O melhor amigo
Depois do sucesso nos
cinemas da graciosa comédia inspirada em uma história real ‘Pacarrete’ (2019),
o diretor e roteirista cearense Allan Deberton apresenta ao público agora seu
novo trabalho, um moderno e agradabilíssimo conto de fadas gay/queer, ‘O melhor
amigo’. Rodado na bela região praieira de Canoa Quebrada, no Ceará, o romance
musical não passará despercebido, pois contagia e é um sopro de vida com seus
personagens carinhosos. Em Canoa Quebrada, os jovens Lucas (Vinicius Teixeira) e
Felipe (Gabriel Fuentes) se reencontram, anos depois de um relacionamento nos
tempos da faculdade. A paixão entre eles reacende em meio ao calor escaldante da
praia, ao som do mar e ao lado de novas pessoas que cruzarão suas vidas. Uma fita
solar, de cores vivas e pra cima, que não esconde nem disfarça seu lado brega e
altamente romântico. Deberton é um bom contador de histórias e conduz seus
personagens que ora nos tocam ora nos causam risos. Os dois atores centrais marcam
bem suas presenças, e o elenco coadjuvante traz participações bem legais, como Cláudia
Ohana, Mateus Carrieri e a cantora Gretchen como ela mesma, além de nomes do
novo cinema cearense, como Dênis Lacerda – na pele da drag queen Deydianne Piaf,
Souma, Muriel Cruz e Rodrigo Ferrera. Há canções brasileiras marcantes dos anos
80 e 90 regravadas para o longa, como ‘Amante profissional’ e ‘Conga Conga’. Uma
delícia de ver na tela grande e se envolver nessa trama novelesca e bem
moderna. Produzido pela Deberton Filmes em coprodução com o Telecine e produção
associada da Mistika, está nos cinemas brasileiros pela Vitrine Filmes. PS – O longa é inspirado no curta-metragem homônimo de Deberton, lançado em 2013.
Girassol vermelho
Estreia nos cinemas brasileiros no próximo dia 27
esse filme experimental que dialoga com o absurdo e que antes se chamaria ‘A
casa do girassol vermelho’. Uma fita onírica e simbólica, sobre uma longa viagem
de trem de um personagem solitário em crise existencial, que também é uma
viagem pela sua mente. Chico Diaz, sempre perfeito em seus papeis, sejam eles
em comédia ou drama, é um viajante de trem, de nome Romeu. Um homem em busca de
liberdade, mas também de respostas. Ele procura se desprender de algo que o
perturba. O trem para numa plataforma, e ele desce e anda pelos arredores. É
noite, o ambiente está esfumaçado, como um sonho. Não há ninguém, somente ele
por ali. Até que é tragado para uma câmara fechada, onde será interrogado e passará
por tortura física e psicológica. Sem poder falar o que pensa, percebe que sua
liberdade foi tolhida nesse novo mundo opressor. Até que uma mulher misteriosa
surge em sua frente.
Filme de abertura da
Mostra de Cinema de Tiradentes de 2025, foi inspirado em dois contos do
escritor mineiro Murilo Rubião, representante máximo do Realismo Fantástico no
Brasil, e tem direção assinado por uma dupla, o multiartista mineiro Eder
Santos e codireção de Thiago Villas Boas. De acordo com os diretores, ‘Girassol
vermelho’ integra uma trilogia de título "RGB", sigla utilizada no
mundo do design e da publicidade que faz referência às cores ‘Red, green, blue’,
ou seja, ‘Vermelho, verde e azul’; elas fazem parte de um sistema de combinação
de cores fundamentais para os espectros cromáticos. ‘Girassol’ é a parte 2 da
trilogia, antes houve ‘Deserto azul’ (2014), e o terceiro capítulo está em
desenvolvimento. Eder Santos, conhecido artista gráfico e videoartista, experimenta
linguagens tanto em seus trabalhos de artes visuais como no cinema, e faz desse
filme um laboratório altamente criativo e inusitado. Quase tudo acontece no
mundo real e parte na cabeça do protagonista, e quando as imagens se fundem,
não sabemos se o que Romeu vê/presencia é verdade ou ficção.
Filmado em 2023 em uma
fábrica de cimento desativada, tem aspectos de teatro; a trama ocorre em ambientes
fechados, com cores acinzentadas e a névoa encobrindo os personagens – a fotografia
é assinada pelo alemão Stefan Ciupek, segundo diretor de fotografia de filmes
como ‘Anticristo’ (2009), de Lars Von Trier, e que já fez trabalhos no Brasil,
como ‘Deserto azul’. Traz participações especiais de Daniel de Oliveira e
Bárbara Paz e de membros da ‘Mundana Companhia’, de teatro.
Um filme complexo para o
público desavisado, que aborda temas como alienação, violência do Estado e
repressão, representativos para o Brasil e para o mundo dos últimos anos, de
fortalecimento da extrema-direita e do constante ataque à democracia. Gostei,
reconheço a importância da obra e recomendo aos cinéfilos de filmes cult. Distribuição
nos cinemas pela Pandora Filmes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário