sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Especial de cinema

 
49ª Mostra Internacional de Cinema de SP – Melhores filmes: Parte 7
 
A 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo terminou ontem, dia 30/10, mas a repescagem continua em três cinemas, até dia 05/11. A Mostra 2025 contou com 373 títulos de 80 países em 52 salas de cinema, espaços culturais e CEUs de São Paulo, além das exibições gratuitas nos streamings do Itáu Cultural Play, Sesc Digital e SPcine Play. Confi
ra abaixo mais cinco bons títulos da Mostra, conferidos na última semana.


 
Ainda é noite em Caracas
(Venezuela/México, 2025, de Mariana Rondón e Marité Ugas)
 
Forte thriller político feito por duas cineastas latino-americanas que admiro, a peruana Marité Ugas e a venezuelana Mariana Rondón. Um dos destaques da Mostra desse ano, mas pouco repercutido – espero que logo saia nos cinemas para o público conhecer. Nas ruas de Caracas, cruzando por carros incendiados e policiais atirando gás lacrimogêneo, Adelaida Falcón (Natalia Reyes), uma mulher de 38 anos que enfrenta o luto pela morte da mãe, corre para o prédio onde reside. Sem comunicação, ela vê o caos reinar, com repressão violenta a manifestantes que saíam contra o governo – o filme não menciona data, tampouco não há citações ao atual governo da Venezuela, mas obviamente é uma crítica a Maduro e seu exército de milicianos. Adelaida fica estarrecida ao saber que seu apartamento foi tomado por um grupo de mulheres pró-regime. Refugia-se então no apartamento de uma vizinha, que está morta na sala. Conhece e se aproxima de um rapaz envolvido na guerrilha das ruas, e juntos tentam escapar do país em chamas, sob identidade falsa. Aparentemente é um futuro próximo, uma fita eletrizante sobre perseguição e paranoia no contexto da ditadura, que pinta uma Venezuela cruel, essa mesma que hoje está sob desmandos do ditador Nicolás Maduro e da Milícia Bolivariana. Exibido no Festival de Veneza, é um filme sombrio, protagonizado pela boa atriz colombiana que vem fazendo carreira nos EUA, Natalia Reyes. Inspirado no livro de Karina Sainz Borgo, com roteiro e direção da dupla de cineastas que fizeram ‘Pelo malo’ (2013) e ‘Zafari’ (2024).
 


 
No other choice
(Coreia do Sul, 2025, de Park Chan-wook)
 
Visionário, com seu típico humor macabro e recorrendo ao clima de paranoia como fez em ‘Old boy’, o multipremiado cineasta sul-coreano Park Chan-wook entrega aqui sua versão do livro ‘The ax’, de Donald E. Westlake, que já havia inspirado a ótima comédia de suspense ‘O corte’ (2005), de Costa-Gavras. Park transporta a história de ambição e disputa a todo custo para seu país natal, no tempo atual. Os 25 anos de experiência como executivo no ramo de fabricação de papel não seguraram no emprego Man-soo (Lee Byung-hun); ele acaba de ser demitido da empresa com uma leva de outros funcionários. Seu mundo desaba, já que leva uma boa vida, numa casa luxuosa com seus dois filhos e a esposa dedicada. Com o passar das semanas, a crise financeira vem, mas ele não pretende vender a casa nem cortar gastos. Até que resolve jogar todas as fichas numa vaga em outra empresa do ramo papeleiro, mesmo que tenha de eliminar a concorrência (no sentido literal mesmo). Comédia perturbadora, violência e sangue, suspense e sequências absurdas tomam conta do novo trabalho de Park, que deve ser finalista ao Oscar de filme estrangeiro no próximo ano. É crítico e divertido, um longa inteligente, para se prestar atenção nos detalhes e nos diálogos, pois é um vai-e-vem de personagens e subtramas. O ator Lee Byung-hun segura o filme, e é um primor o domínio do diretor, considerado um dos nomes mais importantes do cinema contemporâneo, que revolucionou o cinema de ação contemporâneo com ‘Old boy’ e tantas obras notórias que são uma pancada. Exibido no Festival de Veneza e no Festival de Toronto, onde recebeu o prêmio do público de melhor filme internacional. Estreia em breve nos cinemas, com distribuição da Mubi.
 


 
Amelia Toledo – Lembrar de não esquecer
(Brasil, 2025, de Hélio Goldsztejn)
 
Documentário brasileiro dos melhores lançados na Mostra de 2025, que joga luzes sobre a carreira da artista plástica e escultora Amelia Toledo (1926-2017). Uma artista inquieta, que esteve à frente de seu tempo com seu ousado trabalho, considerado por alguns controverso, em que reunia elementos da land art e do ready made com ecologia e sustentabilidade, recorrendo a linguagens e estilos variados, como instalações, intervenções, arte interativa e arquitetura moderna. Amélia inovou o ‘fazer artístico’ com materiais como pedras, metal e conchas; foi professora no Mackenzie, na FAAP e na UnB, formando um grupo de alunos pensadores em torno da nova arte que se ergueria no Brasil a partir dos anos 60. O doc reúne entrevistas antigas e recentes dela para emissoras de TV, de depoimentos dos filhos, dentre eles o pintor Moacyr Toledo, e de amigos artistas. É um compilado de histórias fabulosas em que conhecemos a fundo a alma dessa mulher sonhadora e autêntica, que transformou sua casa em ponto de encontro de intelectuais e bateu de frente, como muitos de sua geração, com a Ditadura Militar. Deve ser lançado em breve nos cinemas.
 


 
Springsteen – Salve-me do desconhecido
(EUA, 2025, de Scott Cooper)
 
Com lançamento antecipado na Mostra, o filme, que estreou ontem nos cinemas, é uma biografia intimista do cantor e compositor Bruce Springsteen, em que se apresenta um recorte bem específico: a mudança de estilo musical que teve entre 1981 e 1982, quando abandonou os hits dançantes de rock para a criação de um álbum conceitual que se tornaria um problema para as gravadoras, ‘Nebraska’, um disco folk. Belamente fotografado, com uma exímia montagem, o filme não foca o artista no palco e sim ele enfrentando a depressão, que quase o arruinou, e as crises criativas e pessoais – o relacionamento tumultuado com o pai alcoólatra e a criação de um disco inteiramente inspirado em situações que viveu e de influências, como o filme que sempre o perseguiu, ‘Terra de ninguém’ (1973), de Terrence Malick. O drama é uma viagem astral ao interior de um Bruce que pouco ouvimos falar, dignamente interpretado pelo premiado ator da série ‘The Bear’, Jeremy Allen White, que deve concorrer a prêmios importantes na temporada de 2026 – ele está perfeito, e em algumas cenas assombroso com o jeito do verdadeiro Bruce – nota 10 para o trabalho de maquiagem e cabelo. Baseado no livro de Warren Zanes, o filme acompanha a dificuldade de inserção no mundo fonográfico de um artista brigando por um álbum autoral, em busca da originalidade, escapando das obviedades e das pressões do mercado. No elenco, um trabalho magistral de Jeremy Strong, como o empresário Jon Landau, que bancou a ideia ousada de Bruce, Stephen Graham como o pai beberrão, que batia nele e na mãe, e Gaby Hoffman, como a mãe de Bruce, num papel pequenino, mas interessante. Roteiro e direção de Scott Cooper, que segue a pegada do filme de estreia, que foi um trabalho particular sobre um artista folk retomando a carreira, que deu o Oscar a Jeff Bridges, ‘Coração louco’ (2009), – depois Cooper dirigiria filmes de ação com ambientação histórica, como ‘Hostis’ e ‘O pálido olho azul’. Exibido no BFI London Film Festival. Estreou ontem nos cinemas pela 20th Century.



