quarta-feira, 24 de abril de 2019

Resenha especial



O programa

Na metade da década de 90, o promissor ciclista norte-americano Lance Armstrong (Ben Foster) vence uma dura batalha contra o câncer e utiliza o esporte como ferramenta de prevenção influenciando milhões de pessoas. Anos mais tarde, adere ao uso de anabolizantes para disputar competições, apontado pela imprensa como líder de um programa de EPO, droga proibida, que o faz ganhar sete vezes consecutivas o famoso Tour de France.

O prestigiado cineasta britânico Stephen Frears, de filmes de época marcantes como “Ligações perigosas” (1988) e “A rainha” (2006), realizou uma fita menor de sua estrondosa carreira, mas muito curiosa, bem produzida e ousada, que refaz a trajetória do discutível ciclista Lance Armstrong. A cinebiografia é baseada no livro do jornalista David Walsh (que desmascarou Armstrong) e divide-se em duas partes: a primeira mostra a superação do esportista quando venceu um câncer que quase o matou, época em que criou uma fundação para combater o câncer infantil - isto deu motivos para continuar seguindo em frente no esporte; e uma segunda parte mais empolgante e derradeira, de quando conheceu o hormônio injetável eritropoietina (EPO), pelas mãos de seu médico, substância proibida que melhorava a performance dos atletas – ele se viciou, por ser um competidor nato injetava altas doses e não bastasse reunia um grupo de esportistas para usar a EPO com ele.


Com atmosfera de denúncia, o filme aponta Armstrong como líder de um esquema de dopping bioquímico. Provas atestam que ele, de 1999 a 2005, ganhou sete vezes o Tour de France por causa das drogas injetadas. Quando descoberto, ele foi banido definitivamente do ciclismo, perdeu títulos notórios e diplomas de honra e teve de devolver os sete prêmios conquistados no Tour de France. Em 2012 confessou a utilização frequente de anabolizantes.
Pouco divulgado no Brasil, o filme tem bastante humor para equilibrar a narrativa. É protagonizado por um personagem difícil de aceitar, controverso, uma junção de mocinho e vilão, uma lenda misturada com farsa e ao mesmo tempo herói, transformado em um monstro pela mídia, e ainda assim continuou reverenciado por uma legião de fãs. O ator Ben Foster ficou parecido com Armstrong debaixo de maquiagem, num de seus melhores papéis no cinema. Além da trajetória dele, outras histórias correm soltam, como a do jornalista David Walsh (Chris O’Dowd) que fica no encalço do ciclista procurando provas sobre o programa de dopping que mais tarde ele revelaria, e a forte relação de Armstrong com o médico Dr. Ferrari (Guillaume Canet, também cheio de maquiagem), que o incentivava no uso dos anabolizantes. E tudo é entrecortado por vídeos reais de competições de Armstrong, numa edição bem movimentada, como se fosse uma corrida de bike. Repare numa rápida passagem do ator Dustin Hoffman. Já em DVD!

O programa (The program). Reino Unido/França, 2015, 99 min. Drama. Colorido. Dirigido por Stephen Frears. Distribuição: Califórnia Filmes

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