sexta-feira, 19 de abril de 2019

Resenha Especial



Me chame pelo seu nome

No verão de 1983, numa cidadezinha tranquila no Norte da Itália, o jovem Elio (Timothée Chalamet), de 17 anos, chega com a família para passar lá a temporada. Os dias são calmos, Elio está entediado, afunda-se nos livros, toca piano, ouve música clássica e paquera uma amiga. A lentidão das horas mudará com a chegada do estudante Oliver (Armie Hammer), que ficará hospedado para ajudar o pai de Elio, um professor, em uma pesquisa. Entre os dois despertará uma forte paixão.

Nome de destaque do cinema italiano atual, Luca Guadagnino está com seu mais novo filme nos cinemas brasileiros, o estranho e ainda mais psicodélico remake de “Suspiria”, com o subtítulo “A dança do medo”. Ele é um realizador diferenciado, com fitas de arte refinadas, como podemos perceber em “Um mergulho no passado (ou “A piscina”, de 2015) e “Um sonho de amor” (2009). Com o independente “Me chame pelo seu nome”, que custou apenas 4 milhões de euros, atingiu certo sucesso nos cinemas. Guadagnino foi convidado pelo veterano cineasta James Ivory para dirigir um roteiro que ele escreveu muitos anos atrás, a adaptação do livro de mesmo título, do escritor nascido no Egito André Aciman. Ivory guardou os direitos para entregá-lo a alguém competente, surgindo o nome de Guadagnino. E a parceria não poderia ser melhor! Pelo belíssimo drama romântico, Ivory ganhou o Oscar de roteiro adaptado, o homem mais velho da história a receber o prêmio na categoria – ele estava com 89 anos e foi seu primeiro troféu da Academia).
“Me chame pelo seu nome” é uma joia do cinema de arte, poético, sincero, sobre um romance entre dois homens de idade diferentes numa curta temporada de verão. Elio é o protagonista (Chalamet num momento especial, indicado ao Oscar), um garoto americano que viaja com a família ao Norte da Itália para descansar na casa de veraneio deles. Estão juntos o pai, um professor (papel sensato de Michael Stuhlbarg) e a mãe, uma mulher dedicada. A monotonia dos dias naquela cidadezinha pacífica, sem muitos atrativos, faz Elio desmoronar no tédio. Mas seus dias mudarão profundamente com a vinda de um estudante mais velho, o charmoso Oliver (Hammer, em sua primeira indicação ao Globo de Ouro, de ator coadjuvante). Pintam flertes, toques ocasionais, a atração entre os dois aumenta a cada raiar do dia. Elio e Oliver têm medo do que pode ocorrer (preconceito, dificuldade de se expor, a diferença de idade etc), por isso nunca se abrem. Até quando conseguirão suportar?
O filme discorre em 132 minutos uma história sobre o amor pleno e o poder da paixão. Soa ingênuo, até pueril (de maneira proposital mesmo), narrado com muita poesia visual e toques de sensualidade. Exerce uma força sublime sobre os personagens a fotografia, excepcional, bem reluzente e clara, com lindas locações de uma Itália parada no tempo (foi rodado em vilarejos de Lombardia, no extremo Norte da Itália). Tudo faz ser um trabalho marcante, um dos melhores filmes de 2018!


Não tem como não se emocionar com a história de Elio e Oliver. E aguarde um dos diálogos mais bonitos que já vi no cinema, na cena final entre pai e filho, com uma interpretação emblemática de Michael Stuhlbarg (só por este momento o ator deveria ter sido indicado ao Oscar de coadjuvante).
Produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira, que vem ganhando notoriedade em Hollywood, “Me chame pelo seu nome” vibrou os principais festivais de cinema do mundo; abriu Sundance, concorreu ainda ao Oscar de melhor filme e de música (a linda “Mystery of love”, de Sufjan Stevens), foi indicado a três Globos de Ouro, esteve no Bafta, SAG, Teddy em Berlim, Grammy e em Toronto.
Se ainda não conferiu, não deixe para depois!

Me chame pelo seu nome (Call me by your name). Itália/França/Brasil/EUA, 2017, 132 min. Drama/Romance. Colorido. Dirigido por Luca Guadagnino. Distribuição: Sony Pictures

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