quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Especial de cinema

 
49ª Mostra Internacional de Cinema de SP – Melhores filmes: Parte 2
 
A 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo continua até o dia 30/10 na capital paulista. A programação, aberta no dia 16/10, conta esse ano com 373 títulos de 80 países em 52 salas de cinema, espaços culturais e CEUs de São Paulo. Haverá ainda programação gratuita da Mostra em três streamings parceiros – Itáu Cultural Play, Sesc Digital e SPcine Play.
As vendas dos ingressos avulsos continuam pelo aplicativo do festival, disponível para download, bem como pelo site da Velox Tickets e nas bilheterias das salas parceiras. Mais informações sobre a Mostra de SP 2025 em https://mostra.org/ e no Instagram do Festival. Confira abaixo mais bons títulos da Mostra, conferidos na última semana.



 
Honestino
(Brasil, 2025, de Aurélio Michiles)
 
Conhecido por tratar da questão indígena em seus dois trabalhos anteriores, ‘O cineasta da selva’ e ‘Segredos do Putumayo’, o diretor amazonense Aurélio Michiles se volta agora à Ditadura Militar no Brasil, trazendo para a tela a biografia do líder estudantil Honestino Guimarães, o Gui, um dos tantos desaparecidos políticos no cruel período dos Anos de Chumbo. Fundindo documentário e ficção, o longa reúne imagens inéditas de Gui, aluno da Universidade de Brasília – UnB e presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) no final dos anos 60. Preso diversas ocasiões por criticar e enfrentar os militares, desapareceu em 1973, aos 26 anos. Nunca mais se ouviu falar no estudante. O filme vasculha vestígios da época, de arquivos de fotos da família e de pessoas que conviveram com ele; entrevista a filha e o neto de Gui, colegas de turma da faculdade e da luta contra a Ditadura. O filme vai exibindo pouco a pouco a personalidade forte e sempre carismática de Honestino e sua visão de um mundo mais justo. Cartas, poemas, fotos dele são abundantes no filme, bem como depoimentos de dezenas de pessoas próximas – Aurélio Michiles, o diretor, foi colega de luta dele, da chamada Geração de 68. As encenações de Gui são de Bruno Gagliasso, em poucas aparições, já que o tom do filme é mais documental. Uma obra densa, que reflete a luta de tantos por um país livre da repressão. Assisti numa sessão no Festival do Rio com a presença da equipe e familiares, e agora está em exibição na Mostra de SP, nos dias 22 e 28/10. Estreia nos cinemas em maio de 2026, pela Pandora Filmes.


 
 
Christy
(Irlanda/Reino Unido, 2025, de Brendan Canty)
 
Na linha dos filmes de Mike Leigh, que retrata a classe operária em crise no Reino Unido, ‘Christy’ é um drama social intenso, com interpretações formidáveis de todo o elenco. Christy é o nome de um jovem de 17 anos que acaba de ser expulso do lar adotivo e vai morar com o irmão, num bairro operário irlandês. Os dois têm atritos, Christy tenta se reconectar com outros membros da família enquanto faz novas amizades pelo bairro. O irmão, que é mais velho, quer que Christy saia daquele lugar, incentivando-o a buscar algo mais digno para o futuro. Um filme sério, sobre esperanças perdidas e reconexão humana entre entes separados pelo tempo. Dramático, sem toques cômicos, com um protagonista forte interpretado pelo bom ator Danny Power, de ‘Acabe com eles’ (2024). É a adaptação para o cinema de um curta do mesmo diretor, com mesmo elenco e título, rodado em 2019. Vencedor do grande prêmio da seção Generation 14plus do Festival de Berlim de 2025, tem exibição na Mostra nos dias 22, 26 e 27/10.
 

