49ª Mostra Internacional
de Cinema de SP
– Melhores filmes
A 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo continua
até o dia 30 na capital paulista. A programação, aberta no dia 16/10, conta
esse ano com 373 títulos de 80 países em 52 salas de cinema, espaços culturais
e CEUs de São Paulo. Haverá ainda programação gratuita da Mostra em três streamings
parceiros – Itáu Cultural Play, Sesc Digital e SPcine Play.
As vendas dos ingressos avulsos continuam pelo aplicativo
do festival, disponível para download, bem como pelo site da Velox Tickets e
nas bilheterias das salas parceiras. Mais informações sobre a Mostra de SP 2025
em https://mostra.org/ e no Instagram do
Festival.

Não sei viver sem palavras
(Brasil, 2025, de André Brandão)
Documentário sobre um dos nomes de maior destaque da
literatura brasileira do século XX, o escritor Ignácio de Loyola Brandão.
Nascido no interior de São Paulo, em Araraquara, Ignácio, prestes a completar
90 anos, relembra fatos notáveis de sua longa trajetória no mundo da escrita -
de jornalista perseguido na Ditadura Militar a cinéfilo de carteirinha (seu
sonho sempre foi ser diretor de filmes), marcou gerações de leitores com seus romances
e contos que retratavam as complexidades do Brasil e da terra que adotou, São
Paulo. Sentado no escritório de trabalho, ele revira a gaveta de fotos e
arquivos pessoais para o filho, André Brandão, que é o diretor do filme – são memórias
de família, da saudade da cidade natal, do medo da repressão na Ditadura, de
quando, por um triz, não morreu quando descobriu um aneurisma cerebral e das inspirações
que o levaram a lançar livros reveladores na década de 70, como ‘Zero’ e ‘Cadeiras
proibidas’. E também vemos um Ignácio fazer um mea-culpa sobre a ausência como
pai na criação dos filhos, já que se entregou inteiramente no ofício de escrever.
Um dos ótimos docs da Mostra desse ano, longa bem narrado, de puro lirismo, em
que o público é levado a decifrar os labirintos da mente de um genial escritor.
Exibição ainda nos dias 20 e 28/10.
Urchin
(Reino Unido/EUA, 2025, de Harris Dickinson)
Ator britânico de filmes ousados como ‘Triângulo da
tristeza’ (2022) e ‘Babygirl’ (2024), Harris Dickinson se lança, neste sólido
drama, na direção, uma boa estreia para quem só vinha do cenário da atuação. ‘Urchin’
traz a dura caminhada de um jovem morador de rua na cidade de Londres (Frank
Dillane, que pelo bom papel venceu o prêmio de ator na seção ‘Um certo olhar’
do Festival de Cannes). De boa aparência e carisma, mas irritadiço, ele
perambula por aí em busca de comida e moradia. Consegue um emprego, mas é
demitido por mau comportamento. Junta-se a um grupo de pessoas livres, abandonadas
pela família, e entra num ciclo de autodestruição com drogas. É daqueles filmes
de rua, com apresentação de um personagem que vai do céu ao inferno em pouco
tempo – apesar da dificuldade de viver como sem teto, ele tenta de forma digna retomar
as rédeas da vida, até se afundar no vício. Filme independente, gravado em
locações pelas ruas de Londres, tem uma vigorosa atuação do ator central, e
participação de Dickinson como um colega usuário de drogas. Ganhador também do prêmio
da crítica no ‘Um certo olhar’ em Cannes. Exibição na Mostra nos dias 21 e 28/10.
Ary
(Brasil, 2025, de André Weller)
Achei um barato o documentário que retrata vida e obra do
mestre da música brasileira Ary Barroso (1903-1964), compositor de sambas e de
músicas carnavalescas de sucesso. Curtinho – tem apenas 71 minutos, é narrado
em primeira pessoa por Lima Duarte – ele lê diários e escritos pessoais de Ary.
