Festival do Rio: bons
filmes para acompanhar – parte 5
A repescagem da 27ª
edição do Festival do Rio continua até o dia 16/10. Neste ano, o festival
exibiu mais de 300 filmes de 85 países, muitos deles em première. Vitrine do
cinema brasileiro e um dos festivais mais importantes do país, o Festival do
Rio, criado em 1999, é apresentado pelo Ministério da Cultura, Shell e
Prefeitura do Rio. Confira abaixo dois bons filmes que conferi no festival e
recomendo, e em breve ambos estreiam nos cinemas brasileiros.
Sonhos
O cineasta autoral mexicano
Michel Franco não faz concessões em seus filmes; é um diretor de mão pesada, que
cria personagens densos e finais amargos. Tem renome no circuito independente e
em festivais de cinema, já premiado em Cannes e Veneza. Franco acaba de lançar
mais uma fita de drama que nos angustia, na linha dos seus dois últimos
trabalhos, ‘Sundown’ (2021) e ‘Memória’ (2023). Nada é o que aparenta neste
filme adulto, já que a sinopse divulgada por aí tenta aproximar a obra de um
romance água com açúcar – definitivamente não o é. Jessica Chastain interpreta
uma socialite de São Francisco que vive em viagem à Cidade do México, onde tem
seus negócios e uma casa para curta temporada. Envolve-se com um jovem
bailarino mexicano, trinta anos mais novo (Isaac Hernández), que atravessa a
fronteira, abandonando os pais para viver ao lado dela. A mulher sai escondida
com o rapaz, ocultando o relacionamento de todos ao seu redor. Até que uma
crise entre os dois ameaçará não só o relacionamento como a fortuna que ela ergueu.
O drama é praticamente os últimos dias desse casal, entre idas e vindas, e a
crise instalada que vai destruindo a vida de ambos, principalmente a da mulher,
que entra num ciclo de destruição e subserviência com a falta do namorado. Como
nos indigestos ‘Depois de Lúcia’ (2012) e ‘Nova ordem’ (2020), o desfecho do
novo Franco é de um amargor assustador – sempre recorrendo a cortes secos que
já pulam para os créditos finais. Os dois atores, Jessica Chastain e Isaac
Hernández, entregam performances soberbas, as cenas de briga e sexo entre eles
são ousadas e bem gravadas. Gostei do filme e recomendo. Exibido no Festival de
Berlim, onde concorreu ao Urso de Ouro, estreia nos cinemas brasileiros dia
30/10 pela Imagem Filmes.
Morra, amor
Outro filme denso, de
uma protagonista feminina em crise, é o aguardado ‘Morra, amor’ (2025), novo longa
da cineasta britânica Lynne Ramsay, que apresenta obras complexas, de muitos
significados e complexidades nos personagens. Vejo este como o encerramento de
uma pequena trilogia, iniciada com ‘Precisamos falar sobre o Kevin’ (2011) e
seguida de ‘Você nunca esteve realmente aqui’ (2017). Nos três os protagonistas
enfrentam uma cruel batalha interna, ameaçando a própria imagem e identidade.
Em ‘Morra, amor’ (um título forte, ambíguo), Jennifer Lawrence explode em cena,
num papel que vai aos extremos, tornando-se forte candidata ao Oscar 2026; ela
é Grace, uma jovem mãe, que acaba de ter um bebe com o marido, e ambos deixam a
cidade grande para morar no campo, numa casa de fazenda de um tio falecido dele,
em Montana. Aspirante a escritora, não consegue mais desenvolver seus textos
devido a um bloqueio criativo. E também porque enfrenta um inferno astral com a
bipolaridade, intensificada por uma depressão pós-parto. Ela cuida sozinha do
nenê e de um cachorrinho que ele trouxe para casa; o marido trabalha fora,
chegando tarde da noite; a sogra tenta se aproximar dela, só que o temperamento
agressivo de Grace a afasta de amigos e da família, vivendo cada vez mais em
isolamento e perdendo a sanidade. Há momentos duros de acompanhar, nas cenas da
protagonista em crise, quando aos berros destrói banheiros e quebra tudo em
casa. Depois da tormenta, a paz... – Lawrence equilibra, sem exageros, os altos
e baixos dessa personagem complexa, um trabalho voraz da atriz, difícil de ser
feito. Robert Pattinson faz o marido, Sissy Spacek está super bem como a sogra
e Nick Nolte faz uma ponta como o sogro doente. É um drama contundente que nos
atravessa e, no fim, somos engolidos pela história. Atenção aos detalhes
sonoros imprevisíveis, com sons de natureza misturados a música de rock antigo
e vidros se estilhaçando nas crises da personagem. Baseado no livro homônimo da
escritora argentina Ariana Harwicz, com roteiro de Ramsay em parceria com
outras duas roteiristas, conta com um desfecho simbólico que deu origem à nova
capa do filme, na floresta incendiada. Rodado em 35mm, com proporção de tela
cortada nas laterais, como se fosse em formato de TV. Indicado a Palma de Ouro
em Cannes, tem previsão de estreia nos cinemas em 07/11 e a seguir na Mubi.
Nenhum comentário:
Postar um comentário