédias de humor negro com pegada de terror que fizeram muito sucesso na TV

- Nikita: Criada para matar (1990, ação, de Luc Besson, indicada ao Globo de Ouro de filme estrangeiro)

- Gerônimo: Uma lenda americana (1993, faroeste, de Walter Hill, com grande elenco, a destacar Gene Hackman e Robert Duvall - indicado ao Oscar de melhor som)

Valeu, pessoal da Classicline, pelo envio dos filmes! Interessados em adquirir os filmes podem procurar no site da distribuidora, https://www.classicline.com.br




quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Resenha Especial


Sangue e honra

Na Inglaterra do século XIII, cavaleiros templários lutam para defender os direitos dos homens, abrindo fogo contra um rei tirano.

Fita de aventura histórica com montagem caprichada e muitas sequências sangrentas, como decapitação, com um elenco de peso em participações especiais, dentre eles Paul Giamatti e os veteranos Derek Jacobi, Brian Cox e Charles Dance. O pano de fundo é a Inglaterra na Idade Média, mais especificamente o ano de 1215, um fato real marcante para os ingleses, quando o rei João (conhecido como “João Sem Terra”, de Oxford, que governou a Inglaterra de 1199 até sua morte, em 1216, no fim do Império Plantageneta) enganou os barões ao prometer assinar a Carta Magna, que permitia liberdade ao povo e o fim da monarquia. Ele comprou briga com os cavaleiros da Ordem Templária, que iniciaram uma guerra civil contra o tirano, para defender os direitos do povo. Ali estava o Castelo de Rochester servindo como palco central da batalha – o castelo virou símbolo da luta por justiça social (ele fica localizado em Rochester, em Kent, um condado no sudeste da Inglaterra, próximo a Londres).
Produzido com orçamento moderado, custou U$ 25 milhões, porém decepcionou nas bilheterias mundiais, arrecadando somente U$ 5 milhões – no Brasil, por exemplo, passou imperceptível nos cinemas e meses depois o filme saiu em DVD pela Imagem Filmes.

Sangue e honra (Ironclad). Reino Unido/EUA/Alemanha/Suíça, 2011, 121 min. Ação/Aventura. Dirigido por Jonathan English. Distribuição: Imagem Filmes

* Texto publicado em março de 2012 no boletim informativo "Colunas & Notas"

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Cine Cult


Tentação proibida

Roué Marengo (Marcello Mastroianni) é um arquiteto desiludido no casamento que se apaixona por uma garota, Francesca (Nastassja Kinski), durante uma viagem. Eles iniciam um caso, e logo Roué desconfia que ela possa ser sua filha.

Conto urbano erótico que serviu de veículo para o estrelato de Nastassja Kinski, filha do ator alemão Klaus Kinski, então com 27 anos - no ano seguinte ganharia o Globo de Ouro pelo cult “Tess” (1979, de Roman Polanski). Ela faz par romântico com o veterano astro italiano Marcello Mastroianni, que tinha uma incrível presença de cena.
É uma história de amor impossível centralizada na relação amorosa, de fascínio e dor, de um arquiteto de meia-idade, em crise no casamento, com uma menina, que pode ser sua filha (com quem nunca mais teve contato).
A temática era forte para a época, trazia a dúvida sobre o incesto, e explorava a relação, malvista pela sociedade, de garotas com homens mais velhos (a personagem de Nastassja tem 37 anos a menos que o arquiteto, ela convive com uma amiga de quarto, e ambas têm taras por homens de meia-idade, por exemplo, no apartamento delas há pôsteres de Albert Einstein e Ernest Hemingway). As poucas sequências de sexo são sutis, românticas e bem fotografadas.
Caminham em consonância a trilha sonora sentimental de Ennio Morricone, a proeminente atuação de Mastroianni (o maior ator do cinema italiano, parceiro de longa data de Federico Fellini e indicado a três Oscars de ator) e a correta direção de Alberto Lattuada - que começou no Neorrealismo e depois fez comédias como “Guendalina” (1957) e “A mandrágora” (1965).


Coprodução Itália e França, saiu numa época onde o erotismo picante era muito explorado no cinema, despertando a curiosidade das pessoas, depois de “Emmanuelle” (1974), “A história de 'O'” (1975), “O império dos sentidos” (1976) e “Paixão selvagem” (ou “Je t'aime moi non plus”, com sua canção famosa, de 1976). Em DVD pela Obras-primas do Cinema.