 
 
Pai mãe irmã irmão
(EUA/Itália/França/Irlanda/Alemanha, 2025, de Jim Jarmusch)
 
Ganhador do Leão de Ouro em Veneza deste ano, marca o retorno discreto de Jim Jarmusch ao cinema, depois de seis anos sem filmar. Jarmusch, nos anos 80, era um artista cheio de ousadias estéticas, que fez a cabeça da cinefilia. A carreira depois ficou marcada por altos e baixos, e agora ele traz um filme ao mesmo tempo engraçado e trágico, curioso no mínimo. É um painel sobre três famílias, como um tríptico – o primeiro de um pai solitário que recebe a rápida e inesperada visita de um casal de filhos, no nordeste americano; a segunda, uma mãe idosa, que é escritora, que recebe em sua em Dublin duas filhas para um brunch; e a terceira, sobre um casal de irmãos gêmeos em Paris vasculhando os pertences dos pais que faleceram num acidente de avião. São famílias diferentes em lugares distintos, mas com dilemas parecidos tentando alguma conexão - seja do pai excêntrico e mentiroso, da mãe pomposa e de olhar observador ou dos irmãos negros no subúrbio. Um desfile de bons atores, como Adam Driver, Tom Waits, Charlotte Rampling e Cate Blanchett, em historietas vapt-vupt, de 35 minutos cada uma, que não têm relação entre si, alocadas num roteiro repleto de longos diálogos e intrigas em volta da mesa e da sala. Humor e drama numa mistura legal, que focam na relação de pais e filhos, abordando temas como criação, abandono, pais distantes e reencontros – com uma pitada de melancolia e vazio existencial, típicos do diretor. Pode ser encarado com um estudo de personagens com suas excentricidades e complexidades. Da Mubi, estreia em breve nos cinemas e depois no catalogo do streaming da provedora.


Especial de cinema

 
49ª Mostra anuncia vencedores e programação da repescagem
 
A 49ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo terminou ontem, dia 30/10, com a cerimônia de premiação da edição 2025. O evento ocorreu na Sala Petrobras na Mostra, localizada na Cinemateca Brasileira, e entregou 15 prêmios em diversas categorias. Quatro prêmios foram concedidos pelo júri - foto abaixo, formado pelo produtor sul-africano Atilla Salih Yücer, pelo produtor brasileiro baseado em Los Angeles Daniel Dreifuss, pela cineasta portuguesa Denise Fernandes, pela realizadora colombiana Laura Mora e pelo crítico-chefe da revista Variety, o norte-americano Peter Debruge – eles escolheram como melhor filme ‘The president’s cake’, de Hasan Hadi, e ainda entregaram prêmio especial a ‘DJ Ahmet’, de Georgi M. Unkovski; os filmes ‘A luta’, de Jose Alayón, recebeu menção honrosa, e Doha Ramadan ganhou como melhor atuação pelo longa egípcio ‘Feliz aniversário’, de Sarah Goher.






Após o cerimonial, o longa-metragem ‘Jay Kelly’, de Noah Baumbach, distribuído pela Netflix, foi exibido, encerrando a programação oficial da 49ª Mostra. Confira abaixo outros premiados na Mostra 2025.
 
Prêmio do Público | Melhor Documentário Brasileiro
Cadernos Negros, de Joel Zito Araújo (Brasil)
 
Prêmio do Público | Melhor Filme de Ficção Brasileiro
Criadas, de Carol Rodrigues (Brasil)
 
Prêmio do Público | Melhor Documentário Internacional
Yanuni, de Richard Ladkani (Áustria, Brasil, EUA, Canadá, Alemanha)
 
Prêmio do Público | Melhor Filme de Ficção Internacional
Palestina 36, de Annemarie Jacir (Palestina, Reino Unido, França, Dinamarca, Noruega, Catar, Arábia Saudita, Jordânia)
 
Prêmio da Crítica | Melhor Filme Internacional
A Sombra do Meu Pai, de Akinola Davies Jr. (Reino Unido, Nigéria)
 
Prêmio da Crítica | Melhor Filme Brasileiro
A Natureza das Coisas Invisíveis, de Rafaela Camelo (Brasil, Chile)
 
Prêmio Brada | Melhor Direção de Arte
Jennifer Anti e Pablo Anti pelo filme ‘A Sombra do Meu Pai’, de Akinola Davies Jr. (Reino Unido, Nigéria)
 
Prêmio Netflix
Virtuosas, de Cíntia Domit Bittar (Brasil)
 
Prêmio Abraccine de Cinema Brasileiro
O Pai e o Pajé, de Iawarete Kaiabi, codirigido por Felipe Tomazelli e Luís Villaça (Brasil)
 
Prêmio Projeto Paradiso
Coração das Trevas, de Rogério Nunes (Brasil, França)
 
Prêmio Prisma Queer | Melhor Filme Internacional
Queerpanorama, de Jun Li (EUA, Hong Kong, China)
 
Prêmio Prisma Queer | Melhor Filme Brasileiro
A Natureza das Coisas Invisíveis, de Rafaela Camelo (Brasil, Chile)
 
Prêmio Prisma Queer | Especial do Júri
Morte e Vida Madalena, de Guto Parente (Brasil, Portugal)
 
Prêmio Humanidade
Euzhan Palcy
Jafar Panahi
Jean-Pierre e Luc Dardenne
 
Prêmio Leon Cakoff
Charlie Kaufman
Mauricio de Sousa
 
 
Repescagem 2025
 
A Mostra anunciou ontem também a repescagem, que ocorre entre os dias 31/10 e 05/11. São sessões extras de filmes exibidos durante o evento, disponíveis em três salas de cinema - Cine Satyros Bijou, CineSesc e Cultura Artística. Dentre os títulos estão premiados na edição, como ‘Coração das trevas’, ‘A sombra do meu pai’, ‘Vida e morte Madalena’ e ‘Feliz aniversário’. Os ingressos ficam disponíveis para compra na bilheteria dos cinemas no dia da sessão de cada filme, e as credenciais seguem válidas para a repescagem, com trocas de ingressos diretamente pelo aplicativo da Mostra. Confira abaixo toda a programação da repescagem da Mostra.
 
