quarta-feira, 31 de julho de 2019

Resenhas Especiais



Dois últimos filmes da famosíssima e rentável franquia de cinema, para se preparar para o novo capítulo que estreia amanhã!


Velozes & furiosos 7

Toretto (Vin Diesel) e seu grupo são perseguidos por um inteligente assassino, Deckard Shaw (Jason Statham), que deseja se vingar por terem deixado seu irmão em coma.

O melhor capítulo da franquia “Velozes & furiosos”, o que teve também a maior bilheteria de toda a série, que traz cenas de alta octanagem, perseguições incríveis e faz muito barulho. Foi neste exemplar que o ator Paul Walker morreu, coincidências do destino vítima de um grave acidente de carro numa cidade da Califórnia, em dezembro de 2013, bem no final das gravações – a essa altura do campeonato posso comentar o desfecho, uma cena emocionante com a despedida de seu personagem Brian O’Conner, sob o som de “See you again”, que concorreu ao Globo de Ouro de canção e ainda toca nas principais rádios pop. Devido a morte do astro muita gente foi ver a aparição derradeira dele, por isto tamanha bilheteria no mundo inteiro, que bateu a marca de U$ 1,5 bilhões.
Outro acerto foi a contratação do diretor James Wan, malásio, que reconduziu o gênero de terror na metade dos anos 2000 com sucessos absolutos como “Jogos mortais” (2004), “Invocação do mal” (2013) e “Invocação do mal 2” (2016), e é dele a fantástica fita de superhero “Aquaman” (2018).


A franquia já seguia bem com nova roupagem desde o capítulo quatro, aqui volta praticamente o elenco original (Vin Diesel, Paul Walker, o time feminino com Michelle Rodriguez e Jordana Brewster, Tyrese Gibson e o rapper Ludacris, além de Dwayne Johnson e Luke Evans, com participação rápida de Kurt Russell). E tem o retorno do imbatível vilão do final do filme anterior, Jason Statham, para caçar a gangue de Toretto por terem ferido o irmão dele. Eles serão perseguidos em arranha-céu, em desfiladeiro e terão de se virar com seus carros até dentro de um avião! No estilo mais absurdo possível, tipo 007.
Uma fita de adrenalina desmedida, o mais longo até agora (137 minutos), que vem ainda mais fortalecer essa franquia que não tem pretensão de acabar – reparem, a cada dois anos tem filme novo engatilhado (amanhã estreia o spin-off “Velozes & furiosos: Hobbs & Shaw”, sem Vin Diesel, e o confronto será entre Dwayne Johnson e Jason Statham). É ver para crer!

Velozes & furiosos 7 (Furious Seven). EUA/China/Japão/Canadá/Emirados Árabes, 2015, 137 minutos. Ação. Colorido. Dirigido por James Wan. Distribuição: Universal Pictures


Velozes & furiosos 8

O líder da gangue de carros possantes Dominic Toretto (Vin Diesel) casou-se com uma de suas comparsas, Letty (Michelle Rodriguez), e desde então o grupo de alta velocidade se desfez. Toretto não pretende voltar ao mundo do crime. Até que recebe um convite tentador da misteriosa Cipher (Charlize Theron) envolvendo dinheiro e um grande desafio pela frente.

Campeão de bilheteria em 2017, com repercussão no mundo todo, o oitavo filme da franquia de ação arrecadou a gorda quantia de U$ 1,240 bilhões nas dez semanas que ficou em cartaz. Um sucesso absoluto, que ajuda a franquia se expandir - a cada dois anos sai um filme novo (lembrando que amanhã estreia o spin-off “Velozes & furiosos: Hobbs & Shaw”, com Dwayne Johnson e Jason Statham).
“Velozes & furiosos 8” teve o maior orçamento da cinessérie, custando U$ 250 milhões, valores gastos exclusivamente com elenco, de nomes de peso, astros do cinema de pancadaria atual, e, logicamente, com os efeitos visuais de tirar o folego, que tem explosões absurdas, infinitas perseguições etc
A ação é eletrizante do começo ao fim, aliás, cada exemplar fica mais fantasioso e inverossímil, por isso deixe estar... É um blockbuster sem compromisso, para você parar o que está fazendo, jogar-se no sofá e curtir a barulheira, de preferência numa TV com imagem de alta qualidade e o som no último!
Gosto desse capítulo, mas o melhor continua sendo o anterior, de James Wan. Quem assume a direção aqui é o expert em cinema de ação F. Gary Gray, de “A negociação” (1998), “Uma saída de mestre” (2003) e “Código de conduta” (2009), e do recente “MIB: Homens de preto – Internacional” (2019), que é uma bomba (fujam!!). Ele gravou em vários países com cenários diferentes um do outro, como praias de Cuba, ruas agitadas de Nova York e nos lagos congelados da Islândia e da Rússia, onde temos uma sequência bárbara com carros pesados e um submarino.


Reúne o elenco principal do anterior, como Vin Diesel, Jason Statham e Dwayne Johnson (exceto Paul Walker, que havia falecido), tem participação de Kurt Russell como o enigmático Sr. Ninguém, e um plus com a maravilhosa atriz Charlize Theron interpretando uma vilã (e até Helen Mirren entra na brincadeira!).
Engraçado se compararmos a evolução da franquia desde o primeiro filme, de 2001; o que era corrida comum de carro, com rachas e brigas no volante, virou um estardalhaço de grande magnitude, com direito a tanques de guerra, canhões, submarinos, avião potentes e veículos saltando de arranha-céu.
Se gosta de passatempo desse naipe não deixe para trás... corra se divertir!

Velozes & furiosos 8 (The fate of the furious). EUA/Japão/China, 2017, 136 minutos. Ação. Colorido. Dirigido por F. Gary Gray. Distribuição: Universal Pictures

Cine Lançamento



Duas rainhas

Rainha Consorte da França, Mary Stuart (Saoirse Ronan) fica viúva aos 18 anos e volta a ocupar o antigo posto, de Rainha da Escócia.  Ela reivindica também o trono da Inglaterra, que é comandada pela prima, Rainha Elizabeth I (Margot Robbie). Isto porque Mary é descendente legítima para tal cargo, ameaçando a soberania de Elizabeth. O conflito entre as duas desencadeará intrigas violentas, conspirações, rebelião e morte na Corte.

