sábado, 30 de maio de 2020

Cine Clássico



Kim

Em 1885, na Índia sob domínio do Império Britânico, um garoto órfão, de pais ingleses, Kim (Dean Stockwell), passa-se por uma criança indiana, cria amizade com todos e vive perambulando pelas ruas. Tem como melhor amigo o comerciante de cavalos Mahbub Ali (Errol Flynn), que na verdade é um agente do Serviço Secreto Britânico. Os dois partem para uma aventura atrás do lendário Rio da Seta, percorrendo os mistérios da cultura daquele país.

Uma aventura formidável, encantadora, exibida na TV aberta por muitos anos, baseada no livro de mesmo nome do indiano Rudyard Kipling (publicado em 1901), em mais uma obra com pano de fundo na Índia sob controle do Império Britânico (Kipling é o criador de Mogli, o menino-lobo). Custou caro para a época, ultrapassando U$ 2 milhões, devido às filmagens na Índia, além de toda a técnica brilhante que salta na tela (figurinos perfeitos, direção de arte com fortes cores douradas, fotografia excepcional com lindos passeios pela Índia mística etc) – o que não é locação, é estúdio, gravado na MGM.
Contextualizada num conflito entre os Impérios Russo e Britânico pelo controle da Ásia, onde se insere a Índia (conflito este intitulado ‘O Grande Jogo’), no final do século XIX, a história, do início ao fim, segue as deliciosas aventuras de um garoto irlandês que finge ser indiano, ao lado de seu grande amigo e mentor, um comerciante de cavalos que esconde a verdadeira identidade, de agente do serviço secreto - respectivamente interpretados pelo ator mirim Dean Stockwell, que fez muitos filmes nesse período, depois foi indicado ao Oscar de coadjuvante por “De caso com a máfia” (1988), e pelo galã da Era de Ouro Errol Flynn, para sempre lembrado como Robin Hood do clássico homônimo do cinema dos anos 30. Em busca de um lendário rio, encontram lamas tibetanos, enfrentam inimigos e têm de escapar de perigos diversos... Tanto o livro quanto o filme são ricos em detalhes da cultura, religião e dos costumes da Índia, e isto é enriquecedor para quem procura uma viagem em imagens!


Um dos filmes mais legais do diretor do cinema mudo Victor Saville, no antepenúltimo filme da carreira, “Kim” (1950) saiu recentemente em DVD pela Classicline.

Kim (Idem). EUA, 1950, 113 minutos. Aventura. Colorido. Dirigido por Victor Saville. Distribuição: Classicline

Cine Cult



O casal Osterman

O apresentador de TV John Tanner (Rutger Hauer) anualmente reúne um seleto grupo de amigos para um fim de semana diferente em sua casa, localizada numa região remota. Convencido pela CIA que parte deles são espiões russos, permite que a residência seja monitorada na próxima reunião, que será em breve. Chegado o tão aguardado dia, dentro de uma van, o agente especial da CIA Fassett (John Hurt) observa, pelas câmeras, cada movimento dos amigos de Tanner, no entanto os planos fogem do acordo, e um a um será caçado por atiradores de elite.

O último filme do poeta da violência Sam Peckinpah (1925-1984), diretor do western “Meu ódio será sua herança” (1969), e de fitas de ação como “Os implacáveis” (1972) e “Assassinos de elite” (1975), é exatamente esse grande thriller de espionagem, com um elenco primoroso, que tem o falecido Rutger Hauer como protagonista, contracenando com John Hurt, Craig T. Nelson, Meg Foster, Burt Lancaster, Dennis Hopper e Chris Sarandon, todos eles em momento especial. Dessa vez ele não assinou o roteiro, que fora escrito por Alan Sharp (de “Um lance no escuro”), a partir de uma adaptação do romance de Robert Ludlum, um escritor especializado em espionagens na Guerra Fria (seus romances mais famosos são com o personagem Jason Bourne, transformados em uma série de filmes).


O começo do filme demora, é um tanto arrastado, e o espectador deve prestar atenção nos detalhes das longas conversas, referentes à relação dos vários personagens que aparecem, pois a trama ficará complexa; no entanto, os 40 minutos finais são pura excitação, trazem a marca profunda de Peckinpah, que coreografa o caos como ninguém (ousado, com cenas de lutas e morte em câmera lenta – quem conhece seus filmes não se confunde nunca!).
Saiu em DVD no Brasil há muitos anos pela Flashstar, na “versão original de cinema”, com 103 minutos. Existe também uma “do diretor”, de 116 minutos, que, acredito eu, não deva existir por aqui. A cópia da Flashstar está boa, disponível numa edição especial em disco duplo, com muitos extras.

O casal Osterman (The Osterman weekend). EUA, 1983, 103 minutos. Ação. Colorido. Dirigido por Sam Peckinpah. Distribuição: Flashstar

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Especial - Cinema Espanhol



Especial ‘Cinema Espanhol’ no Netflix

Durante a tormenta

A chegada de uma forte tempestade une duas histórias ocorridas em dois tempos diferentes, separadas por 25 anos, que envolvem um assassinato, um desaparecimento e uma mulher à procura de respostas.

