Halloween – A noite
do terror
Halloween II – O pesadelo continua!
* Texto especial publicado na coluna 'Middia Magazine', da revista Middia, de Catanduva/SP, edição de outubro/novembro de 2024.
Michael Myers é um
psicopata que está num hospital psiquiátrico desde a infância após assassinar a
irmã. Na véspera do Halloween, ele foge de lá e retorna para Haddonfield, uma
pacata cidade de Illinois, onde morava. No Dia das Bruxas passa a atacar babás
com uma faca de cozinha, iniciando uma matança que coloca os moradores em
alerta, incluindo seu médico psiquiatra, Dr. Loomis (Donald Pleasence), e o
xerife Brackett (Charles Cyphers).
Com um orçamento discreto
de U$ 320 mil, ‘Halloween’ virou fenômeno de bilheteria no ano de seu
lançamento, em 1978, quando arrecadou mais de U$ 40 milhões, agradando crítica
e público e abrindo o caminho para o que seria o slasher movie. Distribuído em
poucas salas americanas, ao longo das semanas o filme foi sendo injetado no
circuito de cinema, com crescente burburinho, pois o feito era praticamente
inédito naquele período – um filme de terror com clima tenso, de um psicopata
mascarado que matou a própria irmã a facadas quando criança e agora, 15 anos
depois, foge do sanatório para atacar no Dia das Bruxas. Também era algo
inédito para uma fita de terror (gênero desprezado pela crítica) e ainda mais de
uma produtora independente que acabou fazendo milagre, a Compass.
‘Halloween’ virou um
ícone pop do entretenimento e ganhou uma infinidade de continuações e reboot,
além de imitações. John Carpenter, o diretor, havia feito apenas dois longas
antes, os cultuados ‘Dark star’ (1974), uma paródia de ficção científica no
espaço, e o policial com muito tiroteio ‘Assalto a 13ª. DP’ (1976) – ambas
fitas autorais que apresentam algo diferenciado na estrutura e na parte
técnica. Carpenter foi então convidado pelo diretor da Compass a fazer
‘Halloween’ – ele escreveu com Debra Hill o roteiro, que se passa na cidade
natal de Debra, Haddonfield – a verdadeira Haddonfield é em New Jersey, mas no
filme se passa em Illinois, ou seja, uma cidade fictícia e bem pacata.
Trouxe para o elenco a
novata Jamie Lee Curtis, filha de dois famosos, Tony Curtis e Janet Leigh, que
aqui ganhou o apelido de ‘Scream queen’, a ‘Rainha do grito’, pois passou a
atuar em diversos filmes de terror em que a plateia vibrava de medo. Ela
voltaria outras vezes no papel principal, de Laurie Strode, uma universitária
que trabalha como babá e vira alvo de Michael Myers. Também foi um up na
carreira do veterano ator inglês Donald Pleasence, conhecido por fitas de ação
e guerra nos anos 60 - papel anteriormente cotado para Peter Cushing e Christopher
Lee, e Pleasence voltaria nas próximas quatro continuações.
O roteiro tenso da dupla
Carpenter/Debra, o bom trabalho de Jamie e Donald e a trilha assustadora e
marcante, feita no piano pelo próprio Carpenter (que era músico e arranjador),
fizeram do filme um exemplar memorável que atravessaria gerações. Isso tudo
aliado a cenas marcantes – o plano-sequência inicial, bem longo, do menino
colocando a máscara, em primeira pessoa, e matando a irmã a facadas; a abertura
com a sinistra abóbora do Halloween; as aparições repentinas de Myers com
máscara branca no canto da tela; a perseguição a Laurie Strode pelos cômodos da
antiga casa e dentro do armário; e o desfecho perturbador depois dos tiros
contra Myers no piso superior do sobrado.
Sinistra também é a
máscara de Myers, que surgiu dois anos antes de outro psicopata mascarado
famoso, Jason - a máscara dele é inspirada no rosto do ator William Shatner, o
capitão Kirk de ‘Star Trek’, pintada de branco, pálida e sem emoção.
Foi a primeira parceria,
de um longo período, de Carpenter com o fotógrafo Dean Cundey – juntos fizeram quatro
longas, como ‘A bruma assassina’ (1980) e ‘O enigma de outro mundo’ (1982), e
depois Cundey faria sucessos como a trilogia ‘De volta para o futuro’ (1985,
1989 e 1990), ‘Jurassic Park’ (1993) e seria indicado ao Oscar por ‘Uma cilada
para Roger Rabbit’ (1989).
Sou fã de ‘Halloween’ e
não canso de rever. E quem quiser reassistir, o filme foi lançado em bluray
pela Obras-primas do Cinema em 2020 numa caixa especial em três discos, com
ótima qualidade de som e imagem; no primeiro disco em BD vem ‘Halloween’; no
segundo, também em BD, vem a boa continuação, ‘Halloween II – O pesadelo
continua!’ (1981), cuja história se passa na mesma noite do primeiro e tem
Jamie Lee Curtis e Donald Pleasence no elenco; e no terceiro disco, um DVD, vem
os dois filmes nas versões estendidas para a TV americana, no formato de tela
para TV, em fullscreen, tendo ‘Halloween’ 10 minutos a mais (101 minutos), e a
continuação, com segundos a menos, onde cortaram as cenas de violência explícita,
como a morte do guarda com o martelo na cabeça, que não aparece, e a da mulher
na banheira hidroterápica, cujo assassinato demorava quase um minuto. Nos
extras da caixa, quatro horas de materiais especiais, tudo em digipack com
luva, cards, livreto de 30 páginas e pôsteres de cada filme. Foram produzidos
apenas dois mil exemplares do box, devidamente numerados, e hoje esgotado no
mercado.