Rivalidade, conspirações, rebelião, vingança e morte são os temas de destaque dessa superprodução épica baseada na vida de duas rainhas notórias da Europa do século XVI, Mary Stuart e Elizabeth Tudor. Primas, competiram o trono por duas décadas, num período de intensas transformações políticas e sociais na Inglaterra pós-medieval. Não é um filme grandioso, tem pequenos problemas na edição (rápida, sem ganchos) e no roteiro distanciado que não dá destaque para os conflitos das rainhas. Houveram filmes melhores sobre as personagens, como “Mary Stuart, rainha da Escócia” (de 1936, dirigido por John Ford, que trazia Katharine Hepburn como Mary Stuart e Florence Eldridge como Elizabeth), outro de mesmo título, de 1971 (de Charles Jarrott, com Vanessa Redgrave indicada ao Oscar pelo papel de Mary, e Glenda Jackson como Elizabeth), sem contar a formidável biografia da rainha Elizabeth I dirigida por Shekhar Kapur em duas ocasiões, com Cate Blanchett indicada ao Oscar nas duas vezes pelo ótimo papel – em “Elizabeth” (1998) e a sequência, “Elizabeth: A era de ouro” (2007).
Mesmo com deslizes perdoáveis, “Duas rainhas” ainda aguça a curiosidade pela intensa história de intrigas na Corte, que terminou em decapitação, e pela trilha sonora sensacional do indicado ao Emmy Max Richter, além da maquiagem assombrosa e o figurino belíssimo, estes indicados ao Oscar em fevereiro. Foi a estreia na direção de Josie Rourke, que é diretora artística da Donmar Warehouse (teatro londrino fundado em 1977), que escolheu duas atrizes feras em um momento em alta de suas carreiras, com destaque especial para Margot Robbie, coadjuvante que rouba as cenas quando aparece, mesmo que pouco (pelo forte personagem recebeu indicação ao Bafta e ao SAG, ficando fora do Oscar; ela foi indicada ao prêmio da Academia em 2018 por “Eu, Tonya”, coincidentemente disputando com a atriz Saoirse Ronan, por “Lady Bird: A hora de voar”, em sua terceira nomeação).


O roteiro de Beau Willimon, da série “House of Cards” e do drama político “Tudo pelo poder” (2011), revira as páginas do livro original “Queen of Scots: The true life of Mary Stuart”, escrito pelo historiador John Guy, de 2004, e tanto o roteirista quanto o autor defendem a ideia de que as duas rainhas realmente se encontraram frente a frente; o fato é refutado pela maioria dos historiadores, que acreditam que elas apenas se correspondiam por cartas. Elas eram primas, cada uma governava um canto no Reino Unido, até que o jogo mudou vorazmente. Preste atenção pois há muitos detalhes históricos que podem causar confusão de nomes e acontecimentos. Só para deixar ajudar o leitor deste texto: Mary Stuart (1542-1587) ficou viúva um ano e meio após se casar com o rei da França, Francisco II. Ela tinha 18 anos, precisou voltar à Escócia, retornou ao cargo de rainha e apoiada por católicos ingleses e reivindicou o poder também na Inglaterra, entrando em conflito com a prima que era a governante do território, rainha Elizabeth I. Mary era a única descendente legítima do rei Jaime V, da Escócia, tinha seis dias quando assumiu o trono, com a morte do pai, e usufruiu o poder de rainha do país natal por 25 anos (de 1542 até ser forçada a abdicar, em 1567). Há poucas, mas intensas cenas de embate entre as duas personagens, mesmo que à distância (os conflitos e sequências emocionantes do encontro entre elas ficam para o final).
Coprodução Reino Unido/Estados Unidos, foi rodado em regiões da Grã-Bretanha e não teve bilheteria boa – estreou no AFI Fest, em novembro de 2018, passou no Brasil somente em abril deste ano e saiu em DVD esta semana, num disco único, recheado de bons extras.
Curiosidade: o projeto do filme nasceu em 2006, e Scarlett Johansson seria a protagonista, mas desistiu, assim como a direção seria de Susanne Bier. Engavetaram o filme, e só depois de 12 anos o fizeram (talvez isto tenha contribuído para as falhas do roteiro e edição). Mesmo assim vale a experiência.

Duas rainhas (Mary Queen of Scots). Reino Unido/EUA, 2018, 124 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Josie Rourke. Distribuição: Universal Pictures

terça-feira, 30 de julho de 2019

Resenhas Especiais



Especial "Amityville". Textos publicados na coluna Middia Cinema, da revista Middia, edição de julho/agosto de 2019.

Terror em Amityville

O casal George (James Brolin) e Kathy (Margot Kidder) muda-se com os filhos pequenos para um antigo casarão em Amityville, que no ano anterior foi palco de um crime horrendo. Eles não sabem que o novo lar é possuído por um espírito do mal em busca de vingança.

Três semanas atrás foi anunciado um prequel do filme “Terror em Amityville”, que terá o título de “Amityville 1974” e explicará os terríveis fatos ocorridos com a verdadeira família DeFeo, que inspiraram o roteiro deste filme de 1979.
Baseado no livro homônimo de Jay Anson, “Terror em Amityville” obteve um inesperado sucesso nos cinemas na época, arrepiou o público com sua intrigante história de medo dentro de um casarão tomado por forças demoníacas. Com a repercussão, diretores copiaram a fórmula, e este filme deu origem a nove continuações (muitas delas diretamente para video), um remake e um reboot – mas este original foi eleito o mais famoso sobre casas mal-assombradas (não é o melhor, sinto problemas na montagem com cortes bruscos, mas tem clima e assusta).
Sobre a história real: em 3 de novembro de 1974, um casarão colonial em Amityville, localizado em Long Island, Nova York, virou palco de um assassinato chocante, em que morreram seis membros da família DeFeo. Pai e mãe foram mortos, assim como quatro filhos do casal, sem motivo aparente. O crime foi cometido pelo filho mais velho da família, Ronald, que confessou tê-los matado; segundo ele, uma voz macabra dentro de sua cabeça ordenou as mortes. Ele foi preso e julgado. Um ano depois, em dezembro de 1975, uma nova família mudou-se para a casa, os Lutz. O casal e os filhos pequenos foram cruelmente atormentados (primeiro o pai, depois o restante da família) por 28 dias, até que fugiram apavorados. O filme tenta ser fiel ao mostrar um pouco do terrível caso dos Lutz a partir do livro de Anson, que conviveu com a família para escrever a história. Ou seja, o que vemos na tela ocorreu, conforme fatos descritos no romance original (eu li recentemente, gostei e indico – saiu dois anos atrás pela Darkside Books). Quem tem medo de fitas de terror com fatos não explicados, atribuídos a fantasmas e demônios, pode ficar impressionado (a continuação, “Amityville II: A possessão”, é ainda mais tensa e forte).


