terça-feira, 18 de março de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas e no streaming – Parte 2

 

Máquina do tempo (2022)

 

Uma das estreias mais originais dessa temporada, apesar de ser um filme de 2022, que chega somente agora no Brasil. E que exige uma atenção redobrada do público, pelas idas e vindas da história que não segue cronologia e mescla aspectos reais da História mundial com ficção.
É uma ficção científica com uma estética envelhecida, de filmes riscados e enquadramento de Super8, uma composição estranha e desalinhavada de propósito, que não se importa com diegese e questões de primor técnico. O filme é um found-footage, ou seja, ‘uma fita real encontrada’ – que lógico, é uma brincadeira, igual ‘A bruxa de Blair’, ‘Cloverfield’ e outros. Na abertura nos é contado que em 1941 encontraram fitas gravadas de um pequeno grupo de mulheres inglesas cientistas que, em meio à Segunda Guerra Mundial, inventaram uma máquina do tempo capaz de ‘enxergar’ acontecimentos que virão. Duas irmãs, Thomasina e Martha, dentro de um laboratório, criaram esse equipamento luminoso que capta ondas de rádio e TV vindas de uma outra época, no caso, o futuro. Pelas imagens da máquina, elas veem transformações culturais e políticas das décadas de 60 e 70, como a contracultura, o movimento punk, Kennedy discursando, Muhammad Ali no ringue etc. No entanto, durante a pesquisa, também descobrem que LOLA - nome dado ao invento em homenagem à mãe delas, pode alterar os fatos do tempo presente, ou seja, vira uma arma de inteligência capaz de dar um novo rumo para a devastadora guerra, principalmente pôr um fim à ocupação nazista. Inteligente e até complexo com inúmeras informações históricas, o filme tem uma estética de pura inventividade – utilizaram câmeras e lentes de filmadoras dos anos 30 e 40 para capturar cenas atuais em preto-e-branco, misturaram cenas de arquivo da Segunda Guerra na Europa, riscaram os negativos riscados para dar um tom de arcaico, e nunca sabemos se o que vemos é real ou não. Num dado momento ouvimos David Bowie e a banda The Kinks cantando, depois Kennedy, Churchill e Hitler e por aí vai.
Coprodução Irlanda/Reino Unido, tem no elenco Stefanie Martini, de ‘A casa torta’ (2017), e Emma Appleton, de ‘A última carta de amor’ (2021). Andrew Legge estreia na direção, com roteiro dele e de Angeli Macfarlane. Exibido no Festival de Locarno. Nos cinemas pela Pandora Filmes.

 


 

Amizade (2023)

 

Novo documentário autoral do cineasta mineiro Cao Guimarães, que volta às origens de seu ‘road cinema’ com traços biográficos e que fecha uma quadrilogia ao lado de ‘Rua de mão dupla’ (2004), ‘Acidente’ (2007) e ‘Andarilho’ (2007). Nesses três filmes ele percorre cidades distantes, cruza com pessoas diferentes, reflete sobre a existência e seu lugar no mundo. Em ‘Amizade’, que acaba de chegar aos cinemas brasileiros pela Embaúba Filmes, Cao parte da mesma proposta: dirige seu carro de Belo Horizonte a Montevideu, percorrendo 2500 quilômetros de estrada durante três dias. Na viagem, o velho amigo Beto Magalhaes, produtor de seus filmes, o acompanha. Uma câmera dentro do veículo grava conversas e pensamentos dos dois acerca de diversos assuntos, desde a rotina até política e o que esperam do futuro. Enquanto dialogam e a viagem acontece, um vasto arquivo pessoal de Cao, com fitas caseiras em super8 e 16mm, bem como arquivos de áudio de fita cassete, mensagens de secretária eletrônica, lives durante a pandemia e trechos de seus longas e curtas-metragens, costuram as conversas para pontuar a relação dele com amigos íntimos. É uma reflexão sobre a amizade a partir de memórias e imagens do passado. Segundo Cao, “Decidi fazer um filme com meu arquivo pessoal. E dentre os vários temas que surgiam ao revisitar essas imagens, escolhi a amizade. Porque, para mim, a amizade sempre foi o exercício por excelência da alteridade e, além disso, também é, como o cinema, uma escultura no tempo”. Realmente o diretor mudou-se de BH para a capital uruguaia, em 2023, quando gravou o filme, que mistura real e imaginário, o que costumeiramente faz em seus trabalhos há 30 anos. ‘Amizade’ é mais uma obra autoral e diferenciada de Cao que abre possibilidades para novas linguagens do cinema a partir de imagens híbridas, da fusão de passado e presente. Exibido no Festival de Amsterdã, o filme sai agora nos cinemas.

 


 

A versão de Anita (2023)

 

Docudrama italiano que reinventa/reimagina a luta revolucionária da camponesa Anita Garibaldi (1821-1849) durante o Risorgimento (unificação da Itália ocorrido da metade para o final do século XIX). O filme traz duas Anitas em perspectivas diferentes – aquela da História tradicional, a brasileira nascida em Laguna (SC), que se casou com o líder Giuseppe Garibaldi e virou a ‘Heroína dos Dois Mundos’, e uma no tempo presente, como se estivesse viva, dando entrevistas em podcasts, recontando sua trajetória e tentando compreender o mundo de hoje. O longa perambula por esses dois tempos e lugares, reunindo depoimentos de historiadores e pesquisadores italianos e brasileiros que narram curiosidades da trajetória de Anita na unificação italiana. Enquanto isso, uma atriz (Flaminia Cuzzoli) interpreta a Anita nos dois momentos, a real e a imaginada – a do tempo presente reescreve sua História de um ponto de vista feminino, sem interferência de homens narrando por ela. Combina, portanto, ficção e documentário, como uma nova versão de seus feitos.
Gravado em cidades italianas como Nápoles, e brasileiras como Laguna e Porto Alegre, o filme sai em comemoração aos 150 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul. Enxuto, com 88 minutos, recebeu prêmios no Festival de Cinema de Punta del Este e foi exibido nos Festivais de Trieste, na Itália, e Fort Lauderdale, nos EUA. Coprodução Land Comunicazione, da Itália, com a brasileira Zapata Filmes, está em exibição em diversos cinemas brasileiros, como Porto Alegre, em Laguna/SC, cidade natal de Anita, e em São Paulo – em breve entrará em outras praças. Distribuição de Latinópolis e Zapata Filmes.

 


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