domingo, 23 de março de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas - Parte 1

 

O melhor amigo

 

Depois do sucesso nos cinemas da graciosa comédia inspirada em uma história real ‘Pacarrete’ (2019), o diretor e roteirista cearense Allan Deberton apresenta ao público agora seu novo trabalho, um moderno e agradabilíssimo conto de fadas gay/queer, ‘O melhor amigo’. Rodado na bela região praieira de Canoa Quebrada, no Ceará, o romance musical não passará despercebido, pois contagia e é um sopro de vida com seus personagens carinhosos. Em Canoa Quebrada, os jovens Lucas (Vinicius Teixeira) e Felipe (Gabriel Fuentes) se reencontram, anos depois de um relacionamento nos tempos da faculdade. A paixão entre eles reacende em meio ao calor escaldante da praia, ao som do mar e ao lado de novas pessoas que cruzarão suas vidas. Uma fita solar, de cores vivas e pra cima, que não esconde nem disfarça seu lado brega e altamente romântico. Deberton é um bom contador de histórias e conduz seus personagens que ora nos tocam ora nos causam risos. Os dois atores centrais marcam bem suas presenças, e o elenco coadjuvante traz participações bem legais, como Cláudia Ohana, Mateus Carrieri e a cantora Gretchen como ela mesma, além de nomes do novo cinema cearense, como Dênis Lacerda – na pele da drag queen Deydianne Piaf, Souma, Muriel Cruz e Rodrigo Ferrera. Há canções brasileiras marcantes dos anos 80 e 90 regravadas para o longa, como ‘Amante profissional’ e ‘Conga Conga’. Uma delícia de ver na tela grande e se envolver nessa trama novelesca e bem moderna. Produzido pela Deberton Filmes em coprodução com o Telecine e produção associada da Mistika, está nos cinemas brasileiros pela Vitrine Filmes. PS – O longa é inspirado no curta-metragem homônimo de Deberton, lançado em 2013.

 


 

Girassol vermelho

 

Estreia nos cinemas brasileiros no próximo dia 27 esse filme experimental que dialoga com o absurdo e que antes se chamaria ‘A casa do girassol vermelho’. Uma fita onírica e simbólica, sobre uma longa viagem de trem de um personagem solitário em crise existencial, que também é uma viagem pela sua mente. Chico Diaz, sempre perfeito em seus papeis, sejam eles em comédia ou drama, é um viajante de trem, de nome Romeu. Um homem em busca de liberdade, mas também de respostas. Ele procura se desprender de algo que o perturba. O trem para numa plataforma, e ele desce e anda pelos arredores. É noite, o ambiente está esfumaçado, como um sonho. Não há ninguém, somente ele por ali. Até que é tragado para uma câmara fechada, onde será interrogado e passará por tortura física e psicológica. Sem poder falar o que pensa, percebe que sua liberdade foi tolhida nesse novo mundo opressor. Até que uma mulher misteriosa surge em sua frente.
Filme de abertura da Mostra de Cinema de Tiradentes de 2025, foi inspirado em dois contos do escritor mineiro Murilo Rubião, representante máximo do Realismo Fantástico no Brasil, e tem direção assinado por uma dupla, o multiartista mineiro Eder Santos e codireção de Thiago Villas Boas. De acordo com os diretores, ‘Girassol vermelho’ integra uma trilogia de título "RGB", sigla utilizada no mundo do design e da publicidade que faz referência às cores ‘Red, green, blue’, ou seja, ‘Vermelho, verde e azul’; elas fazem parte de um sistema de combinação de cores fundamentais para os espectros cromáticos. ‘Girassol’ é a parte 2 da trilogia, antes houve ‘Deserto azul’ (2014), e o terceiro capítulo está em desenvolvimento. Eder Santos, conhecido artista gráfico e videoartista, experimenta linguagens tanto em seus trabalhos de artes visuais como no cinema, e faz desse filme um laboratório altamente criativo e inusitado. Quase tudo acontece no mundo real e parte na cabeça do protagonista, e quando as imagens se fundem, não sabemos se o que Romeu vê/presencia é verdade ou ficção.
Filmado em 2023 em uma fábrica de cimento desativada, tem aspectos de teatro; a trama ocorre em ambientes fechados, com cores acinzentadas e a névoa encobrindo os personagens – a fotografia é assinada pelo alemão Stefan Ciupek, segundo diretor de fotografia de filmes como ‘Anticristo’ (2009), de Lars Von Trier, e que já fez trabalhos no Brasil, como ‘Deserto azul’. Traz participações especiais de Daniel de Oliveira e Bárbara Paz e de membros da ‘Mundana Companhia’, de teatro.
Um filme complexo para o público desavisado, que aborda temas como alienação, violência do Estado e repressão, representativos para o Brasil e para o mundo dos últimos anos, de fortalecimento da extrema-direita e do constante ataque à democracia. Gostei, reconheço a importância da obra e recomendo aos cinéfilos de filmes cult. Distribuição nos cinemas pela Pandora Filmes.




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