Inesperado sucesso do Netflix, o bom suspense espanhol “Durante a tormenta” entrou na plataforma há dois anos e permanece com aceitação máxima do público. Isso porque o filme tem um roteiro intrigante, que fala sobre “efeito borboleta”. Numa noite de tempestade, dois fatos ocorridos num intervalo de tempo de 25 anos se cruzam: o primeiro é em 1989, quando um garoto presencia um crime e, ao fugir da casa onde viu uma pessoa assassinada, é atropelado e morto. O segundo, em 2014, se passa no local do antigo crime, que agora abriga uma nova família; a dona da casa encontra uma fita pertencente ao menino atropelado e faz contato com ele. Aquilo não será em vão, sua filha desaparece, e ela tem nasmãos o poder de modificar o rumo dessas histórias. Fiz um resumo sem spoiler... prepare-se para momentos de grata surpresa nessa trama complexa, bem escrita, que prende o espectador até decifrar as mensagens nos minutos finais (o final é surpreendente).
É o terceiro trabalho do diretor e roteirista Oriol Paulo, um cineasta com fitas excelentes de mistério, que realizou antes “O corpo” (2012) e outro sucesso do Netflix, “Um contratempo” (2016). Ele sabe compor reviravoltas que nem podemos imaginar, recorrendo ainda ao gênero scifi (aqui com o tema “viagem no tempo”).
Com Chino Darín (filho do maior astro da Argentina, Ricardo Darín), Adriana Ugarte (de “Julieta”, onde interpreta o papel-título do drama de Almodovar), o veterano do cinema espanhol Javier Gutiérrez e participação de Álvaro Morte (o Professor da série de megafama do Netflix “La casa de papel”). Embarque na moda e veja!

Durante a tormenta (Durante la tormenta). Espanha, 2018, 129 minutos. Suspense. Colorido. Dirigido por Oriol Paulo. Distribuição: Netflix

 
As leis da termodinâmica

Um cientista vidrado nas leis da Termodinâmica busca um novo relacionamento amoroso, mas até lá inúmeras confusões pintarão em seu caminho, incluindo uma malsucedida troca de casais.

Podemos encontrar no Netflix essa gostosa comédia romântica criativa, rápida e com humor bem moldado, que relaciona as leis da Física com o poder da paixão/do amor. Do diretor espanhol Mateo Gil, de “Os implacáveis” (2011, com Sam Shepard), passa-se numa bela Barcelona (com locações lindas da cidade de Gaudí), com um protagonista neurótico, um cientista em formação que vê termodinâmica em tudo, principalmente nos namoros. Esse cara termina um romance, emenda em outro, e tudo o que acontecia antes, volta, como crise de ansiedade, troca de casais e confusões amorosas. Porém um novo flerte surge para, quem sabe, colocá-lo no eixo!
A edição do filme é elegantíssima, com fórmulas matemáticas na tela, explicações sobre termos de Física e Química para relacioná-los ao amor, mistura narração off com depoimentos verdadeiros de cientistas e professores sobre o assunto, resumindo, tem uma questão técnica bem curiosa, em tom de documentário.
Assisti zapeando no Netflix, gostei bastante e recomendo. No elenco principal, Vito Sanz (que é um protagonista apenas ok, sem ser marcante), mas em contrapartida tem Chino Darín, que poderia ter ficado com o papel principal, pois é um ator melhor (chegando perto do pai, Ricardo Darín).

As leis da termodinâmica (Las leyes de la termodinâmica). Espanha, 2018, 100 minutos. Comédia romântica. Colorido. Dirigido por Mateo Gil. Distribuição: Netflix


Viver duas vezes

Aposentado, viúvo e com Alzheimer, o professor de matemática Emilio (Oscar Martínez) não desiste de encontrar um velho amor da juventude, que mora em outro estado. Essa mulher a quem ele se refere o fez crescer e abrir seus olhos quando jovem. Ao lado da neta, Emilio parte para uma viagem para o tão esperado reencontro.

Está na minha lista das melhores comédias dramáticas do Netflix essa que é uma produção original espanhola feita com sensibilidade por uma cineasta catalã, Maria Ripoll. E conduzida por um dos maiores nomes do cinema argentino, Oscar Martinez, de “O cidadão ilustre” (2016), que se divide entre produções do seu país e na Espanha. Singular, objetivo, o filme independente toca num assunto difícil e bem sério, o Alzheimer, porém utilizando o humor como arma de reflexão, ou seja, não faz a fita ser dura para acompanharmos (pelo contrário). Na trama, a doença do protagonista o faz retomar os laços familiares, com a neta pequena e com a filha-problema. Com a garotinha parte para uma viagem (o filme vira um road movie romântico) em busca do amor que teve na época de jovem. A filha não aprova a ideia, pois, para ela, é uma provocação à família e à memória da mãe falecida; mesmo assim aquele homem solitário corre contra o tempo para o reencontro, à medida que a memória vai falhando um pouco a cada dia.
Gostou? Então assista a esse filme que diverte, comove, fecha com uma sequência bonita, e funciona com um time de atores afinados em uma lição de amor e de vida.

