domingo, 26 de outubro de 2025

Especial de cinema

 
49ª Mostra Internacional de Cinema de SP – Melhores filmes: Parte 5
 
A 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo segue até o dia 30/10 em 52 salas de cinema e espaços culturais da capital paulista. A programação conta esse ano com 373 títulos de 80 países. Há também programação gratuita da Mostra em três streamings – Itaú Cultural Play, Sesc Digital e SPcine Play. As vendas dos ingressos avulsos continuam pelo aplicativo do festival, disponível para download, bem como pelo site da Velox Tickets e nas bilheterias das salas parceiras. Mais informações sobre a Mostra de SP 2025 em https://mostra.org/ e no Instagram do Festival. Leia abaixo mais três bons títulos da Mostra, conferidos na última semana.

 
 
O desaparecimento de Josef Mengele
(França/Alemanha/México/EUA/Reino Unido, 2025, de Kirill Serebrennikov)
 
Versátil como diretor e roteirista, responsável por longas absurdamente criativos na linguagem – e bota longa nisso, pois seus filmes são de duas horas para mais, o russo Kirill Serebrennikov lança na Mostra de 2025 seu novo trabalho, que poderá ser discutível para alguns. Em mais uma biografia, depois de ‘Verão’ (que ele fez sobre uma banda soviética dos anos 80) e ‘Limonov – O camaleão russo’ (sobre o poeta e político russo, banido do próprio país), agora traz para a tela a figura de uma personalidade detestável da História: o médico nazista Josef Mengele, responsável por milhares de mortes e experimentos humanos nos campos de Auschwitz. Já houve biografia dele no passado, como ‘Os meninos do Brazil’ (1978, com Gregory Peck no papel), no entanto aqui o retrato é mais extenso, com detalhes que só líamos por aí, incluindo sua fuga para a América do Sul, onde morou na Argentina e morreu no Brasil. Rodado em preto-e-branco – uma fotografia impressionante – o filme acompanha Mengele (papel de August Diehl, que entrega tudo na melhor performance dele) a partir do término da Segunda Guerra, quando foge da Alemanha e cai na clandestinidade. Apelidado de ‘Anjo da morte’, escapou do Julgamento de Nuremberg, quando houve a sentença ao alto escalão da Alemanha Nazista, e da caçada dos criminosos de guerra pela Mossad, o serviço de Inteligência de Israel. Mengele troca de nome, instala-se numa fazenda e trabalha arando o campo, na província de Buenos Aires. Seu rosto estampa os principais noticiários, por anos. O tempo passa, ele está velho e recebe a visita do filho, que o confronta com seu passado abominável. Enquanto conversam, lances do Holocausto aparecem, com Mengele liderando suas cruéis pesquisas com judeus. O filme reimagina a velhice dele, solitária e em estado de decrepitude. Não tinha como ser diferente – é indigesto (há cenas fortes com Mengele matando judeus com deformações físicas para estudar o corpo das vítimas), tem momentos que sentimos uma mistura de ânsia e ódio, tamanha a hipocrisia e desfaçatez do personagem, que se coloca como uma vítima da sociedade, pois virou um perseguido político... Diehl, brilhante, ajuda a tornar o filme bom e bem realizado – voltando ao começo, disse que que poderia ser discutível, pois alguns podem apontar que o filme humaniza Mengele, mostrando-o velho, sem ninguém por perto; eu não vejo assim, pois na velhice ele delira ideias malucas, continua grosseiro e ameaçador, e suas lembranças comprovam os crimes cometidos no Holocausto, ou seja, é o passado que cobra e o atormenta. Um dos bons títulos da Mostra. Exibido no Festival de Cannes. Acabaram as sessões na Mostra, devendo estrear nos cinemas pela Imovision em breve.
 

