terça-feira, 31 de agosto de 2010

Viva nostalgia!

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Uma aventura na África

Na África selvagem, durante a Primeira Guerra Mundial, a missionária Rose Sayer (Katherine Hepburn) vê-se obrigada a atravessar um rio para chegar até a civilização. O único meio de transporte é um pequeno barco, conduzido pelo beberrão Charlie Allnut (Humphrey Bogart). Nas águas dominadas pelos alemães e muitos animais perigosos, os dois enfrentarão uma jornada infernal.

Destacado pela crítica do mundo inteiro como um dos maiores filmes da história, “Uma aventura na África” finalmente chega em DVD no Brasil em edição caprichada, lançado pela Paramount Pictures, com excelente imagem restaurada, som remasterizado (e dublagem em português da época) e um digno making of de quase uma hora de duração. Ou seja, um exemplar para colecionador, de primeira qualidade!
O filme é um entretenimento delicioso. A divertida história narra o amor improvável entre dois opostos – uma missionária elegante perdida na África, que leva uma vida organizadinha e evita confusões, e um barqueiro alcoólatra, sujo, desbocado e maluco por aventuras fluviais. Sozinhos em uma embarcação minúscula, chamada de “A rainha africana” (African Queen, título original do filme), cada um terá de suportar o espírito e as manias do outro. Dividirão as mesmas picadas de mosquitos, as tempestades, a solidão, e ainda terão de encarar juntos a perigosa missão de detonar um navio comandado por alemães.
Humphrey Bogart ganhou aqui seu único Oscar, em um papel magistral que entrou para a galeria de personagens famosos do cinema; no mesmo naipe, Katherine Hepburn brilha como a missionária religiosa, em interpretação que rendeu a ela sua 5ª indicação ao prêmio da Academia.
As autênticas locações africanas são captadas com avidez pelo falecido diretor de fotografia Jack Cardiff, em um trabalho marcante de técnica ímpar.
Dirigido pelo mestre John Huston, “Uma aventura na África” por pouco não foi lançado, devido aos inúmeros problemas na produção; uma das histórias de bastidores é de que boa parte do elenco adoeceu de malária quando chegou à África (apenas Huston e Bogart, por beberem demais, se safaram!).
Influenciou o gênero e recebeu duas outras indicações ao Oscar em 1952 – melhor diretor e melhor roteiro. Aproveite para conhecer a nova edição desse importante filme, um convite digno para os fãs do cinema antigo. Por Felipe Brida

Título original: The African Queen
País/Ano: EUA/Inglaterra, 1951
Elenco: Humphrey Bogart, Katherine Hepburn, Robert Morley, Peter Bull, Theodore Bikel, Walter Gotell, Peter Swanwick
Direção: John Huston
Gênero: Aventura
Duração: 105 min
Distribuição: Paramount Pictures

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Morre o cineasta e produtor Ary Fernandes

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Criador do notório seriado brasileiro "O vigilante rodoviário", Ary Fernandes faleceu ontem aos 79 anos, vítima de infarte. Apesar da saúde fragilizada desde 2005 quando sofreu um acidente vascular cerebral, Fernandes vinha atuando em sua produtora particular. Recentemente participou de todo o processo de recuperação e restauração de "O vigilante rodoviário", lançado em DVD pela Spectra Nova em 2009. Também teve sua vida biografada no livro "Ary Fernandes - Sua fascinante história", escrito por Antonio Leão da Silva Neto para a Coleção Aplauso, editado pela Imprensa Oficial do Estado.
Paulistano nascido em 31 de março de 1931, Ary iniciou a carreira como supervisor e assistente de direção nos estúdios da Maristela, ao lado de Alberto Cavalcanti, na década de 50. Ganhou notoriedade a partir de 1959, ao criar "O vigilante rodoviário", cujos 39 episódios foram produzidos até 1962 e exibidos na extinta TV Tupi. Por causa do sucesso do seriado, Fernandes dirigiu e produziu médias-metragens com novas aventuras do Inspetor Carlos e seu fiel cão Lobo.
Em 1966 criou o seriado "Águias de fogo". Como cineasta, chegou a dirigir aproximadamente 20 longas-metragens, dentre eles "Uma pistola para Djeca" (1969 - com Mazzaropi) e "O supermanso" (1974), além de filmes durante a fase da Pornochanchada, como "Quando elas querem... e eles não" (1975).
Assinou a produçãoe xecutiva dos filmes "A estrela nua" (1984), "Quincas Borba" (1987) e "O cangaceiro" (1997).
Ary Fernandes foi um artista multifacetado, já que também atuava e era compositor das trilhas sonoras de seus filmes.
Deixa esposa, filhos e netos. Por Felipe Brida

