sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Especial de cinema

  
49ª Mostra Internacional de Cinema de SP – Melhores filmes: Parte 3
 
A 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo continua até o dia 30/10 na capital paulista. A programação, aberta no dia 16/10, conta esse ano com 373 títulos de 80 países em 52 salas de cinema, espaços culturais e CEUs de São Paulo. Haverá ainda programação gratuita da Mostra em três streamings parceiros – Itáu Cultural Play, Sesc Digital e SPcine Play.
As vendas dos ingressos avulsos continuam pelo aplicativo do festival, disponível para download, bem como pelo site da Velox Tickets e nas bilheterias das salas parceiras. Mais informações sobre a Mostra de SP 2025 em https://mostra.org/ e no Instagram do Festival. Confira abaixo mais cinco bons títulos da Mostra, conferidos na última semana.


 
Woman and child
(Irã/França, 2025, de Saeed Roustayi)
 
Dois filmes iranianos estão em destaque na Mostra de SP desse ano: ‘Foi apenas um acidente’, ganhador da Palma de Ouro em Cannes, de Jafar Panahi (que virá para a Mostra nos próximos dias receber o prêmio Humanidade) e ‘Woman and child’, também exibido em Cannes, concorrendo à Palma. Aprecio os cult movies iranianos, e este é um daqueles dramas de sufocar a alma. É a história de uma enfermeira viúva (Parinaz Izadyar – muito bem como protagonista) que trabalha em um hospital e mora com o filho rebelde. O garoto causa problemas na escola e acaba sendo suspenso. Prestes a noivar com o novo namorado, relacionamento não aceito pela família, ela sofre um baque quando um incidente mata seu filho. Dividido em dois momentos – antes da estranha morte do garoto, mostrando os dias turbulentos daquela mulher cuja rotina é o hospital e cuidar do rapaz, e depois do fato trágico, quando a mulher embarca numa jornada de investigação com as próprias mãos para desvendar o ocorrido. As duas partes, juntas, formam uma obra densa, dolorosa, de uma mãe disposta a enfrentar o mundo por justiça ao filho morto. Filmes iranianos de drama com suspense, como os de Asghar Farhad, nos prendem com suas sólidas tramas, e este, apesar de não ser dele, lembra muito e é uma ótima recomendação. Exibição na Mostra ainda nos dias 24, 26 e 29/10.



 
A morte não existe
(Canadá/França, 2025, de Félix Dufour-Laperrière)
 
Chega à Mostra com exclusividade uma excelente – e culta - animação adulta, coprodução Canadá e França exibida na Quinzena dos Cineastas do Festival de Cannes e no Annecy – um dos principais festivais da modalidade, onde recebeu menção especial pela trilha sonora. Um filme de ativismo político, de desenho feito à mão, misturando traços fortes e cores de diferentes matizes; na trama, um grupo de guerrilheiros se frustra com um ataque armado a uma propriedade, que não dá certo. Uma das líderes abandona os colegas, refugiando-se numa mata, e é caçada por sua principal companheira. O filme é uma inventiva criação pessoal do diretor Félix Dufour-Laperrière, recorrendo a sonhos que se mesclam à realidade dos personagens – é um mundo estranho, ambíguo, com pessoas se metamorfoseando em flores e animais enquanto passam o tempo todo numa implacável busca a uma mulher foragida. Alegórico, com tom psicodélico e surrealista, é uma animação inteligente e complexa, para público específico. Exibição na Mostra nos dias 24, 26 e 30/10.
 