 
CINE SATYROS BIJOU
 
Sexta-feira, 31 de outubro
16h: The Bewilderment of Chile, de Lucía Seles
18h20: Tônica Dominante, de Lina Chamie
20h: Sholay, de Ramesh Sippy
 
 
Sábado, 1º de novembro
16h: Interior. Apartamento – Dia, de Israel Cárdenas e Laura Amelia Guzmán
17h50: Sermão para o Abismo, de Hilal Baydarov
20h: Diversidade Primitiva, de Alexander Kluge
21h40: Coração das Trevas, de Rogerio Nunes
 
 
Domingo, 2 de novembro
16h: R. Roussil – A Liberdade da Imaginação, de Maxime-Claude L'Écuyer
17h30: E Mais Alguém, de Vincent Tilanus
19h15: Um Céu de Estrelas, de Tata Amaral
21h30: Spirit World: Uma Jornada Espiritual, de Eric Khoo
 
 
Segunda-feira, 3 de novembro
16h: Serendipidade à Beira-Mar, de Satoko Yokohama
18h40: Morte e Vida Madalena, de Guto Parente
20h20: Subsolo, de Fernando Franco
 
 
Terça-feira, 4 de novembro
16h: Riverstone, de Lalith Rathnayake
18h15: Feliz Aniversário, de Sarah Goher
20h05: A Incrível Mulher das Neves, de Sébastien Betbeder
 
 
Quarta-feira, 5 de novembro
16h: Maturidade, de Jean-Benoît Ugeux
17h40: Rosemead, de Eric Lin
19h35: O Segredo do Canto dos Pássaros, de Antoine Lanciaux
21h10: Comandante Fritz, de Pavel Giroud
 
 
CINESESC
 
Sexta-feira, 31 de outubro
15h: Wolves, de Jonas Ulrich
17h10: Garota de Ipanema, de Leon Hirszman
19h10: Quatro Meninas, de Karen Suzane
21h10: Militantropos, de Yelizaveta Smith, Alina Gorlova e Simon Mozgovyi
 
 
Sábado, 1º de novembro
15h: Não Sei Viver Sem Palavras, de André Brandão
16h50: A Natureza das Coisas Invisíveis, de Rafaela Camelo
18h50: Depois dos Oitenta, de Zelimir Zilnik
21h20: 100 Sunset, de Kunsang Kyirong
 
 
Domingo, 2 de novembro
15h: Yanuni, de Richard Ladkani
17h20: A Sombra do Meu Pai, de Akinola Davies Jr.
19h20: Virtuosas, de Cíntia Domit Bittar
 
Segunda-feira, 3 de novembro
15h: A Luta, de José Alayón
17h: The President's Cake, de Hasan Hadi
19h15: Criadas, de Carol Rodrigues
21h30: A Incrível Eleanor, de Scarlett Johansson
 
 
Terça-feira, 4 de novembro
15h: À Paisana, de Carmen Emmi
17h15: DJ Ahmet, de Georgi Unkovski
19h30: Cadernos Negros, de Joel Zito Araújo
21h15: Queerpanorama, de Jun Li
 
Quarta-feira, 5 de novembro
15h: Rose of Nevada, de Mark Jenkin
17h30: Jay Kelly, de Noah Baumbach
20h15: Palestina 36, de Annemarie Jacir
 
 
CULTURA ARTÍSTICA
 
Sexta-feira, 31 de outubro
12h: Yunan, de Ameer Fakher Eldin
14h30: Galinha, de György Pálfi
16h40: Lurker, de Alex Russell
18h50: Cover-Up, de Laura Poitras e Mark Obenhaus
21h20: Queen Kelly, de Erich von Stroheim
 
Sábado, 1º de novembro
12h: Nova '78, de Aaron Brookner, Rodrigo Areias
13h50: Maspalomas, de Aitor Arregi, Jose Mari Goenaga
16h10: Resurrection, de Bi Gan
19h20: Nova Paisagem, de Yuiga Danzuka
21h45: O Desaparecimento de Josef Mengele, de Kirill Serebrennikov
 




 
Realidade Virtual
 
A programação com filmes em realidade virtual continua até o dia 05/11, no Cinesesc. São cinco curtas-metragens que integram a programação gratuita. Entre os filmes estão ‘The Big Cube’, coprodução entre Finlândia, Bélgica, China e Portugal, ‘The Time Before’, uma produção britânica de Leo Metcalf, e o sul-coreano ‘8 pm and the Cat’, dirigido por Minhyuk Che.

segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Especial de cinema

 
49ª Mostra Internacional de Cinema de SP – Melhores filmes: Parte 6
 
A 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo segue até o dia 30/10 em 52 salas de cinema e espaços culturais da capital paulista. A programação conta esse ano com 373 títulos de 80 países. Há também programação gratuita da Mostra em três streamings – Itaú Cultural Play, Sesc Digital e SPcine Play. As vendas dos ingressos avulsos continuam pelo aplicativo do festival, disponível para download, bem como pelo site da Velox Tickets e nas bilheterias das salas parceiras. Mais informações sobre a Mostra de SP 2025 em https://mostra.org/ e no Instagram do Festival.
Leia abaixo mais dois bons títulos da Mostra, conferidos na última semana.
 

 
Frankenstein
(EUA/México, 2025, de Guillermo del Toro)
 
Brilhante adaptação para o cinema da clássica história de terror ‘Frankenstein’, em que o visionário cineasta Guillermo del Toro revisiona o livro de Mary Shelley. Agora, o monstro de Del Toro é humanizado, sem aquelas terríveis cicatrizes no rosto cheia de pus e sangue - nas versões anteriores, a criatura era uma anomalia da sociedade, um monstro arredio, violento e temido. Conta com alta carga dramática e um visual onírico de embasbacar, típicos do universo do cineasta, um artesão na forma, trazendo elementos cênicos não usuais e paisagens grandiosas e únicas. Na adaptação, o cientista Victor Frankenstein (Oscar Isaac), no anseio de se destacar no mundo da medicina com uma ideia inovadora, cria um ser grotesco reunindo membros e partes de corpos de gente assassinada na forca. A criação dele (interpretada por Jacob Elordi) foge do controle, atestando o seu fim. O filme é dividido em capítulos que reconstituem a versão dos fatos – a primeira, de Dr. Victor, sobre como fez a sua criação, e a segunda, a do monstro, algo original. O tempo real da trama se sucede num navio encalhado no gelo, com o cientista resgatado por marinheiros, até se aproximar a criatura que reivindica, de todo jeito, levar embora com ele o médico. Quando o monstro invade o navio, o passado é narrado a partir das duas versões. Os efeitos visuais são de uma plasticidade incrível – com destaque para as cenas no gelo e do experimento que ressuscita Frankenstein, e o trabalho do elenco é digno. O monstro criado por Del Toro é vítima da ambição humana, torna-se rejeitado, mas nunca perde o bom coração – até ser submetido a torturas e ao desprezo, que o tornam violento. Poético e crítico, é uma obra avassaladora, para ser assistido em uma sala grandona de cinema. Exibido no Festival de Veneza, tem sessão na Mostra ainda no dia 27/10. Entrou em algumas salas brasileiras no fim de semana como pré-estreia e devem permanecer até o dia 07/11, quando entrará ao catálogo da Netflix.
 

