quarta-feira, 19 de março de 2025

Resenhas especiais

 

Dicas de filmes no streaming

 

Softie (2020)

 

Documentário produzido no Quênia sobre o trabalho do fotojornalista Boniface Mwangi, apelidado de Softie, um jovem engajado na luta por justiça social de seu país. Ativista, perseguido pela polícia e pelo governo, Softie retrata por meio de suas lentes a violência política no Quênia – nos últimos 15 anos as ruas da capital, Nairobi, são constantemente tomadas por protesto contra o aumento de impostos e a concentração de renda. Centenas de manifestantes foram mortos na última década e outros tantos feridos nas mobilizações. O documentário, corajoso por natureza e que revela uma grave denúncia social, acompanha a vida de Softie não só na fotografia, mas quando decidiu concorrer às eleições regionais para o Parlamento, em 2017. Nesse percurso vivenciou um jogo sujo e perigoso ao enfrentar os poderosos para fazer uma campanha correta e ter o povo como aliado. Em 2019 foi preso por subversão e agitação popular. Gostei do filme, todo feito com imagens das ruas e depoimentos de Mwangi com sua visão de mundo. Escrito, dirigido, roteirizado e montado pelo cineasta queniano Sam Soko, que acompanhou Softie por cinco anos – ele realizou outros docs sobre a situação político-social em sua terra natal, como ‘Free money’ (2022). Disponível gratuitamente na plataforma Sesc Digital, em https://sesc.digital

 


 

Surto (2020)

 

Funcionário de um aeroporto de Londres enlouquece e entra numa espiral de autodestruição. Essa é a trama central desse thriller dramático, um tour-de-force do ator britânico Ben Whishaw, que costuma se desafiar em papeis complexos de assassinos e espiões – ele ficou conhecido como o protagonista sombrio de ‘Perfume: A história de um assassino’ (2006). Um personagem que vai do desespero ao caos e aos poucos vai enlouquecendo - com manias, ele é testado todo dia em situações-limite no aeroporto onde trabalha na revista de viajantes; ele um dia explode, briga no aeroporto, abandona o cargo e segue durante um dia inteiro perambulando pelas ruas, envolvendo-se em brigas e cometendo delitos - chega a ser espancado, visita os pais e lá uma notícia o abala, até atingir o ápice de uma jornada degradante. O filme se passa em 24h, nas ruas de Londres, na vida desse indivíduo complexo. Experimental, com câmera correndo e tremida, o filme usa e abusa de closes magníficos – eu gosto de filme assim, tem gente que não suporta. Selvagem, sujo, um filme que pulsa de forma vibrante. Exibido no Festival de Berlim, ganhou o prêmio de ator para Ben em Sundance. Esteve em exibição na plataforma Sesc Digital até semana passada.

 


 

Velas escarlates (1961)

 

O Centro Popular de Cultura da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (CPC-UMES) lançou, há uns bons anos, dezenas de filmes soviéticos e russos em DVD e bluray, e durante a pandemia, um canal no Youtube onde semanalmente entra um longa-metragem cult gratuito para o público assistir. O título da semana passada foi esse nada conhecido ‘Velas escarlates’ – aliás, o cinema russo e soviético quase não foi visto ou lançado no Brasil, exceto clássicos de diretores famosos, como Sergei Eisenstein e Andrei Tarkovsky. ‘Velas escarlates’ é uma perola do cinema de aventura soviético, um tipo de cinema popular que existiu lá nos anos 60 e 70. É baseado num livro da década de 20 de Alexander Grin (1880-1932), ou A.S. Grin, escritor de romances com toques de fantasia, parte deles em viagens por alto-mar, como é o caso aqui. Na trama, a garota Assol (papel de Anastasiya Vertinskaya, atriz de cinema famosa pelas versões russas de ‘Hamlet’ e ‘Guerra e paz’) encontra um velho mago que diz a ela que em breve se encontrará com um príncipe, com quem vai viver. Esse príncipe virá em um barco de velas escarlates. Enquanto ela aguarda, o jovem marinheiro Arthur (Vasiliy Lanovoy), filho de um nobre cruel apartado do pai, chega no vilarejo em seu navio mercante, apaixonando-se por Assol. Aventura, romance, humor não faltam nessa preciosidade soviética, um filme com cara de ‘Sessão da Tarde’. O diretor é Aleksandr Ptushko (1900-1973), de ‘A lenda do rei Saltan’ (1967). Disponível no canal CPC-Umes no Youtube.



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