quinta-feira, 9 de outubro de 2025

Especial de cinema

 
Festival do Rio: bons filmes para acompanhar – parte 2
 
A 27ª edição do Festival do Rio continua até o dia 12 de outubro na capital carioca, trazendo mais de 300 filmes para o público. Dentre os títulos, longas premiados nos principais festivais do mundo, como Cannes, Sundance, Veneza e Berlim, e alguns pré-selecionados ao Oscar de 2026. Vitrine do cinema brasileiro e um dos festivais mais importantes do país, o Festival do Rio, criado em 1999, é apresentado pelo Ministério da Cultura, Shell e Prefeitura do Rio. Tem patrocínio master da Shell através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e apoio especial da Prefeitura do Rio – por meio da RioFilme, órgão que integra a Secretaria Municipal de Cultura. Realização: Cinema do Rio e Ministério da Cultura/Governo Federal. Confira abaixo mais títulos que conferi no festival e recomendo.
 
Couture
 
Angelina Jolie é a estrela do novo filme da cineasta francesa Alice Winocour, de ‘Transtorno’ (2015) e ‘A jornada’ (2019), que acaba de estrear no Festival do Rio – ainda sem data para entrar nos cinemas brasileiros e sem título em português (‘Couture’ significa ‘Alta costura’). Angelina está lindíssima e bem fotografada, interpretando o papel de uma diretora de cinema que viaja a Paris para filmar a temporada do Fashion Week. Enquanto prepara o estúdio e as modelos, aguarda ansiosamente os resultados de um exame médico que fez nos Estados Unidos (de câncer). Os fragmentos da trajetória dessa mulher se entrelaçam com os de outras duas personagens femininas: uma modelo sul-sudanesa de 18 anos (Anyier Anei), que está no mesmo evento, em seu primeiro trabalho na passarela, e uma maquiadora (Ella Rumpf) que trabalha sem descanso. Cada uma a seu modo enfrenta os incansáveis dias da Semana de Moda ao mesmo tempo em que lidam com questões íntimas. Um bonito e correto filme sobre o universo feminino no mundo da moda, energicamente interpretado pelo trio central de atrizes. No elenco vemos Vincent Lindon como um médico e Louis Garrel como o par romântico de Angelina. Selecionado para a competição do Festival Internacional de Cinema de San Sebastián 2025, foi exibido nos festivais de Toronto e Roma. Ainda em exibição do Festival do Rio nos dias 10 e 12/10.
 

 
Alpha
 
Depois de despontar no cinema francês com seus filmes visceralmente violentos e indigestos, Julia Ducournau retorna ao body horror neste trabalho mais pessoal, com menos sangue e com alta carga de densidade dramática. Exibido em Cannes, onde concorreu à Palma de Ouro e ao Queer Palm, o filme faz uma alegoria a Aids ao contar a história de Alpha (Mélissa Boros), uma garota de 13 anos que mora com a mãe, uma médica (Golshifteh Farahani) que cuida de pacientes com uma estranha doença, um vírus transmissível que os transforma em mármore. A cidade registra uma epidemia desta doença cruel, que petrifica as vítimas. Certo dia, Alpha retorna para casa com uma tatuagem no braço, que infecciona. Ela passa a ser cuidada pela mãe e por um tio usuário de drogas, Amin (Tahar Rahim – num papel assustador, em que perdeu bastante peso). Alpha sofre bullying na escola devido àquela inflamação no braço, que sangra a todo momento. Ela também se apaixona por um colega de classe. Não é tão chocante quanto ‘Grave/Raw’ e ‘Titane’, pra mim os dois melhores trabalhos de Ducournau, porém ainda impacta nos causando desconforto. Os elementos visuais são um destaque a parte tanto aqui quanto em seus outros filmes, uns bizarros e outros trágicos. Ainda em exibição do Festival do Rio no dia 10/10.
 

