sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Viva Nostalgia!

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Gente como a gente

A morte acidental de um jovem esportista deixa cicatrizs profundas em toda a família. Conrad Jarrett (Timothy Hutton) é um adolescente em crise, que se sente culpado pela morte do irmão e já tentara o suicídio. A mãe, Beth (Mary Tyler Moore), tem dificuldade em aceitar o filho e assumidamente amava mais o outro. E o pai, Calvin (Donald Sutherland), tenta unir aquela família marcada pelo trágico passado.

Pela primeira vez em DVD no Brasil, distribuído recentemente pela Paramount Pictures, o drama familiar que influenciou gerações de cineastas e um dos primeiros a discutir a dor da perda dentro de uma família. Lançado em 1980, venceu quatro Oscars do ano seguinte – melhor filme, diretor (Robert Redford), roteiro adaptado e ator coadjuvante (o estreante no cinema Timothy Hutton, perfeito em um personagem complexo, oprimido pela mãe), além de outras duas indicações, a de ator coadjuvante (para o judeu Judd Hirsch, como um psiquiatra nada ortodoxo, que clinica o rapaz em crise) e melhor atriz para a comediante Mary Tyler Moore, em um papel nada engraçado – pelo contrário, interpreta a rancorosa figura materna, uma mulher de sentimentos controversos, que não aceita o filho mais novo.
Repercutiu no mundo todo, com boa bilheteria na estreia, e tornou-se, merecidamente, o filme do ano, indicado aos principais prêmios – além do Oscar, o Bafta e o Globo de Ouro.
Baseado no romance de Judith Guest, o drama absorve temas universais, como reabilitação e sofrimento, tudo porque a história envolve uma família em fase de superar a morte do filho, um jovem que morreu afogado. O personagem do irmão se culpa pela tragédia, tenta o suicídio, recorre a um psiquiatra, interrompe as atividades diárias devido ao trauma que o acompanha. E os pais se dividem, em lados bem opostos: a mão rejeita o rapaz, sem disfarces, e o patriarca da família tem esperança de que o clima harmônico retorne. Diante da tela o público acompanha a dureza do dia-a-dia dos Jarret’s com desilusão à flor da pele. O clima é amargo, os três personagens tem aproximação com ressalvas, falta calor humano e carinho na casa “assassinada”. As peças que faltam demoram a se encaixar, as feridas não cessam de sangrar. Por essas razões não é uma fita fácil de lidar, guardando um desfecho sem concessão, bastante negativo. No fundo, Conrad, Beth e Calvin são pessoas como nós, que sentem tristeza, choram escondidas, punem-se pela culpa, pensam duas vezes antes de perdoar. Gente como a gente.
Foi o primeiro trabalho de Redford como diretor, cuja carreira atrás das câmeras foi de altos e baixos (os melhores dele são este, “Nada é para sempre” e “Quiz Show – A verdade dos bastidores”).
Todo o eleco dá um show de interpretação, em especial Timothy Hutton, filho do falecido ator Jim Hutton e ex-marido da atriz Debra Winger. Tinha 19 anos quando fez o filme, e nunca sua carreira alavancou. Nem se tornou galã, tampouco participou de outros trabalhos importantes. Um desperdício, pois Hutton era carismático e bom em cena. Hoje o vemos apenas como coadjuvante em algumas poucas fitas comerciais. Por Felipe Brida

Gente como a gente
(Ordinary people). EUA, 1980, 124 min. Drama. Dirigido por Robert Redford. Distribuição: Paramount Pictures

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Cine Lançamento

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Melancolia

A jovem Justine (Kirsten Dunst) acaba de se casar. Os convidados a esperam na mansão de sua irmã, Claire (Charlotte Gainsbourg), localizada em um descampado. Durante a celebração, Justine tem fortes crises emocionais. Ao mesmo tempo em que a festa ocorre, a milhões de quilômetros dali o planeta Melancolia aproxima-se da Terra, o que poderá, em poucas horas, causar uma catástrofe.