Tentação proibida (Così come sei). Itália/Espanha, 1978, 104 minutos. Drama/Romance. Colorido. Dirigido por Alberto Lattuada. Distribuição: Obras-primas do Cinema

Cine Lançamento


Brightburn – Filho das trevas

Brandon Breyer (Jackson A. Dunn) é um garoto de 12 anos que mora numa cidade do interior do Kansas chamada Brightburn. Quando vira alvo de bullying na escola, recorre aos pais, Tori (Elizabeth Banks) e Kyle (David Denman), para ajudá-lo a enfrentar a dura situação. Certo dia, é atraído por uma estranha força até o celeiro da casa. Brandon adquire superpoderes malignos e incontroláveis. Transforma-se assim numa espécie de super-herói para combater todos aqueles que dificultam seu caminho.

Na linha de filmes de super-heróis diferentes, o produtor James Gunn (diretor e roteirista dos dois primeiros “Guardiões da galáxia”) investiu nesse filme de terror para dar uma força ao irmão Brian Gunn e ao primo Mark Gunn, que escreveram o roteiro. Ele fala sobre a origem de um herói pelo prisma do horror, com traços evidentes de Superman: o garoto foi adotado por um casal, quando bebê caiu dos céus numa espécie de aeronave, ele tem incríveis poderes de força, voa numa velocidade extraordinária com uma longa capa e usa máscara. Outra semelhança ao Super-Homem: a cidade do filme é a fictícia Brightburn, situada no Kansas, mesmo estado onde Kal-El surgiu dos céus, além de ambos terem sido criados numa casa de campo.
O menino não é exatamente o arquétipo do herói tradicional dos quadrinhos, ele tem um perfil de anti-herói/antagonista, pois mata cruelmente os adversários. Ele não dá trégua, ninguém está salvo perto dele, nem mesmo a família! Que fique claro, não é um entretenimento de super-herói como existem por aí, o clima é pesado, não há alívio cômico, o terror predomina com mortes brutais (tanto que a classificação indicativa é 16 anos, pela violência explícita). É a diferença!


O elenco colabora, com destaque para Elizabeth Banks (da franquia “Jogos vorazes”, indicada a três Emmys), David Denman (de “O pacote” e “Logan Lucky: Roubo em família”) e o garoto Jackson A. Dunn, no primeiro trabalho como protagonista. Sente-se uma mão firme do diretor, que fez aqui seu segundo longa, um jovem com talento para fitas criativas, David Yarovesky. Optou por uma metragem curta (tem apenas 90 min) e pegada moderna.
O estúdio é o Screen Gems, subdisiário da Sony voltado a filmes de terror e ação, como “Slender man”, “Buscando”, “Cadáver” e a nova versão de “O grito”. Apesar do baixo orçamento (U$ 6 milhões), rendeu U$ 32 mi nas bilheterias mundiais (ou seja, teve bilheteria razoável). O público americano que curtiu já pede uma sequência! Lançamento do mês em DVD e Bluray pela Sony Pictures – com extras.

Brightburn – Filho das trevas (Brightburn). EUA, 2019, 90 minutos. Terror/Ação. Colorido. Dirigido por David Yarovesky. Distribuição: Sony Pictures

domingo, 15 de novembro de 2020

Cine Cult



As uvas da morte

Pesticida utilizado em vinhedos na França transforma as pessoas em zumbis. Um grupo de sobreviventes tenta escapar dos mortos-vivos enquanto a contaminação atinge várias cidades.

Zombie movie francês de baixo orçamento escrito e dirigido pelo experiente cineasta do horror independente daquele país Jean Rollin (de “A vampira nua” e “A noite da caçada”), que colaborou para reinventar o gênero. Rollin, no meio de cenas ultraviolentas com banhos de sangue, faz uma crítica social e um alerta sobre o uso dos agrotóxicos nas lavouras (aqui a trama é em vinhedos, como o título indica – eu, por exemplo, nunca colocaria um título assim para um filme, acho que prejudica o marketing, apesar de que mantiveram a ideia do original, em francês).
A cultuada fita veio na onda do gore, por isso tantas sequências sangrentas, com mortes horripilantes (a melhor é a da decapitação de uma mulher zumbi com um machado, um espetáculo sensacionalista dos mais bem recriados no cinema desse tipo). Filmes assim não existem mais... Que bom revê-los!