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Cine Lançamento

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Condessa de sangue

Vida e morte da condessa húngara Elizabeth Bathory (1560-1614), apontada como uma das maiores assassinadas da história da humanidade. Obcecada pela beleza, matava impiedosamente mulheres virgens, banhando-se no sangue delas para rejuvenescer. Devido aos atos de loucura que cometia, recebeu o apelido de “A condessa sangrenta”.

Produção européia mediana baseada em histórias fantásticas e lendas que circundam a vida da condessa Bathory, governante da Hungria por longos anos. Com punhos de ferro e de forma arbitrária punia inimigos, traidores do poder e até inocentes com atos extremos de torturas e assassinatos brutais, cometidos na masmorra do castelo onde morava. Tinha por trás os súditos, orientados a concretizar seus crimes. Contam-se passagens (que o filme aborda) que Elizabeth tomava banho de sangue de virgens para alcançar a juventude eterna, e logo depois enterrava os corpos das jovens mortas no jardim do palácio real. Por isso seu reinado era de medo e horror, e o apelido de “A condessa de sangue” não surgiu à toa.
Recriado com uma fotografia em um tom de vermelho-sangue para provocar a sensação de desejo, paixão e fúria de Elizabeth, o filme segue a velha fórmula de biografias, com narração off e linha do tempo, levando com seriedade a história mórbida dessa estranha personagem da História, cuja vida é cercada por fatos bizarros. Um deles é o relacionamento amoroso que manteve com o polêmico pintor homossexual Caravaggio, nome importante do Barroco italiano.
Interpretado pela bonita atriz inglesa Anna Friel (que não tem firmeza para o papel), o filme tem alguns defeitos evidentes; atrapalha-se em uma narrativa lenta, em passagens esticadas, muitos diálogos pedantes, e uma cenografia não muito eficiente, com resultado de telefilmes europeus de baixo orçamento. Há também uma ponta ingrata de poucos minutos (e sem destaque) do ex-galã italiano Franco Nero (das fitas de faroeste dos anos 60 e 70), como o rei Mathias.
Mas ao fundo a história atiça a curiosidade, principalmente dos que gostam de histórias com tom de sadismo e horror.
Em 2009 saiu no exterior uma nova versão da vida da “Condessa sangrenta”, com Julie Delpy (em filme dirigido por ela), ainda inédita no Brasil. Por Felipe Brida

Título original: Bathory
País/Ano: Inglaterra/Hungria/Eslováquia/República Tcheca, 2008
Elenco: Anna Friel, Karel Roden, Vincent Regan, Hans Matheson, Deana Horváthová, Franco Nero, Anthony Byrne
Direção: Juraj Jakubisko
Gênero: Drama
Duração: 138 min
Distribuição: Paramount Pictures

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Cine Lançamento

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Morte no funeral (2010)

Uma desajustada família negra se reúne para o funeral do patriarca. Na cerimônia de despedida, a chegada de um anão chantageador colocará em cheque a moral do falecido. Aaron (Chris Rock), um dos filhos do morto, tentará de tudo para garantir a integridade do pai.

