sexta-feira, 29 de junho de 2012

Viva Nostalgia!


Amar é sofrer

O ator e cantor Frank Elgin (Bing Crosby) está em maus lençóis. Sem emprego, vive de bar em bar, única forma de fugir da amarga realidade. Tenta dar a volta por cima ao marcar encontro com o famoso diretor de Hollywood Bernie Dodd (William Holden), que ensaia um musical de sucesso garantido. Prestes a negociar com Elgin, Dodd conhece a esposa dele, Georgie (Grace Kelly), uma mulher do interior, cansada de sofrer com os vícios do marido. Apaixona-se então por aquela moça simples, fazendo de tudo para dar a ela uma vida melhor.

Grace Kelly, lendária estrela do cinema americano, ganhou, por “Amar é sofrer”, seu único Oscar, na categoria de melhor atriz. Ela dá um show como uma mulher interiorana (por isso o título original, “The country girl”) casada com um ator falido e alcoólatra (Bing Crosby, indicado ao Oscar pelo papel). Realmente Grace rouba o filme e está feia, sem maquiagem, com cabelos desarrumados (na capa do filme ela aparece com jóias e toda arrumada, extraída da sequencia final, em uma festa de glamour).
Lançado em 1954, “Amar é sofrer”, antes de mais nada, é um trabalho autoral sobre os bastidores do cinema, com história pessimista e desalentadora, em uma época onde eram comuns obras de temática parecida – “A malvada” e “Crepúsculo dos deuses” são os melhores exemplos.
O personagem crucificado é um ator desempregado, com tendência suicida, que procura meios de obter sucesso novamente. O ícone do cinema Bing Crosby interpreta esse cidadão, avacalhado pelas pessoas, alcoólatra de carteirinha, que ainda por cima não suspeita que um velho conhecido que poderá salvar sua pele (William Holden) está apaixonado pela sua esposa amargurada. A atuação de Crosby é contundente, ainda mais quando revela guardar um trágico passado.
Holden, como o diretor em alta, aceita a difícil tarefa de reerguer o profissional em crise (na verdade Crosby tem todas as crises, financeira, existencial, matrimonial etc), enfrentando inclusive os patrões, que não acreditam mais no potencial do ator falido. Haverá chance para o artista hoje sem fama?
As situações metalingüísticas exploradas aproximam-se da realidade que sempre presenciamos na mídia: artistas no ostracismo, vencidos pelo vício e rejeitados pelo grupo dominante atual. Por isso “Amar é sofrer” permanece atual, sem concessões ou final feliz.
Um excelente filme para público adulto, ganhador ainda do Oscar de melhor roteiro em 1955 – sem contar também cinco outras indicações: ator (Crosby), direção de arte, fotografia, diretor e filme.
Baseado na peça de Clifford Odets, que escreveu várias obras teatrais sobre a degradação do artista viciado, dentre elas “A embriaguez do sucesso”, levado às telas em 1957 (com Tony Curtis e Burt Lancaster).
Os nostálgicos poderão relembrar Grace Kelly, atriz de poucos filmes (fez apenas 13) cuja carreira durou somente seis anos, na TV e no cinema. Em 1956 despediu-se das telas em “Alta sociedade”, meses depois de “Ladrão de casaca”, filme este em que conhecera o príncipe-soberano de Mônaco, Rainier III, com quem se casaria mais tarde. Morreu prematuramente em 1982, aos 52 anos, em um acidente de carro em Monte Carlo, deixando um enorme vazio nas telas.
Rodado em preto-e-branco, o drama “Amar é sofrer” foi lançado pela primeira vez em DVD no Brasil pela Paramount, recentemente. Por Felipe Brida

Amar é sofrer (The country girl). EUA, 1954, 104 min. Drama. Dirigido por George Seaton. Distribuição: Paramount Pictures

terça-feira, 26 de junho de 2012

Cine Lançamento


Timer – Contagem regressiva para o amor

Em um futuro próximo, as pessoas ansiosas em encontrar a alma gêmea poderão se dirigir à empresa Timer. Lá elas pagam por um aparelho instalado no punho, o qual inicia uma contagem regressiva, que informa, em horas e minutos exatos, quanto tempo falta para o amor perfeito aparecer. Curiosa sobre esse equipamento, a dentista Oona O’Leary (Emma Caulfield), errante em seus relacionamentos amorosos, adquire o tal do cronômetro amoroso. Simpatiza-se com um rapaz mais novo, o caixa de supermercado Mikey (John Patrick Amedori), mas não tem certeza se ele realmente é o príncipe encantado, já que o ‘timer’ continua com a marcação zerada. Será que Oona encontrará a alma gêmea?

