Duas rainhas
Rainha
Consorte da França, Mary Stuart (Saoirse Ronan) fica viúva aos 18 anos e volta a
ocupar o antigo posto, de Rainha da Escócia. Ela reivindica também o trono da Inglaterra,
que é comandada pela prima, Rainha Elizabeth I (Margot Robbie). Isto porque Mary
é descendente legítima para tal cargo, ameaçando a soberania de Elizabeth. O
conflito entre as duas desencadeará intrigas violentas, conspirações, rebelião
e morte na Corte.
Rivalidade,
conspirações, rebelião, vingança e morte são os temas de destaque dessa
superprodução épica baseada na vida de duas rainhas notórias da Europa do século
XVI, Mary Stuart e Elizabeth Tudor. Primas, competiram o trono por duas
décadas, num período de intensas transformações políticas e sociais na
Inglaterra pós-medieval. Não é um filme grandioso, tem pequenos problemas na
edição (rápida, sem ganchos) e no roteiro distanciado que não dá destaque para
os conflitos das rainhas. Houveram filmes melhores sobre as personagens, como “Mary
Stuart, rainha da Escócia” (de 1936, dirigido por John Ford, que trazia Katharine
Hepburn como Mary Stuart e Florence Eldridge como Elizabeth), outro de mesmo
título, de 1971 (de Charles Jarrott, com Vanessa Redgrave indicada ao Oscar
pelo papel de Mary, e Glenda Jackson como Elizabeth), sem contar a formidável biografia
da rainha Elizabeth I dirigida por Shekhar Kapur em duas ocasiões, com Cate Blanchett
indicada ao Oscar nas duas vezes pelo ótimo papel – em “Elizabeth” (1998) e a
sequência, “Elizabeth: A era de ouro” (2007).
Mesmo
com deslizes perdoáveis, “Duas rainhas” ainda aguça a curiosidade pela intensa
história de intrigas na Corte, que terminou em decapitação, e pela trilha
sonora sensacional do indicado ao Emmy Max Richter, além da maquiagem assombrosa
e o figurino belíssimo, estes indicados ao Oscar em fevereiro. Foi a estreia na
direção de Josie Rourke, que é diretora artística da Donmar Warehouse (teatro
londrino fundado em 1977), que escolheu duas atrizes feras em um momento em
alta de suas carreiras, com destaque especial para Margot Robbie, coadjuvante que
rouba as cenas quando aparece, mesmo que pouco (pelo forte personagem recebeu
indicação ao Bafta e ao SAG, ficando fora do Oscar; ela foi indicada ao prêmio
da Academia em 2018 por “Eu, Tonya”, coincidentemente disputando com a atriz Saoirse
Ronan, por “Lady Bird: A hora de voar”, em sua terceira nomeação).
O
roteiro de Beau Willimon, da série “House of Cards” e do drama político “Tudo
pelo poder” (2011), revira as páginas do livro original “Queen of Scots: The true
life of Mary Stuart”, escrito pelo historiador John Guy, de 2004, e tanto o roteirista
quanto o autor defendem a ideia de que as duas rainhas realmente se encontraram
frente a frente; o fato é refutado pela maioria dos historiadores, que
acreditam que elas apenas se correspondiam por cartas. Elas eram primas, cada
uma governava um canto no Reino Unido, até que o jogo mudou vorazmente. Preste
atenção pois há muitos detalhes históricos que podem causar confusão de nomes e
acontecimentos. Só para deixar ajudar o leitor deste texto: Mary Stuart (1542-1587)
ficou viúva um ano e meio após se casar com o rei da França, Francisco II. Ela
tinha 18 anos, precisou voltar à Escócia, retornou ao cargo de rainha e apoiada
por católicos ingleses e reivindicou o poder também na Inglaterra, entrando em
conflito com a prima que era a governante do território, rainha Elizabeth I. Mary
era a única descendente legítima do rei Jaime V, da Escócia, tinha seis dias
quando assumiu o trono, com a morte do pai, e usufruiu o poder de rainha do país
natal por 25 anos (de 1542 até ser forçada a abdicar, em 1567). Há poucas, mas
intensas cenas de embate entre as duas personagens, mesmo que à distância (os
conflitos e sequências emocionantes do encontro entre elas ficam para o final).
Coprodução
Reino Unido/Estados Unidos, foi rodado em regiões da Grã-Bretanha e não teve
bilheteria boa – estreou no AFI Fest, em novembro de 2018, passou no Brasil somente
em abril deste ano e saiu em DVD esta semana, num disco único, recheado de bons
extras.
Curiosidade:
o projeto do filme nasceu em 2006, e Scarlett Johansson seria a protagonista,
mas desistiu, assim como a direção seria de Susanne Bier. Engavetaram o filme,
e só depois de 12 anos o fizeram (talvez isto tenha contribuído para as falhas do
roteiro e edição). Mesmo assim vale a experiência.
Duas rainhas (Mary Queen of Scots). Reino
Unido/EUA, 2018, 124 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Josie Rourke.
Distribuição: Universal Pictures
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