A versão disponível no Brasil é a restaurada, com ótima imagem e som, e sem cortes, de 90 minutos (devido ao alto grau de violência explícita, o filme saiu editado, com cortes de cinco minutos, no lançamento em 1978). Essa cópia, de versão integral, é da Versátil e se encontra no box “Zumbis no cinema – volume 5”, contendo mais três títulos, inéditos em DVD: “Os predadores da noite” (1980), “Os canibais do apocalipse” (1980) e “Zumbi 3” (1988) – o DVD é duplo, com extras e cards colecionáveis.


As uvas da morte (Les raisins de la mort). França, 1978, 90 min. Terror. Colorido. Dirigido por Jean Rollin. Distribuição: Versátil Home Video

domingo, 8 de novembro de 2020

Especial de Cinema



Ainda dá tempo de assistir aos filmes da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, cuja repescagem termina hoje às 23h59. A edição 2020 é online, pela plataforma Mostra Play - mostraplay.mostra.org. Estão disponíveis 130 títulos de 40 países, premiados em festivais como Berlim, Cannes, Sundance e Veneza. A programação encontra-se no site oficial da Mostra, 44.mostra.org, e os ingressos têm o valor de R$ 6 por título.
Confira abaixo uma nova seleção feita por mim dos melhores filmes da edição de 2020.


Berlin Alexanderplatz (Alemanha/Holanda/França/Canadá, 2020, de Burhan Qurbani)

Segunda adaptação para o cinema do romance expressionista alemão de Alfred Döblin, de 1929, numa versão atualizada e ainda mais estarrecedora (lembrando que o famoso ‘Berlim’, de Fassbinder, não era cinema, e sim minissérie, realizada em 1980). Nessa revisão, o protagonista Franz agora é um negro refugiado ilegalmente na Alemanha. Depois de sobreviver a um afogamento, promete mudar de vida, entrando de cara no submundo da criminalidade e da prostituição da Berlim contemporânea. Com o bom ator de Guiné Bissau, Welket Bunguém, dos filmes brasileiros “Joaquim” e “Corpo elétrico”. Indicado ao Urso de Ouro e ao Teddy Bear em Berlim, ganhou prêmio especial no Festival de Rotterdam.


Coronation (China, 2020, de Ai Weiwei) e Vivos (Alemanha/México, 2020, de Ai Weiwei)

O diretor, artista plástico e designer chinês Ai Weiwei liberou seus dois últimos documentários para essa edição da Mostra, “Coronation” e “Vivos”. Duas ótimas opções ainda disponíveis nessa repescagem. Em “Coronation”, quase todo gravado com drones, Weiwei mostra o avanço do coronavírus na cidade de Wuhan, epicentro inicial da pandemia. É um projeto experimental, difícil de ser feito, onde ele adentra hospitais para registrar os pacientes terminais da doença, capta imagens impressionantes de Wuhan vista de cima, e acompanha algumas histórias de sobreviventes da Covid. No outro doc, “Vivos”, ele vai para o México fazer um estudo sobre a criminalidade no país, com foco em uma história trágica, a morte de estudantes inocentes que faziam uma viagem e foram interceptados por traficantes e pela polícia local. Além disso, trata do desaparecimento de milhares de pessoas, uma verdadeira crise que afeta as comunidades locais.


O charlatão (Polônia/República Tcheca/Irlanda, 2020, de Agnieszka Holland)

Novo filme da cineasta e roteirista polonesa Agnieszka Holland, indicada ao Oscar por “Filhos da guerra”, diretora de “Eclipse de uma paixão” e “O terceiro milagre”. Inspirado na vida do farmacêutico tcheco Jan Mikolasek, que dedicou a vida inteira aos cuidados de doentes por meio da medicina alternativa (ele usava ervas e produtos naturais nos tratamentos). Perseguido pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial, acusado de charlatanismo e por ser gay – ele teve um relacionamento secreto com um de seus funcionários. Espero que em 2021 estreie no Brasil! Indicado ao Teddy Bear no Festival de Berlim (o prêmio do festival para fitas de temática LGBT).


Sobradinho (Brasil, 2020, de Marília Hughes e Cláudio Marques)

Um documentário brasileiro sensato sobre a desocupação de áreas da região de Sobradinho, na Bahia da década de 70, onde no local foi construída a barragem que alagou quatro vilas. Alguns ex-moradores retornam para lá para recordar da vida na comunidade. Gratuito na plataforma do Sesc Digital.