A Paramount acertou em cheio em distribuir “Timer” no mercado brasileiro, uma divertida comédia romântica que esbanja criatividade. Saiu diretamente em home video, sem passar nos cinemas, e agora pode ser apreciada (sem medo de errar).
Rodado em Los Angeles com recursos modestos, o filme conta a história de uma dentista em busca do par perfeito. Para tanto, adere a uma nova moda que conquista dia a dia os americanos: o cronômetro Timer, um aparelho instalado no punho que registra quanto tempo falta para surgir o amor avassalador. Com tentativas frustradas de namoro, ela se interessa por um rapaz dez anos mais novo, o que causa rejeição pelos amigos e pela família. Mas tudo sem o timer apitar, ou seja, o moço não é a garantia de ser sua alma gêmea.
A história se transforma passo a passo, com reviravoltas imprevisíveis e muitas delas bem planejadas. E o elenco ajuda no resultado. Quase todos os artistas saíram de seriados da TV norte-americana, com destaque para a dupla central, Emma Caulfield e John Patrick Amedori, num romance com química, apesar da diferença de idade. Em especial Emma, atriz talentosa, madura e muito simpática na tela, que deveria ser mais aproveitada pelo cinema. Fiquem atentos: Emma Caulfield, um nome a guardar na memória.
Por trás da brincadeira sobre o reloginho no pulso, o bom roteiro esconde idéias curiosas sobre destino e até que ponto quem pode ser o amor de nossa vida. Será que ficaríamos presos ao tempo na expectativa de encontrar a pessoa ideal?
A música incidental intimista, tema da dentista Oona, reúne notas musicais sutis que despertam os dilemas da personagem. Tudo tem uma liga forte – música, elenco, roteiro e direção. Ou seja, organizado e que flui sem vírgula alguma.
Uma fita romântica a ser descoberta, o primeiro e único trabalho do jovem cineasta Jac Schaeffer, que dirigiu, produziu e escreveu o roteiro. Outro nome que em breve deverá sair na mídia. Por Felipe Brida

Timer – Contagem regressiva para o amor (Timer). EUA, 2009, 99 min. Comédia romântica. Dirigido por Jac Schaeffer. Distribuição: Paramount Pictures

sábado, 23 de junho de 2012

Resenha



A mão que balança o berço

Após o marido, um renomado médico, cometer suicídio, Peyton Flanders (Rebecca De Mornay), grávida, perde o filho no parto. Ela torna-se uma mulher amarga, sem motivação. Meses depois começa a trabalhar como babá na residência do casal Michael e Claire Bartel (Matt McCoy e Annabella Sciorra). No seio de uma família perfeita, Peyton desenvolve uma doentia atração por Claire.

Aclamado pela crítica americana, rapidamente virou sucesso de público, no lançamento em 1992, e depois exibido aos montes na TV aberta. Importante veículo para a carreira de Rebecca DeMornay, que interpreta uma mulher psicótica, perturbada com o suicídio do marido e com a perda do filho. Sinistra no papel, DeMornay está nos melhores dias. Pena que sumiu das telas, e desde os anos 2000, participou de fitas menores como coadjuvante – recentemente voltou na pele de uma assassina em “Dominados pelo ódio” (2010), fita de suspense com terror ainda inédita no Brasil.
Em “A mão que balança o berço”, o premiado diretor Curtis Hanson, que havia aprendido a fazer suspense com “Uma janela suspeita” (1987), demonstra competência em conduzir o telespectador para uma trama de arrepiar, mostrando os perigos de abrir as portas de casa para desconhecidos, no caso uma babá vingativa, disposta a destruir uma família inteira para se livrar dos fantasmas do passado.
Eletrizante, prende a atenção do começo ao fim. Sabe aqueles filmes de medo difíceis de se esquecer? Pois bem, este é um deles!
O elenco conta com a presença marcante de outra atriz dos anos 90, Annabella Sciorra (também desaparecida do cinema) e da novata Julianne Moore, que aqui tem um final nada feliz.
Falando no diretor Curtis Hanson, um dos cineastas que admiro, após “A mão que balança o berço” rodou bons projetos, muitos deles sucesso de público e crítica, como “O rio selvagem” (1994), “Los Angeles – Cidade Proibida” (1997), “Garotos incríveis” (2000) e “8 Mile – Rua das ilusões” (2002).
Procure em DVD.