Halloween – A noite
do terror (Halloween).
EUA, 1978, 91 minutos. Terror.
Colorido. Dirigido por John Carpenter. Distribuição: Obras-primas do Cinema
Halloween II – O pesadelo continua!
O psicopata mascarado
Michael Myers continua à solta, mesmo baleado pelo seu médico psiquiatra que
estava em seu encalço, Dr. Loomis (Donald Pleasence). Pela madrugada afora,
durante o Halloween em Haddonfield, a polícia se mobiliza para encontrar Myers,
enquanto Laurie Strode (Jamie Lee Curtis), a única sobrevivente de uma matança
horas antes, é internada no hospital local. Myers deixará um rastro de sangue
pelo caminho.
Estonteante continuação do
clássico inimitável de John Carpenter que fez escola abrindo o subgênero
slasher no cinema americano. Desse icônico e assustador filme com o famoso
assassino mascarado Michael Myers veio uma franquia que se consolidou e ainda
hoje fazem filmes dele – são ao todo 13 filmes, se minha memória não falha. No anterior,
Myers foi baleado pelo seu médico psiquiatra na noite de Halloween; só que o
assassino escapa e passa a perseguir novas vítimas pela madrugada afora,
incluindo Laurie, que está ferida e em estado de choque no hospital – e que
nesse capítulo descobrimos que ela é irmã de Myers. Essa parte 2 é tão
arrepiante quanto o filme original, ainda com mais violência, sangue e mortes
brutais. A história segue a mesma noite e a madrugada do primeiro filme, e
aqui, mesmo sem a direção de Carpenter, a tensão cresce e há todo um clima
diabólico no ar - Carpenter ajudou o diretor Rick Rosenthal a dirigir, o
veterano produtor Dino De Laurentiis assumiu o controle da produção e passou
para a Universal distribuir nos cinemas, fazendo certo sucesso nas salas.
Tudo ocorre no hospital,
com puro clima de tensão e medo, enquanto o primeiro se passava na antiga casa
de Myers. Retornam as figuras centrais do elenco original, Donald Pleasence,
como o médico, Jamie Lee Curtis, como a irmã de Myers, e o recém-falecido
Charles Cyphers, o policial Brackett – na franquia, os três alternariam os
filmes e voltariam em outros capítulos da cinessérie.
Feito no ano-chave dos
slasher movies, 1981, quando saíram do forno cerca de 30 filmes de terror e
consolidaria o subgênero – alguns deles foram “Sexta-feira 13 - Parte 2” (de
Steve Miner), “Chamas da morte” (de Tony Maylam – também conhecido como “A
vingança de Cropsy”), “Feliz aniversário para mim” (de J. Lee Thompson), “Noite
infernal” (de Tom DeSimone), “Aniversário sangrento” (de Ed Hunt), “A hora das
sombras” (de Jimmy Huston), “Pouco antes do amanhecer” (de Jeff Lieberman),
“Escola noturna” (de Ken Hughes), “Olhos assassinos” (de Ken Wiederhorn) e “Dia
dos Namorados macabro” (de George Mihalka).
Sempre considerei
‘Halloween 2’ uma das melhores continuações de filme de terror, e por mim a
franquia poderia ter parado aqui – no ano seguinte veio ‘Halloween III: A noite
das bruxas’ (1982), que não tinha nada a ver com a série – um caso estranho e
até hoje incompreendido; em seguida Myers voltaria em ‘Halloween 4: O retorno
de Michael Myers’ (1988), ainda um filme ok, depois ‘Halloween 5: A vingança de
Michael Myers’ (1989) e não pararia mais... Isso porque a série de filmes foi
várias vezes ‘restartada’, como em ‘Halloween H20: Vinte Anos Depois’ (1998),
quando a proposta foi ‘cancelar todos os anteriores’ e o novo filme seria a
continuação direta do original de 1978. Recentemente o diretor norte-americano David
Gordon Green fez uma trilogia, que começa bem e vai ficando agressivo, perverso
e com extrema violência gratuita, ‘Halloween’ (2018), ‘Halloween Kills: O terror continua’
(2021) e ‘Halloween ends’ (2022), que marcaria o retorno de Jamie Lee Curtis e
Charles Cyphers.
A memorável trilha
sonora principal escrita por John Carpenter permanece, e na abertura, agora, a
abóbora de Halloween racha e dela surge uma sinistra caveira, como na capa
original do filme. Por falar em música, no desfecho, nos créditos, tem a
canção-tema que muita gente acha que é do primeiro filme, ‘Mr. Sandman’,
gravada nos anos 50 pelo quarteto feminino The Chordettes.
Sou fã de ‘Halloween’ e
não canso de assistir de novo. E quem quiser reassistir, os filme 1 e 2 foram
lançados em bluray pela Obras-primas do Cinema em 2020 numa caixa especial em
três discos, com ótima qualidade de som e imagem. Disponível para aluguel em
streamings como Prime e AppleTV.
Halloween II – O
pesadelo continua! (Halloween
II). EUA, 1981, 92 minutos. Terror.
Colorido. Dirigido por Rick Rosenthal. Distribuição: Obras-primas do Cinema
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