Viver duas vezes (Vivir dos veces). Espanha, 2019, 101 minutos. Comédia dramática. Colorido. Dirigido por Maria Ripoll. Distribuição: Netflix

 
Toc Toc

Na sala de espera de um consultório, um grupo de pacientes com TOC aguarda a chegada do médico. Ele não aparece, então resolvem fazer uma terapia em grupo ali mesmo, com consequências engraçadíssimas.

Distribuído nos cinemas espanhóis pela Warner Bros em 2017, “Toc Toc”, no ano seguinte, teve os direitos de exibição comprados pelo Netflix, e desde essa época permanece no catálogo das produções com o selo da empresa (isso costuma acontecer em fitas independentes que entram num circuito restrito, ganham certo comentário positivo da crítica e do público, e daí o Netflix negocia a ampliação, inserindo-as em seu streaming para todos os países).
Essa comédia engraçadíssima é uma adaptação espanhola de um telefilme francês de 2008, por sua vez baseado na peça de Laurent Baffie (encenada por vários anos no Brasil, com Sandra Pêra no elenco, um sucesso nos palcos por aqui). Marcado pelo estilo teatral, traz um punhado de personagens com transtornos obsessivo-compulsivos fechados num mesmo ambiente, que é a sala de espera de um consultório médico. O longa mostra esses comportamentos extravagantes, estranhos, com casos que vão da Síndrome de Tourette (o doente xinga, faz gestos obscenos) à mania de limpeza/higiene. Todos, ansiosos à espera do médico que nunca chega... até que resolvem contornar a situação, iniciando uma terapia em grupo, com resultado hilário!
Tem os melhores atores espanhóis e argentinos da safra atual, Paco Leon, Rossy De Palma (dos filmes de Almodóvar), Oscar Martinez, e um desfecho-surpresa, que possibilita uma continuação.
A gente ri até dizer chega dos problemas dos outros nessa história maluca (os transtornos são graves, e o filme escorre para o humor proposital, assumindo o pastelão). Está no Netflix há um ano e continua fazendo sucesso no Brasil. Para dar gargalhadas sem moderação!

Toc Toc (Idem). Espanha, 2017, 96 minutos. Comédia. Colorido. Dirigido por Vicente Villanueva. Distribuição: Netflix

Nota do Blogueiro


A distribuidora de DVDs Obras-primas do Cinema lança dois boxes especiais esse mês, um deleite para os colecionadores. Trata-se de "Sessão Anos 80 - volume 2" e "Coleção Terence Hill & Bud Spencer", ambos em disco duplo. No primeiro box temos quatro filmes de terror e terrir, quase todos inéditos em DVD: "O portão" (1985), "A coisa" (1985), "Monster - A ressurreição do mal" (1986) e "Bonecas macabras" (1987). Na segunda caixa, outros quatro filmes, agora protagonizados pela famosa dupla de cinema western e policial italianos: "A dupla explosiva" (1974), "Quem encontra um amigo encontra um tesouro" (1981), "Dois loucos com sorte" (1983) e "Os dois super-tiras em Miami" (1985). Os dois boxes contêm cards especiais com mini-pôsteres dos filmes, e nos discos muitos extras. Vale cada centavo investido! Obrigado, pessoal da OPC, pelo envio dos DVDs.




domingo, 24 de maio de 2020

Cine Lançamento - Em DVD



O bar Luva Dourada

Um serial killer chamado Fritz Honka (Jonas Dassler) ataca prostitutas num bairro boêmio de Hamburgo nos anos 70.

A distribuidora com foco em fitas cult Imovision lançou uma campanha na internet no início do mês que mobilizou os colecionadores do Brasil todo: aproveitando o reaquecimento do mercado de DVDs no país, a partir de agora ela relançará filmes que estavam fora de catálogo e também trará em DVD fitas premiadas recém-exibidas nos cinemas. A primeira remessa com novos títulos contém “O paraíso deve ser aqui” (2019), “Encontros” (2019) e o polêmico “O bar Luva Dourada” (2019).
A partir de uma horrenda história real, esse filme de drama com toques de horror, já aviso, é forte, com cenas chocantes de esquartejamento de mulheres, que causou mal-estar no Festival de Berlim, onde foi indicado ao Urso de Ouro no ano passado.
No centro da cena está o sádico serial killer Fritz Honka (1935-1998), que aterrorizou Hamburgo no início dos anos 70. Ele frequentava um bar, “Luva Dourada”, próximo ao distrito da luz vermelha, que reunia a escória da cidade, como bêbados doentes e prostitutas velhas (sua obsessão). Convidava essas mulheres para seu apartamento miúdo, um lugar sujo, onde, com ou sem sexo, as matava com crueldade, cortando-as em pedacinhos com uma serra. Partes dos corpos ele armazenava em casa, num compartimento na cozinha, outros eram espalhados por terrenos baldios vizinhos. Em quatro anos Honka matou pelo menos quatro vítimas – mas a polícia acreditava em mais de 10.
É deprimente ver as cenas de assassinato, o grau de insanidade e loucura que atingia aquele homem (ele era misógino, alcoólatra, deformado, com temperamento explosivo), e a quantidade de gente decrépita que o cercava. Há uma ou duas tramas paralelas menores, mas a gente até esquece delas, pois marcante mesmo é o serial killer em ação (novamente reforço, as sequências de morte podem impressionar).