 
Valor sentimental
 
Mais um filme da Mubi que teve sessões lotadas no Festival do Rio e é forte candidato ao Oscar de 2026 – acho que receberá indicações de filme estrangeiro, diretor, roteiro original e elenco (Renate Reinsve, Stellan Skarsgård e Elle Fanning, que estão formidáveis). Produção Noruega/Suécia do renomado diretor e roteirista dinamarquês Joachim Trier, de ‘Oslo, 31 de agosto’ (2011), ‘Thelma’ (2017) e ‘A pior pessoa do mundo’ (2021), é um filme de drama em torno de duas gerações de uma família ligada ao mundo do cinema. As irmãs Nora e Agnes reencontram o pai distante, Gustav, que no passado foi um exímio diretor de filmes. Ele deve retornar em uma nova produção, que contará com Nora num dos papeis. A filha acaba recusando a proposta, e o trabalho é entregue a uma jovem estrela de Hollywood, que viaja até a casa da família para ler o roteiro. A dinâmica familiar é alterada com a presença da garota americana, que passa a conviver com os problemas diários dos Borg. Um filme de sentimentos aflorados, reconciliação e metalinguagem - em que o mundo do cinema se confunde com o real, num trabalho certeiro do primoroso elenco. Fotografia estupenda, e um Trier que sabe explorar as expressões do elenco, desde os olhares tortos aos gestos corporais que ajudam a entender as angústias de cada integrante daquela família em crise. Vencedor do Grand Prix no Festival de Cannes, foi exibido também nos festivais de Locarno, Toronto e San Sebastián. Ainda em exibição do Festival do Rio nos dias 10 e 12/10.
 

 
The mastermind
 
Drama com elementos de suspense que acompanha a ascensão no mundo do crime de um ladrão de quadros na Nova Inglaterra dos anos 70. Josh O’Connor vem brilhando em filmes como ‘Rivais’ e ‘La Chimera’, e aqui bem interpreta o protagonista, um ágil criminoso amador que tem bom gosto e sabe como ninguém surrupiar objetos de arte em museus. Ele é o ‘cabeça’, o ‘mastermind’ de um pequeno grupo de assaltantes – na verdade três, sendo ele e dois atrapalhados comparsas. Ele tem uma família e até utiliza um dos filhos para ajudar nos atos infracionais. Não fica claro o período que transcorre a trama, porém reconhecemos os anos 70 pelo contexto da Guerra do Vietnã e do movimento hippie que aparece nos diálogos e em sinais dos figurantes; aliás, boa composição de direção de arte e figurinos. A fotografia de época com paletas de cores suaves é uma excelência artística da cineasta autoral e que vem do cinema independente Kelly Reichardt, a mesma de ‘Movimentos noturnos’ (2013) e ‘First cow’ (2019). Josh está muito bem, num de seus melhores trabalhos no cinema, ao lado de um elenco afinado, mesmo em participações especiais, como Alana Haim (como a esposa), Hope Davis e Bill Camp (que interpretam os pais dele). Observo muito o design dos créditos, e o de abertura, aqui, todo verticalizado, é o máximo. Lançamento da Mubi em parceria com a Imagem Filmes, tem mais uma exibição no Festival do Rio, no dia 12/10. Estreará nos cinemas em 16/10 e mais pra frente na plataforma da Mubi.
 

 
Órfão
 
Um dos filmes mais emocionantes exibidos no Festival do Rio, o complexo drama biográfico húngaro disputa uma vaga na categoria de filme estrangeiro no Oscar 2026. Também produção da Mubi, traz a desafiadora jornada de um garoto judeu chamado Andor na Budapeste do fim dos anos 50. Ele mora sozinho com a mãe, não sabe quem é seu pai e, decidido a encontrar uma resposta, sai em busca de seu paradeiro. Os dias serão cansativos e cruéis, já que a sociedade em que ele vive é cerceada e vigiada, após uma longa revolta contra o regime comunista. Até que o menino recebe uma informação preciosa – de que seu pai possa ser um açougueiro violento, ligado ao comunismo e que coordena um grupo da resistência clandestina – uma performance fenomenal do ator francês Grégory Gadebois. Assista com atenção redobrada nos diálogos, pois são infinitas as informações que vão chegando sobre esses personagens repletos de camadas e situações de encontros e desencontros. Indicado ao Leão de Ouro em Veneza, é assinado pelo diretor húngaro László Nemes, de ‘O filho de Saul’ (2015), que ganhou o Oscar de filme estrangeiro – repare que ele utiliza aqui a mesma fotografia em tom de amarelo e cinza. Ainda em exibição do Festival do Rio no dia 12/10.



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