segunda-feira, 8 de julho de 2019

Cine Lançamento


Um ato de esperança

A juíza da Alta Corte Britânica Fiona Maye (Emma Thompson) tem uma complicada decisão nas mãos, envolvendo o bem-estar de um garoto chamado Adam (Fionn Whitehead), internado em estado grave no hospital. Pelo poder que a justiça lhe concede, Fiona poderá obrigar o rapaz a receber transfusão de sangue, procedimento que a família dele recusa, por motivos religiosos. Paralelamente, a juíza vive uma crise com o marido, Jack (Stanley Tucci), e ambos pensam em separação.

Abriu o Festival Internacional de Toronto de 2017 este drama poderoso com uma atuação primorosa de Emma Thompson (que não recebeu indicação a prêmio nenhum!), baseado no aclamado romance de Ian McEwan, de 2014, traduzido no Brasil como “A balada de Adam Henry”. O próprio escritor adaptou o original para o cinema mantendo aspectos fundamentais de sua controversa obra, um embate entre religião e ciência – boa parte dos livros de McEwan viraram filmes de impacto, como “Uma estranha passagem em Veneza” (1990), “O inocente” (1993) e “Desejo e reparação” (2007).
É a jornada de uma poderosa juíza britânica com uma tarefa difícil: obrigar ou não um garoto hospitalizado a receber transfusão de sangue. Isto porque a família não autoriza, pela religião. O procedimento, simples pelo ponto de vista médico, poderá salvar a vida do menino. Para compreender seu cliente, a juíza quebra protocolos, visitando-o no leito do hospital e de certa maneira fica próxima a ele; é um menino novo, culto e sedutor, o que desperta nela sentimentos de mãe (já que não tem filhos). Só saberemos a decisão dela nos minutos finais, e até lá o filme se constitui em um delicado drama íntimo e pessoal. Também tem uma subtrama sólida, da juíza em conflito com o casamento, prestes a se separar do marido de longa data, e tudo se agrava quando ela se vê apegada ao menino doente (quem interpreta o marido, num papel menor, mas convincente, é o indicado ao Oscar Stanley Tucci).
O título original, “The Children Act”, remete a um termo jurídico que ajuda a compreender o enredo do drama: ele integra a lei britânica de 1989 que coloca o bem-estar das crianças em primeiro lugar, antes mesmo dos desejos e religião dos pais ou responsáveis. A Corte avalia os casos relacionados a crianças, e independentemente da posição dos responsáveis legais, o juiz determina o que melhor garante sua saúde, paz e integridade.


O diretor britânico Richard Eyre é de uma excelência notável, um cineasta de olhar peculiar, que dirigiu dois filmes brilhantes na década passada, “Iris” (2001) e “Notas sobre um escândalo” (2006). Ele dirige bem os atores no quadro, tanto que em “Iris” Jim Broadbent ganhou o Oscar, tendo sido indicadas as atrizes Judi Dench e Kate Winslet, e em “Notas, repetiu-se a dose para o elenco: Judi Dench novamente nomeada ao prêmio da Academia, assim como Cate Blanchett. Deslize não terem lembrado de Emma Thompson nesse papel impressionante da juíza Fiona, um dos melhores de sua longa carreira.
Curiosidade: o filme foi gravado nas locações reais da Corte de Justiça de Londres, a única produção cinematográfica liberada para tal.
Lançado em DVD pela Flashstar no mês passado, também disponível nas plataformas digitais!

Um ato de esperança (The Children Act). Reino Unido/EUA, 2017, 105 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Richard Eyre. Distribuição: Flashstar Filmes

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