Um estranho no lago
É o quarto filme do diretor depois de médias e curtas-metragens, talvez um dos mais sofisticados e especiais dele, com uma história particular do cineasta – na juventude diz ter frequentado um lago de pegação gay na França, e parte dos personagens são inspirados em gente que ele teve contato. Atenção para duas cenas de sexo explícito, bem ousadas, que são provocadoras.
Gravado na Garganta de Verdon, uma região de desfiladeiros, ilhas e cortada pelo rio Verdon, no sudeste da França, local cenograficamente belo, com imagens paradisíacas. Não há trilha sonora alguma, só ouvimos sons de vento e riachos, que foram captados nesse ambiente aberto, o que torna o filme ainda mais misterioso. Tem um final-surpresa e ao mesmo tempo ambíguo.
Dois meses atrás, o novo filme do diretor entrou nos cinemas, ‘Misericórdia’ (2024), comédia dramática com humor negro indicada ao Queer Palm, também com personagens gays e trama ousada – aliás, em seus filmes há sempre gays e momentos inusitados de sexo, como fez em ‘Na vertical’ (2016). Disponível em bluray pela Imovision, com extras no disco, dentre eles um final alternativo - um desfecho mais redondo e menos simbólico que o original. Também está na plataforma online Reserva Imovision.
O
Babadook
Enlutada pela morte do marido, Amelia (Essie Davis) cuida sozinha do
filho pequeno, Samuel (Noah Wiseman). Ela tem depressão, e seu comportamento
começa a ser autodestrutivo. Certo dia, aparece em sua casa um livro infantil
chamado ‘Sr. Babadook’, e todas as noites ela lê as histórias para Samuel dormir.
O garoto fica fissurado pela leitura, só que a mãe percebe que o livro está
afetando negativamente o garoto. Até que a misteriosa criatura da obra
literária se manifesta como uma entidade maligna, colocando em risco a
integridade de Amelia e Samuel.
Apontado, pela crítica e pelo público, como um dos filmes de terror mais
assustadores daquele ano, 2014, ‘O Babadook’ é uma fita tensa, de dar arrepios
na espinha, fugindo do óbvio e do explícito. As coisas são subentendidas, é um
filme de atmosfera, com presente clima de angústia e medo, que torna o longa um
terror psicológico de primeira linha. Com um ar de filme de arte/cult, tem
elementos aproveitados de grandes clássicos do horror, como ‘O iluminado’ (quanto
ao enlouquecimento da mãe que aprisiona o filho em casa) e ainda obras do
Expressionismo Alemão – em especial ‘O gabinete do Dr. Caligari’ (1920), nas
sombras, no adorno e no preto-e-branco da concepção de Babadook. Há poucos, mas
eficientes jumpscares, que fazem o coração pular fora do peito.
É um projeto pessoal da diretora australiana Jennifer Kent, que nasceu quase dez anos antes, com o curta-metragem ‘Monstro’ (2005), sobre uma mãe que luta para proteger o filho após um monstro aparecer no armário. Com esse mote original em mãos, Jennifer redimensionou a história para o longa-metragem, apresentando uma mãe viúva e depressiva, que perdeu o marido num acidente de carro. Ela cuida do filho pequeno, de seis anos de idade. Para distrair o menino, começa a ler com ele um estranho livro que encontra na casa onde vivem. É a história de Babadook, uma criatura de chapéu preto e dentes afiados, como se fosse o bicho-papão, que dá lições e faz sutis ameaças. Porém, Babadook não fica só nas páginas – ele sai do livro como uma entidade diabólica, ameaçando mãe e filho.
Não é um terror sangrento, violento, nada disso; aliás, não é só terror: é um aflitivo drama íntimo, de uma mãe que rejeita o filho, faz torturas psicológicas com ele, como forma de culpá-lo pela morte do esposo - ela estava grávida, a caminho do hospital para dar à luz, quando houve o acidente que vitimou fatalmente o marido. Ou seja, o terror é o da vida real também, do luto, da paranoia, da depressão pós-parto.
É um projeto pessoal da diretora australiana Jennifer Kent, que nasceu quase dez anos antes, com o curta-metragem ‘Monstro’ (2005), sobre uma mãe que luta para proteger o filho após um monstro aparecer no armário. Com esse mote original em mãos, Jennifer redimensionou a história para o longa-metragem, apresentando uma mãe viúva e depressiva, que perdeu o marido num acidente de carro. Ela cuida do filho pequeno, de seis anos de idade. Para distrair o menino, começa a ler com ele um estranho livro que encontra na casa onde vivem. É a história de Babadook, uma criatura de chapéu preto e dentes afiados, como se fosse o bicho-papão, que dá lições e faz sutis ameaças. Porém, Babadook não fica só nas páginas – ele sai do livro como uma entidade diabólica, ameaçando mãe e filho.
Não é um terror sangrento, violento, nada disso; aliás, não é só terror: é um aflitivo drama íntimo, de uma mãe que rejeita o filho, faz torturas psicológicas com ele, como forma de culpá-lo pela morte do esposo - ela estava grávida, a caminho do hospital para dar à luz, quando houve o acidente que vitimou fatalmente o marido. Ou seja, o terror é o da vida real também, do luto, da paranoia, da depressão pós-parto.
Um filme com apenas dois atores em cena, mãe e filho, muito bem interpretados, respectivamente, por Essie Davis, atriz australiana de ‘A verdadeira história de Ned Kelly’ (2019), casada com o diretor Justin Kurzel, e Noah Wiseman, que só fez participações em séries. E preste atenção, ainda mais no final, que é simbólico e trata dos nossos monstros interiores.
Estilizado, cheio de enquadramentos diferentes e uma fotografia formidável, tornou-se cultuado ao longo dos anos. Ganhou prêmios em muitos festivais, foi exibido em Sundance, vitrine do cinema independente, ficou por muito tempo no catálogo da Netflix e recentemente saiu numa luxuosa edição em bluray pela Versátil Home Video – em luva reforçada, com livreto e mais de 1h30 de extras.
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