Um equívoco dos mais absurdos a tentativa de refilmar “Morte no funeral”, aquela comédia de humor negro inglesa, lançada em 2007, que já era boa de nascença devido ao roteiro engraçado, as sacadas superinteligentes e a direção perspicaz de Frank Oz, grande gênio da comédia norte-americana. Essa nova versão, agora composta por um elenco de artistas negros em um mau momento de suas carreiras, não se preocupa em mudar uma vírgula no roteiro – ela é baseada no roteiro original escrito por Dean Craig. Utilizaram aqui o mesmo argumento, com direito às mesmas sequências (como a cena do banheiro, mais esculachada e escatológica), as mesmas piadas (por exemplo, a do cunhado que vive dopado), sem contar que o gancho principal, que gira em torno do anão, continua idêntico (até o ator Peter Dinklage, do original, volta na pele do anãozinho gay).
Resultado: refizeram um bom filme sem atualizar a história nem sequer a inserindo em um novo contexto; só acrescentaram pitadas de grosseria, e o elenco não traz destaque nenhum – Danny Glover está desperdiçado como o vovô, Chris Rock não segura as pontas como o líder da família, nem mesmo Martin Lawrence escapa da tolice desse projeto falho. Um descalabro frente à tamanha falta de criatividade... Se quiser se divertir mesmo, recorra ao filme original.
É o segundo big desastre em termos de remake pelas mãos do irregular diretor Neil LaBute – o outro, em 2006, foi o péssimo “O sacrifício”, refilmagem da estranha fita inglesa de suspense/terror “O homem de palha” (1973). Pelo sim pelo não, LaBute confirma que está em franca decadência, depois de um curto período de bons momentos na carreira, como “Na companhia de homens” e “A enfermeira Betty”. Por Felipe Brida

Título original: Death at a funeral
País/Ano: EUA, 2010
Elenco: Chris Rock, Danny Glover, Peter Dinklage, Keith David, Regina Hall, James Marsden, Martin Lawrence, Zoe Saldana, Luke Wilson, Loretta Devine, Ron Glass, Tracy Morgan, Kevin Hart
Direção: Neil LaBute
Gênero: Comédia
Duração: 92 min
Distribuição: Sony Pictures
Site oficial: http://www.sonypictures.com/movies/deathatafuneral/

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Cine Lançamento

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Os demônios de Dorothy Mills

A psiquiatra Jane Van Dopp (Carice Van Houten) é designada para estudar o caso de uma garota com graves distúrbios mentais, chamada Dorothy Mills (Jenn Murray). A menina, dominada por forças misteriosas, esconde um passado violento, envolvendo mortes e desaparecimentos em uma comunidade cristã altamente conservadora, onde vivia com a família.

Com roteiro e direção de uma talentosa mulher francesa, a pouco conhecida Agnès Merlet (a mesma de “Artemisia”), esse filme de suspense e drama, uma co-produção Irlanda/França, narra a história de uma médica psiquiatra que, designada pela polícia, vai buscar respostas para solucionar dois casos conectados entre si: a de uma menina perturbada, possivelmente tomada por múltiplas personalidades, e a de um estranho acidente onde morreram vários jovens. Dorothy Mills, a tal garota, faz de tudo para ajudar na investigação, inclusive enfrentando as forças que residem dentro dela.
Apesar de a história vir das raízes do terror, o filme não se projeta como tal. Na verdade é um drama sobre pessoas com distúrbios psicológicos, erroneamente vendido como uma fita de possessão no estilo de “O exorcista”. Assemelha-se a telefilmes britânicos, com diálogos aos montes, fotografia bem planejada e ritmo devagar, sem causar sustos ou arrepios como o título faz supor. Fica claro que é um projeto levado com seriedade, apenas falta emoção. O defeito mais gritante é a condução um tanto quanto irregular da narrativa: a trama, complexa vale lembrar, mistura fatos do presente e do passado, e procura unir histórias paralelas. Inserem também nesse balaio temas que não explicam com exatidão as situações que o filme aborda - umas sobre possessão demoníaca, outras sobre desvio de personalidade, a morte dos jovens, o pensamento conservador cristão para proteger a menina vista como louca etc.
Ou seja, é um filme sério, mas mal conduzido, que não alcança vôos maiores. Não chega a decepcionar. Arrisque a locação. Por Felipe Brida