A ambientação, por meio de cenários, segundo mostra o making of que tem no DVD, ficou idêntica à Hamburgo suja dos anos 70, num trabalho meticuloso de construção de cena. Outro ponto alto é a maquiagem: o bonito ator alemão Jonas Dassler, de apenas 23 anos, passou por um processo rigoroso de makeup (que devia ter sido indicada ao Oscar) para envelhecer quase duas décadas (na época do filme o assassino teria por volta de 38 anos) – para assemelhar-se ao real Honka precisou de lentes de contato para deixá-lo estrábico, além de um nariz postiço torto e dentes podres.
Um filme violento, pra baixo, para público específico, um genuíno estudo de misoginia e perversidade sob a estética do horror.
É mais um trabalho de impacto do cineasta alemão Fatih Akin, nascido em Hamburgo, o mesmo de “Em pedaços” (que tratava de terrorismo). Produção original da Warner Bros, com distribuição da Pathé, lá fora, aqui no Brasil está sob os direitos da Imovision.

O bar Luva Dourada (Der Goldene Handschuh). Alemanha/França, 2019, 115 minutos. Drama/Terror. Colorido. Dirigido por Fatih Akin. Distribuição: Imovision

sábado, 23 de maio de 2020

Cine Clássico



O valente treme-treme

O dentista Peter Potter (Bob Hope) vai tentar a sorte no Velho Oeste. Mal chega na cidade, conhece uma brava pistoleira, Calamity Jane (Jane Russell). Ela quer descobrir quem vende armas aos índios, e para isso pede ajuda ao dentista. Os dois fingem um casamento, e Potter, que é medroso, bota panca de valente para ajudar Jane em seus objetivos. No caminho a dupla ficará diante de uma série de atrapalhadas e perigos envolvendo pistoleiros, índios e xerifes armados.

Uma das minhas comédias preferidas da Era de Ouro de Hollywood, também um dos maiores sucessos na carreira de Bob Hope, astro da TV e do cinema americano entre os anos 40 e 60, que faleceu em 2003 aos 100 anos! Lembro de tê-la assistido pela primeira vez quando pequeno, numa sessão de madrugada na TV aberta, na metade dos anos 90, e me marcou a sucessão de confusões e atrapalhadas do personagem principal fugindo de índios e homens durões no Velho Oeste.
Bob Hope tinha um timing perfeito para a comédia, aqui ele interpreta um dentista medroso, meio doido, que precisa ser valente quando se une a uma figura lendária do Oeste selvagem, a pistoleira Jane Calamidade (Calamity Jane existiu mesmo, viveu na região de Dakota do Sul, guiou grupos de pistoleiros contra os ameríndios, morrendo aos 50 anos em 1903). É uma brincadeira descompromissada com essa real personagem, e quem a interpreta, compondo um tipo desconstruído, sensual, é Jane Russell, a famosa morena “matadora” do cinema americano dos anos 40 e 50, um autêntico sex symbol e furacão em cena – Jane atuou em vinte e cinco filmes, sendo o mais lembrado “Os homens preferem as loiras” (1953, ao lado de Marilyn Monroe). Hope e Jane têm uma química estrondosa, compartilham as emoções fazendo o público cair na risada. Prepare-se para altas aventuras, peripécias malucas e muito humor!


Ganhador do Oscar de canção (“Buttons and bows”), essa clássica comédia western teve uma continuação muito bacana em 1952, “O filho do treme-treme”, com o mesmo elenco.
Saiu em DVD há muitos anos pela Colecione Clássicos, que depois virou a distribuidora Obras-Primas do Cinema.

O valente treme-treme (The paleface). EUA, 1948, 89 minutos. Comédia. Colorido. Dirigido por Norman Z. McLeod. Distribuição: Colecione Clássicos (hoje Obras-Primas do Cinema)

Cine Cult



Amaldiçoada

Liz (Dakota Fanning) é uma jovem que passa a ser perseguida por um reverendo diabólico (Guy Pearce). Ao lado da família, transita pelos quatro cantos do país, na tentativa de fuga, mas o mal a persegue por todos os caminhos.

Está aí uma excelente fita cult que mistura gêneros e no final das contas é curiosa, original e macabra. Tem suspense, drama, toques de terror e mistério, a protagonista Dakota Fanning num de seus melhores trabalhos, assim como Guy Pearce num papel duro, maquiavélico (dá raiva de seu personagem, um verdadeiro diabo no corpo de homem). Quem conhece o clássico “O mensageiro do diabo” (1955, com Robert Mitchum), pode encontrar semelhanças boas – em ambos os filmes, há um reverendo sinistro que persegue a todo custo um grupo de pessoas aparentemente inocentes, deixando um rastro de sangue por onde passa.
Detesto esse título genérico, “Amaldiçoada”, que remete a tantas produções B de terror... aqui o horror é subcutâneo, o drama é mais intenso, e o suspense cresce em cada passo que a personagem principal dá. Classifico como um conto de medo em tom épico, no formato de saga, que dialoga com o machismo e à violência contra mulheres.


