O retorno do herói
Em
1809, na França, o capitão Charles-Grégoire Neuville (Jean Dujardin) é chamado às
pressas para liderar um grupo no front de guerra. Ele deixam para trás sua
noiva prometendo enviar cartas a ela. As correspondências nunca chegaram... Então
a irmã da moça, Elisabeth (Mélanie Laurent), passa a escrevê-las em nome de Neuville
para tranquilizar a irmã, discorrendo sobre feitos épicos e aventuras gloriosas
do capitão. Mas o homem na realidade é um covarde, que desertou da guerra e
vive hoje como um moribundo. Resolve retornar para casa, no entanto Elisabeth
convence-o a manter vivas aquelas grandiosas histórias da guerra. Neuville se
passa por um herói que nunca foi, iniciando uma série de confusões entre os membro
da família e da realeza.
Uma
comédia de época sofisticada e divertida, em tom de farsa, com dois atores à
vontade nos papéis principais, Mélanie Laurent (de “Bastardos inglórios” e “Toda
forma de amor”) e Jean Dujardin (um dos nomes mais proeminentes do cinema francês
atual, que aparece em muitos filmes de seu país; ganhou Oscar, Globo de Ouro,
Bafta e ator em Cannes pelo trabalho que o revelou em 2011, “O artista”). Ele é
uma figuraça, no papel de um falso herói, sem escrúpulos e cheio de artimanhas.
Num
roteiro bem formatado, conhecemos esse capitão convocado para uma das guerras
napoleônicas, tendo de dizer adeus à noiva chorosa. Ele não envia cartas para
ela, então a irmã (Mélanie, ótima, sempre sedutora) secretamente escreve correspondências
em nome dele para manter a jovem feliz, já que está doente na cama, de tristeza
e solidão (lembram-se de “Crepúsculo dos deuses”?). Um tempão se passa, e ele retorna,
maltrapilho, mas Elisabeth faz um plano de sustentar as mentiras contadas por
ela nas cartas, onde o capitão virou um herói nacional. A armadilha está posta
à mesa. Até quando a mentira será mantida em pé?
O
legal do protagonista é essa transição, de um valente que parecia ser a um
anti-herói de terceira classe, um desertor, covarde, ardiloso, que se utiliza do
humor jocoso e burlesco para compor uma de suas características (que se torna a
peça-chave da comédia). A personagem Elisabeth é outra criação formidável que
mantém o ritmo do filme, uma mulher trapaceira e aproveitadora, aliada do capitão.
Dirige
o filme (uma coprodução França/Bélgica) Laurent Tirard, do adorável “O pequeno
Nicolau” (2009) e sua continuação, “As férias do pequeno Nicolau” (2014), que trabalhou
anteriormente com Dujardin em “Um amor à altura” (2016, remake do argentino
“Coração de Leão – O amor não tem tamanho”, coproduzido no Brasil). Ele
escreveu o roteiro ao lado de um antigo parceiro, Grégoire Vigneron, presenteando
o público com essa fota adorável, simpática, curtinha e inteligente, que dá para
rever várias vezes.
De
acordo com o diretor, ele se inspirou em dois filmes de John Ford para criar
algumas cenas, “Ao rufar dos tambores” (1939) e “Rastros de ódio” (1956), além
do clássico “E o vento levou” (1939).
O retorno do herói (Le
retour du héros). França/Bélgica, 2018, 90 minutos. Comédia. Colorido. Dirigido
por Laurent Tirard. Distribuição: Focus Filmes
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