Fafy Siqueira: de Roberto Carlos a diretora de teatro em São PauloFelipe Boso Brida*
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De estatura baixa, olhos espantados e jeito de garota travessa, a atriz carioca Fafy Siqueira conquistou o público brasileiro com seus papéis cômicos e desleixados. E ainda atrai a atenção dos telespectadores com os personagens extrovertidos. Podemos vê-la atuando na novela “Duas Caras”, como a madame Amora, irmã gêmea de Amara, interpretado por Mara Manzan, que teve de se afastar das telas por motivo de saúde. Nascida no Rio de Janeiro em outubro de 1954, Fafy iniciou a carreira imitando personalidades em programas de humor. Quem não se lembra dela encarnando o cantor Roberto Carlos ou mesmo Ronald Golias? Nos anos 80, fez papéis menores no cinema, como em “Urubus e Papagaios” (1985) e “Romance da Empregada” (1987). Até que, em 1990, dois filmes alavancaram sua carreira: “Uma Escola Atrapalhada” e “Sonho de Verão”. Em novelas, ganhou espaço em “Hipertensão” (1986), “Quem é Você” (1996), “Zazá” (1997), “Brida” (1998), “Cobras & Lagartos” (2006) e “Pé na Jaca” (2007). Esteve no elenco da minissérie “O Primo Basílio”, em 1988, e ainda apresentou o programa “Alô Alô”, na TV Cultura. Passou pelos principais programas de humor da televisão brasileira, como “Escolinha do Professor Raimundo”, na pele de dois personagens – a torcedora da Portuguesa Lusa do Canindé e Gardênia Alves –, em Sai de Baixo, Zorra Total, Brava Gente e A Praça é Nossa. Atualmente dedica-se também a duas outras paixões: dirigir e atuar em espetáculos teatrais. Sua peça mais famosa é “Aconteceu com Shirley Taylor”.
Confira mais sobre a carreira da atriz na entrevista abaixo, concedida por ela, em São Paulo, especialmente ao jornal Notícia da Manhã.
NM – Fafy, seu novo personagem, na novela “Duas Caras”, traz mais um papel cômico para a carreira. Por que só fazer humor?
Fafy – Vamos por partes. Recentemente fui contratada pela Rede Globo para a novela “Duas Caras”, a convite de Wolf Maia e Aguinaldo Silva. Substituo minha amiga Mara Manzan. O personagem seria da Mara também, ou seja, ela faria um papel duplo. Sinto-me orgulhosa por estar no lugar da Mara e por ter sido lembrada para manter o núcleo de humor dentro da novela. Agora, vamos ao que interessa. Meu forte são os papéis de humor. Não resisto quando sou convidada e cedo facilmente. O diretor de teatro Guilherme Leme disse que gostaria de escrever uma peça dramática para que eu atuasse. Mas não quis. Não quero remar contra a maré. Meu negócio é comédia, e sou reconhecida por isto. Está na veia, é inexplicável. Confesso que meu sonho é fazer um programa humorístico com inúmeros personagens, no estilo de “Planeta dos Homens” e “Viva o Gordo”. Olha que boa idéia! Na minha atual situação, ficaria legal fazer a “Viva a gorda”!
NM – Então recusaria papéis dramáticos?
Fafy – Olha, já fiz peças teatrais com momentos tristes. Por exemplo, em “Monólogos da Vagina” interpretava uma mulher que era estuprada na Bósnia e sofria muito. Era de uma carga emocional dramática densa e complexa. Tive de aprender a arte dramática, fugir do meu usual. E fui bem elogiada pela atuação. Mas não me arrisco mais. Minha “praia” é outra. Em janeiro começaremos a ensaiar uma peça sobre a vida da Dercy Gonçalves, escrito pela Maria Adelaide Amaral e dirigido por Marília Pêra. Vai ser um sucesso tremendo, espero.
NM – Qual filme, novela ou peça remontaria com um estilo próprio?
Fafy – Anos atrás a Letícia Spiller convidou-me para participar da peça “As Lágrimas Amargas de Petra Von Kant”, baseada no original de Fassbinder. No elenco estavam Fernanda Montenegro e Renata Sorrah. Na época pensei: “Imagine eu fazendo drama. Não ficará legal, será frustrante”. E não aceitei. Por incrível que possa parecer, hoje minha vontade é remontar a peça, porém usar um lado mais bem humorado, amenizando o drama. Hoje, como diretora, me solto no palco, grito, puxo os cabelos, dou gargalhadas. Tudo para que meu trabalho dê certo e seja bem visto.
NM – No cinema, seu grande momento, talvez, foi participar de “Sonho de Verão”. O que representou o filme para uma geração de jovens no início dos anos 90?
Fafy – Meu Deus, “Sonho de Verão” virou sucesso absoluto. Atraiu uma legião de fãs, tivemos uma bilheteria fantástica. A comédia agradou a todos. Fiquei famosa a partir daí. Era muito engraçado atuar com Sérgio Mallandro. Nossos personagens se confrontavam o tempo todo: de um lado eu, a governante durona, e do outro ele, um cara folgado e mentiroso. O filme tornou-se sucesso imediato. Lançou bons artistas, como Andréa Veiga, Letícia Spiller e Cláudio Heinrich. Sinto saudades dessa época.
*Entrevista publicada no jornal Notícia da Manhã, periódico de Catanduva, no dia 04/05/2008. Créditos para foto: Felipe Brida