Indicado ao Leão de Ouro em Veneza e a 22 prêmios internacionais em festivais do mundo inteiro, o longa é um achado para quem curte histórias bem escritas – destaque para a fotografia sombria, do holandês Rogier Stoffers, de “Contos proibidos do Marquês de Sade” (2000). Uma curiosidade é a participação de dois atores de “Game of thrones” (Kit Harington e Carice Van Houten), aliás, em dado momento a direção de arte lembra o famoso seriado.
Escrito e dirigido pelo holandês Martin Koolhoven, de “AmnesiA” (2001), essa coprodução foi realizada entre sete países – Estados Unidos, Reino Unido, Holanda, Alemanha, Suécia, Bélgica e França. Recomendo assistir!

Amaldiçoada (Brimstone). EUA/ Reino Unido/ Holanda/ Alemanha/ Suécia/ Bélgica e França, 2016, 148 minutos. Suspense/Ação. Colorido. Dirigido por Martin Koolhoven. Distribuição: California Filmes

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Nota do Blogueiro


Faleceu hoje aos 94 anos o ator Michel Piccoli, um dos maiores nomes do cinema da França. Ele se recuperava de um AVC.
Com uma sólida carreira de 70 anos no cinema, atuou em mais de 200 produções, com destaque para "O desprezo" (1963), "Paris está em chamas?" (1966), "A bela da tarde" (1967), "As coisas da vida" (1970), "A comilança" (1973), "O fantasma da liberdade" (1974), "A bela intrigante" (1991) e "Habemus papam" (2011). Recebeu prêmio de melhor ator em Cannes pelo filme "Salto nel vuoto" (1980) e em Berlim por "Une étrange affaire" (1981).
De origem italiana, Piccoli também foi diretor, produtor e roteirista. Deixa esposa e uma filha.


sábado, 16 de maio de 2020

Viva Nostalgia!



Queridinha do vovô

Priscilla (Shirley Temple), uma garotinha, viaja para a Índia para morar com a mãe em um forte chefiado pelo avô, integrante da alta patente do Exército Britânico. Meiga e agitada, cativa os militares para um acordo de paz com os indianos.

Diretor profícuo dos mais variados gêneros no cinema, consagrado em western, realizador de épicos, dramas biográficos, filmes “Family”, fitas de guerra, comédia mordaz (ufa!), o norte-americano John Ford (1894-1973) viveu intensamente dedicando-se à Sétima Arte. Não por acaso inspirou um monte de cineastas e ainda hoje é mencionado como um dos 10 maiores gênios da arte cinematográfica de todos os tempos. Difícil encontrar um filme ruim dele, hein (meus preferidos, “No tempo das diligências”, “As vinhas da ira”, “Como era verde o meu vale”, “Mogambo”, “Rastros de ódio” e “Queridinha do vovô”, este aqui, muito exibido na TV aberta).
Nostálgico, é uma aventura agradabilíssima para toda a família assistir reunida, que traz no elenco a estrela mirim Shirley Temple (então com nove anos), num de seus papéis mais bonitinhos e lembrados pelo público. Interpreta uma garotinha que, com seu jeito esperto, movimenta o Exército para um acordo de paz com a Índia (o enfoque do filme é histórico, se passa em 1897, quando a Índia era colônia do Reino Unido). Ao lado da pequenina atriz (Shirley morreu em 2014, aos 85 anos) atuam grandes figuras do cinema, como o ganhador do Oscar Victor McLaglen, C. Aubrey Smith e Cesar Romero.


Quatro roteiristas ajudaram a escrever a história (o que era comum antigamente), dentre eles Ernest Pascal e Julien Josephson, adaptando-a de um conto infantil do indiano Rudyard Kipling, o criador de Mogli.
Todo rodado num rancho da Califórnia, que faz lembrar aspectos da Índia, a aventura concorreu ao Oscar de direção de arte.
Não deixe de se divertir com Shirley Temple em “Queridinha do vovô”, em DVD pela antiga Colecione Clássicos (hoje Obras-primas do Cinema).

Queridinha do vovô (Wee Willie Winkie). EUA, 1937, 100 minutos. Aventura/Comédia. Preto-e-branco. Dirigido por John Ford. Distribuição: Colecione Clássicos (atual Obras-primas do Cinema)

Resenha Especial



Inverno de sangue em Veneza

Abalados com a trágica morte da filha pequena, que se afogou num lago, John (Donald Sutherland) e Laura (Julie Christie) mudam-se para Veneza. Ele vê estranhas aparições, enquanto uma série de crimes brutais amedrontam os moradores da cidade italiana. O ocasional encontro num restaurante com uma médium cega colocará John e Laura frente a frente com o provável espírito da filha morta.

Os elementos fundamentais do terror psicológico estão dentro desse cult movie britânico denso, perturbador, que sempre considerei um dos melhores trabalhos do gênero no cinema. Para alguns pode ser uma experiência dura, atordoante, causar mal-estar, já que trabalha com temas ligados ao sobrenatural, ao inexplicável, ao oculto, ao obscuro, envolvendo morte de criança (a garotinha do filme morre afogada num lago na casa da família).
Na época não foi bem recebido pelas pessoas, daí a motivação cult, evitado em premiações - chegou apenas a ganhar o Bafta de fotografia (que é um delírio visual, com imagens assumidamente oníricas e cores berrantes, que exploram uma Veneza suja, de vielas escuras, e suas dezenas de canais de água; aliás, a água torna-se elemento marcante no filme, reparem), e concorreu em outras seis categorias do mesmo prêmio, como ator, atriz, filme e direção.