 
Bugonia
(EUA/Irlanda/Reino Unido/Canadá/Coreia do Sul, 2025, de Yorgos Lanthimos)
 
Filme voraz do cineasta grego Yorgos Lanthimos, feito um ano depois do anêmico ‘Tipos de gentileza’, seu filme menos prestigiado. Aqui ele põe tudo junto drama, comédia, scifi, ação e terror para criticar, ainda que de forma absurda e cômica, os teóricos da conspiração, as fake News no mundo digital e os terraplanistas (uma mensagem direta a Trump e os apoiadores). Um filme que reserva surpresas, cheio de pistas e muito imprevisível – por isso vou ter cuidado na escrita para não dar spoiler. Na trama, o funcionário de uma grande empresa farmacêutica chamado Teddy (Jesse Plemons) e seu primo Don (Aidan Delbis) sequestram a CEO do lugar onde ele trabalha, Michelle (Emma Stone), e a aprisionam em casa. Eles, que nas horas vagas são apicultores, acreditam que Michelle seja uma alienígena que se disfarçou na Terra para startar um plano de extermínio da humanidade. Segundo Teddy, leu isto em pesquisas em sites (claramente conspiratórios). O filme é desenvolvido inteiramente na casa de Teddy, num duelo de ideias entre ele e Michelle, que resultará em reviravoltas e mortes horrendas. É um embate explosivo entre os personagens, um acorrentado e outro destilando ideias malucas, que causam risos e estranhezas no público. O choque visual virá, pode crer, como nos filmes anteriores de Lanthimos, e se prepare para um esbanjamento de humor macabro. Repare nos detalhes das imagens que aparecem na divisão dos capítulos, que acompanha o passar das horas até o eclipse – é uma sacada do cineasta que reforça a crítica aos conspiradores. O roteiro brutal e inesperado é de Will Tracy, roteirista de ‘O menu’, uma adaptação, com novos ingredientes, de uma fita sul-coreana chamada ‘Save the green planet!’ (2003), de Jang Joon-hwan. Concorreu ao Leão de Ouro no Festival de Veneza, onde lá recebeu um prêmio especial. Um dos melhores filmes da Mostra deste ano, tem exibição ainda no dia 27/10. Estreia nos cinemas brasileiros pela Universal em 27/11.



domingo, 26 de outubro de 2025

Especial de cinema

 
49ª Mostra Internacional de Cinema de SP – Melhores filmes: Parte 5
 
A 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo segue até o dia 30/10 em 52 salas de cinema e espaços culturais da capital paulista. A programação conta esse ano com 373 títulos de 80 países. Há também programação gratuita da Mostra em três streamings – Itaú Cultural Play, Sesc Digital e SPcine Play. As vendas dos ingressos avulsos continuam pelo aplicativo do festival, disponível para download, bem como pelo site da Velox Tickets e nas bilheterias das salas parceiras. Mais informações sobre a Mostra de SP 2025 em https://mostra.org/ e no Instagram do Festival. Leia abaixo mais três bons títulos da Mostra, conferidos na última semana.

 
 
O desaparecimento de Josef Mengele
(França/Alemanha/México/EUA/Reino Unido, 2025, de Kirill Serebrennikov)
 
Versátil como diretor e roteirista, responsável por longas absurdamente criativos na linguagem – e bota longa nisso, pois seus filmes são de duas horas para mais, o russo Kirill Serebrennikov lança na Mostra de 2025 seu novo trabalho, que poderá ser discutível para alguns. Em mais uma biografia, depois de ‘Verão’ (que ele fez sobre uma banda soviética dos anos 80) e ‘Limonov – O camaleão russo’ (sobre o poeta e político russo, banido do próprio país), agora traz para a tela a figura de uma personalidade detestável da História: o médico nazista Josef Mengele, responsável por milhares de mortes e experimentos humanos nos campos de Auschwitz. Já houve biografia dele no passado, como ‘Os meninos do Brazil’ (1978, com Gregory Peck no papel), no entanto aqui o retrato é mais extenso, com detalhes que só líamos por aí, incluindo sua fuga para a América do Sul, onde morou na Argentina e morreu no Brasil. Rodado em preto-e-branco – uma fotografia impressionante – o filme acompanha Mengele (papel de August Diehl, que entrega tudo na melhor performance dele) a partir do término da Segunda Guerra, quando foge da Alemanha e cai na clandestinidade. Apelidado de ‘Anjo da morte’, escapou do Julgamento de Nuremberg, quando houve a sentença ao alto escalão da Alemanha Nazista, e da caçada dos criminosos de guerra pela Mossad, o serviço de Inteligência de Israel. Mengele troca de nome, instala-se numa fazenda e trabalha arando o campo, na província de Buenos Aires. Seu rosto estampa os principais noticiários, por anos. O tempo passa, ele está velho e recebe a visita do filho, que o confronta com seu passado abominável. Enquanto conversam, lances do Holocausto aparecem, com Mengele liderando suas cruéis pesquisas com judeus. O filme reimagina a velhice dele, solitária e em estado de decrepitude. Não tinha como ser diferente – é indigesto (há cenas fortes com Mengele matando judeus com deformações físicas para estudar o corpo das vítimas), tem momentos que sentimos uma mistura de ânsia e ódio, tamanha a hipocrisia e desfaçatez do personagem, que se coloca como uma vítima da sociedade, pois virou um perseguido político... Diehl, brilhante, ajuda a tornar o filme bom e bem realizado – voltando ao começo, disse que que poderia ser discutível, pois alguns podem apontar que o filme humaniza Mengele, mostrando-o velho, sem ninguém por perto; eu não vejo assim, pois na velhice ele delira ideias malucas, continua grosseiro e ameaçador, e suas lembranças comprovam os crimes cometidos no Holocausto, ou seja, é o passado que cobra e o atormenta. Um dos bons títulos da Mostra. Exibido no Festival de Cannes. Acabaram as sessões na Mostra, devendo estrear nos cinemas pela Imovision em breve.
 

 
Maya, me dê um título
(França, 2024, de Michel Gondry)
 
Em exibição na Mostrinha, seção da Mostra dedicada a filmes infantis, que este ano está na segunda edição, o novo trabalho do diretor de ‘Brilho eterno de uma mente sem lembranças’, Michel Gondy, é uma simpática animação feita com diversas técnicas, que o diretor planejou como passatempo junto de sua filha. E que foi inteiramente dedicado a ela, Maya Gondry, filha mais nova do cineasta. Como Maya e Michel moram separadamente em dois países distintos, o diretor diariamente pede a ela um ‘título’, um tema para que ele crie algo; assim nasceu o filme, um compilado de pequenas aventuras em que Maya é a heroína – tem gatos falantes, viagem de barco, Maya em miniatura descendo pelo ralo da pia da cozinha etc. Alegre, é uma brincadeira de pai e filha que vira uma viagem ao mundo da imaginação, ao ‘ser criança’. Diverte crianças e adultos com as tiradas cômicas, os diálogos engraçados, a maneira gentil como pai e filha se tratam. Tem stop-motion com desenho a mão, colagens de materiais na tela e participação de Maya e do avô em carne e osso – quem narra o filme é o ator Pierre Niney, de ‘O conde de Monte Cristo’ (2024). Foi exibido no Festival de Berlim, onde concorreu ao Crystal Bear – além de ter sido exibido nos festivais de Hong Kong e Melbourne. Na Mostra de SP o filme está dublado nas sessões infantis da Mostrinha e legendado nas sessões comuns, ainda nos dias 26 e 29/10.
 