Título original: Dorothy Mills
País/Ano: Irlanda/França, 2008
Elenco: Carice Van Houten, Jenn Murray, Ger Ryan, Gary Lewis, Gavin O'Connor, David Wilmot
Direção: Agnès Merlet
Gênero: Suspense/Drama
Duração: 102 min
Distribuição: Paramount Pictures

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Cine Lançamento

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Atraídos pelo crime

Três policiais do Brooklyn têm suas rotinas entrelaçadas. Eddie Dugan (Richard Gere) está prestes a se aposentar; infeliz com a vida, mora sozinho, é alcoólatra e tem poucos amigos. Já Tango (Don Cheadle) é atormentado por um velho dilema na sua profissão - continua ele ou não protegendo o chefe do tráfico Caz (Wesley Snipes), perigoso bandido local? E no departamento de narcóticos está o explosivo agente policial Sal (Ethan Hawke), casado, com a esposa grávida e dois filhos para cuidar. Nas ruas, cada um deles exerce seu trabalho, alguns dependendo do dinheiro que recebe do tráfico, outros sendo honestos até demais. Porém, numa noite aparentemente calma um crime colocará os três frente-a-frente em um beco sem saída.

Realizado com muita competência pelo superestimado diretor negro Antoine Fuqua, que já havia filmado projeto semelhante com “Dia de treinamento” (que em 2002 deu a Denzel Washington o Oscar de melhor ator), “Atraídos pelo crime” é um bom filme policial, sério, pesado e violento demais para o público comum. Narra com certa frieza e distanciamento a rotina de três policiais com trajetórias de vida próximas: todos enfrentam problemas financeiros, passam por crise pessoal, cercados por dilemas, sem perspectiva. Na história não tem mocinho nem bonzinho; o perfil deles é de anti-heróis - um é corrupto e neurótico, outro ganancioso, e outro esconde um passado obscuro.
Essa apresentação dos personagens (que no filme se desenrola sem pressa) ajuda a entender o tema central da fita, que é a corrupção policial em Nova York, concentrada no bairro do Brooklyn, região conhecida pela violência e pelos intensos conflitos raciais. E Hollywood, mais que nenhum outro lugar, adora tratar corrupção policial no cinema. Ainda melhor que “Atraídos pelo crime” só “Serpico”, o já mencionado “Dia de treinamento” e “Justiça cega”.
Não é uma fita para todos, haja vista que a realidade mostrada aqui é fria, em tom amargo, e o desfecho não tem piedade nem concessão. Mas aos interessados pelo assunto fica a dica desse novo policial, que abriu em segundo lugar nas bilheterias americanas no final de semana de estréia nos cinemas em março desse ano.
Vale lembrar que o time de astros é outro destaque, cujo elenco conta com Richard Gere, Ethan Hawke, Wesley Snipes, Don Cheadle, Vincent D’Onofrio, Will Patton e Ellen Barkin. Confira. Por Felipe Brida

Título original: Brooklyn’s finest
País/Ano: EUA, 2009
Elenco: Richard Gere, Ethan Hawke, Don Cheadle, Wesley Snipes, Vincent D’Onofrio, Will Patton, Lili Taylor, Brian F. O'Byrne, Ellen Barkin
Direção: Antoine Fuqua
Gênero: Policial
Duração: 132 min
Distribuição: California Filmes

sábado, 14 de agosto de 2010

Cine Lançamento

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Kill Buljo – O filme

Jompa Tormann (Stig Frode Henriksen) acorda em uma cama de hospital após presenciar o assassinato da família inteira, bem como o de sua noiva e das cabras de estimação. Sozinho no mundo, aprende artes marciais e estratégias de guerra, planejando uma vingança doentia contra aqueles que mataram seus entes queridos.

