Especial ‘Gene
Hackman’
Havaí
Sem rumo no espaço
Tudo em família
Filmes para relembrar a
carreira do premiado ator Gene Hackman, que faleceu essa semana aos 95 anos. Disponíveis
em DVD.
Havaí
No início do século XIX,
o missionário Abner Hale (Max Von Sydow) e a esposa Jerusha Bromley (Julie
Andrews) viajam ao Havaí para se aproximar dos nativos e cristianizá-los. Com o
passar dos dias, enfrentarão resistência daquela comunidade, que não aceita
imposições do povo branco. A ida do casal até a ilha terminará em uma tragédia.
Um épico dos anos 60 que
custou caro para os padrões de cinema da época e hoje caiu no esquecimento, estrelado
pelo sueco Max Von Sydow, que vinha dos filmes de Ingmar Bergman, e aqui seria
seu terceiro trabalho nos Estados Unidos – antes ele interpretou Jesus Cristo em
‘A maior História de todos os tempos’ (1965), e Julie Andrews, logo após os
sucessos de ‘Mary Poppins’ (1964) e ‘A noviça rebelde’ (1965). É um drama sobre
choque cultural, com uma bonita fotografia e longuíssima duração, baseado no
livro homônimo de James A. Michener, escritor conhecido pelas sagas em
territórios exóticos – é dele outro livro famoso que virou filme oscarizado,
‘Sayonara’ (1957), com Marlon Brando. A história se passa em 1820, no Havaí, um
arquipélago isolado do Pacífico, habitado por nativos descentes de polinésios,
140 anos antes de se tornar um estado americano. Chega ao território um
missionário religioso com a esposa, para catequizar aquele povo. O casal, distante
de sua terra natal e deslumbrado pelos rituais ali praticados, encontrará
dificuldades em seguir a missão. Juntos deles estarão um capitão da Marinha, Rafer
Hoxworth (Richard Harris), que com o tempo iniciará conflitos com o casal, e um
médico bondoso, Dr. John Whipple (Gene Hackman). Apesar das diferenças, o
reverendo e a esposa conseguem uma aproximação dos nativos por meio da
chefe-maior do reino do Havaí, Malama Kanakoa, chamada de ‘Ali-i Nui’ (Jocelyne
LaGarde), uma espécie de rainha, tratada com toda pompa pelos súditos. Com o
passar das semanas, uma crise inesperada irrompe entre os nativos e os brancos.
O filme recebeu sete
indicações ao Oscar: melhor atriz coadjuvante (para a polinésia Jocelyne
LaGarde, que só fez esse filme e nunca mais atuou, e pelo trabalho ganhou o
Globo de Ouro), fotografia, figurino, som, efeitos especiais, canção e trilha (muito
boa, de Elmer Bernstein, que também ganhou o Globo de Ouro). O missionário,
interpretado por Sydow (que concorreu ao Globo de Ouro), foi inspirado no
verdadeiro reverendo Hiram Bingham (1789-1869), um protestante norte-americano que
liderou expedições ao Havaí para levar o cristianismo para a ilha e lá viveu 20
anos com a esposa.
O roteiro é de Dalton
Trumbo, perseguido pelo Macarthismo, que o escreveu ao lado de Daniel Taradash,
e a direção é de George Roy Hill, que depois faria dois clássicos
contemporâneos, ‘Butch Cassidy’ (1969) e ‘Golpe de mestre’ (1973). Rodado em
boa parte no Havaí, o drama teve uma continuação bem inferior em 1970, ‘O
senhor das ilhas’, com foco no capitão da Marinha Raper Hoxworth, neste
interpretado por Charlton Heston – o ator tinha sido escalado para o anterior,
mas foi substituído por Richard Harris.
Curiosidade: Bette
Midler, natural da capital do Havaí, Honolulu, estreava aqui, aos 20 anos, como
figurante, numa cena de segundos – ela é uma das passageiras que fica enjoada
no barco, no início do filme.
Há duas versões de ‘Havaí’:
a de cinema, de 189 minutos, e a versão americana com cortes, de 162 minutos,
essa disponível no Brasil em DVD pela Obras-primas do Cinema.
Havaí (Hawaii). EUA, 1966, 162 minutos.
Drama. Colorido. Dirigido por George Roy Hill. Distribuição: Obras-primas do
Cinema (em DVD)
Sem rumo no espaço
Uma falha no sistema de
propulsão de uma nave deixa três astronautas americanos (Gene Hackman, Richard
Crenna e James Franciscus) presos no espaço ao retornar para a Terra após meses
em órbita. A base espacial na Terra, comandada por um chefe linha dura (Gregory
Peck), terá pouco tempo para uma missão de resgate.