 
Blue moon
(EUA/Irlanda, 2025, de Richard Linklater)
 
Comédia dramática refinada, com inúmeras referências aos musicais clássicos dos anos 40, que marca a nona parceria do diretor Richard Linklater com o ator Ethan Hawke. São 100 minutos de filme em tempo real da história – tudo se passa em uma noite num bar novaiorquino, onde frequentam figurões do mundo artístico. Hawke entrega um novo tipo de personagem da vasta carreira, super bem como o letrista norte-americano Lorenz Hart (1895-1943), criador de músicas notórias que fizeram sucesso, como ‘Blue Moon’ e ‘The lady is a tramp’, algumas delas trilha sonora de filmes. A história se passa em 1943, sete meses antes de sua morte repentina – ele foi encontrado desmaiado na porta de um bar, alcoolizado, falecendo dias depois no hospital. Hart está no balcão do bar Sardi’s jogando conversa fora com o bartender (Bobby Canavale – super divertido no filme). Ele enfrenta uma crise criativa que o levou a beber demais. É um piadista, rápido nos trocadilhos, um homem inteligente, mas extremamente crítico, que o afasta das pessoas. No salão chega o lendário compositor Richard Rodgers (Andrew Scott, em rápida aparição, que pelo papel ganhou o prêmio de ator coadjuvante no Festival de Berlim), com quem trabalhou em inúmeras parcerias. Ele está lá para comemorar a receptiva estreia do musical ‘Oklahoma!’, que marcaria sua primeira colaboração com Oscar Hammerstein II. Naquela noite, Hart se envolverá em uma série de situações inusitadas e discussões aprofundadas sobre seu trabalho e a crise pessoal que enfrenta. Construído sob diálogos – pode ser interpretado como um filme verborrágico, excessivamente dialogado, conta com referências a nomes, peças e filmes antigos, por isso deverá ser apreciado pelos entendidos do assunto. A maquiagem recria bem cabelo e marcas expressivas dos reais personagens, além da direção de arte e figurino impecáveis – por mais que o filme tenha poucos cenários, a reconstrução do centenário Bar Sardi’s, em Nova York dos anos 40, é um primor. Hawke não exagera, está muito bem e deve receber indicação a prêmios – não conhecia a verve para o humor dele, que impressiona. Outros coadjuvantes marcam presença, como Patrick Kennedy, Margaret Qualley e David Rawle (passará despercebido, mas ele interpreta o cineasta ainda jovem George Roy Hill, que duas décadas e meia depois faria os sucessos do cinema ‘Butch Cassidy’ e ‘Golpe de mestre’). Uma curiosidade – Hart tinha estatura baixa, cerca de 1.52m, e como Hawke tem quase 30 cm a mais de altura, utilizaram um recurso de câmera para captá-lo com mais realidade; Hawke está quase sempre sentado, e quando caminha em uma ou outra cena, a câmera vai atrás, focando ombro e cabeça, nunca o corpo todo. Gostei do filme, que deve ser finalista ao Oscar do ano que vem. Sessões na Mostra nos dias 26 e 29/10.



 

sábado, 25 de outubro de 2025

Especial de cinema

 
49ª Mostra Internacional de Cinema de SP – Melhores filmes: Parte 4
 
A 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo segue até o dia 30/10 em 52 salas de cinema e espaços culturais da capital paulista. A programação conta esse ano com 373 títulos de 80 países. Há também programação gratuita da Mostra em três streamings parceiros – Itáu Cultural Play, Sesc Digital e SPcine Play.
As vendas dos ingressos avulsos continuam pelo aplicativo do festival, disponível para download, bem como pelo site da Velox Tickets e nas bilheterias das salas parceiras. Mais informações sobre a Mostra de SP 2025 em https://mostra.org/ e no Instagram do Festival. Confira abaixo mais quatro bons títulos da Mostra, conferidos na última semana.



 
 
A memória do cheiro das coisas
(Portugal/Brasil, 2025, de António Ferreira)
 
Nome de destaque do atual cinema português, António Ferreira, de ‘Pedro e Inês’ (2018) e ‘A bela América’ (2023), exibe na Mostra deste ano seu novo trabalho, um drama melancólico sobre a velhice. Em um lar de idosos reside um octogenário chamado Arménio (papel do veterano ator José Martins), ex-combatente da Guerra do Ultramar (a Guerra Colonial Portuguesa). Grosseiro, de opiniões fortes e cada vez mais recluso, ele enfrenta uma doença pulmonar, restringindo-se a qualquer contato humano. Até conhecer uma cuidadora, Herminia (Mina Andala), com quem se afeiçoa. No seio da nova amizade, o idoso encontrará apoio nos últimos dias que lhe restam. Um filme de aspecto teatral, que se passa em um único ambiente (o lar dos idosos com seus espaços, como o quarto de Arménio, a sala de fisioterapia, o refeitório), com um personagem só, aprisionado e solitário em suas divagações e lembranças, confrontado com o passado. Os dias passam lentos, e o idoso espera pelo fim. Coproduzido pela brasileira Muiraquitã Filmes, o filme continua disponível na plataforma Spcine Play até dia 30/10 (as sessões presenciais na Mostra já acabaram). Terá estreia nos cinemas em 30/10, com distribuição da Bretz Filmes.
 

 
A incrível Eleanor
(EUA, 2025, de Scarlett Johansson)
 
Outro filme sobre a velhice, este mais bem humorado do que ‘A memória do cheiro das coisas’. O roteiro previsível fica em segundo plano, pois o filme é a pura interpretação deliciosa de June Squibb, com seu talento e tiradas engraçadas. É um feito raro, uma atriz de 94 anos, lúcida, na ativa, esbanjando simpatia – sempre em papeis secundários, ela foi indicada ao Oscar de atriz coadjuvante por ‘Nebraska’, em 2014, e só ganhou seu primeiro papel principal ano passado com ‘Thelma’, sendo ‘A incrível Eleanor’ o segundo de uma vida inteira. Ela interpreta Eleanor, uma idosa de 94 anos – mesma idade da atriz na época, que se desmorona ao perder a única amiga, com quem morava junto. Muda-se então da Flórida para Nova York, para o apartamento da filha e do neto. Um dia resolve participar de um grupo de apoio a sobreviventes do Holocausto – Eleanor é judia, mas nunca esteve nos campos de concentração. Na roda de conversa, compartilha uma triste história real, como se fosse a dela, mas na verdade é o que aconteceu com sua melhor amiga, Bessie (Rita Zohar), falecida meses atrás. Aquele caso triste do Holocausto chama a atenção de uma jovem estudante de jornalismo, Nina (Erin Kellyman), que combina com Eleanor de contar sua trajetória numa pesquisa da faculdade. Squibb é um barato com suas respostas rápidas e cômicas, com os olhares e as pequenas caretas de reprovação. A comédia não diminui nem banaliza o Holocausto – pelo contrário, as cenas em que se menciona o extermínio dos judeus, nunca com imagens, alimenta o filme com tons dramáticos, de rasgar o coração, principalmente nas cenas de diálogo entre Bessie e Eleanor. Por isso o filme pode ser considerado uma autêntica comédia dramática. Destaca-se também no elenco Jessica Hecht, como a filha de Eleanor, Stephen Singer, como o rabino, e o indicado ao Oscar Chiwetel Ejiofor, como um apresentador de TV. Exibido no Festival de Cannes onde concorreu ao Golden Camera e ao ‘Um certo olhar’, marca a estreia na direção da atriz Scarlett Johansson. Com distribuição da Sony Pictures, que deverá lançá-lo em breve nos cinemas, conta com sessões na Mostra ainda nos dias 25 e 28/10.
 

 
O mundo do amor
(Coreia do Sul, 2025, de Yoon Ga-eun)
 
Drama sul-coreano exibido nos Festivais de Toronto e de Londres sobre uma estudante do Ensino Médio com comportamento de extremos – ora alegre e extrovertida, ora explosiva, que sofre um revés ao receber cartas anônimas na escola, que revelam segredos guardados por ela a sete chaves. As mensagens, curtas, dizem respeito a ela e à família. Seu mundo é abalado, e tenta descobrir quem está por trás dos bilhetes. Sem contar com a ajuda da mãe, ela se vê perdida e ameaçada. No início parece ser comédia, com certa leveza, mas nada disso – é um drama intenso, de uma personagem que vai se despedaçando dia a dia com a atitude dos outros, cercada por um mistério do passado. O elenco é bom, de nomes desconhecidos, assim como a direção, de uma cineasta que sabe conduzir histórias e prender o público, a diretora e roteirista Yoon Ga-eun, de ‘O nosso mundo’ (2016). Nem só dos populares Doramas vive a Coreia do Sul – o país produz drama intensos, como este aqui, além de terror sobrenatural e também o cinemão de ação. Sessões na Mostra nos dias 25, 26, 27 e 28/10.
 