Novo drama psicológico escrito e dirigido pelo dinamarquês Lars Von Trier, menos impactante que a polêmica fita anterior, que dividiu a opinião da crítica, “Anticristo” (2009), mas que incomoda por mexer com temas que desconcertam os valores individuais. Em “Melancolia”, ele justapõe dois filmes distintos; a primeira parte se concentra em um casamento supostamente arranjado, que não dará certo. A noiva, interpretada pela atriz Kirsten Dunst (vencedora em Cannes como melhor atriz), está em crise, chora escondida no quarto, sofre da tal melancolia. Para piorar, os pais são distantes – papéis pequenos de John Hurt, como o patriarca alcoólatra, e Charlotte Rampling, na pele da mãe que exala arrogância. A única pessoa ao seu lado é a irmã (Charlotte Gainsbourg – revelação em ‘Anticristo’), que cede a deslumbrante mansão para a festa de casamento. Tudo anda mal, sem motivos para comemorar. Na segunda parte a trama se verte para um disaster movie, quando um estranho planeta azul chamado Melancolia vem em direção à Terra. É quando o filme muda o tom, fica estranho e perturbador, com clima de tragédia anunciada. As irmãs sentem a proximidade do fim do mundo, mesmo sabendo que os cientistas afastam tais possibilidades. Justine, a recém-casada, cala-se, passiva, não quer mais viver, enquanto a irmã sofre desesperada, com esperança de dias melhores.
As fitas de Trier, anticomerciais, anticonvencionais, antimodelos, não são fáceis de serem digeridas pelo público. Não há nada de poético em seus personagens tristes. Melancolia é o sentimento da personagem central, infeliz com o casamento, com a vida. E também o nome do planeta azul, outra referência à tristeza – o adjetivo ‘blue’, em inglês, significa triste, deprimido.
As marcas do cineasta permanecem: sequências estáticas, com personagens ‘congelados’ e leves vibrações (um efeito curioso típico dele, sempre com música instrumental ao fundo); filme dividido em capítulos – neste há duas partes, chamados “Justine” e “Claire”; o título riscado com uma espécie de grafite, a mão; e a técnica que aprendera com o movimento Dogma 95, que é a câmera nos ombros, sem tripé (por isso a obra apresenta trepidações).
Na vida real, Trier sofre de depressão, questiona a morte com intensidade e é niilista, sem crenças, transmitindo essas ideias com eloquência em seus filmes. Por isso é um artista tão autoral.
Com “Melancolia”, concorreu à Palma de Ouro e diversos outros prêmios menores independentes. Em Cannes criou alvoroço, no ano passado, pois no festival defendeu abertamente o Nazismo, desferindo críticas severas aos judeus. Mostrou-se preconceituoso, depois tentou se defender afirmando que tudo não passava de uma brincadeira. O contra-ataque veio imediato com o público europeu rejeitando-o desde então. Não é por menos.
Atenção para o final, muito discutível, que pode causar impacto.
Como resultado temos uma experiência diferente, num trabalho difícil, com elenco sério. Kirsten Dunst está perfeita como a protagonista (só lembrada pela trilogia “Homem Aranha”) ao lado de Charlotte, Kiefer Sutherland (em momento especial da carreira em crise), Stelan Skasgaard e o filho Alexander Skasgaard.
Distanciará muita gente, mas os que realmente seguem as preciosidades da Sétima Arte devem procurar. Por Felipe Brida

Melancolia
(Melancholia). Dinamarca/ Suécia/ França/ Alemanha, 2011, 136 min. Drama/ Ficção científica. Dirigido por Lars Von Trier. Distribuição: Califórnia Filmes

