segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Especial de cinema

 
49ª Mostra Internacional de Cinema de SP – Melhores filmes
 
A 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo continua até o dia 30 na capital paulista. A programação, aberta no dia 16/10, conta esse ano com 373 títulos de 80 países em 52 salas de cinema, espaços culturais e CEUs de São Paulo. Haverá ainda programação gratuita da Mostra em três streamings parceiros – Itáu Cultural Play, Sesc Digital e SPcine Play.
As vendas dos ingressos avulsos continuam pelo aplicativo do festival, disponível para download, bem como pelo site da Velox Tickets e nas bilheterias das salas parceiras. Mais informações sobre a Mostra de SP 2025 em https://mostra.org/ e no Instagram do Festival.



 
 
Não sei viver sem palavras
(Brasil, 2025, de André Brandão)
 
Documentário sobre um dos nomes de maior destaque da literatura brasileira do século XX, o escritor Ignácio de Loyola Brandão. Nascido no interior de São Paulo, em Araraquara, Ignácio, prestes a completar 90 anos, relembra fatos notáveis de sua longa trajetória no mundo da escrita - de jornalista perseguido na Ditadura Militar a cinéfilo de carteirinha (seu sonho sempre foi ser diretor de filmes), marcou gerações de leitores com seus romances e contos que retratavam as complexidades do Brasil e da terra que adotou, São Paulo. Sentado no escritório de trabalho, ele revira a gaveta de fotos e arquivos pessoais para o filho, André Brandão, que é o diretor do filme – são memórias de família, da saudade da cidade natal, do medo da repressão na Ditadura, de quando, por um triz, não morreu quando descobriu um aneurisma cerebral e das inspirações que o levaram a lançar livros reveladores na década de 70, como ‘Zero’ e ‘Cadeiras proibidas’. E também vemos um Ignácio fazer um mea-culpa sobre a ausência como pai na criação dos filhos, já que se entregou inteiramente no ofício de escrever. Um dos ótimos docs da Mostra desse ano, longa bem narrado, de puro lirismo, em que o público é levado a decifrar os labirintos da mente de um genial escritor. Exibição ainda nos dias 20 e 28/10.
 
 
Urchin
(Reino Unido/EUA, 2025, de Harris Dickinson)
 
Ator britânico de filmes ousados como ‘Triângulo da tristeza’ (2022) e ‘Babygirl’ (2024), Harris Dickinson se lança, neste sólido drama, na direção, uma boa estreia para quem só vinha do cenário da atuação. ‘Urchin’ traz a dura caminhada de um jovem morador de rua na cidade de Londres (Frank Dillane, que pelo bom papel venceu o prêmio de ator na seção ‘Um certo olhar’ do Festival de Cannes). De boa aparência e carisma, mas irritadiço, ele perambula por aí em busca de comida e moradia. Consegue um emprego, mas é demitido por mau comportamento. Junta-se a um grupo de pessoas livres, abandonadas pela família, e entra num ciclo de autodestruição com drogas. É daqueles filmes de rua, com apresentação de um personagem que vai do céu ao inferno em pouco tempo – apesar da dificuldade de viver como sem teto, ele tenta de forma digna retomar as rédeas da vida, até se afundar no vício. Filme independente, gravado em locações pelas ruas de Londres, tem uma vigorosa atuação do ator central, e participação de Dickinson como um colega usuário de drogas. Ganhador também do prêmio da crítica no ‘Um certo olhar’ em Cannes. Exibição na Mostra nos dias 21 e 28/10.
 
 
Ary
(Brasil, 2025, de André Weller)