 
Novembro
(Colômbia/México/Brasil/Noruega, 2025, de Tomás Corredor)
 
A reconstituição de um episódio infame da História da Colômbia é o tema desse bom filme independente: o cerco ao Palácio da Justiça de Bogotá por guerrilheiros do Movimento 19 de Abril (M-19), ocorrido em novembro de 1985, e o contra-ataque militar que matou quase uma centena de pessoas. Misturando reportagens televisivas de época e dramatização, o filme, um drama sufocante com thriller, acompanha o início e o fim da ação, que duraram 27 horas; presos em um banheiro estão membros do M-19, juízes e civis. Do lado de fora, forças militares jogam bombas, gás lacrimogêneo e atiram para todos os lados, prevalecendo o caos. Os guerrilheiros invadiram a Suprema Corte para forçar um julgamento do presidente Belisario Betancur, que, segundo acreditam, falhou nos acordos de paz com as Farc. Obra tensa e desafiadora, com final trágico - que sabemos como irá terminar. Discute a repressão militar e como uma nação foi lançada ao precipício ao falhar nas negociações de paz com as Farc e no combate ao narcotráfico. Exibido no Festival de Toronto e premiado no Festival de Havana, é o primeiro longa do diretor colombiano Tomás Corredor. Coprodução entre Vulcana Filmes e a Burning, tem sessão na Mostra nos dias 27 e 29/10 e estreia nos cinemas brasileiros no dia 30/10.


sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Especial de cinema

  
49ª Mostra Internacional de Cinema de SP – Melhores filmes: Parte 3
 
A 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo continua até o dia 30/10 na capital paulista. A programação, aberta no dia 16/10, conta esse ano com 373 títulos de 80 países em 52 salas de cinema, espaços culturais e CEUs de São Paulo. Haverá ainda programação gratuita da Mostra em três streamings parceiros – Itáu Cultural Play, Sesc Digital e SPcine Play.
As vendas dos ingressos avulsos continuam pelo aplicativo do festival, disponível para download, bem como pelo site da Velox Tickets e nas bilheterias das salas parceiras. Mais informações sobre a Mostra de SP 2025 em https://mostra.org/ e no Instagram do Festival. Confira abaixo mais cinco bons títulos da Mostra, conferidos na última semana.


 
Woman and child
(Irã/França, 2025, de Saeed Roustayi)
 
Dois filmes iranianos estão em destaque na Mostra de SP desse ano: ‘Foi apenas um acidente’, ganhador da Palma de Ouro em Cannes, de Jafar Panahi (que virá para a Mostra nos próximos dias receber o prêmio Humanidade) e ‘Woman and child’, também exibido em Cannes, concorrendo à Palma. Aprecio os cult movies iranianos, e este é um daqueles dramas de sufocar a alma. É a história de uma enfermeira viúva (Parinaz Izadyar – muito bem como protagonista) que trabalha em um hospital e mora com o filho rebelde. O garoto causa problemas na escola e acaba sendo suspenso. Prestes a noivar com o novo namorado, relacionamento não aceito pela família, ela sofre um baque quando um incidente mata seu filho. Dividido em dois momentos – antes da estranha morte do garoto, mostrando os dias turbulentos daquela mulher cuja rotina é o hospital e cuidar do rapaz, e depois do fato trágico, quando a mulher embarca numa jornada de investigação com as próprias mãos para desvendar o ocorrido. As duas partes, juntas, formam uma obra densa, dolorosa, de uma mãe disposta a enfrentar o mundo por justiça ao filho morto. Filmes iranianos de drama com suspense, como os de Asghar Farhad, nos prendem com suas sólidas tramas, e este, apesar de não ser dele, lembra muito e é uma ótima recomendação. Exibição na Mostra ainda nos dias 24, 26 e 29/10.



 
A morte não existe
(Canadá/França, 2025, de Félix Dufour-Laperrière)
 
Chega à Mostra com exclusividade uma excelente – e culta - animação adulta, coprodução Canadá e França exibida na Quinzena dos Cineastas do Festival de Cannes e no Annecy – um dos principais festivais da modalidade, onde recebeu menção especial pela trilha sonora. Um filme de ativismo político, de desenho feito à mão, misturando traços fortes e cores de diferentes matizes; na trama, um grupo de guerrilheiros se frustra com um ataque armado a uma propriedade, que não dá certo. Uma das líderes abandona os colegas, refugiando-se numa mata, e é caçada por sua principal companheira. O filme é uma inventiva criação pessoal do diretor Félix Dufour-Laperrière, recorrendo a sonhos que se mesclam à realidade dos personagens – é um mundo estranho, ambíguo, com pessoas se metamorfoseando em flores e animais enquanto passam o tempo todo numa implacável busca a uma mulher foragida. Alegórico, com tom psicodélico e surrealista, é uma animação inteligente e complexa, para público específico. Exibição na Mostra nos dias 24, 26 e 30/10.
 

 
Mirrors no. 3
(Alemanha, 2025, de Christian Petzold)
 
Longe de ser um grande Petzold, o novo trabalho do premiado diretor alemão de ‘Em trânsito’ e ‘Afire’ se estrutura num drama familiar cheio de segredos. Novamente o diretor volta a falar de identidade feminina em reconstrução.   A estudante Laura (Paula Beer, atriz dos filmes dele) sobrevive a um acidente de trânsito no campo. Atordoada, com ferimentos e a memória falhando, é acolhida por Betty (Barbara Auer), uma idosa que mora reclusa numa casa próxima ao local do ocorrido. Betty trata com zelo Laura, e aos poucos o marido e o filho suspeitam que aquilo tudo é uma forma de ela ressignificar uma tragédia que os marcou anos atrás. O drama tem variações de suspense/mistério, que descortina o passado de Laura e daquela nova família dela. Petzold presta uma homenagem a Bergman em um filme feminino e pessoal. Exibido na Quinzena dos Cineastas do Festival de Cannes, tem sessões na Mostra nos dias 25 e 30/10, com distribuição da Imovision - que o lançará em breve nos cinemas.
 

 
 
Kontinental '25
(Romênia/Suíça/Luxemburgo/Brasil/Reino Unido, 2025, de Radu Jude)
 
Cineasta romeno apreciado entre os cinéfilos da Mostra, Radu Jude tem dois novos filmes na edição deste ano: ‘Dracula’ e ‘Kontinental ‘25’, ambos com produção da RT Features, do brasileiro Rodrigo Teixeira. Com seu humor cáustico inigualável, Jude, que já ganhou o Urso de Ouro, por ‘Má sorte no sexo ou Pornô acidental’ (2021), traz em ‘Kontinental ‘25’ um drama cômico que satiriza papeis sociais com fortes críticas a seu país. Em uma cidade popular da Romênia, Cluj, na região da Transilvânia, uma oficial de justiça (Eszter Tompa) recebe a missão de expulsar um sem-teto que mora indevidamente no porão de um prédio antigo. Cansada da profissão, de despejar pessoas empobrecidas dos lugares onde moram, ela entra numa terrível crise moral. Fotografando as paisagens de seu país como num passeio silencioso, como faz nos outros filmes também, Radu Jude recorre a um humor estranho, as vezes mórbido, para discutir o embate da oficial com o sem teto. Um trabalho interessante da atriz principal e uma boa fotografia. Eu gosto do diretor, que é versátil e faz comédias como ninguém aproveitando-se de diferentes temas – até em documentários, como apresentou na Mostra do ano passado, ‘Oito cartões-postais da utopia’ (2024). Ganhador do prêmio de melhor roteiro no Festival de Berlim. Exibição na Mostra ainda nos dias 25, 27 e 29/10.
 