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Cine Lançamento

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Super 8

No verão de 1979, na pequena cidade de Lillian, em Ohio, um grupo de amigos aficionados por cinema se reúne para rodar um filme amador de mortos-vivos. A estação ferroviária local servirá como palco de uma das cenas. Escondidos dos pais e portando uma câmera Super 8, Joe (Joel Courtney), Charles (Riley Griffiths), Martin (Gabriel Basso), Cary (Ryan Lee) e Alice (Elle Fanning) vão até o ponto combinado, de madrugada. Durante a gravação, presenciam o descarrilamento de um imenso trem de carga, provocado por uma caminhonete que invadiu os trilhos. Os garotos saem vivos daquele acidente de grandes proporções, e logo a área é cercada pelo Exército, que procura por algo misterioso alojado num dos vagões. Com o passar das horas, os jovens, testemunhas oculares do fato, começam a notar estranhos desaparecimentos, desde motores de carros a pessoas.

Com efeitos visuais espetaculares, “Super 8” é a nova aventura com ficção científica escrita e dirigida por J.J. Abrams e produzida pelo mago Steven Spielberg. A princípio, como o título sugere, o filme recorre à metalinguagem, ou seja, fala do cinema dentro do cinema. Um grupo de garotos do interior se prepara para uma competição de vídeos amadores. A ideia é produzir um filme de zumbis com uma câmera Super 8. No entanto, a vida deles mudará para sempre quando um gravíssimo acidente de trem ocorre a poucos metros do local onde gravam as cenas iniciais daquele trabalho.
Não é novidade contar que existe um extraterrestre na história. Desde os previews falava-se em uma obra que se aproximasse de “Contatos imediatos de terceiro grau” e “ET”, ambos de Spielberg.
O ser do outro espaço aparece pouco (sempre escondido, no escuro), a partir da metade, quando a trama fica confusa, cheia de meandros envolvendo o Exército, a polícia, o Governo, conspirações e sumiço de gente. E tudo se explica na conclusão absurda, que carrega um lirismo forçado para comprovar a inteligência do alienígena.
Tirando certas falhas do desfecho, “Super 8” é um entretenimento intrigante e bem produzido, com rica fotografia em tons azulados, além da recriação de época certeira, dos nostálgicos anos 70.
J.J. Abrams, de “Missão impossível III” e o novo “Star Trek”, presta uma sincera homenagem aos diretores de cinema, àqueles que iniciaram a carreira fazendo fitas amadoras de fundo de quintal, com uma Super 8 (por exemplo, Ridley Scott, M. Night Shyamalan, e os próprios Spielberg e J. J. Abrams, que nos extras do DVD comentam seus primeiros curtas, bem precários).
Obteve boa repercussão entre os jovens, com relativo sucesso de público; rendeu mais de cinco vezes o orçamento (custou U$ 50 milhões, e nas salas arrecadou U$ 259 milhões).
O elenco central reúne uma garotada pouco conhecida, boa parte deles estreantes e promissores, como Elle Fanning, irmã mais nova da talentosa atriz Dakota Fanning. Por Felipe Brida

Super 8
(Idem). EUA, 2011, 112 min. Ficção científica. Dirigido por J.J Abrams. Distribuição: Paramount Pictures

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Viva Nostalgia!

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O cardeal

O jovem eclesiástico Stephen Fermoyle (Tom Tryon) deverá se tornar cardeal em poucos dias. Até que receba o título da Igreja, passará por uma série de provações, como a força da fé, a paixão por uma mulher e a dúvida sobre o chamado.