“Terror em Amityville” recebeu indicação ao Oscar e ao Globo de Ouro de trilha sonora. No elenco, além de James Brolin (pai de Josh Brolin) e Margot Kidder (a eterna Louis Lane da primeira franquia para cinema de “Superman”, dos anos 70 e 80) tem o premiado ator Rod Steiger como o padre (numa cena famosa em que moscas sobem em seu rosto), Don Stroud, Murray Hamilton, Helen Shaver, Michael Sacks e Val Avery.
Stuart Rosenberg (1927-2007) dirigiu pela primeira e única vez uma fita de terror; ele é conhecido por fitas policiais como “Matança em São Francisco” (1973), e dirigiu Paul Newman várias vezes, dentre eles em “Rebeldia indomável” (1967), “A sala dos espelhos” (1970), “Meu nome é Jim Kane” (1972) e “A piscina mortal” (1975).
Está presente no box “Trilogia Terror em Amityville”, pela primeira vez em DVD no Brasil, distribuído pela Obras-primas do Cinema. Vem junto a ótima continuação, “Amityville II: A possessão” (1982) e o inferior “Amityville 3: O demônio” (1983).

Terror em Amityville (The Amityville Horror). EUA, 1979, 118 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Stuart Rosenberg. Distribuição: Obras-primas do cinema. Disponível em DVD


Amityville II: A possessão

Uma nova família, os Montelli, chega em Amityville, Long Island, e aluga o casarão da 112 Ocean Avenue para morar. Pai, esposa e filhos desconheciam a maldição que habitava a casa, e a partir de agora serão alvo de manifestações demoníacas.

Ainda melhor que o “Terror em Amityville” (1979), a continuação “Amityville II: A possessão” (1982) se passa antes do primeiro e explica os motivos da casa de Amityville ter sido mal-assombrada (Leia a crítica do filme “Terror em Amityville”). A fictícia família Montelli seria os verdadeiros DeFeo, aqueles que foram assassinados em 1974 (perceba que são um casal e quatro filhos). Reconstitui-se a origem de tudo, com muita tensão, medo e sequências de arrepiar.
A história continua macabra, aqui acrescentando possessão demoníaca do filho mais velho (a maquiagem continua assustadora, a voz grossa do personagem como se fosse o diabo falando dá medo), exorcismos, mortes brutais. Ela foi baseada não mais na obra de Jay Anson, mas no livro “Murder in Amityville”, de Hans Holzer.


Dino de Laurentiis produziu e trouxe para a direção Damiano Damiani (de fitas italianas de máfia, como “O dia da coruja”, “Confissões de um comissário de polícia” e “Advertência”), levando a equipe para gravar partes em estúdio no México e cenas externas nos Estados Unidos. Tudo com um novo elenco (tem Burt Young, James Olson, Rutanya Alda, o protagonista Jack Magner, Moses Gunn e Leonardo Cimino). O resultado deu certo, o clima de terror é melhor inserido, a história é contada com mais interesse. Tentou ser um recomeço, porém depois desse a franquia virou meleca, com nove continuações de ruim a péssimo, um remake fajuto, “Horror em Amityville” (2005), e o desprezível reboot “Amityville: O despertar” (2017).
O filme saiu mês passado no box “Trilogia Terror em Amityville”, pela Obras-primas do Cinema. Vem junto com a primeira parte, “Terror em Amityville” (1979) e com a terceira, “Amityville 3: O demônio” (1983).


Amityville II: A possessão (Amityville II: The possession). EUA/México, 1982, 104 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Damiano Damiani. Distribuição: Obras-primas do cinema. Disponível em DVD

sábado, 27 de julho de 2019

Resenha Especial



Velozes & furiosos 6

O “esquadrão de elite” de Dominic Toretto (Vin Diesel) retorna com voracidade para enfrentar, sobre rodas, o destemido Shaw (Luke Evans) e seu grupo de mercenários.

Em números, o sexto capítulo de “Velozes e furiosos” ficou, por semanas, no topo do ranking da bilheteria norte-americana quando do lançamento, em maio de 2013. Faturou mundialmente bons U$ 790 milhões, sendo o terceiro maior rendimento da franquia – as duas sequências renderam ainda mais, U$ 1,5 bi (parte 7) e U$ 1,2 bi (parte 8). O fenômeno de público que esse filme causou, principalmente entre os jovens dos Estados Unidos, pode ser muito bem entendido pelo tratamento da produção: sequências absurdas de explosões, corridas de carro impossíveis, de tirar o fôlego, incrementadas com reviravoltas certeiras. A parte técnica melhorou muito desde o filme número quatro (2009), não há o que discutir. Outro motivo é o retorno completo do elenco original, que empolgou os fãs – as continuações iam perdendo os astros do primeiro, agora temos Paul Walker (falecido seis meses depois, em dezembro de 2013, de acidente de carro, quando gravava a parte sete de “Velozes”), Vin Diesel, Jordana Brewster e Michelle Rodriguez. Acertaram também ao convocar o brutamontes Dwayne Johnson (que aparecia no anterior, “Operação Rio”, filmado no Rio de Janeiro), que encabeça a trama junto com o fortão Vin Diesel, além do vilão Luke Evans, Tyrese Gibson e do rapper Ludacris. Eles arrebentam tudo com suas máquinas de ferro destruidoras - tem até tanque de guerra, aviões e perseguição no ar!


É um blockbuster movimentadíssimo para público jovem que quer adrenalina a fim de vibrar na cadeira com os carros possantes. Portanto curte-se sem compromisso com pipoca na mão. Como muita gente tenta imitar as corridas de carro, no final de cada exemplar da franquia há uma mensagem de alerta, de que a produção foi feita por uma equipe técnica especializada, com apoio de dublês etc – e realmente quem assiste quer se sentir poderoso diante do volante. Foi gravado em diversos países, como China, EUA, Espanha (e Ilhas Canárias) e Escócia, e novamente dirigido pelo chinês Justin Lin, que rodou as três fitas anteriores.
Saiu recentemente em um novo box em DVD e Bluray com os oitos exemplares da cinessérie, num momento oportuno já que na próxima semana estreia o spin-off “Velozes & furiosos: Hobbs & Shaw” (com Vin Diesel e Jason Statham).

Velozes & furiosos 6 (Furious 6). EUA/Japão/Espanha/Reino Unido, 2013, 130 min. Ação. Colorido. Dirigido por Justin Lin. Distribuição: Universal Pictures

Cine Lançamento



Bem-vindos a Marwen

Uma terrível agressão em um bar deixa o fotógrafo Mark Hogancamp (Steve Carrel) em coma, sem memória e com ferimentos profundos no rosto. Aos poucos recupera-se das lesões e recebe alta. Sozinho, fecha-se em casa e lá cria um mundo paralelo com bonecos que ele colecionava, que adquirem vida própria e o ajudam a destruir os fantasmas do passado.

