Mademoiselle Paradis
Viena, 1777. A pianista cega Maria Theresia
Paradis (Maria Dragus) é levada pelos pais para participar de um tratamento com
o controverso médico Franz Anton Mesmer (Devid Striesow), com o intuito de
recuperar a visão. Este médico e cientista atua com uma técnica pioneira de
magnetismo, com atendimento coletivo de pessoas que sofrem de doenças que a
medicina tradicional não resolve. Após algumas sessões, Maria percebe que sua
visão melhora, mas ela começa perder o talento musical. Os pais, autoritários, pensam
então em retirar a jovem das mãos do médico.
Intenso
e instigante filme biográfico sobre a juventude da pianista austríaca Maria
Theresia von Paradis (1759-1824), quando tentou tratamentos médicos alternativos
para voltar a enxergar. Baseado no livro “Mesmerized” (2010), da escritora e
artista alemã Alissa Walser, este bom drama de época é uma coprodução
Áustria/Alemanha, exibido no Festival Internacional de Toronto, onde concorreu a
vários prêmios.
Na
Viena da metade para o final do século XVIII, no período frutífero de Mozart (ele
até criou uma composição em homenagem a Maria Paradis), a jovem pianista que
ficou cega quando criança tinha 18 anos. Solitária, sem amigos próximos, recebe
uma educação autoritária dos pais. A música cerca a rotina de Maria, que adquire
gosto pelo piano e inicia uma carreira prodigiosa tocando para grupos pequenos
em palácios. Ela era filha de um dos secretários imperiais da rainha Maria
Theresa, da Casa de Habsburgo, homem influente e rico. Por muito tempo o pai a
levou a médicos convencionais na tentativa de uma cura para a cegueira, sem
sucesso nos tratamentos, até que fica sabendo de um médico, Dr. Mesmer, que
poderia ser a salvação da menina. Ele criou o tal do Mesmerismo, uma técnica de
magnetismo animal que gerou polêmica e discussões no mundo da Ciência. Maria
então integra um grupo de doentes para receber as ondas magnéticas pelo corpo, e
o tratamento demonstra melhora em sua condição; no entanto a pianista regride no
talento musical, perdendo a habilidade quando está diante do piano. Contra a
vontade dos pais, ela é forçada a abandonar o tratamento, o que a faz voltar à escuridão
em todos os sentidos.
O filme
discute a criação de pais com seus filhos numa sociedade repressora e machista,
de forma quase didática, expositiva e com embates. Tem uma parte técnica
impecável conciliando a linda fotografia de época a uma direção de arte muito
bem pesquisada, figurinos exuberantes a uma maquiagem refinada, com um trabalho
impressionante de Maria Dragus, atriz romena, de 23 anos, de “A fita branca” (2009)
e “Duas rainhas” (2018). Sua personagem é de uma força fora de série, uma jovem
reprimida e sufocada pelos padrões da sociedade, querendo libertar-se a todo instante.
Ela foi uma pequena voz contra a opressão, e sua biografia até que enfim foi
contada, sublimemente (quase ninguém conhece a história dela).
Lançado
em festivais da Europa em 2017, passou nos cinemas brasileiros com atraso de dois
anos, em maio de 2019, e saiu há poucos meses em DVD pela Focus Filmes. Quem
assina a direção é uma mulher, por isso o filme no ponto de vista feminino,
chamada Barbara Albert – ela é austríaca, tem 47 anos, fez alguns trabalhos de
cinema em seu país, mas quase nenhum veio para cá.
Mademoiselle Paradis (Idem). Áustria/Alemanha, 2017, 96
minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Barbara Albert. Distribuição: Focus
Filmes
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