Vale-se de um roteiro complexo, que vai do terror ao drama, com pistas falsas, investigação e um desfecho desconcertante e memorável – o roteiro foi baseado num conto de Daphne du Maurier, a autora de “Rebecca, a mulher inesquecível” (1940), e escrito pelo britânico Allan Scott, que trabalhou em parceria com o diretor Nicolas Roeg em outros filmes, como “A convenção das bruxas” (1990).
Sombrio e com um lado macabro, é um terror dos mais curiosos do cinema. Impossível sair indiferente da sessão!
Em DVD pela New Line (sem extras) e pela Versátil (com vários extras, como making of, depoimentos e especiais sobre o filme).

Inverno de sangue em Veneza (Don’t look now). Reino Unido/Itália, 1973, 109 minutos. Suspense/Terror. Colorido. Dirigido por Nicolas Roeg. Distribuição: New Line Home Video (DVD de 2012) e Versátil Home Video (DVD de 2013)

Cine Lançamento (No Netflix)



Secreto e proibido

Um casal de mulheres esconde o relacionamento da família por décadas. Elas são a jogadora de baseball Terry Donahue e a companheira Pat Henschel, que viveram juntas por sete décadas superando uma longa trajetória de medo e preconceito nos Estados Unidos.

Os documentários produzidos pelo Netflix contêm as melhores narrativas do streaming atual, com histórias de vida fortes, que abrem um campo enorme para reflexões, cuidadosamente escritos, dirigidos e editados. “Secreto e proibido” é um desses seletos projetos cinematográficos do Netflix, que estreou em todo o mundo na plataforma no dia 29 de abril, com ótimo elogio do público e da crítica (mas muita gente ainda desconhece). Posso dizer que é uma pérola magnífica (a ser desvendada, assim espero).
Sensível, tem uma temática LGBT super diferente, pois trata de duas personagens idosas. Narra o amor vivido sob sombras de duas mulheres americanas, iniciado no final dos anos 40 e que durou mais de setenta anos. De um lado estava a jogadora de baseball Terry Donahue, do outro, a companheira Pat Henschel, que tiveram de esconder o relacionamento da família quase que a vida inteira. Afirmando serem amigas próximas, mudaram-se de casa para morar juntas na juventude – e recorreram à mentira para se prevenir de preconceitos (estamos falando dos Estados Unidos, um país extremamente intolerante, e das décadas de 50 e 60, anterior aos movimentos de direitos humanos, civis, de defesa dos gays etc). O tempo passou, hoje cada uma com seus mais de oitenta anos enfrentam problemas diversos de saúde (Terry desenvolveu Parkinson, faleceu em 2019, poucas semanas antes do término das filmagens, enquanto Pat, agora sozinha, tem sérias debilitações de locomoção). Quanto à família de ambas, você vai descobrir a reação delas quando o casal contou a verdade (não vou dar spoiler).


O filme é incrível na forma de narrar essa jornada de descobertas, revelações, sobre “sair do armário” mesmo com a idade pesando nas costas das personagens. Emociona bastante, portanto, carregue consigo um lencinho!
Tem a assinatura do produtor Ryan Murphy (ganhador de seis Emmys), que criou séries aclamadíssimas, premiadas, que caíram no gosto do público, algumas com forte apelo gay, como “American Horror Story”, “Glee”, “Pose”, “Feud” e do recente lançamento do Netflix “Hollywood”.

Secreto e proibido (A secret love). EUA, 2020, 81 minutos. Documentário. Colorido. Dirigido por Chris Bolan. Distribuição: Netflix

terça-feira, 12 de maio de 2020

Nota do Blogueiro


Live de Cinema

Hoje tem live de cinema, dessa vez com a querida jornalista especializada em cinema Clarissa Kuschnir! Será das 18h às 19h em nosso Instagram - @felipebosobrida e @clarissakuschnir. Veja lá, acompanhe, participe!! 🎞📽😃


segunda-feira, 11 de maio de 2020

Viva Nostalgia!


Classicline relança box com a trilogia "Era uma vez em Hollywood", sobre os grandes musicais da MGM



Era uma vez em Hollywood

Documentário sobre os maiores filmes musicais produzidos pela Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), na Era de Ouro de Hollywood, entre os anos 30 e 50.