Achei um barato o documentário que retrata vida e obra do mestre da música brasileira Ary Barroso (1903-1964), compositor de sambas e de músicas carnavalescas de sucesso. Curtinho – tem apenas 71 minutos, é narrado em primeira pessoa por Lima Duarte – ele lê diários e escritos pessoais de Ary. O filme constrói o mosaico que foi a trajetória do artista mineiro – pianista desde os oito anos, compositor a partir dos 15, estudante de Direito, viveu entre o Rio e os Estados Unidos, onde trabalhou como arranjador de filmes em Hollywood. Foi descoberto por Walt Disney e compôs, na década de 40, músicas para antigas animações dos estúdios Disney, como ‘Alô, amigos’ e ‘Você já foi à Bahia?’. Poucos sabem, e no doc mostra, ele chegou a receber indicação ao Oscar de melhor canção original pelo filme ‘Brazil’ (1944). Alegre, descontraído, com um rico material de arquivo dos carnavais no Rio e de trechos musicais dos filmes da Disney com as composições de Ary, o filme mistura ficção, com atores encenando momentos de sua vida – com participação rápida, por exemplo, de Stepan Nercessian e Leo Jaime. Músicas conhecidas do compositor aparecem, como ‘No rancho fundo’, ‘No tabuleiro da baiana’, ‘Risque’, ‘Na baixa do sapateiro’, ‘Os quindins de Iaiá’ e, claro a famosíssima ‘Aquarela do Brasil’, que fez a cabeça dos norte-americanos, virando tema de v´rios filmes hollywoodianos. Direção do documentarista André Weller, de ‘Rubem Braga: Olho as nuvens vagabundas’ (2013). Exibição na Mostra ainda no dia 21.
 
 
Vainilla
(México, 2025, de Mayra Hermosillo)
 
Drama que se passa no México do final da década de 80, mostrando, pelos olhos de uma garotinha, a rotina de uma família composta por oito mulheres. Os dias não são bons, elas enfrentam problemas financeiros, mas nada irá abalar aquelas mulheres, que tentam dar a volta por cima. A atriz mirim Aurora Dávila é a alma desse filme de pura ternura – pelo ponto de vista dela conhecemos as dificuldades das famílias do México do período da recessão econômica, bem como as novas tendências de moda e música que o país começaria a cultivar. Com pitadas de humor, o drama venceu o prêmio dedicado a cineastas mulheres na Jornada dos Autores do Festival de Veneza de 2025. Exibição na Mostra nos dias 22, 24 e 28.
 
 
Massa funkeira
(Brasil, 2025, de Ana Rieper)
 
Documentário musical sobre o universo do funk, gênero musical popular que fala das ruas, com linguagem dinâmica, aborda sexo e modos de viver de maneira livre e, às vezes, arbitrária. O filme capta depoimentos de cantoras e cantores de funk em que contam as inspirações diárias, de sua visão de mundo, e de como as letras e as danças expressam identidade, resistência e desejo. Produzido nas comunidades periféricas do Brasil, o funk ganha ouvintes e adeptos todos os dias. Com cenas de bailes e pancadão, o doc traz o linguajar pesado que sintetiza esse movimento da música que ganhou fama a partir dos anos 90, celebrando a diversidade cultural. Da diretora dos documentários musicais ‘Vou rifar meu coração’ (2012) e ‘Clementina’ (2018), Ana Rieper. Exibição na Mostra nos dias 21 e 23/10.
 
 
Dolores
(Brasil, 2025, de Marcelo Gomes)

O diretor pernambucano Marcelo Gomes, de ‘Cinema, aspirinas e urubus’ (2005), trouxe para a tela um roteiro deixado pelo cineasta Chico Teixeira, falecido há seis anos, que seria o término de uma espécie de trilogia, intitulada de Trilogia dos Afetos, iniciada por ele com ‘A casa de Alice’ (2007) e ‘Ausência’ (2014). Utilizando a obra de Teixeira como base, Gomes realizou um drama tocante, feminino, que trata de sonhos e perspectivas futuras, entrelaçando a rotina de três mulheres em histórias que se cruzam. Dolores acaba de comemorar 65 anos (papel da sempre deslumbrante Carla Ribas) e botou na cabeça que quer comprar um cassino para mudar de condição financeira. Ela frequenta bingos, gastando muito dinheiro nos jogos, e trabalha vendendo roupas íntimas em frente a penitenciárias. A filha, com quem não se dá bem, espera a saída do namorado da cadeia; e a neta, integrante de um clube de tiros, pretende se mudar para os Estados Unidos. Todas elas anseiam por um futuro melhor, planejando mudanças decisivas. Um filme de mulheres fortes, feito por elas e voltado ao público feminino. São grandes interpretações em uma história singela, humana e sem pieguice. Destaque no elenco de Naruna Costa, Ariane Aparecida, Gilda Nomacce, Teca Pereira e participação de Tuna Dwek e Roney Villela. Exibido no Festival de San Sebastián, tem sessão na Mostra ainda no dia 22/10.








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