 
Rosemead
(EUA, 2025, de Eric Lin)
 
Lucy Liu entrega a performance de uma vida inteira neste filme de drama de mistério e suspense inspirado em um caso real ocorrido em 2015 em Rosemead, California. Ela é Irene (nome fictício – a real mulher se chamava Lai Hang), uma senhora de origem chinesa, de quase 50 anos, diagnosticada com um câncer agressivo. Ela cuida com zelo do único filho, um adolescente de 17 anos, que vive recluso no quarto e fala pouco. Ela suspeita que o filho está tramando um atentado em uma escola, já que gosta de jogos de violência e encontrou pistas de compra de armas em seu computador. Irene não revela para o jovem sobre a doença e passa a investigar os passos do menino. Uma história com final chocante e que abre inúmeras discussões – é um desfecho pesado, do jeito que ocorreu no caso real. Liu é a alma desse longa-metragem sofrido, que retrata a relação obsessiva e de proteção extrema de uma mãe com seu filho – pelo papel, Liu deve receber indicações a prêmios importantes no próximo ano. Vencedor do prêmio do público no Festival de Locarno, também foi exibido no Festival de Tribeca. Exibição na Mostra ainda nos dias 22 e 26/10. PS - O IMDB traz já o título em português, ‘A mãe obsessiva’.
 

 
Sirât
(Espanha/França, 2025, de Oliver Laxe)
 
Filme de abertura da Mostra desse ano, o novo longa do diretor espanhol Oliver Laxe (que é ator e roteirista e já participou da Mostra com todos seus longas) é um enorme exercício de cinema, uma fita complexa, difícil de se fazer e de acompanhar pela trama violenta e sem concessões. Um pai (papel do ator Sergi López, muito bem aqui) busca pela filha, que desapareceu em uma rave nas montanhas do sul do Marrocos. Ele está acompanhado do filho menor, seu ponto de apoio. O lugar é um vazio danado, só tem a terra quente do deserto, num calor insuportável. Sem pista alguma da menina, resolve avançar pela aridez crua do deserto com ajuda de um grupo de frequentadores de rave, que estão ali para uma festa de música eletrônica. Um incidente com o carro no caminho os levará próximo daquilo que é o inferno. É um filme para se ver no cinema, na maior tela possível, com o som no último, já que é uma obra sinestésica, com sons e barulhos atípicos – alguns surpreendentes e assustadores, que dão a nota do enredo. Pesado, com momentos de pura tensão, que me lembraram ‘O salário do medo’ e ‘Comboio do medo’, conta com reviravoltas atordoantes, de dar nó na garganta. Vencedor do prêmio do júri no Festival de Cannes, a produção é de Pedro Almodóvar. É o indicado da Espanha para uma vaga no Oscar 2026, com fortes chances de melhor filme estrangeiro. Na Mostra, todas as sessões de ‘Sirât’ serão acompanhadas do curta ‘Como fotografar um fantasma’, de Charlie Kaufman – exibições ainda nos dias 22 e 24. A Retrato Filmes divulgou hoje o novo cartaz do filme e o lançará nas salas em 15/01/2026.



 
Águias da República
(Suécia/França/Dinamarca/Finlândia/Alemanha, 2025, de Tarik Saleh)
 
Está na lista dos melhores filmes da Mostra desse ano o novo trabalho do diretor sueco de origem egípcia Tarik Saleh. É o fechamento da trilogia ‘Cairo’, estrelada por Fares Fares – antes foram ‘O incidente no Nile Hilton’ (2017 – exibido na Mostra) e ‘Garoto dos céus’ (2022). É um thriller político surpreendente, que exige atenção e conhecimento da História recente do Egito. Saleh é ousado ao retratar figuras notoriamente autoritárias com o nome e os traços como são, como o presidente Al-Sisi. Fares Fares interpreta um ator egípcio, George Fahmy, idolatrado pelo público e apelidado de ‘O faraó das telas’. É convidado para interpretar o atual presidente do Egito, Al-Sisi, numa superprodução que biografa o tal político. Ele recusa, por não compactuar com as ideias do cara, um verdadeiro candidato a déspota. Porém, George é colocado na parede e vê a família sofrer ameaças; contra sua vontade, resolve atuar no filme, sem direito a voz própria e sendo constantemente moldado pelos produtores. Um filme que trata da censura numa ditadura e de como o indivíduo é tragado para dentro do sistema, sem perceber, desnaturalizando-se. Fares Fares é soberbo em cena, e seu personagem aos poucos se vê preso participando de trocas de favores entre políticos violentos, aliando-se aos militares e ao próprio presidente, por quem não tinha simpatia. Filmão de Saleh e Fares, na melhor parceria da trilogia. Indicado à Palma de Ouro em Cannes, foi exibido nos festivais de Cannes e Toronto. Sessões na Mostra nos dias 22, 24 e 26/10. Distribuição da Imovision, que o lançará em breve nos cinemas.
 