Desastrosa paródia norueguesa de “Kill Bill” que nada tem a ver com a obra-prima de Quentin Tarantino. A produção tem mau acabamento, feita às pressas, com uma história maluca, sem pé nem cabeça, cheio de esquisitices e concentrados em personagens bizarros. O pior de tudo é que não provoca risos.
A única semelhança com “Kill Bill” é o espírito de vingança movido pelo jovem que sai numa caçada infernal dos assassinos de sua família. Ele mata um a um, das formas mais improváveis e sem graça (em uma das sequências Jompa explode o braço de um bandido aferindo sua pressão).
Dificilmente o público se identificará com tamanhas bobeiras acrescentadas nessa pequena fita de 2007, distribuída em DVD no Brasil somente agora pela Europa Filmes, sem grande divulgação pela mídia. Talvez por saberem que não é bela coisa...
É o primeiro filme do diretor Tommy Wirkola, que realizou logo depois o assustador e ao mesmo tempo cômico “Dead snow”, uma comédia de humor negro com nazistas zumbis, que ainda não tem data para chegar ao Brasil. Wirkola inclusive aparece em “Kill Buljo” interpretando o policial Sid, que odeia mulheres. Não perca tempo. Por Felipe Brida

Título original: Kill Buljo: The movie
País/Ano: Noruega, 2007
Elenco: Stig Frode Henriksen, Tommy Wirkola, Natasha Angel Dahle, Martin Hykkerud, Christian Reiertsen, Merete Nordahl
Direção: Tommy Wirkola
Gênero: Comédia
Duração: 93 min
Distribuição: Europa Filmes

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Cine Lançamento

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O lobisomem

O ator Lawrence Talbot (Benicio Del Toro) retorna à Inglaterra em busca do irmão desaparecido. Na viagem a caminho de sua cidade natal, é mordido por um ser monstruoso. Pouco a pouco o corpo de Talbot começa a dar vida a uma criatura metade homem metade lobo.

Nova adaptação homônima do clássico filme de terror de 1941, escrito originalmente para o cinema pelo falecido roteirista Curt Siodmak. A produção dessa eficiente aventura com toques de horror optou por manter a caracterização do monstro antigo, que para muitos soa como brega e fake, lembrando inclusive a Fera de “A bela e a fera”. Na verdade é um lobisomem aristocrata, de terno, com uma maquiagem duvidosa que logo remete aos antigos lobisomens da Universal dos anos 40.
O roteiro pouco traz de original em relação ao de 1941, cuja história sofre pequenas, mas curiosas variações, como a disputa ferrenha entre as duas gerações de homens-lobos. Sabemos bastante desse velho personagem de nosso imaginário, não é mesmo? Talbot é mordido, vira lobisomem e deixa pelas ruas um rastro de sangue, colocando pânico em toda uma cidade.
Quanto ao visual, este é um tanto quanto escuro, de uma Inglaterra Vitoriana de pós-Revolução Industrial, suja, feia, aliado a efeitos digitais nada surpreendentes, porém na dose certa para entreter. Volto a dar a dica, o filme é um bom passatempo, mesmo sem grandes novidades.
Meu maior problema é com Benicio Del Toro na pele do monstro. Com aquele rosto tipicamente latino (o ator nasceu em Porto Rico), não carrega o perfil ideal para compor o personagem. Soa como um híbrido da elegância inglesa com uma interferência de merengue da America Central. Além do mais, Del Toro tem uma fisionomia pesada, com olhar raso, sempre desconfiando de algo. Faltou outro ator no lugar dele. O elenco traz ainda Hugo Weaving, como o caçador de lobisomem, e Anthony Hopkins, na pele do pai de Talbot.
Especialista em efeitos visuais, o diretor Joe Johnston é um bom realizador, tem na mochila filmes como “Querida, encolhi as crianças”, “Jumanji” e “Jurassic park III”, e ganhou o Oscar de efeitos especiais por “Os caçadores da arca perdida”.
No Brasil sai em DVD a versão do diretor, uncut/unrated, ou seja, sem cortes e mais violenta, com 15 minutos a mais que a exibida nos cinemas – a distribuidora omite a informação e não estampa isto na capa. Já disponível nas locadoras. Por Felipe Brida