Interminável adaptação do romance de Henry Morton Robinson, com quase três horas de duração, que situa a vocação eclesiástica de um jovem padre americano na Segunda Guerra Mundial. O cineasta austríaco de origem judia Otto Preminger (viveu exilado nos Estados Unidos desde os anos 30 e sempre realizava filmes sobre conflitos existenciais) era um crítico nato quando o assunto era política e religião. No drama “O cardeal” exprime uma opinião que ainda gera polêmica: a inclinação da Igreja Católica ao regime nazista de Hitler.
Sem partir para ataques ou moralismo barato, o diretor se assegura com seriedade e, acima de tudo, sinceridade. Ele registra, como um extenso diário, o dia-a-dia de um padre novato (o falecido Tom Tryon, modesto na interpretação) que logo será elevado a cardeal. Dividido entre religião e política, fé e uma enxurrada de dúvidas, o rapaz é mostrado como uma pessoa comum: apaixona-se por uma mulher (papel da bela Romy Schneider) e tem receio sobre qual caminho seguir. EM certo momento é transferido para outras paróquias menores, cai nas mãos da Ku Klux Klan quando defende a comunidade negra (e apanha muito), logo a cúpula religiosa do Vaticano o força a envolver-se com política, torna-se monsenhor e vira uma voz tímida contra os ideais nazistas que querem aliança com a igreja.
Fica nítida essa posição de Preminger, que condena o comportamento dos religiosos católicos que, mesmo à força, criaram vínculos com Alemanha Nazista.
Tem direção de arte e figurino que recriam o ambiente episcopal com riqueza de detalhes, muito bonito quando na tela.
Em 1964 recebeu seis indicações ao Oscar: melhor diretor, edição, figurino, fotografia, direção de arte e ator coadjuvante (John Huston, como um cardeal conselheiro do jovem padre). E no Globo de Ouro do mesmo ano ganhou os prêmios de melhor filme e ator coadjuvante (Huston).
Filmado em Boston, Los Angeles, Viena e Roma, o filme não descreve apenas o universo do padre, em suas escolhas; os questionamentos do personagem também são os nossos, as dúvidas de cada um, os medos que nos devoram. Por isso considero um bom estudo de caso para os interessados.
A história é puramente ficção, não baseada em fatos reais, como está descrito na abertura do filme. Originalmente distribuído pela Columbia Pictures, sai em DVD no Brasil em edição limitada pela Lume Filmes. Conheça. Por Felipe Brida

O cardeal
(The cardinal). EUA, 1963, 175 min. Drama. Dirigido por Otto Preminger. Distribuição: Lume Filmes

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Cine Lançamento

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Larry Crowne – O amor está de volta

Larry Crowne (Tom Hanks), um pacato gerente de supermercado, sempre foi uma pessoa otimista. Atualmente divorciado, vive sozinho mantendo bom relacionamento com os vizinhos. A vida de Larry muda quando vê a necessidade de voltar aos estudos para continuar no trabalho. Quando ingressa em uma faculdade comunitária, apaixona-se pela professora de Oratória, Mercedes Tainot (Julia Roberts), uma mulher dedicada, mas bem severa. Como será para o “jovem” estudante lidar com essa situação complicada?

Tom Hanks dirigiu e produziu um dos trabalhos mais fraquinhos da temporada, além de atuar no papel-título e ter escrito o roteiro com a amiga Nia Vardalos, atriz de “Casamento grego”. Ou seja, acumulou praticamente todas as funções gastando tempo e dinheiro em uma fita comercial que fracassou nos Estados Unidos e na maioria dos países onde foi exibido.
Conta a história de um homem solitário que gerencia um supermercado e tem como hobby passear de lambreta (a foto da capa diz tudo). Ele tem bom coração, um sujeito agradável, todos gostam dele. Até mesmo a professora, quando Larry ingressa em uma faculdade cheia de fanfarrões, com o objetivo de aprimorar os conhecimentos na área de expressão oral. Julia Roberts interpreta a mestre estressada, numa variante de personagens antigos da carreira. Apesar de esbanjar beleza e sensualidade (ela está com 44 anos e parece nunca envelhecer), não tem química com Tom Hanks, que por sinal engordou e interpreta um personagem bonzinho à beça (chega até a ser careta).
É provável o público descobrir o final. Nada de imprevisível.
Ao contrário de muitas comédias românticas por aí (esta aqui é mais romance, com pouca comédia), estamos livres de piadas de mau gosto ou grosserias. Pelo menos isto...
Não chega a incomodar nem aborrecer, no entanto não espere nada de extraordinário pelo simples fato de ter duas estrelas mais bem pagas do cinema atual. O resultado? Ingênuo, bobinho e de extrema discrição.
Segundo trabalho dirigido por Hanks após quinze anos do bom drama/musical “The Wonders – O sonho não acabou”. Em DVD pela Paris Filmes. Por Felipe Brida