Outro filme de Robert Zemeckis com a técnica de motion capture, onde os atores gravam as cenas revestidos por sensores em pontos estratégicos do corpo, e depois, com computação gráfica, um personagem é inserido nele – entre 2004 e 2018 o premiado cineasta experimentou quatro vezes os recursos, em “O expresso polar” (2004), “A lenda de Beowulf” (2007), “Os fantasmas de Scrooge” (2009) e agora em “Bem-vindos a Marwen” (2018). Diferente dos anteriores, este é uma animação em CG, mas com atores contracenando juntos. Outra diferença é o teor real da história. Zemeckis traz à tona, com sensibilidade, uma biografia forte sobre violência causada por preconceito e superação diante de terríveis tragédias que estamos sujeitos. Traça assim parte da trajetória do fotógrafo Mark Hogancamp, que em 2000, num bar, foi brutalmente espancado por cinco rapazes após comentar que era cross dresser (ele gostava de se vestir de mulher). Quase morreu, ficou em coma, com uma profunda cicatriz no rosto – os agressores foram detidos, depois soltos e nunca cumpriram pena. Hogancamp saiu do hospital com sequelas, dentre elas a perda de memória, e foi para casa, trancando-se em um mundo paralelo que ele cria no quintal. Lá ele montou uma cidade de bonecos, com action figures que colecionava, projetando-se nas histórias incríveis de aventura e guerra inventadas pela sua mente ideativa. Por exemplo, os agressores que bateram nele aparecem como soldados nazistas na Segunda Guerra Mundial, enquanto ele é um fuzileiro corajoso, auxiliado por um grupo de mulheres atiradoras. A cidade em miniatura é chamada por ele de Marwen, um local onde Hogancamp abstrai as tristezas e tenta conviver num mundo sem amarguras ao lado das figuras de plástico. E lá também explorava seu lado profissional, de fotógrafo, captando com uma máquina moderna cada movimento dos bonecos (tempos depois as fotos de Hogancamp foram recuperadas, expostas e tornaram-se mundialmente famosas).
Zemeckis contou uma lentidão e poesia uma história dramática e tristonha que lembra o seu “Forrest Gump” (pelo qual ganhou o Oscar de diretor, em 1995) – ambos os personagens são cidadãos solitários que narram histórias incríveis para apagar seus fantasmas do passado. “Bem-vindos a Marwen” mantem um ritmo calmo, alternando uma cena aqui e ali de aventura e guerra, com fantasia, em que Steve Carell, que costuma ser vibrante em cena, teve de se abster para compor esse estranho personagem sem carisma, robotizado, com o objetivo de tratar com poucas expressões o amargor de sua vida. Ele é um dos poucos homens do filme, contracenando com Leslie Mann, Diane Kruger, Eiza González, a esposa do diretor Leslie Zemeckis e Gwendoline Christie (elas intercalam aparições “de carne e osso” e também como boneco).


Não só o destaque vai para a história como para a técnica, um primor, em que os bonecos conversam (como se fosse uma extensão de pensamento do protagonista), lutam, atiram, matam, fogem de carro etc.
Zemeckis também escreveu o roteiro, uma adaptação direta do premiado documentário “Marwencol” (2010), junto de Caroline Thompson, criadora de “Edward Mãos de Tesoura” (1990) – outro filme que em partes se assemelha com “Marwen”.
Fracassou nas bilheterias (acumulou U$ 13 milhões contra um custo de U$ 40 mi) e recebeu comentários negativos por boa parte da crítica, mas eu gostei e recomendo, pelo ponto de vista da técnica brilhante, pela história inusitada e pelas sérias questões tratadas sobre preconceito e violência.
Saiu esta semana em DVD pela Universal Pictures, com extras imperdíveis!

Bem-vindos a Marwen (Welcome to Marwen). EUA/Japão, 2018, 115 minutos. Drama/Animação. Colorido. Dirigido por Robert Zemeckis. Distribuição: Universal Pictures

sexta-feira, 26 de julho de 2019

Resenha Especial



Tigre Branco

Integrante do Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial, o tanquista Ivan Naydionov (Aleksey Vertkov) é encontrado quase morto num campo de batalha. Soldados o levam para um hospital de guerra, onde fica internado por poucos dias. Os ferimentos de Naydionov cicatrizam de forma rápida, surpreendendo os médicos, e ele recobra a consciência. Recuperado, conta detalhes de um inacreditável embate que teve com um indestrutível tanque alemão, apelidado de Tigre Branco, que desaparecia misteriosamente na floresta.

Um dos filmes mais sombrios, ambíguos e simbólicos do russo Karen Shakhnazarov, que aniversariou este mês; ele é um cineasta importante da Rússia, que também escreve e produz, e desde 1998 é diretor do maior estúdio de cinema do seu país, a Mosfilm, fundado em 1920. Rodou em Moscou, em estúdios e com cenas externas em verdadeiros campos de batalha este impressionante drama de guerra que tentou disputar uma vaga no Oscar de 2013, na categoria de filme estrangeiro, porém ficou fora da lista dos finalistas.
A história escrita por ele e pelo parceiro de longa data Aleksandr Borodyanskiy - escreveram também “Sonhos” (1993), “A filha americana” (1995), “Palata n°6” (2009), entre outros, e até dirigiram juntos, tem como argumento o romance homônimo de Ilya Boyashov, em que mantiveram a influência do Realismo Fantástico na construção do personagem-chave, o enorme tanque alemão que aparece do nada como um fantasma, destrói tudo pela frente e some sem deixar vestígios. Algo místico e sobrenatural. A única pessoa que o vê é o soldado tanquista Ivan Naydionov, mas acabou ferido pela máquina de matar e escapou por um milagre (outro ponto do Realismo Fantástico, quando o jovem que teve 95% do corpo queimado recupera-se em poucos dias, desafiando a Medicina). Ninguém acredita na história do Tigre Branco contada pelo tanquista, todos acham que ele enlouqueceu, e aos poucos fatos estranhos surgem para creditar verdade em seus depoimentos.


Shakhnazarov fez uma obra desafiadora e complexa, uma fita de guerra e ação difícil de ser produzida, pois gravou, com poucos recursos, em extensos campos de batalha, vilarejos destruídos e com tanques de verdade. O roteiro é brilhante, e quando chega nos créditos finais, pensamos: “Que grande filme!” - assisti duas vezes para compreender as referências e analogias, o que recomendo você fazer o mesmo.
Para mim é o melhor Shakhnazarov, um trabalho denso e maduro. Vale destacar que o diretor prestou uma homenagem ao pai que lutou na Grande Guerra Patriótica, termo utilizado pelos russos para descrever o conflito com a Alemanha Nazista entre 1941 e 1945. Disponível em DVD pela CPC-Umes Filmes.

Tigre Branco (Belyy Tigr/ White Tiger). Russia, 2012, 104 minutos. Ação/Guerra. Colorido. Dirigido por Karen Shakhnazarov. Distribuição: CPC-Umes Filmes. Disponível em DVD

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Cine Lançamento



Mademoiselle Paradis

Viena, 1777. A pianista cega Maria Theresia Paradis (Maria Dragus) é levada pelos pais para participar de um tratamento com o controverso médico Franz Anton Mesmer (Devid Striesow), com o intuito de recuperar a visão. Este médico e cientista atua com uma técnica pioneira de magnetismo, com atendimento coletivo de pessoas que sofrem de doenças que a medicina tradicional não resolve. Após algumas sessões, Maria percebe que sua visão melhora, mas ela começa perder o talento musical. Os pais, autoritários, pensam então em retirar a jovem das mãos do médico.

