Milton Bituca Nascimento
Monstro sagrado da MPB,
Milton Nascimento anunciou a aposentadoria em 2022, ao completar 80 anos de idade
e 60 de carreira. O documentário ‘Milton Bituca Nascimento’ nasce dessa
declaração de pausa dos palcos, pois acompanha a última turnê mundial do
consagrado cantor e compositor, mente por trás de clássicos emocionantes como ‘Canção
da América’, ‘Cais’, ‘Maria, Maria’, ‘Travessia’ e ‘Coração de estudante’. Entre
2022 e 2023, Nascimento, apelidado de ‘Bituca’, percorreu países como
Inglaterra, Estados Unidos e Itália para um show de despedida, além do Brasil. Enquanto
há os preparativos para receber o numeroso público, ele, dos quartos de hotéis,
andando pelas ruas e dentro do carro conta sobre a longa jornada musical que o
trouxe até aqui. Nascimento abre as páginas de sua vida, relembra o passado na
época de garoto, a formação do Clube da Esquina em Minas Gerais e o sucesso de
suas canções nas vozes dele, de Elis, de Simone e de tantos intérpretes. Amigos
como Caetano Veloso, Simone, Ronaldo Bastos, Gilberto Gil, Djamila Ribeiro, João
Bosco e os irmãos Lô e Márcio Borges homenageiam o artista com depoimentos
precisos, tentando responder como Milton representa um Brasil profundo com sua
voz potente e composições singulares. Nomes internacionais aparecem na tela,
como Quincy Jones, Spike Lee e Paul Simon – ao todo são 40 entrevistados. Eu,
como fã de Milton, curti e me emocionei – além de uma bela narrativa, a parte
técnica do longa é excepcional, incluindo montagem, fotografia e as letras dos
créditos. Exibido na 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes, o documentário é uma
produção do Canal Azul, Gullane, Nascimento Música e Claro em associação com
Why? Stories Matter, Vital Studios e MoonSailor. Está em exibição nos principais
cinemas pela Gullane+.
Tempo suspenso
Exibido no Festival de
Berlim de 2024, o último trabalho do diretor e roteirista francês Olivier
Assayas é mais um exercício do cineasta para tratar de um tema caro em sua
obra: as complexidades amorosas. É uma comédia dramática cujo contexto é a
pandemia da Covid- 19. Em
abril de 2020, no lockdown na França, dois irmãos se isolam na casa de campo da
família, um lugar afastado de qualquer traço social. No meio de bosques e
riachos, Etienne (Micha Lescot), diretor de cinema, e Paul (Vincent Macaigne), um
jornalista musical, curtem o momento ao lado de suas namoradas. Os dois pensam
diferente, têm comportamentos opostos e trancafiados na mesma casa, estranham-se.
Os conflitos surgem entre eles e respingam nas namoradas, enquanto o mundo está
paralisado na quarentena por causa do terrível vírus. É um filme autoral e com
traços autobiográficos, do isolamento do diretor durante a pandemia. Ao
assistir ao filme no Festival do Rio de 2024, lembrei-me de dois longas
anteriores de Assayas, ‘Horas de verão’ (2008) e ‘Vidas duplas’ (2018), e eles
parecem formar uma interessante trilogia, pelas histórias entrelaçadas de um
grupo de personagens distintos e aspectos experimentais. Assayas é um diretor
de altos e baixos, carrega na filmografia fitas boas e alguns desastres, no
entanto ‘Tempo suspenso’ é um de seus melhores trabalhos. Um filme de puro diálogo,
com momentos ternos e outros engraçados, voltado para um público cinéfilo que
segue fitas cult. Está em exibição nos cinemas das principais capitais
brasileiras pela Zeta Filmes.
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