Lorelei (EUA, 2020, de Sabrina Doyle)

Pequena joia da Mostra desse ano, essa fita americana independente recebeu prêmio especial no Festival de Tribeca e traz uma dupla de atores em boa forma, Pablo Schreiber e Jena Malone. É um drama íntimo e discreto sobre vidas em reconstrução. Schreiber faz um cara que sai da cadeia e vai morar com uma namorada de infância (papel de Jena), hoje com três filhos. Entre idas e vindas, dissabores e lembranças, eles tentam adaptar a vida às novas rotinas. O final, que explica o título do filme, é poético e emociona!

Casulo

Drama gay alemão que lembra em certos momentos “Azul é a cor mais quente”, ainda que menos polêmico e menos amargo. A protagonista é uma garota de 14 anos que começa a sentir atração por meninas, e procura ajuda para entender o que se passa com ela. Nesse meio tempo, menstrua, apaixona-se e passa por desilusões amorosas. Tem uma trilha sonora dos anos 80 e 90, é simpático, rápido (99 minutos) e abre uma reflexão sobre as crises da adolescência. Indicado ao Teddy e ao Crystal Bear em Berlim.


A herdade (Portugal/França, 2019, de Tiago Guedes)

Junto de “Mosquito”, a Mostra exibe outra fita portuguesa de impacto, comprovando a safra atual de ótimos filmes realizados em Portugal. Indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza, o filme é uma longa saga de uma família latifundiária que vive numa propriedade às margens do rio Tejo. Dramas pessoais, disputa de terra e conflitos com o governo permearão a trajetória desse grupo, desde a década de 40 aos dias de hoje. Apesar de longo (167 minutos), a talentosa obra é um bom recorte histórico de Portugal dos últimos 70 anos.

Mate-o e deixe esta cidade (Polônia, 2020, de Mariusz Wilczynski)

Animação polonesa diferentona, indicada a dois prêmios especiais em Berlim, que mistura terror, surrealismo e drama. Na mente do personagem principal, tudo acontece: ele cria uma cidade imaginária, recorda momentos com familiares (hoje todos mortos), encontra-se com figuras simbólicas, como gatos e cegonhas de aparência humana, e espera a hora passar. Altamente imaginativo, tem um visual azulado deprê, com traços estranhos – além de criaturas zumbificadas, decapitações, no estilo próprio desse diretor polonês, que estreia no longa-metragem. Para público adulto.

Nossa Senhora do Nilo (Ruanda/França/Bélgica, 2019, de Atiq Rahimi)

Adaptação do livro da escritora tutsi Scholastique Mukasonga, o filme de Ruanda é um drama pungente e simbólico sobre a preparação de garotas para integrar à elite. Instaladas num colégio interno no alto de uma colina, nessa passagem para a vida adulta, enfrentam desafios e alimentam sonhos. As melhores cenas são do ritual diário em contemplação a uma Nossa Senhora colocada num altar à beira do mato. Vencedor do Urso de Cristal da seção Geração 14plus do Festival de Berlim, o filme também faz alusão ao genocídio ocorrido no país em 1994.

Os nomes das flores (Bolívia/EUA/Canadá/Qatar, 2019, de Bahman Tavoosi)

Fita boliviana curtinha (79 minutos) ganhadora de prêmio especial em Veneza, sobre uma comunidade de mulheres que lembram de um fato marcante em suas vidas, quando abrigaram Che Guevara e seu grupo guerrilheiro na Bolívia. O filme trabalha com contradições, repleto de diálogos bem escritos e nos conduz a uma paisagem maravilhosa pelas montanhas geladas do nosso país vizinho.

As veias do mundo (Alemanha/Mongólia, 2020, de Byambasuren Davaa)

Nas estepes da Mongólia, um garoto de 11 anos que cuida das ovelhas com o pai sonha em participar de um show de talentos. Inesperadamente, o pai morre, então o desejo do menino é interrompido. Assume o lugar do patriarca, inclusive se agarra uma causa social deixada por ele: combater empresas de mineração que exploram a comunidade local. Concorreu ao Crystal Bear, esse filmão todo rodado no deserto de Gobi, na Mongólia. Elenco bom, fotografia condizente e uma história poderosa nessa bonita fita cult.

