segunda-feira, 15 de abril de 2019

Cine Lançamento



Infiltrado na Klan

Na década de 70, Ron Stallworth (John David Washington) torna-se o primeiro policial negro a atuar no Departamento de Polícia de Colorado Springs. E também o único a se infiltrar na Ku Klux Klan, com o objetivo de revelar os temíveis segredos da organização secreta. A estratégia dele era a seguinte: conversava com os membros da Klan, por telefone, e quando precisava participar de reuniões pessoalmente, enviava um comparsa, o policial branco de origem judia Flip Zimmerman (Adam Driver), que assumia o seu lugar.

O filme definitivo de Spike Lee, que demorou para ser reconhecido pela Academia de Cinema de Hollywood. Depois de duas indicações ao Oscar, ganhou somente agora o de melhor roteiro por este trabalho sensacional, engajado e crítico. É uma incrível história real, corajosa também, que parece absurda, uma verdadeira trama policial de filmes da Blaxploitation, movimento que o cineasta presta homenagem.
Ron Stallworth existiu mesmo, era um policial novato (interpretado por John David Washington, filho de Denzel Washington, em seu primeiro grande papel, pelo qual recebeu indicação ao Globo de Ouro) que acabava de chegar ao Departamento de Polícia do Condado de Colorado Springs. Enfrentou piadas dos colegas brancos e de repente teve uma ideia inusitada, bem perigosa, de se infiltrar na Ku Klux Klan local, para descobrir as ações do grupo e trazer informações para a polícia. Como era negro, precisava de um branco para assumir seu lugar nas reuniões presenciais da KKK, então convidou um comparsa do departamento, um judeu melindroso - Adam Driver, super bem, indicado ao Oscar de ator coadjuvante. As investigações avançaram assim como o risco de serem revelados...


Em tom divertido, com diálogos afiados e hilários, o filme denuncia os atos extremistas da temível KKK, ainda existente em alguns estados americanos, escancara o racismo institucionalizado, dialogando sobre as relações raciais nos Estados Unidos e com a trajetória dos negros na América, uma história de dor e perseguição. Stallworth, infiltrado na Klan, ajudou a sabotar linchamentos, evitou até destruição por bombas de locais frequentados por negros e enganou o próprio David Duke, o líder máximo da organização criminosa.
A sequência de abertura, com Alec Baldwin, já é histórica. Ele, como um supremacista branco, discursa contra os negros, e ao fundo são exibidas cenas dos filmes “O nascimento de uma nação” (1915) e “E o vento levou” (1939), hoje condenados pelo teor racista.
Spike Lee provoca com elegância, inclui na ficção passagens reais extraídas da TV, de passeatas a favor da igualdade e também dos horrorosos atos da Klan pregando cruzes em chamas. Deu voz ainda a figuras importantes, como Stokely Carmichael no auge dos Panteras Negras, traduzindo a incansável luta por igualdade de tudo aquilo que surgia da onda do Black Power. Um filme para não esquecer!
Destaque para o nome do visionário diretor Jordan Peele, de “Corra!” (2017) e “Nós” (2019), que assina como produtor.
É difícil classificar o gênero do filme (Drama? Policial? Comédia?), que reúne referências inteligentes, desde o título original misturando Black com a KKK, e letreiros criativos, como o do início: “Este filme é baseado numas paradas que rolaram mesmo”.
Ganhou no Festival de Cannes o Grande Prêmio do Júri e o Ecumênico, indicado ainda à Palma de Ouro - e ao Oscar de melhor filme. Baseado no livro “Black Klansman”, do próprio Ron Stallworth, conta com um fabuloso elenco de coadjuvantes: Topher Grace, Laura Harrier, Alec Baldwin, Corey Hawkins, Ryan Eggold, Michael Buscemi, Paul Walter Hauser e aparição rápida de Harry Belafonte.
Não perca de vista esta pequena joia do cinema atual, contada com muita solidez pelo cineasta Spike Lee, aquele que mais deu voz aos negros no cinema.

Infiltrado na Klan (BlacKkKlansman). EUA, 2018, 135 min. Drama/Comédia. Colorido. Dirigido por Spike Lee. Distribuição: Universal Pictures

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