Aplaudido no mundo todo pelos fãs de filmes musicais, “Era uma vez em Hollywood” tornou-se, com o tempo, um dos mais celebres documentários sobre o tema. Realizado em 1974, em comemoração aos 50 anos dos estúdios MGM, traz breves histórias de bastidores, depoimentos exclusivos e uma infinidade de trechos de longas que fizeram sucesso na Era de Ouro de Hollywood.
Nesse recorte das produções musicais da MGM, com foco entre os anos 30 e 50, os chamados “Anos Maravilhosos”, acompanhamos sequências comentadas de clássicos, onde estavam escalados os maiores astros da época, como “Melodia da Broadway” (1940, com Fred Astaire e Eleanor Powell), “Escola de sereias” (1944, com  Red Skelton e Esther Williams), “Marujos do amor” (1945, com  Frank Sinatra, Kathryn Grayson e Gene Kelly, que dança com o ratinho Jerry, de Tom & Jerry, numa cena famosa misturando gente e desenho animado), “As garçonetes de Harvey” (1946, com Judy Garland e Ray Bolger), “Tudo azul” (1947, com June Allyson e Peter Lawford), “A bela ditadora” (1949, com Frank Sinatra, Esther Williams e Gene Kelly), “Núpcias reais” (1951, com  Jane Powell e Fred Astaire, que dança no teto, de ponta-cabeça), “O barco das ilusões” (1951, com  Kathryn Grayson e Howard Keel), “Sete noivas pra sete irmãos” (1954, com Jane Powell e Howard Keel), “Alta sociedade” (1956, com  Bing Crosby e Grace Kelly), e claro, os dois monumentos de todos os tempos da MGM, “O mágico de Oz” (1939, com Judy Garland) e “Cantando na chuva” (1952, com  Gene Kelly, Donald O'Connor e Debbie Reynolds).
Apresentam o documentário nomes que tiveram forte passagem pelo referido estúdio de cinema, como Frank Sinatra, Elizabeth Taylor, Peter Lawford, James Stewart, Mickey Rooney e Fred Astaire, que contam histórias legais, com bom humor.
Para quem gosta de musicais, o doc vira uma aula de cinema sobre o rico período que não volta mais... E se gostar, pode conferir as duas sequências, lançadas em 1976 e 1994 (a trilogia encontra-se em DVD no Brasil numa edição especial pela Classicline).
Quem dirige essa primeira parte é Jack Haley Jr. (1933–2001), produtor duas vezes ganhador do Emmy, ex-marido de Liza Minnelli (esta, aparece no filme falando sobre a mãe, Judy Garland, estrela da MGM).

Era uma vez em Hollywood (That's entertainment!). EUA, 1974, 134 minutos. Documentário. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Jack Haley Jr. Distribuição: Classicline


Era uma vez em Hollywood II

Segunda parte do documentário sobre os grandes musicais da MGM, realizados entre as décadas de 30 e 50.

Abrindo o filme com um número de dança novinho em folha, dois veteranos dos musicais da Fase de Ouro de Hollywood apresentam essa incrível segunda parte de uma trilogia encantadora sobre o universo dos filmes musicais da MGM. São eles, os inigualáveis Fred Astaire e Gene Kelly (que também dirigiu o doc, em seu último filme como diretor). Com gingado nos pés, demonstrando jovialidade no ritmo do corpo, eles relembram momentos de bastidores do estúdio (que tem a icônica logomarca do leão) no período áureo das fitas dançantes, que fizeram enorme sucesso entre o público, especialmente o norte-americano.
Criado a partir do modelo do documentário anterior, Astaire e Kelly comentam trechos de “Uma noite na ópera” (1935, a maior comédia musical dos Irmãos Marx), clássicos como “Nasci para dançar” (1936, com  Eleanor Powell e James Stewart), “Lua nova” (1940, com Jeanette MacDonald e Nelson Eddy), “Idílio em dó-ré-mi” (1942, com Judy Garland e Gene Kelly), “Agora seremos felizes” (1944, com Judy Garland e Margaret O'Brien), “Bonita e valente” (1950, com Betty Hutton), “Lili” (1953, com Leslie Caron), “Dá-me um beijo” (1953, de Kathryn Grayson e Howard Keel), “A roda da fortuna” (1953, com Fred Astaire e Cyd Charisse) e “Meias de seda” (1957, novamente com Fred Astaire e Cyd Charisse), mencionando até produções que apareceram na parte 1, como os clássicos máximos “Sinfonia de Paris”, “Cantando na chuva” e “Alta sociedade”.


Essa continuação alegre, cheia de vida, recebeu indicação ao Globo de Ouro de melhor documentário, e teve roteiro e narração escritos por Leonard Gershe (nomeado ao Oscar por “Cinderela em Paris”). Aqui no Brasil teve outro título na época, “Isto também é Hollywood”, e agora pode ser assistido em DVD pela Classicline, que o lançou numa edição especial com a trilogia inteira. Imprescindível para fãs de musicais!

Era uma vez em Hollywood II (That's entertainment, part II). EUA, 1976, 130 minutos. Documentário. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Gene Kelly. Distribuição: Classicline


Era uma vez em Hollywood III

Documentário que encerra a revisão sobre os grandes musicais produzidos pela MGM na Fase de Ouro de Hollywood.