A mão que balança o berço (The hand that rocks the cradle). EUA, 1992, 110 min. Suspense. Dirigido por Curtis Hanson. Distribuição: Buena Vista/ Disney

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Cine Lançamento


Inferno na ilha

Noruega, 1915. Um jovem delinqüente, Erling (Benjamin Helstad), é encaminhado para o reformatório da Ilha de Bastoy, entre os oceanos Ártico e Atlântico. Após sofrer torturas, organiza uma violenta rebelião, juntamente com dezenas de prisioneiros, como reação aos maus tratos e abusos.

Ficou inédito nos cinemas brasileiros esse excelente filme norueguês baseado em fatos reais, cuja história lembra bastante “Papillon” – só que em vez do calor infernal da Ilha do Diabo, na Guiana Francesa, este se passa nos congelados fiordes do extremo norte da Europa. Provoca impacto imediato a dramatização dos fatos, ocorridos em um isolado reformatório para rapazes desajustados, na Ilha de Bastoy, na Costa da Noruega. Distante 70 quilômetros da capital, Oslo, a prisão, de segurança mínima (comum em países europeus), existe desde 1900, e foi palco de uma revolta que terminou em tragédia. Em resposta às torturas sofridas, o grupo de rapazes voltou-se contra a instituição, assassinou guardas do reformatório e iniciou um fracassado processo de fuga. Diversos morreram fuzilados, outros se afogaram no oceano. Depois da insurreição, as regras de Bastoy mudaram drasticamente – e até hoje a prisão está ativa.
"
Inferno na ilha" remonta parte dessa triste história. Situa a ação em 1915, com a chegada em Bastoy de um garoto novato, que passa a carregar pedras, é espancado pelos guardas, até arquitetar a mirabolante rebelião. O desconhecido ator Benjamin Helstad interpreta esse líder nato, em papel de muito empenho. Aliás, quase todo o elenco não é conhecido por nós, brasileiros, exceto o sueco Stellan Skarsgård (de “Ronin” e “Mamma mia! – O filme”), num papel frio, do diretor do reformatório. E por falar em frio, o gelo é o inimigo cruel dos personagens, mas que enriquece a fotografia do filme com seus tons azulados. Não explora violência nem torturas como em filmes do gênero; as poucas sequências de espancamento e uma sugestiva de sodomia não servem para chocar, o que é um bom sinal. Acho que ninguém iria gostar de assistir um carnaval de sofrimento...
A penosa odisseia pelo mar congelado encerra, com impacto, o filme, que traz em seguida trechos com cenas reais dos garotos detentos de Bastoy.
Como resultado, uma brilhante fita de arte, que serve como uma aula de História!
Venceu prêmios menores na Noruega, inclusive de melhor filme, e foi realizado com orçamento alto para os padrões europeus – U$ 4,6 milhões.
Não deixem de conhecer. Por Felipe Brida

Inferno na ilha (Kongen av Bastøy/ King of Devil´s Island). Noruega/Suécia/França/Polônia, 2010, 120 min. Drama. Dirigido por Marius Holst. Distribuição: Paramount Pictures

domingo, 3 de junho de 2012

Cine Lançamento



Um dia

Emma (Anne Hathaway) e Dexter (Jim Sturgess) se conhecem no dia 15 de julho de 1988, durante a formatura da faculdade, em Edimburg (Escócia). Ela é uma garota humilde, que chega à cidade grande para estudar, trazendo na bagagem muitos princípios; ele, um rapaz rico e ambicioso, querendo ganhar o mundo. Durante 20 anos, um suporta o outro, cada qual com suas manias. Nesse tempo, também aprendem a amar, brigar, rir e compartilhar tristezas.