 
Maya, me dê um título
(França, 2024, de Michel Gondry)
 
Em exibição na Mostrinha, seção da Mostra dedicada a filmes infantis, que este ano está na segunda edição, o novo trabalho do diretor de ‘Brilho eterno de uma mente sem lembranças’, Michel Gondy, é uma simpática animação feita com diversas técnicas, que o diretor planejou como passatempo junto de sua filha. E que foi inteiramente dedicado a ela, Maya Gondry, filha mais nova do cineasta. Como Maya e Michel moram separadamente em dois países distintos, o diretor diariamente pede a ela um ‘título’, um tema para que ele crie algo; assim nasceu o filme, um compilado de pequenas aventuras em que Maya é a heroína – tem gatos falantes, viagem de barco, Maya em miniatura descendo pelo ralo da pia da cozinha etc. Alegre, é uma brincadeira de pai e filha que vira uma viagem ao mundo da imaginação, ao ‘ser criança’. Diverte crianças e adultos com as tiradas cômicas, os diálogos engraçados, a maneira gentil como pai e filha se tratam. Tem stop-motion com desenho a mão, colagens de materiais na tela e participação de Maya e do avô em carne e osso – quem narra o filme é o ator Pierre Niney, de ‘O conde de Monte Cristo’ (2024). Foi exibido no Festival de Berlim, onde concorreu ao Crystal Bear – além de ter sido exibido nos festivais de Hong Kong e Melbourne. Na Mostra de SP o filme está dublado nas sessões infantis da Mostrinha e legendado nas sessões comuns, ainda nos dias 26 e 29/10.
 


 
Blue moon
(EUA/Irlanda, 2025, de Richard Linklater)
 
Comédia dramática refinada, com inúmeras referências aos musicais clássicos dos anos 40, que marca a nona parceria do diretor Richard Linklater com o ator Ethan Hawke. São 100 minutos de filme em tempo real da história – tudo se passa em uma noite num bar novaiorquino, onde frequentam figurões do mundo artístico. Hawke entrega um novo tipo de personagem da vasta carreira, super bem como o letrista norte-americano Lorenz Hart (1895-1943), criador de músicas notórias que fizeram sucesso, como ‘Blue Moon’ e ‘The lady is a tramp’, algumas delas trilha sonora de filmes. A história se passa em 1943, sete meses antes de sua morte repentina – ele foi encontrado desmaiado na porta de um bar, alcoolizado, falecendo dias depois no hospital. Hart está no balcão do bar Sardi’s jogando conversa fora com o bartender (Bobby Canavale – super divertido no filme). Ele enfrenta uma crise criativa que o levou a beber demais. É um piadista, rápido nos trocadilhos, um homem inteligente, mas extremamente crítico, que o afasta das pessoas. No salão chega o lendário compositor Richard Rodgers (Andrew Scott, em rápida aparição, que pelo papel ganhou o prêmio de ator coadjuvante no Festival de Berlim), com quem trabalhou em inúmeras parcerias. Ele está lá para comemorar a receptiva estreia do musical ‘Oklahoma!’, que marcaria sua primeira colaboração com Oscar Hammerstein II. Naquela noite, Hart se envolverá em uma série de situações inusitadas e discussões aprofundadas sobre seu trabalho e a crise pessoal que enfrenta. Construído sob diálogos – pode ser interpretado como um filme verborrágico, excessivamente dialogado, conta com referências a nomes, peças e filmes antigos, por isso deverá ser apreciado pelos entendidos do assunto. A maquiagem recria bem cabelo e marcas expressivas dos reais personagens, além da direção de arte e figurino impecáveis – por mais que o filme tenha poucos cenários, a reconstrução do centenário Bar Sardi’s, em Nova York dos anos 40, é um primor. Hawke não exagera, está muito bem e deve receber indicação a prêmios – não conhecia a verve para o humor dele, que impressiona. Outros coadjuvantes marcam presença, como Patrick Kennedy, Margaret Qualley e David Rawle (passará despercebido, mas ele interpreta o cineasta ainda jovem George Roy Hill, que duas décadas e meia depois faria os sucessos do cinema ‘Butch Cassidy’ e ‘Golpe de mestre’). Uma curiosidade – Hart tinha estatura baixa, cerca de 1.52m, e como Hawke tem quase 30 cm a mais de altura, utilizaram um recurso de câmera para captá-lo com mais realidade; Hawke está quase sempre sentado, e quando caminha em uma ou outra cena, a câmera vai atrás, focando ombro e cabeça, nunca o corpo todo. Gostei do filme, que deve ser finalista ao Oscar do ano que vem. Sessões na Mostra nos dias 26 e 29/10.



 

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