 
Jovens mães
(Bélgica/França, 2025, de Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne)
 
Prepare-se para um filme de doer na alma, que bate fundo e nos abre reflexões sobre adolescência perdida. Assinado pelos irmãos Dardenne, belgas, que fazem filmes nesse tom dramático, sempre com atores amadores, parecendo documentário tamanha a naturalidade ali tratada. Vencedor do prêmio de roteiro e do Júri Ecumênico em Cannes desse ano, o filme traz cinco jovens mães, que tiveram filhos prematuramente, que moram num abrigo que serve de casa de assistência onde recebem apoio psicológico e ajuda no cuidado de banho e alimentação dos recém-nascidos. Cada uma delas lida com a fase materna e com a desestruturação familiar – quase todas são mãe solo, uma foi expulsa de casa pela mãe alcoólatra, outra nunca conheceu a própria mãe, que a entregou para a adoção. Meninas despedaçadas, sem perspectivas, e com a responsabilidade precoce d cuidar de um filho. Realidade escancarada pelos Dardenne, numa fita nua e crua. Um drama duro, com momentos incômodos. Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne escrevem, produzem e dirigem, e sabem como ninguém desvendar as relações familiares. A dupla apresenta com frequência filmes na Mostra, em sessões lotadas – lembro que vi aqui ‘A garota desconhecida’ (2016) e ‘O jovem Ahmed’ (2019), e este ano recebem o Prêmio Humanidade. Exibição nos dias 26, 28, 29 e 30/10.



quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Especial de cinema

 
49ª Mostra Internacional de Cinema de SP – Melhores filmes: Parte 2
 
A 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo continua até o dia 30/10 na capital paulista. A programação, aberta no dia 16/10, conta esse ano com 373 títulos de 80 países em 52 salas de cinema, espaços culturais e CEUs de São Paulo. Haverá ainda programação gratuita da Mostra em três streamings parceiros – Itáu Cultural Play, Sesc Digital e SPcine Play.
As vendas dos ingressos avulsos continuam pelo aplicativo do festival, disponível para download, bem como pelo site da Velox Tickets e nas bilheterias das salas parceiras. Mais informações sobre a Mostra de SP 2025 em https://mostra.org/ e no Instagram do Festival. Confira abaixo mais bons títulos da Mostra, conferidos na última semana.



 
Honestino
(Brasil, 2025, de Aurélio Michiles)
 
Conhecido por tratar da questão indígena em seus dois trabalhos anteriores, ‘O cineasta da selva’ e ‘Segredos do Putumayo’, o diretor amazonense Aurélio Michiles se volta agora à Ditadura Militar no Brasil, trazendo para a tela a biografia do líder estudantil Honestino Guimarães, o Gui, um dos tantos desaparecidos políticos no cruel período dos Anos de Chumbo. Fundindo documentário e ficção, o longa reúne imagens inéditas de Gui, aluno da Universidade de Brasília – UnB e presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) no final dos anos 60. Preso diversas ocasiões por criticar e enfrentar os militares, desapareceu em 1973, aos 26 anos. Nunca mais se ouviu falar no estudante. O filme vasculha vestígios da época, de arquivos de fotos da família e de pessoas que conviveram com ele; entrevista a filha e o neto de Gui, colegas de turma da faculdade e da luta contra a Ditadura. O filme vai exibindo pouco a pouco a personalidade forte e sempre carismática de Honestino e sua visão de um mundo mais justo. Cartas, poemas, fotos dele são abundantes no filme, bem como depoimentos de dezenas de pessoas próximas – Aurélio Michiles, o diretor, foi colega de luta dele, da chamada Geração de 68. As encenações de Gui são de Bruno Gagliasso, em poucas aparições, já que o tom do filme é mais documental. Uma obra densa, que reflete a luta de tantos por um país livre da repressão. Assisti numa sessão no Festival do Rio com a presença da equipe e familiares, e agora está em exibição na Mostra de SP, nos dias 22 e 28/10. Estreia nos cinemas em maio de 2026, pela Pandora Filmes.


 
 
Christy
(Irlanda/Reino Unido, 2025, de Brendan Canty)
 
Na linha dos filmes de Mike Leigh, que retrata a classe operária em crise no Reino Unido, ‘Christy’ é um drama social intenso, com interpretações formidáveis de todo o elenco. Christy é o nome de um jovem de 17 anos que acaba de ser expulso do lar adotivo e vai morar com o irmão, num bairro operário irlandês. Os dois têm atritos, Christy tenta se reconectar com outros membros da família enquanto faz novas amizades pelo bairro. O irmão, que é mais velho, quer que Christy saia daquele lugar, incentivando-o a buscar algo mais digno para o futuro. Um filme sério, sobre esperanças perdidas e reconexão humana entre entes separados pelo tempo. Dramático, sem toques cômicos, com um protagonista forte interpretado pelo bom ator Danny Power, de ‘Acabe com eles’ (2024). É a adaptação para o cinema de um curta do mesmo diretor, com mesmo elenco e título, rodado em 2019. Vencedor do grande prêmio da seção Generation 14plus do Festival de Berlim de 2025, tem exibição na Mostra nos dias 22, 26 e 27/10.
 

 
Rosemead
(EUA, 2025, de Eric Lin)
 
Lucy Liu entrega a performance de uma vida inteira neste filme de drama de mistério e suspense inspirado em um caso real ocorrido em 2015 em Rosemead, California. Ela é Irene (nome fictício – a real mulher se chamava Lai Hang), uma senhora de origem chinesa, de quase 50 anos, diagnosticada com um câncer agressivo. Ela cuida com zelo do único filho, um adolescente de 17 anos, que vive recluso no quarto e fala pouco. Ela suspeita que o filho está tramando um atentado em uma escola, já que gosta de jogos de violência e encontrou pistas de compra de armas em seu computador. Irene não revela para o jovem sobre a doença e passa a investigar os passos do menino. Uma história com final chocante e que abre inúmeras discussões – é um desfecho pesado, do jeito que ocorreu no caso real. Liu é a alma desse longa-metragem sofrido, que retrata a relação obsessiva e de proteção extrema de uma mãe com seu filho – pelo papel, Liu deve receber indicações a prêmios importantes no próximo ano. Vencedor do prêmio do público no Festival de Locarno, também foi exibido no Festival de Tribeca. Exibição na Mostra ainda nos dias 22 e 26/10. PS - O IMDB traz já o título em português, ‘A mãe obsessiva’.
 