Larry Crowne – O amor está de volta
(Larry Crowne). EUA, 2011, 98 min. Romance. Dirigido por Tom Hanks. Distribuição: Paris Filmes

sábado, 14 de janeiro de 2012

Resenha

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Wall Street – Poder e cobiça

Bud Fox (Charlie Sheen) é um ambicioso corretor da Bolsa de Valores à procura de status e dinheiro. De uma hora para outra ganha a confiança de um poderoso investidor de Wall Street, Gordon Gekko (Michael Douglas), um dos maiores magnatas dos negócios financeiros. Só que para obter poder Fox será arremessado para o mundo ilegal da espionagem empresarial, colocando em dúvida sua índole e moral.

O engajado diretor Oliver Stone, depois de abrir seu diário sobre a Guerra do Vietnã com o premiado “Platoon” (1986), filmou outra história que viveu em épocas passadas. Seu falecido pai, a quem “Wall Street” é dedicado, trabalhou anos a fio na Bolsa de Valores, e em conseqüência Oliver conheceu a fundo o dia-a-dia da especulação financeira, venda de ações, espionagem empresarial, enfim, todos os macetes legais e ilícitos que circundam o mundo dos negócios em Nova York.
Diante do leque de informações e vivências, rodou uma ácida visão sobre o tema, de forma crítica, coerente e, por incrível que pareça, didática (boa parte do público foge quando se fala em filme político ou sobre negócios financeiros).
E não sobra para ninguém: na trama dois homens com supostos diferenciais de comportamento e atitude começam a trabalhar juntos - um jovem (Charlie Sheen, como o yuppie engomadinho, mas de família simples, que quer crescer na carreira) e um magnata quarentão com grana em contas gordas (Michael Douglas). Como ambos têm ambição desmedida, loucos por poder, dinheiro e status, confrontam-se para ver quem engole quem, até o ponto em que terão de fechar um negócio gigantesco, que poderá inclusive colocar o trabalho de toda uma corporação em jogo.
Como sempre nos trabalhos críticos de Oliver Stone, as pessoas não se salvam, pois guardam sujeira na manga. Em “Wall Street” há trapaceiros, fraudadores, esquemas de trilhões de dólares e corrupção em cada canto. Todos são vilões, inescrupulosos, facilmente corrompidos.
O cineasta expande uma visão séria e dura sobre a amarga ilusão provocada pelo capitalismo selvagem, a do sonho americano em colapso.
Aos curiosos em conhecer os bastidores do mundo empresarial, uma boa opção de filme de adulto, cujo elenco reúne famosos como Terence Stamp, Hal Holbrook, James Karen, Martin Sheen (pai de Charlie, interpretando o próprio pai no filme), Sean Young, Paul Guilfoyle, James Spader, Saul Rubinek, Sylvia Miles e Richard Dysart. O próprio Oliver Stone aparece poucos segundos como um investidor.
Reparem nas duas músicas centrais, como se contrapõem com o antes e depois do personagem Bud Fox (sem contar a ironia dos títulos) – a de abertura, “Flying me to the moon”, cantada por Frank Sinatra, e o encerramento com “This must be the place”, de Talking Heads.
Em 1988 o filme ganhou o único Oscar que concorreu, o de melhor ator para Michael Douglas (que faz uma interpretação soberba). Ele levou os principais prêmios daquele ano – Globo de Ouro, Kansas, National Board of Review, obtendo notoriedade a partir daqui. Nos anos seguintes ‘estourou’ em três sucessos da carreira, “Chuva negra”, “A guerra dos Roses” e “Instinto selvagem”. Por Felipe Brida