Há tempos não encontrava um filme romântico/dramático que me prendesse, ainda mais interpretado por elenco jovem. Isto porque, nessa linha, o mercado cinematográfico norte-americano produz repetecos, sem qualidade técnica e roteiros batidos. Surpreso, recomendo esse refinado love story, rodado na Inglaterra, protagonizado por dois bons artistas fotogênicos, a lindíssima Anne Hathaway (já indicada ao Oscar anos atrás por “O casamento de Rachel”) e o bom Jim Sturgess (de “Across the universe”).
Acima de tudo é criativo na elaboração do roteiro. Por meio de uma narrativa bem amarrada, acompanhamos duas décadas na vida de duas pessoas perdidas que se encontraram por acaso na Escócia. No tempo atual, relembram tragédias, alegrias, bons e maus momentos de uma amizade despretensiosa. Tudo começa em 15 de julho de 1988. E a partir do dia 15 de cada ano, juntos ou separados, o rapaz rico e a garota sonhadora criam histórias diferentes em seus livros interiores, de aprendizagem e experiências marcantes. Uma sacada brilhante!
Baseado no best seller de David Nicholls, o filme faz a gente torcer o tempo inteiro pelo simpático casal. E para quem não conhece o livro, preparem-se para o difícil desfecho, trágico até para os corações mais firmes.
O gênero romance está bem representado aqui. Uma surpresa reveladora! Imperdível para os apaixonados.
Dirige a fita a dinamarquesa Lone Scherfig, a mesma de “Educação”, que soube aproveitar as melhores locações da Inglaterra nesses seus dois filmes oportunos.

Um dia (One day). EUA/Inglaterra, 2011, 107 min. Drama/ Romance. Dirigido por Lone Scherfig. Distribuição: Universal

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Viva Nostalgia!



A garota de rosa-shocking

Andie Walsh é uma adolescente pobre que estuda em colégio de ricos. Na escola, dois rapazes bem intencionados apaixonam-se por ela, Blane (Andrew McCarthy), seu amigo de infância, e Duckie (John Cryer), um sujeito emotivo capaz de tudo para chamar a atenção da garota. Indecisa com quem ficar, Andie precisa escolher um para ser seu par no baile de formatura, que está prestes a se realizar.

P
ara os saudosistas de plantão, a Paramount Pictures lança, pela primeira vez em DVD no Brasil, essa fita teen popular, que fez sucesso entre os jovens nos anos 80. Reprisada aos montes na TV aberta, a comédia romântica encerra uma “trilogia não-dependente” sobre a cultura geek, do diretor e produtor John Hughes, todos com a atriz Molly Ringwald – primeiro veio “Gatinhas e gatões” (1984) e depois “Clube dos cinco” (1985). Apenas “A garota de rosa-shocking” não foi dirigida por ele, que deixou a incumbência para seu colega de trabalho, o cineasta Howard Deutch (que aqui estreou no cinema). Por isso, este resulta mais superficial, sem a pegada cômica dos anteriores.
De jeitão esquisito, com dentes saltados e lábios carnudos, Molly Ringwald, hoje sumida das telas, interpreta uma garota humilde que necessita se encontrar no mundo. Como toda boa adolescente, é rebelde, preferindo a roda de amigos à família. Deseja um vestido atraente para o baile de formatura da escola e também precisa escolher um par para entrar na festa. Dois pretendentes, dois pólos bem opostos: um é rico, comportado, com carisma, enquanto o outro, atrapalhado, mas sensível, gosta de zoeiras e fazer piadas. Com quem ficar?
M
ais romântico que engraçado, o ingênuo filme superficialmente explora o sonho dos adolescentes que querem superar as crises da idade, nos anos seguintes aos do fim do sonho americano. Com mais apuro visual, mostra bem a cultura geek e nerd, dos jovens com cabelos espetados e calças coloridas, adeptos da tecnologia e dos videogames – o que deu origem às inúmeras tribos urbanas atuais.Longe de ser um grande trabalho, pelo menos se apresenta sincero, sem apelações, com final previsível e adequado. Conquistou muita gente, revelou atores (Andrew McCarthy e James Spader, por exemplo) e marcou um momento no cinema americano, quando as fitas tens abriam escolas e influenciavam a moda.
Em dvd, em edição especial, traz extras imperdíveis, que inclui um making of considerável, de quase uma hora de duração, com entrevista com o elenco original.

A garota de rosa-shocking (Pretty in pink). EUA, 1986, 96 min. Comédia romântica. Dirigido por Howard Deutch. Distribuição: Paramount Pictures