Título original: The wolfman
País/Ano: EUA, 2010
Elenco: Benicio Del Toro, Anthony Hopkins, Emily Blunt, Hugo Weaving, Cristina Contes, Art Malik, Geraldine Chaplin, Rick Baker
Direção: Joe Johnston
Gênero: Terror
Duração: 119 min
Distribuição: Universal Pictures

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Morre a premiada atriz Patricia Neal, aos 84 anos

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A atriz norte-americana Patricia Neal morreu ontem aos 84 anos em Edgartown, Massachusetts, vítima de câncer. Em 1964 ganhou o Oscar de melhor atriz pelo drama "O indomado" (foto).
Nascida em 20 de janeiro de 1926 em Packard, Kentucky, Neal teve curta carreira no cinema devido a graves problemas de saúde. Em pleno auge do estrelato, logo após ser premiada com o Oscar, no final dos anos 60, sofreu um derrame cerebral, cujas sequelas atingiram sua saúde por mais de duas décadas. Enfrentou uma incansável luta para se reabilitar, tendo assim de se afastar do cinema e da TV - sua vida está retratada no telefilme "The Patricia Neal story" (1981), com Glenda Jackson no papel-título.
Patricia Neal marcou sua estréia em "Vontade indômita" (1949), ao lado de Gary Cooper, com quem teve um romance por quatro anos. Recebeu também indicação ao Oscar de melhor atriz pelo filme "A história de três estranhos" (1968), e atuou em cerca de 30 produções. Dentre os trabalhos estão "Coração amargurado" (1949), "Redenção sangrenta" (1950), "O dia em que a Terra parou" (1951), "Águas traiçoeiras" (1951), "Bonequinha de luxo" (1961), "A primeira vitória" (1965), "O estranho mundo de Baxter" (1973), "Passageiros do inferno" (1979), "Histórias de fantasmas" (1981) e "A fortuna de Cookie" (1999).
A atriz era divorciada do notório escritor Roald Dahl (já falecido), com quem teve cinco filhos. Por Felipe Brida

domingo, 8 de agosto de 2010

Cine Lançamento

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Um olhar do paraíso

Em 1973, em um subúrbio na Pensilvânia, um crime brutal interrompe a trajetória da sonhadora Susie Salmon (Saoirse Ronan), assassinada pelo próprio vizinho, o jardineiro George Harvey (Stanley Tucci). No limbo, transitando entre a terra e o céu, o espírito da menina busca resposta para solucionar o caso. Ao mesmo tempo tenta confortar a família e seus amigos.

Baseado no best seller de Alice Sebold, “Um olhar do paraíso” é das produções mais estranhas e disformes do ano. Tem um quê de fantasia, drama, lirismo, surrealismo, suspense, romance, tudo em desarmonia, numa fita onde fica difícil definirmos gênero, tema e proposta. Diante desse quadro considerado falho por muitos, ouso dizer que pra mim foi uma experiência impactante, original, por isso nadei contra a corrente e, ao contrário de vários críticos, não achei aquela decepção do ano. É sim uma fita de altos e baixos, com momentos angustiantes, outros extremamente líricos, só que o resultado me pegou pela genuína criatividade.
Inicialmente o roteiro tem um foco desagradável – é a história de uma menina brutalmente assassinada (esquartejada e aparentemente estuprada pelo vizinho, um homem de meia idade), cujo espírito vaga em busca de respostas para o crime. De um paraíso todo estilizado com cores e formas inusitadas (na verdade ela está no limbo juntamente com outras jovens assassinadas, com quem desfruta amizade), sua alma fica perdida numa turbulência de dúvidas e sonhos desfeitos, inclusive tenta se vingar de seu algoz. Nesse mundo paralelo, Susie faz reflexões sobre a vida terrena e tenta voltar para sua família, claro que sem possibilidades.
Com forte inclinação espiritual, o filme é alegórico, visualmente onírico, com certos apelos emotivos. Resultado óbvio: não deverá agradar a todos. O próprio romance original é marcado pela amargura e tristeza, temas próprios da autora Alice Sebold, que em todos os seus livros relata o estupro sofrido na vida real. Ou seja, tem algo de autobiográfico em sua literatura.
No elenco vemos a sempre ótima atriz mirim Saoirse Ronan, aqui no personagem central da garota morta, Mark Wahlberg (menos ruim que de costume, como o pai), Rachel Weisz (centrada, como a mãe sofrida), uma ponta de Susan Sarandon (em papel medíocre, o pior da fita) e, sem esquecer, Stanley Tucci, nesse filme indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante como o frio assassino; ele compõe um tipo caricato, com tudo postiço (bigode, peruca – o ator é careca – e dentes pra frente), só que bastante sinistro, calculista, monstruoso. Subentende-se que ele seja pedófilo (no livro a pedofilia é mais explícita do que no filme, além do mais logo nas primeiras páginas do romance, que chegou no Brasil com o titulo sensacionalista “Uma vida interrompida – Memórias de um anjo assassinado”, a jovem é estuprada e morta, e no filme isto demora a acontecer). Mais destoante é o título original tanto do livro quanto do filme, “The lovely bones” (“Os restos angelicais” ou “Os adoráveis restos”, como são mencionados).
Agora fica para o público aceitar ou não esse novo projeto do diretor Peter Jackson, o mesmo da trilogia “O senhor dos anéis”. Para tanto, dêem-se a chance de conhecer essa fita tão dividida pela crítica. Por Felipe Brida