Wall Street – Poder e cobiça
(Wall Street). EUA, 1987, 126 min. Drama. Dirigido por Oliver Stone. Distribuição: Fox

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Cine Lançamento

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A inquilina

A médica Juliet Devereau (Hilary Swank) muda-se para um novo apartamento no centro velho de Brooklin. Logo no primeiro dia, conhece Max (Jeffrey Dean Morgan), o proprietário do local, que desenvolve uma estranha obsessão pela jovem.

A premiada atriz Hilary Swank, vencedora de duas estatuetas da Academia (pelas soberbas interpretações em “Meninos não choram” e “Menina de ouro”), sofre mesmo da “maldição do Oscar”. Sua carreira, muito irregular hoje, vem afundando desde 2004. Depois de merecido reconhecimento em bons filmes, encarou bobagens desprezíveis como “A colheita do mal” e outras discutíveis, como “P.S.: Eu te amo” e “Amelia”. Com “A inquilina”, mais um fracasso medonho, sem contar o quão ruim é essa fitinha B de suspense.
Esperava-se mais por ter o nome de peso de Hilary no meio e também porque foi o primeiro grande projeto da Hammer, cultuada produtora de cinema de terror inglês nos anos 60 e 70, que anda falida e mesmo assim retomou os trabalhos. Fizeram um roteiro previsível e batido, contrataram um diretor finlandês novato (Antti Jokinen), só conhecido em seu país por rodar documentários para a TV aberta, e convidaram uma atriz de renome para dar um “tchan”, além de trazer como vilão da história o charmoso Jeffrey Dean Morgan. Só que o resultado beira o ridículo: o público desmascara o suspense de imediato, não há surpresas para segurar o telespectador na poltrona, o desfecho vem “conforme o combinado” e muita perseguição no modo ‘impossível’.
Um típico filme de “Supercine”, sobre uma mulher que se muda para um lugar aparentemente calmo à procura de tranqüilidade, e o que ela encontra é tormento nas mãos de um psicótico perturbado. Já vimos tantas vezes histórias assim, bem melhores – “Atração fatal”, “Morando com o inimigo”, “Dormindo com o inimigo”, “O mensageiro do diabo”, “Círculo do medo” e o remake “Cabo do Medo” etc.
Traz ainda a participação rápida de uma lenda viva do cinema de terror, Christopher Lee, e da bonita atriz negra Aunjanue Ellis.
Se quiser um bom entretenimento de suspense com tensão e reviravoltas, veja as dicas dos filmes acima. Não perca tempo com essa bobagem equivocada. Por Felipe Brida

A inquilina
(The resident). EUA/Inglaterra, 2011, 91 min. Suspense. Dirigido por Antti Jokinen. Distribuição: Paris Filmes

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Resenha

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Scarface

Expulso de Cuba por lutar contra o regime socialista de Fidel Castro, o criminoso Tony Montana (Al Pacino) refugia-se em Miami, no sul dos Estados Unidos, onde inicia nova vida. Cria laços com mafiosos locais, vira assassino de aluguel e passa a traficar cocaína. Em pouco tempo, por meio de negócios ilícitos, Montana recebe a fama de “O barão da coca”, tornando-se um dos homens mais ricos, violentos e inescrupulosos de Miami.