Intenso e instigante filme biográfico sobre a juventude da pianista austríaca Maria Theresia von Paradis (1759-1824), quando tentou tratamentos médicos alternativos para voltar a enxergar. Baseado no livro “Mesmerized” (2010), da escritora e artista alemã Alissa Walser, este bom drama de época é uma coprodução Áustria/Alemanha, exibido no Festival Internacional de Toronto, onde concorreu a vários prêmios.
Na Viena da metade para o final do século XVIII, no período frutífero de Mozart (ele até criou uma composição em homenagem a Maria Paradis), a jovem pianista que ficou cega quando criança tinha 18 anos. Solitária, sem amigos próximos, recebe uma educação autoritária dos pais. A música cerca a rotina de Maria, que adquire gosto pelo piano e inicia uma carreira prodigiosa tocando para grupos pequenos em palácios. Ela era filha de um dos secretários imperiais da rainha Maria Theresa, da Casa de Habsburgo, homem influente e rico. Por muito tempo o pai a levou a médicos convencionais na tentativa de uma cura para a cegueira, sem sucesso nos tratamentos, até que fica sabendo de um médico, Dr. Mesmer, que poderia ser a salvação da menina. Ele criou o tal do Mesmerismo, uma técnica de magnetismo animal que gerou polêmica e discussões no mundo da Ciência. Maria então integra um grupo de doentes para receber as ondas magnéticas pelo corpo, e o tratamento demonstra melhora em sua condição; no entanto a pianista regride no talento musical, perdendo a habilidade quando está diante do piano. Contra a vontade dos pais, ela é forçada a abandonar o tratamento, o que a faz voltar à escuridão em todos os sentidos.


O filme discute a criação de pais com seus filhos numa sociedade repressora e machista, de forma quase didática, expositiva e com embates. Tem uma parte técnica impecável conciliando a linda fotografia de época a uma direção de arte muito bem pesquisada, figurinos exuberantes a uma maquiagem refinada, com um trabalho impressionante de Maria Dragus, atriz romena, de 23 anos, de “A fita branca” (2009) e “Duas rainhas” (2018). Sua personagem é de uma força fora de série, uma jovem reprimida e sufocada pelos padrões da sociedade, querendo libertar-se a todo instante. Ela foi uma pequena voz contra a opressão, e sua biografia até que enfim foi contada, sublimemente (quase ninguém conhece a história dela).
Lançado em festivais da Europa em 2017, passou nos cinemas brasileiros com atraso de dois anos, em maio de 2019, e saiu há poucos meses em DVD pela Focus Filmes. Quem assina a direção é uma mulher, por isso o filme no ponto de vista feminino, chamada Barbara Albert – ela é austríaca, tem 47 anos, fez alguns trabalhos de cinema em seu país, mas quase nenhum veio para cá.

Mademoiselle Paradis (Idem). Áustria/Alemanha, 2017, 96 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Barbara Albert. Distribuição: Focus Filmes

Resenha Especial


Cidade dos Ventos

Na Rússia da década de 70 dois estudantes disputam o amor de uma garota. Amigos de faculdade, eles discutem política, futuro, desilusões, e se veem ameaçados quando o regime socialista começa a ruir.

No mês de aniversário do cineasta russo Karen Shakhnazarov, que completou 67 anos no último dia 08, venho publicando uma série de resenhas sobre seus filmes lançados em DVD pela CPC-Umes Filmes, a única especializado no Brasil em cinema soviético e russo. Já saíram textos sobre “Noite de inverno em Gagra” (1985), “Sonhos” (1993) e “A filha americana” (1995), obras fundamentais para compreender o cinema russo da atualidade. “Cidade dos Ventos” é a resenha desta semana, um dos filmes mais pessoais do diretor, produzido pela Mosfilm em 2008 e que chegou ao mercado brasileiro em DVD no ano passado. Shakhnazarov não escreveu desta vez o roteiro, porém volta a discutir a crise na Rússia pós-Socialismo, de forma dramática, com um pano de fundo de romance. A história se passa em Moscou da década de 70 e envolve um triângulo amoroso entre dois garotos e uma jovem estudante. Um deles é entusiasta do regime socialista, o outro é dissidente, e juntos falam sobre vitórias, desapontamentos amorosos e não poderia faltar a política. O ambiente é de uma certa tensão, a URSS da época andava na corda bamba e o Comunismo dava sinais de fraqueza (ambos acabariam 15 anos mais tarde, no início da década de 90). Diante das mudanças que já afetavam a sociedade, de uma Rússia resistente na abertura política e econômica, os três amigos pensam no futuro, em mudar de país, em encarar novos trabalhos.


É um filme lento, puramente construído com diálogos, pouco trilha sonora, com ritmo reduzido, próprios da natureza do cinema de arte. E trata muito de política. Eu indico o cinema de Shakhnazarov aos cinéfilos que já conhecem a linguagem do cinema cult, é uma opção num mercado tão pequeno. Está somente disponível em DVD – e aproveitem para conhecer o rico catálogo de fitas soviéticas e russas da CPC-Umes, disponível em http://www.cpcumesfilmes.org.br - são mais de 40 títulos, de diversas épocas e gêneros!

Cidade dos Ventos (Ischeznuvshaya imperiya/ The vanished empire). Russia, 2008, 105 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Karen Shakhnazarov. Distribuição: CPC-Umes Filmes. Disponível em DVD.

quarta-feira, 24 de julho de 2019

Resenhas Especiais


Duas comédias românticas da California Filmes que se passam na França! Dica de cinema de hoje!


Paris pode esperar

Uma dor de ouvido impede Anne (Diane Lane) de viajar com o marido, o produtor de cinema Michael Lockwood (Alec Baldwin). Eles estão em Cannes, no famoso festival de cinema francês. Michael segue de avião para Budapeste enquanto Anne resolve ir de carro para Paris. Quem a leva é o sócio do produtor, um bon vivant chamado Jacques (Arnaud Viard). A viagem, que demoraria sete horas, durará vários dias, pois no caminho Jacques fará diversas paradas para que Anne conheça lugares belíssimos do interior da França, numa aventura gastronômica sem limites.