Título original: The lovely bones
País/Ano: EUA/ Inglaterra/ Nova Zelândia, 2009
Elenco: Saoirse Ronan, Mark Wahlberg, Rachel Weisz, Stanley Tucci, Susan Sarandon, Michael Imperiolli, Rose McIver, Christian T. Ashdale
Direção: Peter Jackson
Gênero: Drama
Duração: 135 min
Distribuição: Paramount Pictures

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Viva nostalgia!

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A árvore dos tamancos

Em um pequeno vilarejo nos campos italianos de Bérgamo, o dia-a-dia de várias famílias de origem humilde se entrelaçam, cuja rotina é marcada pela união entre pais e filhos, pelo trabalho conjunto, pelo sentimento de altruísmo e pelas dificuldades financeiras.

Grande vencedor da Palma de Ouro de melhor filme no Festival de Cannes em 1978, “A árvore dos tamancos” é um de meus filmes preferidos, e sempre que possível me coloco a revê-lo.
De inspiração neo-realista, assemelha-se a um documentário, reunindo um elenco de pessoas comuns (todos amadores) que não precisam de mise-en-scène para mostrar como realmente são. Rodado em locações, com autênticas paisagens dos campos de Bérgamo, comuna italiana da região da Lombardia, norte da Itália, o filme é uma das obras-primas do cinema, visualmente bonito, bastante sutil, real e humano.
O diretor Ermano Olmi (que completou 79 anos no mês passado) é um exímio investigador de ritos familiares; na década de 50, iniciou-se no cinema como realizador de documentários. Por isso “A árvore dos tamancos” é um trabalho puramente artesanal, muito próximo à realidade, que acompanha a vida de várias famílias da zona rural de Bérgamo, compostas por numerosos filhos, que tem no dia-a-dia seus afazeres comuns, como limpar a casa, matar porcos, tirar leite da vaca, arrumar a mesa para o jantar e participar de festas religiosas.
Nessa fita é possível conhecer mais sobre a cultura popular italiana, que muito lembra a dos brasileiros, em especial a do interior do estado de São Paulo (fazendinhas, criação de gado, festas folclóricas etc). Vale destacar algumas passagens marcantes do filme, como o abate do porco, a chegada do vendedor de roupas que cantarola músicas regionais, o sacrifício da vaca doente, os jovens subindo no pau de sebo, o torneio de quem come mais ovos cozidos e a briga do idoso com o cavalo “ladrão”.
Um pouco longo e de narrativa tácita, com pouca trilha sonora, o drama tem quase três horas de duração, e chega em DVD no Brasil em uma primorosa edição restaurada, distribuído pela Versátil.
Um trabalho ímpar, nunca superado, que agora pode ser conferido em uma cópia magistral. Confira. Por Felipe Brida