 
Mirrors no. 3
(Alemanha, 2025, de Christian Petzold)
 
Longe de ser um grande Petzold, o novo trabalho do premiado diretor alemão de ‘Em trânsito’ e ‘Afire’ se estrutura num drama familiar cheio de segredos. Novamente o diretor volta a falar de identidade feminina em reconstrução.   A estudante Laura (Paula Beer, atriz dos filmes dele) sobrevive a um acidente de trânsito no campo. Atordoada, com ferimentos e a memória falhando, é acolhida por Betty (Barbara Auer), uma idosa que mora reclusa numa casa próxima ao local do ocorrido. Betty trata com zelo Laura, e aos poucos o marido e o filho suspeitam que aquilo tudo é uma forma de ela ressignificar uma tragédia que os marcou anos atrás. O drama tem variações de suspense/mistério, que descortina o passado de Laura e daquela nova família dela. Petzold presta uma homenagem a Bergman em um filme feminino e pessoal. Exibido na Quinzena dos Cineastas do Festival de Cannes, tem sessões na Mostra nos dias 25 e 30/10, com distribuição da Imovision - que o lançará em breve nos cinemas.
 

 
 
Kontinental '25
(Romênia/Suíça/Luxemburgo/Brasil/Reino Unido, 2025, de Radu Jude)
 
Cineasta romeno apreciado entre os cinéfilos da Mostra, Radu Jude tem dois novos filmes na edição deste ano: ‘Dracula’ e ‘Kontinental ‘25’, ambos com produção da RT Features, do brasileiro Rodrigo Teixeira. Com seu humor cáustico inigualável, Jude, que já ganhou o Urso de Ouro, por ‘Má sorte no sexo ou Pornô acidental’ (2021), traz em ‘Kontinental ‘25’ um drama cômico que satiriza papeis sociais com fortes críticas a seu país. Em uma cidade popular da Romênia, Cluj, na região da Transilvânia, uma oficial de justiça (Eszter Tompa) recebe a missão de expulsar um sem-teto que mora indevidamente no porão de um prédio antigo. Cansada da profissão, de despejar pessoas empobrecidas dos lugares onde moram, ela entra numa terrível crise moral. Fotografando as paisagens de seu país como num passeio silencioso, como faz nos outros filmes também, Radu Jude recorre a um humor estranho, as vezes mórbido, para discutir o embate da oficial com o sem teto. Um trabalho interessante da atriz principal e uma boa fotografia. Eu gosto do diretor, que é versátil e faz comédias como ninguém aproveitando-se de diferentes temas – até em documentários, como apresentou na Mostra do ano passado, ‘Oito cartões-postais da utopia’ (2024). Ganhador do prêmio de melhor roteiro no Festival de Berlim. Exibição na Mostra ainda nos dias 25, 27 e 29/10.
 

 
Jovens mães
(Bélgica/França, 2025, de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne)
 
Prepare-se para um filme de doer na alma, que bate fundo e nos abre reflexões sobre adolescência perdida. Assinado pelos irmãos Dardenne, belgas, que fazem filmes nesse tom dramático, sempre com atores amadores, parecendo documentário tamanha a naturalidade ali tratada. Vencedor do prêmio de roteiro e do Júri Ecumênico em Cannes desse ano, o filme traz cinco jovens mães, que tiveram filhos prematuramente, que moram num abrigo que serve de casa de assistência onde recebem apoio psicológico e ajuda no cuidado de banho e alimentação dos recém-nascidos. Cada uma delas lida com a fase materna e com a desestruturação familiar – quase todas são mãe solo, uma foi expulsa de casa pela mãe alcoólatra, outra nunca conheceu a própria mãe, que a entregou para a adoção. Meninas despedaçadas, sem perspectivas, e com a responsabilidade precoce d cuidar de um filho. Realidade escancarada pelos Dardenne, numa fita nua e crua. Um drama duro, com momentos incômodos. Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne escrevem, produzem e dirigem, e sabem como ninguém desvendar as relações familiares. A dupla apresenta com frequência filmes na Mostra, em sessões lotadas – lembro que vi aqui ‘A garota desconhecida’ (2016) e ‘O jovem Ahmed’ (2019), e este ano recebem o Prêmio Humanidade. Exibição nos dias 26, 28, 29 e 30/10.



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