A arte de derrubar (Noruega/África do Sul, 2019, de Aslaug Aarsæther e Gunnbjörg Gunnarsdóttir)

Documentário de forte engajamento social sobre os desdobramentos do “Movimento Fallista”, que começou como protestos estudantis em universidades da África do Sul pela derrubada (ou retirada) de monumentos de figuras coloniais e racistas que remetiam ao período do Apartheid. Hoje o movimento atinge uma série de modalidades do campo artístico, como a dança, a performance, além da arquitetura e outras linhas de ativismo.

sábado, 7 de novembro de 2020

Especial de Cinema

Mostra de Cinema de São Paulo tem repescagem online até dia 08; confira os melhores filmes da edição 2020

A 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, iniciada em 22 de outubro, encerrou a programação no último dia 04, porém abriu a tradicional repescagem para o público. Ela fica online até às 23h59 de amanhã (08/11), na plataforma Mostra Play - mostraplay.mostra.org. Estão disponíveis 130 títulos de 40 países, premiados em festivais como Berlim, Cannes, Sundance e Veneza. A programação está no site oficial da Mostra, 44.mostra.org, e os ingressos têm o valor de R$ 6 por título.
Confira abaixo mais uma seleção feita por mim dos melhores filmes da Mostra 2020.

Não há mal algum (Irã/Alemanha/República Tcheca, 2020, de Mohammad Rasoulof)

Ganhou o Urso de Ouro e o Prêmio do Júri Ecumênico no Festival de Berlim esse fabuloso drama iraniano de um cineasta que foi preso junto de Jafar Panahi e não pode sair do país há anos. Ele conta em seu filme pessoal quatro histórias entrelaçadas que discutem questões morais e pena de morte no Irã atual. Uma porrada!



Another round (Dinamarca/Suécia/Holanda, 2020, de Thomas Vinterberg)

Filme de encerramento da Mostra, entrou de última hora na programação, exibido presencialmente no Bike In do Auditório Ibirapuera; no mesmo dia cerca de 500 ingressos foram vendidos para a plataforma online, que se esgotaram rapidinho... Mais um filme de Thomas Vinterberg com o astro dinamarquês Mads Mikkelsen (fizeram juntos “A caça”), em que o ator interpreta um professor desmotivado que embarca numa viagem de embriaguez diária, ao lado de amigos, para comprovar uma teoria, de que o álcool, em pequenas quantidades, pode abrir a percepção para o mundo. Mas ele se descontrola, e seu emprego e os laços familiares correm risco. Exibido em Cannes.



Candango: Memórias do Festival (Brasil, 2020, de Lino Meireles)

Viajei nas histórias contadas nesse doc brasileiro sobre o Festival de Brasília, um dos mais politizados e importantes do Brasil. Lembrei quando estive duas vezes no Festival (em 2008 e 2009) e pude ver de perto o que diretores, atores e críticos contam aqui sobre os bastidores do evento mais aguardado pelos fãs de cinema de nosso país. Que filme bem feito, que produção caprichada! Um estudo sobre a relevância cultural provocada em uma cidade pelos festivais de cinema.

Minha irmã (Suíça, 2020, de Stéphanie Chuat e Véronique Reymond)

Indicado ao Urso de Ouro no Festival de Berlim, o drama é o representante da Suíça para disputar uma vaga no Oscar de filme estrangeiro em 2021. Uma história de amor e dor sobre uma dramaturga que retorna à cidade natal para cuidar do irmão que sofreu um grave acidente. Traz duas presenças femininas marcantes, interpretadas por Nina Hoss e a veterana Marthe Keller.

O nariz ou A conspiração dos dissidentes (Rússia, 2020, de Andrey Khrzhanovsky)

Animação russa a partir do famoso conto de traços surrealistas (antes mesmo de o Surrealismo existir) “O nariz”, de Gogol, sobre um nariz que foge do rosto de um oficial e se aventura pelas ruas de São Petersburgo. Desenho para adultos, amalucado, que critica os costumes da Rússia do século XIX. Atenção para a criativa técnica híbrida, com gráficos inusitados, colagens, pouco diálogo e muitas cores.

Stardust (Reino Unido, 2020, de Gabriel Range)

Muita gente torceu o nariz para o longa que pretendia ser uma grande biografia (ou parte dela) do músico David Bowie, ícone do rock/pop rock nos anos 70 e 80. Não é uma obra de mestre, porém o resultado está acima da média, e gostei do talentoso Johnny Flynn no papel principal – a história são dos anos iniciais do camaleônico cantor Bowie quando criou um dos personagens icônicos no palco, o Ziggy Stardust, em 1971. Charmosinho e nostálgico.