O filme constrói o mosaico que foi a trajetória do artista mineiro – pianista
desde os oito anos, compositor a partir dos 15, estudante de Direito, viveu
entre o Rio e os Estados Unidos, onde trabalhou como arranjador de filmes em
Hollywood. Foi descoberto por Walt Disney e compôs, na década de 40, músicas
para antigas animações dos estúdios Disney, como ‘Alô, amigos’ e ‘Você já foi à
Bahia?’. Poucos sabem, e no doc mostra, ele chegou a receber indicação ao Oscar
de melhor canção original pelo filme ‘Brazil’ (1944). Alegre, descontraído, com
um rico material de arquivo dos carnavais no Rio e de trechos musicais dos
filmes da Disney com as composições de Ary, o filme mistura ficção, com atores encenando
momentos de sua vida – com participação rápida, por exemplo, de Stepan
Nercessian e Leo Jaime. Músicas conhecidas do compositor aparecem, como ‘No
rancho fundo’, ‘No tabuleiro da baiana’, ‘Risque’, ‘Na baixa do sapateiro’, ‘Os
quindins de Iaiá’ e, claro a famosíssima ‘Aquarela do Brasil’, que fez a cabeça
dos norte-americanos, virando tema de v´rios filmes hollywoodianos. Direção do
documentarista André Weller, de ‘Rubem Braga: Olho as nuvens vagabundas’ (2013).
Exibição na Mostra ainda no dia 21.
Vainilla
(México, 2025, de Mayra Hermosillo)
Drama que se passa no México do final da década de 80, mostrando,
pelos olhos de uma garotinha, a rotina de uma família composta por oito
mulheres. Os dias não são bons, elas enfrentam problemas financeiros, mas nada
irá abalar aquelas mulheres, que tentam dar a volta por cima. A atriz mirim
Aurora Dávila é a alma desse filme de pura ternura – pelo ponto de vista dela
conhecemos as dificuldades das famílias do México do período da recessão econômica,
bem como as novas tendências de moda e música que o país começaria a cultivar. Com
pitadas de humor, o drama venceu o prêmio dedicado a cineastas mulheres na
Jornada dos Autores do Festival de Veneza de 2025. Exibição na Mostra nos dias
22, 24 e 28.
Massa funkeira
(Brasil, 2025, de Ana Rieper)
Documentário musical sobre o universo do funk, gênero musical
popular que fala das ruas, com linguagem dinâmica, aborda sexo e modos de viver
de maneira livre e, às vezes, arbitrária. O filme capta depoimentos de cantoras
e cantores de funk em que contam as inspirações diárias, de sua visão de mundo,
e de como as letras e as danças expressam identidade, resistência e desejo. Produzido
nas comunidades periféricas do Brasil, o funk ganha ouvintes e adeptos todos os
dias. Com cenas de bailes e pancadão, o doc traz o linguajar pesado que
sintetiza esse movimento da música que ganhou fama a partir dos anos 90, celebrando
a diversidade cultural. Da diretora dos documentários musicais ‘Vou rifar meu
coração’ (2012) e ‘Clementina’ (2018), Ana Rieper. Exibição na Mostra nos dias
21 e 23/10.
Dolores
(Brasil, 2025, de Marcelo Gomes)
O diretor pernambucano Marcelo Gomes, de ‘Cinema,
aspirinas e urubus’ (2005), trouxe para a tela um roteiro deixado pelo cineasta
Chico Teixeira, falecido há seis anos, que seria o término de uma espécie de trilogia,
intitulada de Trilogia dos Afetos, iniciada por ele com ‘A casa de Alice’
(2007) e ‘Ausência’ (2014). Utilizando a obra de Teixeira como base, Gomes
realizou um drama tocante, feminino, que trata de sonhos e perspectivas futuras,
entrelaçando a rotina de três mulheres em histórias que se cruzam. Dolores acaba
de comemorar 65 anos (papel da sempre deslumbrante Carla Ribas) e botou na
cabeça que quer comprar um cassino para mudar de condição financeira. Ela frequenta
bingos, gastando muito dinheiro nos jogos, e trabalha vendendo roupas íntimas
em frente a penitenciárias. A filha, com quem não se dá bem, espera a saída do
namorado da cadeia; e a neta, integrante de um clube de tiros, pretende se
mudar para os Estados Unidos. Todas elas anseiam por um futuro melhor,
planejando mudanças decisivas. Um filme de mulheres fortes, feito por elas e
voltado ao público feminino. São grandes interpretações em uma história singela,
humana e sem pieguice. Destaque no elenco de Naruna Costa, Ariane Aparecida, Gilda
Nomacce, Teca Pereira e participação de Tuna Dwek e Roney Villela. Exibido no
Festival de San Sebastián, tem sessão na Mostra ainda no dia 22/10.
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