A esposa de Francis Ford Coppola, Eleanor Coppola, estreou no cinema ficcional com este charmoso filme, aos 80 anos de idade. Mãe da atriz e cineasta Sofia Coppola, antes ela havia dirigido apenas um documentário, “Francis Ford Coppola – O apocalipse de um cineasta” (1991), ganhador do Emmy. Fez em seguida curtas doc menos lembrados, e com maturidade e muita vivência nas costas entrou de cara no cinema de ficção com o independente “Paris pode esperar”, escrito e produzido por ela. É uma alegre comédia romântica para público que curte filmes sobre passeios gastronômicos, que no final dá uma fome lascada!
A personagem da ótima Diane Lane traz características pessoais de Eleanor Coppola, que durante uma vida inteira acompanhou no set o marido, o diretor e produtor Francis Ford Coppola (eles são casados desde 1963), e ao mesmo tempo tinha de lidar com a solidão da ausência dele diante de seus projetos cinematográficos que exigiam dedicação extrema.
Lane interpreta essa Eleanor, uma mulher de meia-idade casada com um produtor de cinema de Hollywood workaholic, só focado em trabalho. Uma dor de ouvido faz com que ela não possa pegar avião com o esposo, então opta em voltar para Paris de carro, com um amigo e sócio francês do marido, um homem alegre, de bem com a vida. Nessa viagem pelo interior da França a dupla irá cruzar por paisagens estonteantes e iluminadas, com direito a comidas apetitosas, de sabores variados, regadas a vinhos únicos, algo que injeta ânimo de espírito para aquela mulher que necessita de atenção e afeto. O que acontecerá com os dois amigos em viagem? Assista para descobrir (e se entusiasmar)!
Diane Lane dá o tom e o charme necessário para o filme se desenrolar. E o francês Arnaud Viard se joga com graça e agitação num de seus melhores papéis no cinema. Outro ponto alto são as autênticas locações, de cidades provincianas da França, uma beleza para os olhos!

Paris pode esperar (Paris can wait). EUA/Japão, 2016, 92 minutos. Comédia romântica. Colorido. Dirigido por Eleanor Coppola. Distribuição: California Filmes


Um amor à altura

Diane (Virginie Efira), uma advogada que divide o escritório com o ex-marido, conhece um arquiteto bem-sucedido e sedutor, Alexandre (Jean Dujardin), por quem se apaixona. Ele tem baixa estatura, mas ela não se importa. Porém a família não aceita o relacionamento, e a sociedade passa a ridicularizar o casal, o que faz Diane repensar o namoro.

Caprichado remake da comédia “Coração de Leão – O amor não tem tamanho” (2013, uma coprodução Argentina e Brasil que já era bem legal), que manteve fielmente a história de uma jovem bonita que se apaixonava por um homem de baixa estatura enfrentando preconceito da família e da sociedade. Agora a produção se passa na França, dirigida por Laurent Tirard, de boas fitas populares de comédia de época, como “As aventuras de Molière” (2007) e “O retorno do herói” (2018, também com Jean Dujardin), e dos infantis “O pequeno Nicolau” (2009) e a continuação, “As férias do pequeno Nicolau” (2014). Ele adaptou o roteiro original do anterior (que foi escrito pelo próprio diretor, o argentino Marcos Carnevale), atingindo um resultado acima da média de uma refilmagem (lembrando que muitos remakes não dão certo, ficam cópia escancarada, repetidas, sem nada novo para contar).
Ganhador do Oscar de ator por “O artista” (2011), o francês Jean Dujardin está à vontade no papel do arquiteto que sofre por ser pequeno de tamanho, um romântico à moda antiga em busca de um grande amor. Cheio de graça, ele manda bem na frente das câmeras, e ficou parecendo um anão com efeitos especiais de sobreplanos. A sua parceria de cena, a belga Virginie Efira, de “Elle” (2016) e “Na cama com Victoria” (2016), acrescenta humor e drama no papel da mulher dividida, que a duras penas tem de encarar o romance malvisto pelos amigos e pelos seus pais. Os dois têm uma incrível química, superam-se a cada momento, num filme que mexe com nossos sentimentos, alternando cenas engraçadas com românticas, além das dramáticas, para se refletir sobre o preconceito enraizado em todos os lugares, desde piadas que parecem inofensivas até apontamentos e risadas direcionados a pessoas que fogem do padrão de beleza imposto pela sociedade.
Assista com consciência e se possível veja o original, de 2013.

Um amor à altura (Un homme à la hauteur). França, 2016, 98 minutos. Comédia romântica. Colorido. Dirigido por Laurent Tirard. Distribuição: California Filmes

domingo, 14 de julho de 2019

Resenha Especial



Mais um filme em DVD de Karen Shakhnazarov, que completou 67 anos esta semana e é um dos mais importantes cineastas da Rússia atual.

A filha americana

Separado da esposa, o músico solitário Varakin (Vladimir Mashkov) deseja desesperadamente ver a filha pré-adolescente, Anya (Allison Whitbeck), que mora nos Estados Unidos com a mãe. Viaja da Rússia, onde sempre viveu, com destino àquele país, totalmente estranho para ele. No encontro entre os dois, que acarretará em um choque de cultura, pai e filha tentarão restabelecer os laços familiares.

Um dos trabalhos mais leves e afetuosos do cineasta russo Karen Shakhnazarov (que aniversariou esta semana, completando 67 anos, 40 deles dedicados ao cinema do seu país – ele também é roteirista, produtor e diretor da Mosfilm, o principal estúdio da Rússia).
“A filha americana”, em DVD pela CPC-Umes Filmes, é um road movie com pegada country produzido na Rússia, porém inteiramente rodado nos Estados Unidos, de gênero drama, com um humor sutil e casual, sobre relacionamento de pais com filhos distantes.
O ponto de partida do bom roteiro, novamente escrito pela dupla de velhos parceiros, Aleksandr Borodyanskiy e Karen Shakhnazarov, é a busca de um pai pela filha, que precisará atravessar o oceano para vê-la pela primeira vez. Ele é um músico russo, separado da esposa (que mora nos Estados Unidos), então viaja até lá de forma secreta com o compromisso desse encontro definitivo. O encontro acontece – o pai é caladão, não fala inglês, só observa a filha, que por outro lado fala bastante (só em inglês). Enquanto tentam se comunicar, os laços entre eles são estabelecidos de gradualmente em que recuperam o afeto perdido.
Como nos filmes anteriores, o diretor e roteirista Karen Shakhnazarov abre uma série de significados políticos referentes às mudanças ocorridas na Rússia após o desmembramento da URSS, quatro anos antes (esse filme é de 1995). A aproximação de pai e filha é uma analogia à Rússia, república velha e em crise, à procura de laços com a nação americana, um país viril, dominante, com mentalidade jovem. Lembrando da História, por 46 anos houve a Guerra Fria, entre os blocos URSS e EUA, os países eram inimigos, depois com a queda da URSS em 1991 as relações entre eles se tornou amigável, mas voltou a esfriar no início dos anos 2000; ainda hoje a crise entre os dois permanece. Desse modo o filme procura refletir essas relações. Tanto que o cineasta rodou o drama 100% nos Estados Unidos, em várias cidades do Estado da Califórnia - o único dele filmado no país do Tio Sam.


