Lavoura Arcaica
André (Selton Mello) é um filho desgarrado que foge de casa, sufocado pela austeridade do pai (Raul Cortez) e pelo amor em excesso da mãe (Juliana Carneiro da Cunha). A partida do jovem desestrutura a família. Isolado em uma casa de campo, André passa a reviver, em lembranças, momentos de sua vida, e volta a ser atormentado pela sua paixão secreta, a irmã Ana (Simone Spoladore). O irmão mais velho, Pedro (Leonardo Medeiros), recebe a missão de trazer André de volta ao lar.
Um dos filmes mais magníficos, poéticos e densos produzidos pelo cinema brasileiro. Sabe aquela fita que já nasce com todas as características de obra-prima? Pois esta é uma delas. O diretor Luiz Fernando Carvalho (responsável pela direção de importantes projetos na Rede Globo, como as minisséries “Os Maias” e “A Pedra do Reino”, a série “Hoje é Dia de Maria” e as novelas “Pedro Sobre Pedra”, “Renascer” e “O Rei do Gado”) conseguiu recriar, de modo sublime, a parábola bíblica de “O Filho Pródigo”, só que invertida. Em vez de o filho voltar, o irmão vai até os confins do mundo para buscá-lo.
O longa, premiado nos Festivais de Montreal e de Brasília, é baseado no romance homônimo de Raduan Nassar, lançado em 1975 (o livro levou vários prêmios, como o Jabuti, um dos mais importantes no Brasil). No filme, mantém-se, como no livro, a narrativa poética e a perturbação do personagem principal, André. Sua figura é a personificação do paradoxo. Ao mesmo tempo que reconhece ser a “ovelha negra” e o vagabundo da família, algo que causa ódio entre os irmãos trabalhadores, quer voltar para casa; no entanto, reluta, com receio do tratamento rígido adotado pelo pai (aliás, Raul Cortez brilha em um personagem sombrio). O dilema toma conta do jovem durante todo o desenrolar da história. A cada momento do filme temos lances e cortes inovadores e seqüências que retratam o verdadeiro vazio. Um vazio que domina a família, que acende paixões violentas, que desperta a imoralidade, que distancia e que une. O vazio torna-se teor essencial, pois preenche e qualifica as figuras dramáticas.
O filme é um verdadeiro exercício de linguagem de cinema. Por trabalhar com temas tão densos e, por vezes, enigmáticos, misturados a uma narrativa lenta e pormenorizada, a fita, classificada como “filme de arte”, se auto restringe quanto à circulação e aceitação do público. Não é para todos. Além do mais, a duração é de 163 minutos, muito longo. Não é fácil acompanhar a história, que culmina com um fim trágico e sem concessão. O clímax, o embate entre pai e filho na mesa, é provocante e perfeito. Imagine o duelo entre o saudoso Raul Cortez e Selton Mello!
Mesmo com a duração excessiva, posso dizer que a fita é altamente recomendável, ou melhor, obrigatória. Tenha paciência e assista-a. Dedique pouco mais de duas horas e meia de seu dia para acompanhar esta obra única no cinema nacional.
Curiosidade: O escritor Raduan Nassar nasceu em 1935, na cidade de Pindorama (região de Catanduva, onde moro). Filho de imigrantes libaneses, lançou também outro livro que se tornou sucesso na literatura e que também virou filme, “Um Copo de Cólera”. (Por Felipe Brida)
André (Selton Mello) é um filho desgarrado que foge de casa, sufocado pela austeridade do pai (Raul Cortez) e pelo amor em excesso da mãe (Juliana Carneiro da Cunha). A partida do jovem desestrutura a família. Isolado em uma casa de campo, André passa a reviver, em lembranças, momentos de sua vida, e volta a ser atormentado pela sua paixão secreta, a irmã Ana (Simone Spoladore). O irmão mais velho, Pedro (Leonardo Medeiros), recebe a missão de trazer André de volta ao lar.
Um dos filmes mais magníficos, poéticos e densos produzidos pelo cinema brasileiro. Sabe aquela fita que já nasce com todas as características de obra-prima? Pois esta é uma delas. O diretor Luiz Fernando Carvalho (responsável pela direção de importantes projetos na Rede Globo, como as minisséries “Os Maias” e “A Pedra do Reino”, a série “Hoje é Dia de Maria” e as novelas “Pedro Sobre Pedra”, “Renascer” e “O Rei do Gado”) conseguiu recriar, de modo sublime, a parábola bíblica de “O Filho Pródigo”, só que invertida. Em vez de o filho voltar, o irmão vai até os confins do mundo para buscá-lo.
O longa, premiado nos Festivais de Montreal e de Brasília, é baseado no romance homônimo de Raduan Nassar, lançado em 1975 (o livro levou vários prêmios, como o Jabuti, um dos mais importantes no Brasil). No filme, mantém-se, como no livro, a narrativa poética e a perturbação do personagem principal, André. Sua figura é a personificação do paradoxo. Ao mesmo tempo que reconhece ser a “ovelha negra” e o vagabundo da família, algo que causa ódio entre os irmãos trabalhadores, quer voltar para casa; no entanto, reluta, com receio do tratamento rígido adotado pelo pai (aliás, Raul Cortez brilha em um personagem sombrio). O dilema toma conta do jovem durante todo o desenrolar da história. A cada momento do filme temos lances e cortes inovadores e seqüências que retratam o verdadeiro vazio. Um vazio que domina a família, que acende paixões violentas, que desperta a imoralidade, que distancia e que une. O vazio torna-se teor essencial, pois preenche e qualifica as figuras dramáticas.
O filme é um verdadeiro exercício de linguagem de cinema. Por trabalhar com temas tão densos e, por vezes, enigmáticos, misturados a uma narrativa lenta e pormenorizada, a fita, classificada como “filme de arte”, se auto restringe quanto à circulação e aceitação do público. Não é para todos. Além do mais, a duração é de 163 minutos, muito longo. Não é fácil acompanhar a história, que culmina com um fim trágico e sem concessão. O clímax, o embate entre pai e filho na mesa, é provocante e perfeito. Imagine o duelo entre o saudoso Raul Cortez e Selton Mello!
Mesmo com a duração excessiva, posso dizer que a fita é altamente recomendável, ou melhor, obrigatória. Tenha paciência e assista-a. Dedique pouco mais de duas horas e meia de seu dia para acompanhar esta obra única no cinema nacional.
Curiosidade: O escritor Raduan Nassar nasceu em 1935, na cidade de Pindorama (região de Catanduva, onde moro). Filho de imigrantes libaneses, lançou também outro livro que se tornou sucesso na literatura e que também virou filme, “Um Copo de Cólera”. (Por Felipe Brida)
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Título original: Lavoura Arcaica
País/Ano: Brasil, 2001
Elenco: Selton Mello, Raul Cortez, Leonardo Medeiros, Juliana Carneiro da Cunha, Simone Spoladore, Caio Blat, Mônica Nassif, Renata Rizek.
Direção: Luiz Fernando Carvalho
Gênero: Drama
Duração: 163 min.
País/Ano: Brasil, 2001
Elenco: Selton Mello, Raul Cortez, Leonardo Medeiros, Juliana Carneiro da Cunha, Simone Spoladore, Caio Blat, Mônica Nassif, Renata Rizek.
Direção: Luiz Fernando Carvalho
Gênero: Drama
Duração: 163 min.
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