 
The choral
(EUA/Reino Unido, 2025, de Nicholas Hytner)
 
Ausente da direção há 10 anos, o cineasta premiado com o Bafta Nicholas Hytner, de ‘As loucuras do rei George’ (1994) e ‘As bruxas de Salem’ (1996), retorna com uma singela e cativante história de amor a música em ‘The choral’, já com tradução no Brasil, ‘Sinfonia de guerra’. No condado inglês de Yorkshire, durante a Primeira Guerra Mundial, os diretores do Coral de Ramsden buscam músicos para compor o grupo, já que parte dos cantores deixaram o cargo para servir no front. Alguns jovens soldados são recrutados, e agora é preciso de um novo regente. A opção que surge é a de um médico que serviu na Alemanha e, segundo consta, guarda inúmeros segredos, Dr. Henry Guthrie (papel do ótimo Ralph Fiennes, numa composição lúcida). O filme todo acompanha a luta incansável desse regente para fazer o melhor coral com os melhores músicos, preparando um espetáculo que mistura música e encenação para a população se distrair dos horrores diários da guerra. Em tom leve, sem mostrar bombardeios ou gente trucidada na guerra, é uma história de obstinação em meio ao caos. Figurinos bonitos, direção de arte de época condizente e um bom trabalho dos atores marcam o longa. Escrito pelo roteirista indicado ao Oscar por ‘As loucuras do Rei George’, Alan Bennett. Exibido no Festival de Toronto, o filme conta com sessões na Mostra nos dias 22, 24 e 27/10.



  
Nova '78
(EUA/Portugal/Reino Unido, 2025, de Aaron Brookner e Rodrigo Areias)
 
Documentário interessantíssimo que recupera materiais perdidos da Nova Convention, lendário evento de três dias ocorrido em Nova York em 1978 que prestou homenagem ao escritor William S. Burroughs (1914-1997) - ícone da primeira Geração Beat que deu origem ao movimento da contracultura. A convenção marcaria o retorno dele aos Estados Unidos após 20 anos morando em diversos continentes. A partir de gravações caseiras restauradas, acompanhamos por dentro os bastidores desse evento chamado por alguns de ‘Nova '78’, que contou com a presença de ilustres convidados, como os músicos Patti Smith, Frank Zappa e Philip Glass e artistas visuais como John Cage. Boa parte do que vemos estava engavetado e considerado perdido, muito vem do material em 16mm gravado pelo falecido cineasta Howard Brookner - graças a um trabalho criterioso de pesquisa liderado pelo sobrinho dele, Aaron Brookner, com ajuda do diretor português Rodrigo Areias, o filme virou essa curiosa reconstrução. Um documentário conceitual, que serve de estudo sobre o pensamento que rondava a Nova York dos anos 70. Exibido no Festival de Locarno, conta com exibição na Mostra nos dias 24 e 25. Também está disponível na plataforma Spcine Play para se assistir gratuitamente.
 

 
Com causa
(Brasil, 2025, de Belisario Franca e Pedro Nóbrega)
 
Documentário do cineasta carioca Belisario Franca em mais uma parceria com o diretor Pedro Nóbrega, desta vez sobre ativismo ambiental, e não mais tratando de figuras ou cenas políticas como costumam fazer. Aqui eles fazem uma colcha de retalhos com depoimentos de ativistas do mundo todo em torno de seus projetos, visando a construção de um mundo menos violento, que cuide do meio ambiente para as futuras gerações. Com imagens belas e nítidas das águas, das florestas e do solo, seguindo da Amazônia à África e passando pela Europa e Ásia, o filme é um apelo para o despertar da conscientização humana, com depoimentos de figuras notórias do ativismo mundial, como Ailton Krenak, Paul Watson, Carmen Silva e Muzoon Almellehan. Um filme para ver, sentir e refletir. Exibição ainda no dia 27/10.

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