No papel do pai, Vladimir Mashkov, do russo “O ladrão” (1997), indicado ao Oscar de filme estrangeiro, e de fitas blockbuster norte-americanas em que quase sempre interpreta vilão, como “Atrás das linhas inimigas” (2001), “15 minutos” (2001) e “Missão: Impossível – Protocolo fantasma” (2011). Já a amorosa garotinha Anya é feita por Allison Whitbeck, que esteve também em “Jack” (1996), depois abandonou a carreira.
Repare que há uma narração em russo nos momentos das falas em inglês. Disponível em DVD numa excelente cópia restaurada pela Mosfilm, distribuída no Brasil pela CPC-Umes Filmes.

A filha americana (Amerikanskaya doch/ American daughter). Russia/Cazaquistão, 1995, 92 minutos. Comédia/Drama. Colorido. Dirigido por Karen Shakhnazarov. Distribuição: CPC-Umes Filmes. Disponível em DVD

sexta-feira, 12 de julho de 2019

Resenha Especial


Sonhos

A condessa Prizorova (Amaliya Mordvinova) sonha com fatos estranhos que a projetam para um futuro de 100 anos, em 1993. No sonho ela é uma faxineira de um bar em Moscou, que precisará se prostituir para ajudar o marido em crise moral e financeira.

Fita russa notória no país na década de 90, esta comédia dramática densa é assinada pelo diretor, roteirista e produtor russo Karen Shakhnazarov, que completou 67 anos no último dia 08. Na semana do aniversário do cineasta vou comentar sobre alguns de seus principais filmes disponíveis em DVD no Brasil, e um deles é “Sonhos” (1993) – falei recentemente de outros dois dele, “Noite de inverno em Gagra” (1985) e “Anna Karenina: A história de Vronsky” (2017).
“Sonhos” é mais uma reflexão de Shakhnazarov sobre o desmembramento da URSS, ocorrido em 1991; o filme foi gravado dois anos depois da dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, composta por 15 países e que existiu por 70 anos, focando a dificuldade do povo russo quanto à restauração do modelo político-econômico do capitalismo. Por meio do humor discreto, um drama de época e devaneios da protagonista, a condessa, quando está dormindo, a obra carrega uma forte crítica social. Quando foi feito, em 1993, o país era governado por Boris Yeltsin, o primeiro presidente pós-colapso da URSS, que ficou no cargo até 1999. A população enfrentava grave crise social, passava fome diante de uma inflação absurda que chegava a 2000%, e isto aparece na história de “Sonhos” - para se ter uma ideia, o marido da personagem principal faz qualquer coisa para ganhar dinheiro, como vender fotos nuas da mulher e forçá-la a se prostituir para que membros do FMI liberem créditos para melhorar a crise no governo!


Este é um filme político, crítico e muito bem escrito, a quatro mãos, pelos parceiros de velha data Karen Shakhnazarov e Aleksandr Borodyanskiy (juntos fizeram o roteiro de “Cidade zero”, “Assassinato do tzar”, que concorreu à Palma de Ouro em Cannes, “A filha americana”, “Tigre branco”, dentre outros).
No elenco um dos maiores atores russos, Oleg Basilashvili, de “Maratona de outono” (1980) e “Cidade zero” (1988), que compõe uma figura contraditória, dificilmente de ser esquecida.
Disponível em DVD pela CPC-Umes na série “Cinema Soviético”, que vem lançando desde 2015 filmes cult do cinema de lá. Está numa cópia belíssima que vale cada minuto, restaurada pela Mosfilm.

Sonhos (Sny/ Dreams). Russia, 1993, 74 minutos. Comédia/Drama. Colorido. Dirigido por Karen Shakhnazarov e Aleksandr Borodyanskiy. Distribuição: CPC-Umes Filmes. Disponível em DVD

quarta-feira, 10 de julho de 2019

Resenhas Especiais



Especial Trilogia 'Sissi'


Clássicos que conquistaram o público e firmaram a carreira da atriz Romy Schneider voltam ao catálogo da Versátil!


Sissi

Sissi (Romy Schneider) é uma garota romântica, que se apaixona pelo futuro noivo de sua irmã mais velha, o imperador austro-húngaro Franz Josef (Karlheinz Böhm). Sete anos mais velho, Josef também sente forte atração pela jovem. Os dois iniciam um romance que duraria uma vida inteira.

O primeiro filme da trilogia de sucesso “Sissi” encantou gerações e levou a atriz Romy Schneider, então com 17 anos, ao estrelato. Com carisma, beleza e elegância, ela interpreta uma jovem sonhadora que se vê envolvida com o futuro noivo da irmã mais velha. Sissi desconhecia o fato de ele ser imperador, acabaram se apaixonando e em breve se casaram com pompa, e por isto ela recebeu o título de “Imperatriz da Áustria”.
O filme, um drama romântico em formato de opereta, é baseado em fatos verídicos que envolvem uma das últimas dinastias da Baviera, que governou por 600 anos, e uma das figuras mais marcantes dela, a imperatriz Elizabeth da Áustria (1837-1898). Idealiza e romanceia o perfil da personagem-título, nascida na Alemanha, que desde pequena tinha o apelido carinhoso de Sissi. Ela foi duquesa, depois princesa da Baviera até finalmente ser imperatriz-consorte da Áustria, devido ao casamento com o imperador Franz Josef I (ou Francisco José I) - a ideia da mãe de Franz era casar o filho com a irmã mais velha de Sissi, Helena, mas Sissi, no dia em que acompanhava a família para o encontro do futuro casal, apaixonou-se por Josef, numa troca recíproca, mudando o curso da história!


A verdadeira Sissi, pelo que se conhece da História, era uma mulher bem diferente daquela mostrada no famoso filme: tinha uma vaidade extrema, era uma esposa infeliz, sofria de depressão e anorexia, obcecada por dietas rígidas. Na política tinha ideais liberais, quebrava protocolos, ajudava os pobres, o que a tornou popular entre os súditos. E morreu assassinada em Genebra, por um anarquista italiano, aos 60 anos. O roteirista e diretor austro-húngaro Ernst Marischka (1893–1963) personificou Sissi de um jeito singular, mais ameno e alegre, extraindo a parte trágica da sua biografia, inclusive a morte. Ou seja, criou uma obra de apelo mais popular, para todos os gostos, romântica e exuberante na direção de arte e fotografia (realmente um deleite para quem gosta de filmes de época). Aliás, muitos filmes biográficos produzidos entre as décadas de 50 e 60 romantizavam os protagonistas.
O cinema alemão se popularizava no Brasil na década de 50, e “Sissi” veio na onda, ganhando o carinho do telespectador não só daqui, mas da Europa inteira. Até hoje quem tem mais de 60 anos deve se lembrar dele, uma obra romântica e ingênua, de um cinema que não existe mais.
Integra o box com os três filmes restaurados, em uma cópia restaurada de brilhar os olhos, que voltou ao catálogo da Versátil numa edição de luxo. Há alguns extras, como como textos sobre o filme e biografia da atriz Romy Schneider, galeria de fotos e pôsteres, trailer e um depoimento exclusivo do recém-falecido crítico de cinema Rubens Ewald Filho.