Título original: L’albero di zicoli
País/Ano: Itália, 1978
Elenco: Comunidade de Bérgamo (Itália)
Direção: Ermano Olmi
Gênero: Drama
Duração: 178 min
Distribuição: Versátil

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Morre o diretor de arte Robert F. Boyle

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O desenhista de produção e diretor de arte Robert F. Boyle morreu na última segunda-feira, em Los Angeles, sua cidade natal, aos 100 anos. Em 2008, já bastante debilitado, recebeu um Oscar Honorário (foto) pela carreira de 50 anos dedicados ao cinema.
Nascido no dia 10 de outubro de 1909 em Los Angeles, Boyle trabalhou como desenhista de filmes de Alfred Hitchcock, como “Os pássaros”, “Intriga internacional” e “Marnie – Confissões de uma ladra”, e de inúmeras produções norte-americanas na década de 80.
Como diretor de arte recebeu quatro indicações ao Oscar - “Intriga internacional” (1959), “Uma certa casa em Chicago” (1969), “Um violonista no telhado” (1971) e “O último pistoleiro” (1976).
Também assinou a direção de arte de importantes filmes do cinema, como “Cabo do medo” (1962), “Os russos estão chegando, os russos estão chegando” (1966), “A sangue frio” (1967), “Crown – O magnífico” (1968) e “Morte no inverno” (1977), este seu último trabalho. Por Felipe Brida

domingo, 1 de agosto de 2010

Cine Lançamento

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Astro boy

Em um futuro incerto, na cidade de Metro City, um cientista cria um menino-robô, Astro Boy, a fim de substituir seu filho recém-falecido. Com super-poderes, ele é desprezado pelos humanos. Para ser aceito e provar sua capacidade, parte em uma incrível jornada futurista.

Com vozes de Nicolas Cage, Charlize Theron, Freddie Highmore e Samuel L. Jackson, “Astro boy” é uma animação razoável, cheia de peripécias e ritmo movimentado, típica para meninos que gostam de lutas entre robôs gigantes e aventuras espaciais. A fita não teve tanta repercussão, inclusive naufragou feio nas bilheterias em sua estréia nos cinemas, em outubro do ano passado, e no Brasil não atingiu nem metade do lucro esperado durante a exibição nas salas.
Tem seus motivos para o fracasso. O personagem central, Astro Boy, vem dos mangás de Osamu Tezuka, produzidos no Japão entre 1952 e 1968, e que depois se transformou em duas séries animadas de bastante audiência na Ásia – uma primeira versão em preto-e-branco, feita na década de 60, e outra colorida, no início dos anos 80 (esta chegou a ser exibida no Brasil há muito tempo). Ou seja, é um desenho que caiu no esquecimento, sendo que as crianças de hoje desconhecem a história. Segundo: o resultado não é grande coisa, distante de ser a adaptação do ano que os fãs (em especial os japoneses) tanto esperavam.
Ao contrário dos desenhos originais em estilo mangá, feitos a mão, este aqui foi inteiramente criado em computação gráfica, com inúmeros truques visuais, o que fez perder a feição dos personagens originais. Por razões mercadológicas e comerciais, resolveram atualizar as aventuras do garoto-robô voador, tomado por poderes indestrutíveis, que se envolve em lutas com inúmeros seres robóticos para salvar sua cidade.
Não cativou o público. Resumo: uma tentativa sem sucesso de ressuscitar um desenho esquecido. Por Felipe Brida

Título original: Astro boy
País/Ano: EUA/Japão/Hong Kong, 2009
Elenco: Vozes de Nicolas Cage, Charlize Theron, Freddie Highmore, Samuel L. Jackson, Donald Sutherland, Kristen Bell, Bill Nighy, Nathan Lane, Eugene Levy
Direção: David Bowers
Gênero: Animação
Duração: 94 min
Distribuição: Paris Filmes
Site oficial: http://www.astroboy-themovie.com/