quarta-feira, 31 de julho de 2019

Cine Lançamento



Duas rainhas

Rainha Consorte da França, Mary Stuart (Saoirse Ronan) fica viúva aos 18 anos e volta a ocupar o antigo posto, de Rainha da Escócia.  Ela reivindica também o trono da Inglaterra, que é comandada pela prima, Rainha Elizabeth I (Margot Robbie). Isto porque Mary é descendente legítima para tal cargo, ameaçando a soberania de Elizabeth. O conflito entre as duas desencadeará intrigas violentas, conspirações, rebelião e morte na Corte.

Rivalidade, conspirações, rebelião, vingança e morte são os temas de destaque dessa superprodução épica baseada na vida de duas rainhas notórias da Europa do século XVI, Mary Stuart e Elizabeth Tudor. Primas, competiram o trono por duas décadas, num período de intensas transformações políticas e sociais na Inglaterra pós-medieval. Não é um filme grandioso, tem pequenos problemas na edição (rápida, sem ganchos) e no roteiro distanciado que não dá destaque para os conflitos das rainhas. Houveram filmes melhores sobre as personagens, como “Mary Stuart, rainha da Escócia” (de 1936, dirigido por John Ford, que trazia Katharine Hepburn como Mary Stuart e Florence Eldridge como Elizabeth), outro de mesmo título, de 1971 (de Charles Jarrott, com Vanessa Redgrave indicada ao Oscar pelo papel de Mary, e Glenda Jackson como Elizabeth), sem contar a formidável biografia da rainha Elizabeth I dirigida por Shekhar Kapur em duas ocasiões, com Cate Blanchett indicada ao Oscar nas duas vezes pelo ótimo papel – em “Elizabeth” (1998) e a sequência, “Elizabeth: A era de ouro” (2007).
Mesmo com deslizes perdoáveis, “Duas rainhas” ainda aguça a curiosidade pela intensa história de intrigas na Corte, que terminou em decapitação, e pela trilha sonora sensacional do indicado ao Emmy Max Richter, além da maquiagem assombrosa e o figurino belíssimo, estes indicados ao Oscar em fevereiro. Foi a estreia na direção de Josie Rourke, que é diretora artística da Donmar Warehouse (teatro londrino fundado em 1977), que escolheu duas atrizes feras em um momento em alta de suas carreiras, com destaque especial para Margot Robbie, coadjuvante que rouba as cenas quando aparece, mesmo que pouco (pelo forte personagem recebeu indicação ao Bafta e ao SAG, ficando fora do Oscar; ela foi indicada ao prêmio da Academia em 2018 por “Eu, Tonya”, coincidentemente disputando com a atriz Saoirse Ronan, por “Lady Bird: A hora de voar”, em sua terceira nomeação).


O roteiro de Beau Willimon, da série “House of Cards” e do drama político “Tudo pelo poder” (2011), revira as páginas do livro original “Queen of Scots: The true life of Mary Stuart”, escrito pelo historiador John Guy, de 2004, e tanto o roteirista quanto o autor defendem a ideia de que as duas rainhas realmente se encontraram frente a frente; o fato é refutado pela maioria dos historiadores, que acreditam que elas apenas se correspondiam por cartas. Elas eram primas, cada uma governava um canto no Reino Unido, até que o jogo mudou vorazmente. Preste atenção pois há muitos detalhes históricos que podem causar confusão de nomes e acontecimentos. Só para deixar ajudar o leitor deste texto: Mary Stuart (1542-1587) ficou viúva um ano e meio após se casar com o rei da França, Francisco II. Ela tinha 18 anos, precisou voltar à Escócia, retornou ao cargo de rainha e apoiada por católicos ingleses e reivindicou o poder também na Inglaterra, entrando em conflito com a prima que era a governante do território, rainha Elizabeth I. Mary era a única descendente legítima do rei Jaime V, da Escócia, tinha seis dias quando assumiu o trono, com a morte do pai, e usufruiu o poder de rainha do país natal por 25 anos (de 1542 até ser forçada a abdicar, em 1567). Há poucas, mas intensas cenas de embate entre as duas personagens, mesmo que à distância (os conflitos e sequências emocionantes do encontro entre elas ficam para o final).
Coprodução Reino Unido/Estados Unidos, foi rodado em regiões da Grã-Bretanha e não teve bilheteria boa – estreou no AFI Fest, em novembro de 2018, passou no Brasil somente em abril deste ano e saiu em DVD esta semana, num disco único, recheado de bons extras.
Curiosidade: o projeto do filme nasceu em 2006, e Scarlett Johansson seria a protagonista, mas desistiu, assim como a direção seria de Susanne Bier. Engavetaram o filme, e só depois de 12 anos o fizeram (talvez isto tenha contribuído para as falhas do roteiro e edição). Mesmo assim vale a experiência.

Duas rainhas (Mary Queen of Scots). Reino Unido/EUA, 2018, 124 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Josie Rourke. Distribuição: Universal Pictures

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