sexta-feira, 5 de julho de 2019

Cine Lançamento


O retorno do herói

Em 1809, na França, o capitão Charles-Grégoire Neuville (Jean Dujardin) é chamado às pressas para liderar um grupo no front de guerra. Ele deixam para trás sua noiva prometendo enviar cartas a ela. As correspondências nunca chegaram... Então a irmã da moça, Elisabeth (Mélanie Laurent), passa a escrevê-las em nome de Neuville para tranquilizar a irmã, discorrendo sobre feitos épicos e aventuras gloriosas do capitão. Mas o homem na realidade é um covarde, que desertou da guerra e vive hoje como um moribundo. Resolve retornar para casa, no entanto Elisabeth convence-o a manter vivas aquelas grandiosas histórias da guerra. Neuville se passa por um herói que nunca foi, iniciando uma série de confusões entre os membro da família e da realeza.

Uma comédia de época sofisticada e divertida, em tom de farsa, com dois atores à vontade nos papéis principais, Mélanie Laurent (de “Bastardos inglórios” e “Toda forma de amor”) e Jean Dujardin (um dos nomes mais proeminentes do cinema francês atual, que aparece em muitos filmes de seu país; ganhou Oscar, Globo de Ouro, Bafta e ator em Cannes pelo trabalho que o revelou em 2011, “O artista”). Ele é uma figuraça, no papel de um falso herói, sem escrúpulos e cheio de artimanhas.
Num roteiro bem formatado, conhecemos esse capitão convocado para uma das guerras napoleônicas, tendo de dizer adeus à noiva chorosa. Ele não envia cartas para ela, então a irmã (Mélanie, ótima, sempre sedutora) secretamente escreve correspondências em nome dele para manter a jovem feliz, já que está doente na cama, de tristeza e solidão (lembram-se de “Crepúsculo dos deuses”?). Um tempão se passa, e ele retorna, maltrapilho, mas Elisabeth faz um plano de sustentar as mentiras contadas por ela nas cartas, onde o capitão virou um herói nacional. A armadilha está posta à mesa. Até quando a mentira será mantida em pé?
O legal do protagonista é essa transição, de um valente que parecia ser a um anti-herói de terceira classe, um desertor, covarde, ardiloso, que se utiliza do humor jocoso e burlesco para compor uma de suas características (que se torna a peça-chave da comédia). A personagem Elisabeth é outra criação formidável que mantém o ritmo do filme, uma mulher trapaceira e aproveitadora, aliada do capitão.

Dirige o filme (uma coprodução França/Bélgica) Laurent Tirard, do adorável “O pequeno Nicolau” (2009) e sua continuação, “As férias do pequeno Nicolau” (2014), que trabalhou anteriormente com Dujardin em “Um amor à altura” (2016, remake do argentino “Coração de Leão – O amor não tem tamanho”, coproduzido no Brasil). Ele escreveu o roteiro ao lado de um antigo parceiro, Grégoire Vigneron, presenteando o público com essa fota adorável, simpática, curtinha e inteligente, que dá para rever várias vezes.
De acordo com o diretor, ele se inspirou em dois filmes de John Ford para criar algumas cenas, “Ao rufar dos tambores” (1939) e “Rastros de ódio” (1956), além do clássico “E o vento levou” (1939).

O retorno do herói (Le retour du héros). França/Bélgica, 2018, 90 minutos. Comédia. Colorido. Dirigido por Laurent Tirard. Distribuição: Focus Filmes

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