Sissi (Idem). Áustria, 1955, 105 minutos. Drama/Romance. Colorido. Dirigido por Ernst Marischka. Distribuição: Versátil Home Video

Sissi, a imperatriz

Sissi (Romy Schneider) casa-se em Viena com o imperador austro-húngaro Franz Josef (Karlheinz Böhm), tornando-se imperatriz. Enfrentará a partir de agora sérios problemas entraves, como a difícil convivência com a sogra, as viagens oficiais e os protocolos da Corte.

Segundo filme e para mim o melhor da trilogia “Sissi”, lançado um ano depois do primeiro, em 1956. O enfoque da continuação foge do romantismo do anterior, e se firma no drama, mostrando as dificuldades de Sissi como imperatriz, a não-aceitação da aristocracia de Viena pela sua pessoa, os eternos conflitos com a sogra autoritária e controladora, Sophie, e o afastamento dos filhos (educados em outro país). A soma desses acontecimentos levou a protagonista a sofrer uma doença pulmonar e dos nervos (na verdade a imperatriz teve depressão e anorexia, omitidos do filme – Leia a crítica do filme anterior).

A trilogia Sissi foi o trampolim da atriz Romy Schneider à fama. Romy era uma atrizes mais lindas do cinema europeu, que teve uma carreira sólida, porém sua vida foi marcada por sucessivas tragédias. Vamos conhecer um pouco de Romy Schneider. Nascida em 1938 em Viena, era filha de uma atriz de sucesso, Magda Schneider, que a incentivou nas artes – ela atua na trilogia como a mãe de Sissi, a duquesa Ludovika. Namorou o principal astro da Europa dos anos 60, Alain Delon, ficaram juntos por cinco anos. Foi o grande amor de sua vida. Depois de se separar, casou-se três vezes e teve dois filhos, até que no finalzinho dos anos 70 sua vida entraria num mar de angústias e infortúnios: o primeiro marido, o ator e diretor alemão Harry Meyen (1924-1979), suicidou-se; em 1981 separou-se do segundo marido, na mesma época que descobriu um câncer e precisou extrair um rim; e meses depois, uma notícia abalaria o mundo: seu filho de 14 anos, do primeiro casamento, chamado David Christopher, morreu enganchado na grade da cerca da casa da avó, quando tentou pulá-la. Romy adoeceu profundamente, desenvolvendo depressão e usando medicamentos em excesso para aliviar a dor das perdas. Abandonou o cinema e morreu em Paris em 1982, aos 43 anos, de ataque cardíaco (na época especulou-se sobre uma overdose de remédios, nunca comprovada pela família).
Romy era linda em cena, uma atriz versátil, e em “Sissi” e “Sissi, a imperatriz” estava no auge da beleza, conquistando fãs do mundo todo. Deixou com essa trilogia uma marca absoluta na História do Cinema.
Indicado à Palma de Ouro em Cannes, assim como a terceira parte, “Sissi e seu destino” (1957).
Para quem quiser assistir e ter em casa, a trilogia voltou ao catálogo da Versátil recentemente, em cópia restaurada. Os mesmos extras estão nos três discos, que são textos sobre o filme e biografia da atriz Romy Schneider, galeria de fotos e pôsteres, trailer e um depoimento exclusivo do recém-falecido crítico de cinema Rubens Ewald Filho.

Sissi, a imperatriz (Sissi - Die junge kaiserin). Áustria, 1956, 105 minutos. Drama/Romance. Colorido. Dirigido por Ernst Marischka. Distribuição: Versátil Home Video

Sissi e seu destino

A imperatriz da Áustria Sissi (Romy Schneider) vive feliz ao lado do imperador Franz Josef (Karlheinz Böhm) e dos filhos. Aos poucos assume os negócios do Estado, mas se vê rejeitada por algumas autoridades de países vizinhos. Com seu espírito liberal, Sissi terá de lidar com o poder que lhe foi concedido.

Último filme da trilogia “Sissi”, um marco dos filmes românticos da Europa na década de 50. Neste capítulo derradeiro da vida de Sissi, acompanhamos a protagonista no dia a dia das formalidades reais, seu espírito aventureiro e reformador, que por vezes desagradava os aliados. Dá-se aqui foco para os problemas pessoais dela, quando teve problemas de pulmão e estresse, e seu tratamento na Ilha de Madeira e em Korfu, bem como seu envolvimento direto na política. Termina com um desfecho memorável, de uma longa sequência em que ela e o marido imperador, Josef, percorrem um grande tapete vermelho numa travessia até os pés do palácio. Não só este, os três filmes têm uma direção de arte exuberante, fotografia riquíssima do período de ouro do Império Austro-Húngaro e um figurino de aplaudir em pé. Tudo pensado com critério e um rigor clássico do diretor e roteirista Ernst Marischka (1893–1963), realizador de operetas, que escreveu filmes populares em sua terra, Viena, e era um grande apaixonado por música clássica – foi indicado ao Oscar pelo roteiro da biografia de Chopin, “À noite sonhamos” (1945).

A protagonista, uma figura real da Áustria do século XIX, foi vivido brilhantemente pela linda e charmosa atriz de mesma nacionalidade de Sissi, Romy Schneider, que tinha na época do terceiro filme 19 anos (Leia mais nas críticas anteriores). A pedido do diretor e amigo Luchino Visconti, Romy voltaria a interpretar Sissi, mas como rainha Elizabeth da Áustria, com outra criação, mais sombria e mais parecida com a verdadeira, no filme “Ludwig: A paixão de um rei” (1973).
“Sissi e seu destino” recebeu indicação à Palma de Ouro em Cannes e fecha com chave de ouro a popular trilogia do cinema, que conquistou gerações, é nostálgico, leve e voltado para todos os públicos. Está no box com a trilogia completa em cópia restaurada, que voltou ao catálogo da Versátil. Acompanham extras como textos sobre o filme e biografia da atriz Romy Schneider, galeria de fotos e pôsteres, trailer e um depoimento exclusivo do recém-falecido crítico de cinema Rubens Ewald Filho.

Sissi e seu destino (Sissi - Schicksalsjahre einer kaiserin). Áustria, 1957, 104 minutos. Drama/Romance. Colorido. Dirigido por Ernst Marischka. Distribuição: Versátil Home Video