Remake bem modificado de “Scarface – A vergonha de uma nação” (1932), clássico do cinema policial dirigido por Howard Hawks que trazia Paul Muni como o ganancioso gângster com uma enorme cicatriz no rosto (por isso o nome do filme, que no Brasil ganhou um subtítulo moralista). Nessa versão épica moderna, Oliver Stone escreveu o roteiro a partir do romance de Armitage Trail, com a proposta de atualizar o personagem central: agora Scarface é um imigrante cubano recém-saído da prisão, com sede de poder, que chega a Miami Beach, onde aos poucos trapaceia amigos, reúne um grupo de criminosos e assim organiza seu próprio império. Al Pacino, descontrolado, sem freio algum, faz sua composição mais memorável como Tony Montana, esse cidadão disposto a tudo para ter riqueza e fama. Perseguido por mafiosos de todos os lados, monta esquemas sujos de lavagem de dinheiro e trafica drogas da América do Sul. Por ser uma figura central com perfil de bandido, Montana surge como um anti-herói, dos mais temíveis do cinema.
Um dos filmes mais violentos já produzidos, tem a marca autoral nítida do diretor Brian De Palma, como os virtuosos panoramas à la Hitchcock, seu cineasta favorito. Pesado e de um amargor cruel, teve diversos cortes em vários países, principalmente as de consumo excessivo de cocaína (Montana, no desfecho, junta uma verdadeira montanha de drogas na mesa e enfia o rosto nela para se dopar), além de sequências brutais de assassinato, como a da serra elétrica, e o extenso tiroteio nas escadarias, um interminável bala com bala, no final.
Não há como sair inerte após a exibição. Um filme que choca, perturba, arranha a cabeça, sobre a ascensão e a queda de um homem simples que atinge o poder, e pela ganância desenfreada, perde tudo o que construiu.
Recebeu três indicações ao Globo de Ouro em 1984 – melhor ator (Pacino), ator coadjuvante (Steven Bauer, como o comparsa de Montana) e trilha sonora para Giorgio Moroder, num trabalho musical difícil de esquecer. Paradoxalmente teve uma nomeação ao Framboesa de Ouro, como pior diretor.
O elenco reúne também a atriz Michelle Pfeiffer, magérrima, em início de carreira (como a mulher de um mafioso interpretado por Robert Loggia, por quem Montana se apaixona), Mary Elizabeth Mastrantonio (estreando), Pepe Serna, Miriam Colon, F. Murray Abraham, Harris Yulin e o falecido Paul Shenar.
Como produto, foi lançado em DVD no Brasil em três edições: a simples, a dupla (com bons extras) e uma junto com a versão original de “Scarface”, de 1932.
Obra indispensável do cinema, para público de nervos fortes. Por Felipe Brida

Scarface (Idem). EUA, 1983, 170 min. Ação. Dirigido por Brian De Palma. Distribuição: Universal Pictures

sábado, 7 de janeiro de 2012

Cine Lançamento

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Os pinguins do papai

O quase-empresário Tom Popper (Jim Carrey) trabalha no ramo de imóveis na agitada cidade de Nova York. Numa tarde, recebe a notícia de que seu pai aventureiro acabara de falecer na Antártida, em uma expedição. Como herança, recebe, dias depois, em seu apartamento, uma estranha caixa refrigerada. Dentro dela, um pinguim de estimação do falecido pai. Sem saber o que fazer com aquele “presente de grego”, Popper irá encarar uma tarefa pra lá de inusitada para conviver com o animal.