Gênero, pan (Filipinas, 2020, de Lav Diaz)

Cineasta de presença na Mostra de SP, o filipino Lav Diaz lançou mais uma pequena joia de seu cinema autoral, outra obra cult longa, mas não tão longa como as últimas (a média de duração de seus filmes gira em torno de 5h, esse tem 2h37). Em preto-e-branco, com ritmo lento e uma fotografia belíssima dentro de florestas, acompanha os intensos diálogos de três amigos mineradores numa selva na mítica ilha de Hugaw. Para público específico - e que tenha paciência para encarar essa vagarosa narrativa contemplativa.


Colômbia era nossa (Finlândia/França/Dinamarca, 2020, de Jenni Kivistö e Jussi Rastas)

Documentário estridente sobre as desigualdades da Colômbia e a instabilidade política gerada quando as Farcs iniciaram anos atrás o processo para um acordo de paz, pretendendo entregar as armas com objetivo de participação política e inclusão social. Vale cada minuto para conhecer o núcleo do “Exército do Povo”, bem como o processo de colonialismo a que o país foi submetido, e que o coloca como o mais violento da América Latina.

Sem som (Irã, 2020, de Behrang Dezfulizadeh)

Drama iraniano com as qualidades máximas do cinema cult de lá, que inclui sérias questões sociais e as explosivas reviravoltas (deixadas para o finalzinho). História delicada sobre uma mãe com deficiência auditiva, que luta para obter a cirurgia de implante coclear do filho pequeno, que é surdo. Muitas subtramas, como a do abuso do ex-marido, deixarão o público com o coração na mão!

DAU. Natasha (Rússia/ Ucrânia/ Alemanha, 2020, de Ilya Khrzhanovskiy e Jekaterina Oertel)

Esgotaram os ingressos desse filme russo indigesto e extremamente atual, por mais que se passe num mundo meio distópico e com ingredientes kafkianos. Divide com certeza a opinião do público. Trata de uma mulher chamada Natasha que trabalha num instituto soviético na década de 50, envolvida com bebedeiras e devassidão, até que certo dia é convocada para um terrível interrogatório, com direito a torturas, pela KGB. Tem cenas fortes de sexo explícito, e violência (o filme compõe um extenso projeto da dupla de cineastas, que fez onze continuações, e a segunda delas, ainda mais estranha, polêmica e difícil de assistir, está na programação da Mostyra, ‘Dau. Degeneração’). Ganhador do Urso de Prata em Berlim.


DAU. Degeneração (Rússia/ Ucrânia/ Alemanha/2020, de Ilya Khrzhanovskiy/ Ilya Permyakov)

Segundo filme de uma série de onze obras cinematográficas duramente longas (esse, por exemplo, tem 6h09 de duração), sobre uma série de experimentos científicos degradantes comandada pelo Komsomol, os jovens do Partido Comunista da URSS, esforçados na criação de um humano em laboratório. Aqui, a degeneração é total, com cenas fortes de mortes, incluindo uma das sequências mais chocantes que já vi no cinema, o verdadeiro esquartejamento de um porco vivo. Aborda temas como eugenia e é uma crítica feroz ao sistema totalitário.

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Nota do Blogueiro


Amigos e fãs de cinema, olhem só os lançamentos da Classicline, fresquinhos nas melhores lojas. Tem o box "Código Nolan", para aproveitar o novo filme do diretor Christopher Nolan que está nos cinemas ("Tenet"), uma caixa que reúne, em bluray, três fitas importantes do cineasta britânico cinco vezes indicado ao Oscar; vem aqui, em alta resolução, seus três primeiros longa-metragens, "Following" (1998), "Amnésia" (2000) e "Insônia" (2002), e além dos filmes, horas e horas de extras imperdíveis para os colecionadores se deliciarem.
Tem também "Convenção das bruxas" (1990), muito aguardado pelo público colecionador, uma fita de comédia com fantasia e bruxaria que marcou gerações, pela primeira vez em DVD. E por fim o relançamento do suspense "Manhunter - Caçador de assassinos" (1986), que apresentou Hannibal Lecter no cinema, dirigido por Michael Mann e baseado no romance de Thomas Harris. Procure já a Classicline! Obrigado, pessoal, pelo envio dos filmes. Adorei!