 
Sirât
(Espanha/França, 2025, de Oliver Laxe)
 
Filme de abertura da Mostra desse ano, o novo longa do diretor espanhol Oliver Laxe (que é ator e roteirista e já participou da Mostra com todos seus longas) é um enorme exercício de cinema, uma fita complexa, difícil de se fazer e de acompanhar pela trama violenta e sem concessões. Um pai (papel do ator Sergi López, muito bem aqui) busca pela filha, que desapareceu em uma rave nas montanhas do sul do Marrocos. Ele está acompanhado do filho menor, seu ponto de apoio. O lugar é um vazio danado, só tem a terra quente do deserto, num calor insuportável. Sem pista alguma da menina, resolve avançar pela aridez crua do deserto com ajuda de um grupo de frequentadores de rave, que estão ali para uma festa de música eletrônica. Um incidente com o carro no caminho os levará próximo daquilo que é o inferno. É um filme para se ver no cinema, na maior tela possível, com o som no último, já que é uma obra sinestésica, com sons e barulhos atípicos – alguns surpreendentes e assustadores, que dão a nota do enredo. Pesado, com momentos de pura tensão, que me lembraram ‘O salário do medo’ e ‘Comboio do medo’, conta com reviravoltas atordoantes, de dar nó na garganta. Vencedor do prêmio do júri no Festival de Cannes, a produção é de Pedro Almodóvar. É o indicado da Espanha para uma vaga no Oscar 2026, com fortes chances de melhor filme estrangeiro. Na Mostra, todas as sessões de ‘Sirât’ serão acompanhadas do curta ‘Como fotografar um fantasma’, de Charlie Kaufman – exibições ainda nos dias 22 e 24. A Retrato Filmes divulgou hoje o novo cartaz do filme e o lançará nas salas em 15/01/2026.



 
Águias da República
(Suécia/França/Dinamarca/Finlândia/Alemanha, 2025, de Tarik Saleh)
 
Está na lista dos melhores filmes da Mostra desse ano o novo trabalho do diretor sueco de origem egípcia Tarik Saleh. É o fechamento da trilogia ‘Cairo’, estrelada por Fares Fares – antes foram ‘O incidente no Nile Hilton’ (2017 – exibido na Mostra) e ‘Garoto dos céus’ (2022). É um thriller político surpreendente, que exige atenção e conhecimento da História recente do Egito. Saleh é ousado ao retratar figuras notoriamente autoritárias com o nome e os traços como são, como o presidente Al-Sisi. Fares Fares interpreta um ator egípcio, George Fahmy, idolatrado pelo público e apelidado de ‘O faraó das telas’. É convidado para interpretar o atual presidente do Egito, Al-Sisi, numa superprodução que biografa o tal político. Ele recusa, por não compactuar com as ideias do cara, um verdadeiro candidato a déspota. Porém, George é colocado na parede e vê a família sofrer ameaças; contra sua vontade, resolve atuar no filme, sem direito a voz própria e sendo constantemente moldado pelos produtores. Um filme que trata da censura numa ditadura e de como o indivíduo é tragado para dentro do sistema, sem perceber, desnaturalizando-se. Fares Fares é soberbo em cena, e seu personagem aos poucos se vê preso participando de trocas de favores entre políticos violentos, aliando-se aos militares e ao próprio presidente, por quem não tinha simpatia. Filmão de Saleh e Fares, na melhor parceria da trilogia, com trilha sonora do duas vezes ganhador do Oscar Alexander Desplat. Indicado à Palma de Ouro em Cannes, foi exibido nos festivais de Cannes e Toronto. Sessões na Mostra nos dias 22, 24 e 26/10. Distribuição da Imovision, que o lançará em breve nos cinemas.
 

 
The choral
(EUA/Reino Unido, 2025, de Nicholas Hytner)
 
Ausente da direção há 10 anos, o cineasta premiado com o Bafta Nicholas Hytner, de ‘As loucuras do rei George’ (1994) e ‘As bruxas de Salem’ (1996), retorna com uma singela e cativante história de amor a música em ‘The choral’, já com tradução no Brasil, ‘Sinfonia de guerra’. No condado inglês de Yorkshire, durante a Primeira Guerra Mundial, os diretores do Coral de Ramsden buscam músicos para compor o grupo, já que parte dos cantores deixaram o cargo para servir no front. Alguns jovens soldados são recrutados, e agora é preciso de um novo regente. A opção que surge é a de um médico que serviu na Alemanha e, segundo consta, guarda inúmeros segredos, Dr. Henry Guthrie (papel do ótimo Ralph Fiennes, numa composição lúcida). O filme todo acompanha a luta incansável desse regente para fazer o melhor coral com os melhores músicos, preparando um espetáculo que mistura música e encenação para a população se distrair dos horrores diários da guerra. Em tom leve, sem mostrar bombardeios ou gente trucidada na guerra, é uma história de obstinação em meio ao caos. Figurinos bonitos, direção de arte de época condizente e um bom trabalho dos atores marcam o longa. Escrito pelo roteirista indicado ao Oscar por ‘As loucuras do Rei George’, Alan Bennett. Exibido no Festival de Toronto, o filme conta com sessões na Mostra nos dias 22, 24 e 27/10.



  
Nova '78
(EUA/Portugal/Reino Unido, 2025, de Aaron Brookner e Rodrigo Areias)
 
Documentário interessantíssimo que recupera materiais perdidos da Nova Convention, lendário evento de três dias ocorrido em Nova York em 1978 que prestou homenagem ao escritor William S. Burroughs (1914-1997) - ícone da primeira Geração Beat que deu origem ao movimento da contracultura. A convenção marcaria o retorno dele aos Estados Unidos após 20 anos morando em diversos continentes. A partir de gravações caseiras restauradas, acompanhamos por dentro os bastidores desse evento chamado por alguns de ‘Nova '78’, que contou com a presença de ilustres convidados, como os músicos Patti Smith, Frank Zappa e Philip Glass e artistas visuais como John Cage. Boa parte do que vemos estava engavetado e considerado perdido, muito vem do material em 16mm gravado pelo falecido cineasta Howard Brookner - graças a um trabalho criterioso de pesquisa liderado pelo sobrinho dele, Aaron Brookner, com ajuda do diretor português Rodrigo Areias, o filme virou essa curiosa reconstrução. Um documentário conceitual, que serve de estudo sobre o pensamento que rondava a Nova York dos anos 70. Exibido no Festival de Locarno, conta com exibição na Mostra nos dias 24 e 25. Também está disponível na plataforma Spcine Play para se assistir gratuitamente.
 

 
Com causa
(Brasil, 2025, de Belisario Franca e Pedro Nóbrega)
 
Documentário do cineasta carioca Belisario Franca em mais uma parceria com o diretor Pedro Nóbrega, desta vez sobre ativismo ambiental, e não mais tratando de figuras ou cenas políticas como costumam fazer. Aqui eles fazem uma colcha de retalhos com depoimentos de ativistas do mundo todo em torno de seus projetos, visando a construção de um mundo menos violento, que cuide do meio ambiente para as futuras gerações. Com imagens belas e nítidas das águas, das florestas e do solo, seguindo da Amazônia à África e passando pela Europa e Ásia, o filme é um apelo para o despertar da conscientização humana, com depoimentos de figuras notórias do ativismo mundial, como Ailton Krenak, Paul Watson, Carmen Silva e Muzoon Almellehan. Um filme para ver, sentir e refletir. Exibição ainda no dia 27/10.

Especial de cinema

  Festival MixBrasil segue até dia 23 gratuitamente em SP   Considerado o maior festival de cinema LGBTQIAPN+ da América Latina, que reúne n...