O ator Jim Carrey, que outrora foi astro em Hollywood, parece ter Síndrome de Peter Pan. Resiste em envelhecer. Quando precisa, arrisca a pele em papéis infantis e abobalhados que o tornaram conhecido nos anos 90, muitas vezes não funcionando, já que cai no caricato. O público – e os fãs estão inclusos – cansou de vê-lo fazer caretas, gritar, ter acessos no chão. E olha que Carrey demonstrou ser discretamente bom em dramas sérios, como “O mundo de Andy” e “Cine Majestic”.
Em “Os pinguins do papai”, com quase 50 anos de idade (o ator faz aniversário no dia 17 de janeiro), interpreta aquilo de sempre: um homem atrapalhado com ar de criança. Só mesmo a garotada pra aguentar...
Sobre o filme em si, a história é previsível e absurda, e os pinguins, criados a partir de ótimos efeitos visuais gráficos, são engraçadinhos. Carrey encarna um homem que terá de lidar com um bando dessas aves alvoroçadas que dançam, fazem baderna, sujam tudo. Imagine só ele mais os filhos e a esposa, num apartamento pequeno, juntinhos com esses animais bagunceiros. Ou seja, entretenimento puro, para a molecada se divertir. E só.
O diretor Mark Waters é especialista em fitas teens inteligentes (menos aqui, seu trabalho mais fraco), dentre elas duas preferidas minhas – “Meninas malvadas” (2004) e “As crônicas de Spiderwick” (2008). Os adultos que tentarem assistir reparem na presença da grande atriz londrina Angela Lansbury, lenda viva do cinema, diversas vezes indicada ao Oscar. Ela aparece como a elegante proprietária de um restaurante de Nova York, amiga do personagem principal. Já disponível em DVD pela Fox. Por Felipe Brida

Os pingüins do papai (Mr. Popper's penguins). EUA, 2011, 94 min. Comédia. Dirigido por Mark Waters. Distribuição: 20th. Century Fox

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Cine Lançamento

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Intermediário.com

Wayne Beering (Giovanni Ribisi) e Buck Dolby (Gabriel Macht) são dois gênios da informática que bolam um plano para ganhar milhões de dólares na internet por meio da pornografia. Para tanto recorrem a Jack Harris (Luke Wilson), um homem de negócios cujo trabalho é resolver a vida dos outros. A dupla atinge os objetivos, e o dinheiro entra facilmente, tornando aqueles dois amigos os criadores da indústria pornográfica no ambiente virtual. No entanto Wayne e Buck acabam envolvidos em um esquema com a máfia russa, que vai desde corrupção e drogas até execuções.

Inspirada em fatos reais, essa inusitada história sobre sexo na internet, pedofilia e dinheiro sujo adota uma visão nada romântica sobre o mundo virtual. O tema provocador gera discussões, pois trata do contexto histórico sobre o surgimento da pornografia audiovisual na rede, propagando os sites adultos. Pelo teor exótico e original, e pela história ser bem contada, às vezes com sacadas que beiram o incrível, o filme vira um atrativo à parte, que merece ser descoberto pelo público.
Incrível porque resulta numa jornada ao desconhecido, com altos e baixos, fracassos e riscos grandes. Dois rapazes altamente criativos quando o assunto é informática, que vivem chapados de álcool e pó, no ápice de uma “viagem”, resolvem criar um site para hospedar vídeos pornôs. Buscam dinheiro com isto e conseguem num estalo. No caminho, envolvem-se com mafiosos, são ameaçados de morte e extorquidos, e passam a ser guiados por um homem disposto a resolver a vida daquela dupla desregrada. Ele é o tal “intermediário” do título, papel de Luke Wilson (muito bom como um rapaz sério), uma espécie de negociador cuja cabeça está em risco também.
Diante de uma infinidade de surpresas desagradáveis, os personagens centrais são projetados para dentro de uma trama dos diabos, com evidências de mortes, subornos e muita grana duvidosa.
Deixo a dica desse trabalho curioso e intenso, pouco conhecido do público, que chega diretamente em home video no Brasil pela Paramount.
Escrito e dirigido por George Gallo, que fez em Hollywood outros longas interessantes de pouca repercussão, “Intermediário.com” traz como coadjuvantes os indicados ao Oscar James Caan e Robert Forster, além de Kevin Pollack, John Ashton e o ator croata Rade Serbedzija (como sempre um vilão). Por Felipe Brida

Intermediário.com (Middle men). EUA, 2009, 112 min. Drama/Policial. Dirigido por George Gallo. Distribuição: Paramount Pictures