segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Especial de cinema

 
Festival do Rio: bons filmes para acompanhar – parte 5
 
A repescagem da 27ª edição do Festival do Rio continua até o dia 16/10. Neste ano, o festival exibiu mais de 300 filmes de 85 países, muitos deles em première. Vitrine do cinema brasileiro e um dos festivais mais importantes do país, o Festival do Rio, criado em 1999, é apresentado pelo Ministério da Cultura, Shell e Prefeitura do Rio. Confira abaixo dois bons filmes que conferi no festival e recomendo, e em breve ambos estreiam nos cinemas brasileiros.
 
 
Sonhos
 
O cineasta autoral mexicano Michel Franco não faz concessões em seus filmes; é um diretor de mão pesada, que cria personagens densos e finais amargos. Tem renome no circuito independente e em festivais de cinema, já premiado em Cannes e Veneza. Franco acaba de lançar mais uma fita de drama que nos angustia, na linha dos seus dois últimos trabalhos, ‘Sundown’ (2021) e ‘Memória’ (2023). Nada é o que aparenta neste filme adulto, já que a sinopse divulgada por aí tenta aproximar a obra de um romance água com açúcar – definitivamente não o é. Jessica Chastain interpreta uma socialite de São Francisco que vive em viagem à Cidade do México, onde tem seus negócios e uma casa para curta temporada. Envolve-se com um jovem bailarino mexicano, trinta anos mais novo (Isaac Hernández), que atravessa a fronteira, abandonando os pais para viver ao lado dela. A mulher sai escondida com o rapaz, ocultando o relacionamento de todos ao seu redor. Até que uma crise entre os dois ameaçará não só o relacionamento como a fortuna que ela ergueu. O drama é praticamente os últimos dias desse casal, entre idas e vindas, e a crise instalada que vai destruindo a vida de ambos, principalmente a da mulher, que entra num ciclo de destruição e subserviência com a falta do namorado. Como nos indigestos ‘Depois de Lúcia’ (2012) e ‘Nova ordem’ (2020), o desfecho do novo Franco é de um amargor assustador – sempre recorrendo a cortes secos que já pulam para os créditos finais. Os dois atores, Jessica Chastain e Isaac Hernández, entregam performances soberbas, as cenas de briga e sexo entre eles são ousadas e bem gravadas. Gostei do filme e recomendo. Exibido no Festival de Berlim, onde concorreu ao Urso de Ouro, estreia nos cinemas brasileiros dia 30/10 pela Imagem Filmes.
 

 
Morra, amor
 
Outro filme denso, de uma protagonista feminina em crise, é o aguardado ‘Morra, amor’ (2025), novo longa da cineasta britânica Lynne Ramsay, que apresenta obras complexas, de muitos significados e complexidades nos personagens. Vejo este como o encerramento de uma pequena trilogia, iniciada com ‘Precisamos falar sobre o Kevin’ (2011) e seguida de ‘Você nunca esteve realmente aqui’ (2017). Nos três os protagonistas enfrentam uma cruel batalha interna, ameaçando a própria imagem e identidade. Em ‘Morra, amor’ (um título forte, ambíguo), Jennifer Lawrence explode em cena, num papel que vai aos extremos, tornando-se forte candidata ao Oscar 2026; ela é Grace, uma jovem mãe, que acaba de ter um bebe com o marido, e ambos deixam a cidade grande para morar no campo, numa casa de fazenda de um tio falecido dele, em Montana. Aspirante a escritora, não consegue mais desenvolver seus textos devido a um bloqueio criativo. E também porque enfrenta um inferno astral com a bipolaridade, intensificada por uma depressão pós-parto. Ela cuida sozinha do nenê e de um cachorrinho que ele trouxe para casa; o marido trabalha fora, chegando tarde da noite; a sogra tenta se aproximar dela, só que o temperamento agressivo de Grace a afasta de amigos e da família, vivendo cada vez mais em isolamento e perdendo a sanidade. Há momentos duros de acompanhar, nas cenas da protagonista em crise, quando aos berros destrói banheiros e quebra tudo em casa. Depois da tormenta, a paz... – Lawrence equilibra, sem exageros, os altos e baixos dessa personagem complexa, um trabalho voraz da atriz, difícil de ser feito. Robert Pattinson faz o marido, Sissy Spacek está super bem como a sogra e Nick Nolte faz uma ponta como o sogro doente. É um drama contundente que nos atravessa e, no fim, somos engolidos pela história. Atenção aos detalhes sonoros imprevisíveis, com sons de natureza misturados a música de rock antigo e vidros se estilhaçando nas crises da personagem. Baseado no livro homônimo da escritora argentina Ariana Harwicz, com roteiro de Ramsay em parceria com outras duas roteiristas, conta com um desfecho simbólico que deu origem à nova capa do filme, na floresta incendiada. Rodado em 35mm, com proporção de tela cortada nas laterais, como se fosse em formato de TV. Indicado a Palma de Ouro em Cannes, tem previsão de estreia nos cinemas em 07/11 e a seguir na Mubi.



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