Produzido e lançado no
ano em que o homem chegou à Lua (1969), ‘Sem rumo no espaço’ é um admirável ‘filme
de sobrevivência’, que iria inspirar o cineasta mexicano Alfonso Cuarón em ‘Gravidade’
(2013). Entre os anos cruciais da Corrida Espacial,
em plena Guerra Fria, de 1960 a 1973, muitos filmes americanos e soviéticos se
debruçavam no tema, com aventuras mirabolantes no espaço sideral. Esse aqui é
um exemplar digno do gênero e que reconstitui bem os avanços tecnológicos da
época. Na história, três astronautas ficam presos na nave enquanto retornam para
a Terra de uma missão espacial. O oxigênio fica rarefeito, eles começam a enlouquecer
e entram em conflito. Na base espacial terrestre, um grupo de cientistas corre
contra o tempo para uma missão de resgate; resolvem lançar um outro astronauta para
buscar o trio perdido (em inglês, o título do filme, ‘Marooned’, significa
‘Abandonados’).
Baseado no livro de Martin
Caidin, o longa traz aventura com drama e ficção científica, tudo misturado de
uma maneira coerente e empolgante para quem se identifica com histórias como
essa. Traz um elencão de premiados do cinema, como Gregory Peck, Richard
Crenna, Gene Hackman, Lee Grant, David Janssen, James Franciscus e George
Gaynes.
Ganhou o Oscar de melhor
efeitos visuais, ainda indicado nas categorias de fotografia e som. Originalmente
da Columbia Pictures, o filme foi rodado em grande parte no verdadeiro Cabo
Canaveral, na Flórida, onde a Nasa lança seus foguetes. Quem dirige é o nome
forte do cinema western e ação John Sturges, de ‘Sem lei e sem alma’ (1957), ‘Sete
homens e um destino’ (1960) e ‘Fugindo do inferno’ (1963).
Há duas versões do filme
– a original de cinema, de 134 minutos, e uma com cortes, de 128 minutos, essa disponível
no Brasil. Saiu em DVD pela Classicline e também em DVD no box da Versátil ‘Clássicos
Sci-fi volume 10’, contendo mais cinco filmes, como ‘O dia em que a Terra se
incendiou’ (1961) e ‘No assombroso mundo da Lua’ (1967).
Sem rumo no espaço (Marooned). EUA, 1969, 128 minutos. Aventura/Ficção
científica. Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por John Sturges. Distribuição: Classicline
e Versátil Home Vídeo (em DVD)
Tudo em família
George Dupler (Gene
Hackman) é um executivo de meia-idade que tem uma crise de estresse no
trabalho, agride o chefe, destrói a sala dele e pede as contas. Dias depois, arruma
um novo emprego, como gerente de uma loja de departamentos. Novamente estressado,
descobre que o filho está se relacionando com uma prima distante, Cheryl
Gibbons (Barbra Streisand). Só que George acaba se apaixonando por ela também e
inicia um relacionamento escondido do filho. Quando a esposa de George, Helen (Diane
Ladd), é informada da traição do marido, uma confusão em família é instalada.
Comédia romântica
agridoce, uma típica fita das antigas ‘sessões da tarde’, com Gene Hackman muito
à vontade, brilhando em cena como sempre – essa semana o ator foi encontrado
morto, aos 95 anos, ao lado da esposa, na mansão do casal no Novo México, e a polícia
investiga o caso. É um filme leve, engraçadinho, cheio de confusões em torno de
uma família nada normal. O marido estressado trai a esposa com uma prima que
estava se relacionando com o filho dele, e quando os fatos vêm à tona, o circo é
armado! Na época, Barbra Streisand já tinha dois Oscars e estava parando de fazer
filmes para se dedicar à carreira musical – só faria mais dois na década de 80,
‘Yentl’ (1983) e ‘Querem me enlouquecer’ (1987), e cinco nas décadas seguintes.
Consta que ela recebeu o maior salário do elenco, exorbitante pra época, de U$4
milhões – ela faz um papel ingênuo e debochado, com cabelos curtos loiros, par romântico
de Hackman – e recebeu indicação ao Razzie, os piores do ano...
Com jeito de comédia slapstick
e momentos farsescos, o filme é rápido e funcional. Tem uma trilha sonora legal
de Ira Newborn em parceria com Richard Hazard, e duas participações notáveis, de
Dennis Quaid no início de carreira, com 26 anos, como o filho do protagonista, e
Annie Girardot, como uma professora de francês. Foi o único longa americano do
francês Jean-Claude Tramont (1930-1996), que fez só mais dois trabalhos em seu
país. Do roteirista W.D. Richter, que adaptou o livro ‘Invasores de corpos’
para o cinema, e depois dirigiria a amalucada comédia scifi ‘As aventuras de
Buckaroo Banzai’ (1984). Em DVD pela Classicline.
Tudo em família (All night long). EUA, 1981, 87
minutos. Comédia romântica. Colorido. Dirigido por Jean-Claude Tramont.
Distribuição: Classicline (em DVD)
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