Filme final da trilogia “Era uma vez em Hollywood”, que começou em 1974, e remonta a história dos grandes musicais produzidos pela MGM, na fase de consolidação dos estúdios no famoso distrito cinematográfico de Los Angeles, a chamada “Era de Ouro”.
Grandes astros e estrelas dos musicais de outrora, todos já falecidos, apresentam o filme como uma genuína carta de amor à Sétima Arte, numa despedida emocionante. Prestam depoimentos exclusivos Gene Kelly, Esther Williams, June Allyson, Cyd Charisse e Lena Horne, em que comentam trechos de clássicos como “Sangue de artista” (1939 – uma das tantas parcerias da dupla mirim Judy Garland e Mickey Rooney), “Quando as nuvens passam” (1946), “Um dia em Nova York” (1949), “Desfile de Páscoa” (1948), “Casa, comida e carinho” (1950), “A favorita de Júpiter” (1955), “Gigi” (1958 – ganhador de nove Oscars, como melhor filme e diretor) etc
Encantador assim como os dois doc antecessores, encerra o tema com maestria – a trilogia é ainda hoje apontada por fãs e críticos como a obra derradeira sobre Hollywood e o gênero musical.
Presente na coleção com os três filmes, lançado em DVD recentemente pela Classicline.

Era uma vez em Hollywood III (That's entertainment! III). EUA, 1994, 120 minutos. Documentário. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Bud Friedgen e Michael J. Sheridan. Distribuição: Classicline

domingo, 10 de maio de 2020

Viva Nostalgia!


Classicline relança em DVD clássico e inusitado faroeste de John Ford

O céu mandou alguém

Três ladrões assaltam um banco fugindo para uma região árida do Oeste americano. São perseguidos incessantemente por um xerife e seus homens da lei. No caminho da fuga, encontram uma mulher grávida, no leito de morte. O bebê nasce, e ela, nos suspiros finais, pede para que o trio cuide da criança. Os bandidos decidem cumprir a promessa atravessando o deserto escaldante para salvar o bebê.

Um faroeste do mestre John Ford que rompeu com as tradições do gênero, feito num lindo Technicolor, no auge dessa novidade cinematográfica. Olhem só que elenco digno de méritos, John Wayne (o eterno cowboy do cinema), Pedro Armendáriz e Harry Carey Jr. (ambos fizeram muito western)! Eles encabeçam o trio de assaltantes de banco em fuga pelo deserto, cuja nova missão será salvar um recém-nascido, enquanto escapam de xerifes e homens da lei. É um roteiro extremamente inusitado, que subverte o modelo faroeste de cinema, mostrando que os brutos também amam (não só amam, como tem compaixão, são determinados a cumprir uma missão sensata, e precisarão até dar mamadeira e limpar o bumbum de um nenezinho!). Inevitável não comparar com o francês “3 homens e um bebê” (1985) e o remake americano de grande sucesso na TV, “Três solteirões e um bebê” (1987)... Provavelmente “O céu mandou alguém” serviu de inspiração para ambos.


O roteirista, Frank S. Nugent, era um colaborador frequente do genial diretor John Ford, que por sua vez tinha costume em escalar John Wayne para seus filmes. Para se ter noção desse rico trio, fizeram juntos western retumbantes como “Sangue de heróis” (1948), “Legião invencível” (1949) e a obra-prima “Rastros de ódio” (1956).
Não tem pra ninguém, “O céu mandou alguém” é um barato e altamente criativo, que conta com a participação dos ganhadores do Oscar Jane Darwell e Ben Johnson (em seu primeiro filme creditado). Relançado em DVD no Brasil pela Classicline, tem também em DVD pela Warner.

O céu mandou alguém (3 godfathers). EUA, 1948, 106 minutos. Faroeste. Colorido. Dirigido por John Ford. Distribuição: Classicline (DVD de 2019) e Warner Bros. (DVD de 2004)

sábado, 9 de maio de 2020

Cine Lançamento


No Netflix

Você nem imagina

A estudante Ellie (Leah Lewis) faz trabalhos escolares para ajudar nas despesas de casa. Introspectiva, ela nutre uma paixão secreta por uma menina do colégio, Aster (Alexxis Lemire). Os dias passam lentos até que Paul (Daniel Diemer), um garotão desastrado da escola, pede a Ellie para ajudá-lo com uma carta de amor endereçada a alguém muito especial. 

Aos românticos que não gostam de filmes óbvios, eis aqui uma boa produção do Netflix, que lá estreou há uma semana. A história baseia-se nas experiências da cineasta americana de origem chinesa Alice Wu, que escreveu e dirigiu esse seu segundo longa-metragem, 16 anos depois de “Livrando a cara” (2004).
Alice é assumidamente gay, e a personagem trazida ao filme é um retrato dela quando estudante, uma garota introvertida, com poucos amigos, que desenvolve um amor platônico por outra menina. Ainda não se encontrou direito, tem medo de contar a verdade à colega, ou seja, esconde a homossexualidade. Quando se aproxima de um rapaz da escola, desajeitadão, um possível triângulo amoroso servirá de base para as consequências da vida do trio, Ellie, Aster e Paul.


É um drama romântico com boa evolução narrativa, que foge do convencional dos filmes americanos de mesmo teor, tem uma pegada leve, focada nos anseios das paixões adolescentes, e o plus, a temática LGBT (que tanto precisa ser trazida para o cinema). Ninguém conhecido no elenco, porém os atores centrais mandam bem, e já garantem espaço no seleto rol do cinema independente.
Ganhador de um prêmio revelação no Festival de Tribeca de 2020, o filme, acredito eu, terá lugar entre o público brasileiro.

Você nem imagina (The half of it). EUA, 2020, 104 minutos. Drama/ Romance. Colorido. Dirigido por Alice Wu. Distribuição: Netflix