Festival do Rio: bons
filmes para acompanhar – parte 3
A 27ª edição do Festival
do Rio continua até domingo, dia 12 de outubro, na capital carioca, trazendo
mais de 300 filmes para o público. Dentre os títulos, longas premiados nos
principais festivais do mundo, como Cannes, Sundance, Veneza e Berlim, e alguns
pré-selecionados ao Oscar de 2026. Ontem foi anunciado que entre os dias 13 e
18/10 haverá a repescagem do festival – programação já disponível no site
oficial do evento e nas redes sociais.
Vitrine do cinema
brasileiro e um dos festivais mais importantes do país, o Festival do Rio,
criado em 1999, é apresentado pelo Ministério da Cultura, Shell e Prefeitura do
Rio. Tem patrocínio master da Shell através da Lei Federal de Incentivo à
Cultura, e apoio especial da Prefeitura do Rio – por meio da RioFilme, órgão
que integra a Secretaria Municipal de Cultura. Realização: Cinema do Rio e
Ministério da Cultura/Governo Federal. Confira abaixo mais títulos que conferi
no festival e recomendo.
Uma mulher diferente
A diretora e roteirista francesa
Lola Doillon retorna ao cinema quase 10 anos depois do lindíssimo ‘A viagem de
Fanny’ (2016) e de uma temporada extensa na TV. Em 'Uma mulher diferente',
escreveu e dirigiu uma curiosa trama romântica que trata do autismo por outro prisma,
sem ser piegas ou com personagens sofredores. Recorrendo ao fino humor, o filme
mostra uma pesquisadora atuante no mercado de documentários que tem um
relacionamento morno com seu companheiro. Quando aceita um novo trabalho de
pesquisa, recebe o diagnóstico de autismo, o que para ela é ao mesmo tempo libertador
e assustador. Ela então lidará com tudo ao mesmo tempo: saúde mental, equilíbrio
profissional, o romance com seu namorado e as cobranças do novo job. É uma
comédia romântica sobre tomada de decisões a partir das reviravoltas
inesperadas da vida, conduzida com sensibilidade pela atriz principal, num
forte papel feminino feito com maestria pela atriz Jehnny Beth, de ‘Anatomia de
uma queda’ (2023). É bem dosado o momento de humor com as sequências que exigem
mais seriedade, principalmente quando envolve o transtorno da protagonista. Ainda
em exibição no Festival do Rio nos dias 11 e 12/10. A partir do dia 16/10, o
longa chega aos cinemas pela Autoral Filmes.
Reconstrução
O ator britânico Josh O’Connor
está no auge da carreira, atuando tanto em filmes independentes de cineastas cultuados
quanto em grandes produções. Entre 2023 e 2025 pode ser visto em ‘La chimera’, ‘Lee’,
‘Rivais’, no também exibido no Festival do Rio ‘The mastermind’, e logo em ‘A
história do som’ e ‘Vivo ou morto: Um mistério Knives Out’. Ele protagoniza este
pouco conhecido ‘Rebuilding’, aqui traduzido por ‘Reconstrução’ (título temporário),
interpretando, novamente com sensatez e carisma, um pai divorciado que mora em
um acampamento para quem perdeu suas terras nos recentes incêndios florestais
que devastaram parte dos Estados Unidos. Em uma comunidade de trailers, convive
com outros moradores que estão na mesma situação, à espera da recuperação de seus
ranchos. Pouco a pouco, de maneira silenciosa, ele reconstrói o que perdeu,
enquanto se reconecta com a ex-mulher e a filha pequena. Rodado no Colorado,
nas paisagens de planaltos e desertos – aliás, uma bonita fotografia, o filme
aborda um tema muito explorado no cinema, a reconstrução diante da perda, mas
aqui com um contexto de uma preocupação social, o dos incêndios florestais que
vem maculando regiões inteiras do interior americano. Josh marca bem sua
performance, e temos participação da atriz Amy Madigan. Exibido nos festivais
de Sundance e São Francisco. Sem sessões no Festival do Rio.
O primata
Um terrorzão assustador
invade as telas do Festival do Rio. Vi ontem numa sessão bem tarde da noite,
com 20 pessoas na sala, este ‘O primata’, que teve poucas exibições no festival
e já tem data para estrear no Brasil: em 08 de janeiro de 2026, pela Paramount Pictures.
Nos anos 80 o cinema americano já tinha utilizado o macaco como criatura
assassina, em ‘Link’ e ‘Shakma’; agora é um chimpanzé de estimação aparentemente
bonzinho que comanda uma intensa história de horror, angústia e aprisionamento.
Ele é Ben, criado desde pequeno em uma família de pesquisadores, numa bela casa
no Havaí; no local moram o pai, surdo, e suas duas filhas. Certo dia, uma das
meninas, de férias da faculdade, convida um grupo de amigas para passar o fim
de semana na piscina; ninguém desconfia, mas o primata foi mordido por um roedor
e contrai raiva. Naquela noite Ben se torna uma máquina de matar. Quando o
macaco demonstra sua fúria, todos se isolam na piscina, único lugar que Ben não
entra – por causa da hidrofobia, um dos sintomas da raiva. É um filme de sobrevivência
em um lugar pequeno e apertado (a piscina) – boa parte do filme os personagens
ficam submersos na água se protegendo do bicho furioso. Fotografia escura que
incomoda, mortes cruéis e um macaco com expressões assustadoras trazem todo o clima
de tensão que a fita exige – da metade para o fim é um filme de escapada, e os
personagens vão morrendo um a um. Ganhador do Oscar de ator coadjuvante por ‘No
ritmo do coração’ (2021), Troy Kotsur, que é surdo, faz o pai das meninas e
criador do macaco, único que consegue corrigir o chimpanzé. Direção de Johannes
Roberts, conhecido por seu trabalho em ‘Medo profundo’ (2017).
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