Um ato de esperança
A juíza
da Alta Corte Britânica Fiona Maye (Emma Thompson) tem uma complicada decisão nas
mãos, envolvendo o bem-estar de um garoto chamado Adam (Fionn Whitehead), internado
em estado grave no hospital. Pelo poder que a justiça lhe concede, Fiona poderá
obrigar o rapaz a receber transfusão de sangue, procedimento que a família dele
recusa, por motivos religiosos. Paralelamente, a juíza vive uma crise com o
marido, Jack (Stanley Tucci), e ambos pensam em separação.
Abriu
o Festival Internacional de Toronto de 2017 este drama poderoso com uma atuação
primorosa de Emma Thompson (que não recebeu indicação a prêmio nenhum!),
baseado no aclamado romance de Ian McEwan, de 2014, traduzido no Brasil como “A
balada de Adam Henry”. O próprio escritor adaptou o original para o cinema
mantendo aspectos fundamentais de sua controversa obra, um embate entre
religião e ciência – boa parte dos livros de McEwan viraram filmes de impacto,
como “Uma estranha passagem em Veneza” (1990), “O inocente” (1993) e “Desejo e
reparação” (2007).
É a
jornada de uma poderosa juíza britânica com uma tarefa difícil: obrigar ou não
um garoto hospitalizado a receber transfusão de sangue. Isto porque a família
não autoriza, pela religião. O procedimento, simples pelo ponto de vista
médico, poderá salvar a vida do menino. Para compreender seu cliente, a juíza quebra
protocolos, visitando-o no leito do hospital e de certa maneira fica próxima a
ele; é um menino novo, culto e sedutor, o que desperta nela sentimentos de mãe (já
que não tem filhos). Só saberemos a decisão dela nos minutos finais, e até lá o
filme se constitui em um delicado drama íntimo e pessoal. Também tem uma subtrama
sólida, da juíza em conflito com o casamento, prestes a se separar do marido de
longa data, e tudo se agrava quando ela se vê apegada ao menino doente (quem interpreta
o marido, num papel menor, mas convincente, é o indicado ao Oscar Stanley
Tucci).
O título
original, “The Children Act”, remete a um termo jurídico que ajuda a compreender
o enredo do drama: ele integra a lei britânica de 1989 que coloca o bem-estar
das crianças em primeiro lugar, antes mesmo dos desejos e religião dos pais ou
responsáveis. A Corte avalia os casos relacionados a crianças, e independentemente
da posição dos responsáveis legais, o juiz determina o que melhor garante sua
saúde, paz e integridade.
O
diretor britânico Richard Eyre é de uma excelência notável, um cineasta de olhar
peculiar, que dirigiu dois filmes brilhantes na década passada, “Iris” (2001) e
“Notas sobre um escândalo” (2006). Ele dirige bem os atores no quadro, tanto
que em “Iris” Jim Broadbent ganhou o Oscar, tendo sido indicadas as atrizes
Judi Dench e Kate Winslet, e em “Notas, repetiu-se a dose para o elenco: Judi
Dench novamente nomeada ao prêmio da Academia, assim como Cate Blanchett. Deslize
não terem lembrado de Emma Thompson nesse papel impressionante da juíza Fiona,
um dos melhores de sua longa carreira.
Curiosidade:
o filme foi gravado nas locações reais da Corte de Justiça de Londres, a única
produção cinematográfica liberada para tal.
Lançado
em DVD pela Flashstar no mês passado, também disponível nas plataformas digitais!
Um ato de esperança (The
Children Act). Reino Unido/EUA, 2017, 105 minutos. Drama. Colorido. Dirigido
por Richard Eyre. Distribuição: Flashstar Filmes
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