quarta-feira, 5 de junho de 2019

Sessão Documentários



Ouvindo imagens

Dentro de um taxi chamado “Auto PSi” que perambula as ruas de São Paulo, passageiros contam histórias a partir de imagens que são mostradas a eles (mas que nunca vemos).

Exibido no Festival “É Tudo Verdade” e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2006, o documentário teve início com uma intervenção urbana de Fabiana de Barros (artista suíça de origem brasileira, filha do multiartista Geraldo de Barros, grande expoente da arte moderna), realizada em 2003 na cidade de São Paulo dentro da programação da Mostra Sesc de Artes – Latinidades. O título da intervenção era “Auto PSi”, com um taxi que pegava pessoas pelas ruas, e como pagamento da corrida o indivíduo tinha de contar uma história tendo como base imagens extraídas de testes psicológicos, adaptadas do Teste de Apercepção Temática (TAT) do Dr. Henry Murray (entre 1935 e 1943 este médico catalogou imagens responsáveis por ativar a fabulação de seus pacientes). Daí nascia este filme repleto de signos urbanos sobre a metrópole de São Paulo. São histórias singelas de pessoas comuns e de gente conhecida - como o cantor Paulo Ricardo e o falecido cineasta Hector Babenco, intercalando cenas de dentro do taxi com gravações de fora dele, de uma São Paulo em movimento, das ruas congestionadas, de gente lotando as calçadas e de prédios imensos, ou seja, um resumo da feroz selva de pedra e seus extensos problemas.
Nós, telespectadores, nunca vemos as imagens, somente ouvimos os passageiros do taxi narrando as histórias, o que faz com que criemos imagens mentais. Por isto o doc é sinestésico, simbólico e muitíssimo pessoal, feito de forma rara por um diretor suíço, Michel Favre.
Saiu em DVD pelo Selo Sesc, com um livreto em três línguas - português, francês e inglês. Uma preciosidade para sua coleção!

Ouvindo imagens (L'image à paroles). Brasil/Suíça, 2006, 90 min. Colorido/Preto-e-branco. Documentário. Dirigido por Michel Favre. Distribuição: Universal: Selo Sesc


Eduardo Coutinho, 7 de outubro

O documentarista brasileiro Eduardo Coutinho é entrevistado por outro diretor de documentários, Carlos Nader, em que fala sobre seus filmes e sua forma única de contar histórias.

Meses antes de ser assassinado pelo próprio filho, o premiado documentarista brasileiro Eduardo Coutinho (1933-2014) participou das primeiras gravações de uma série de cinco entrevistas para o SESCTV, que infelizmente, com a tragédia, não foram concluídas. No entanto, o diretor responsável pelo projeto, Carlos Nader (de “Homem comum”), não abandonou o material, e sim editou uma das entrevistas e lançou-a neste ótimo doc, essencial aos amantes do cinema documental.
Uma tarde, numa única locação, Nader senta-se à frente de Coutinho, enquadrado em diferentes ângulos, porém sempre presente em cena. É uma inversão do jogo coutiniano, do diretor que sempre entrevistou agora sob a mira como o personagem principal, num filme-homenagem onde ele discute a diferença entre ficção e documentário, discorrendo sobre seu processo de criação ímpar, recordando histórias marcantes de personagens dos seus documentários de maior impacto, como “Babilônia 2000” (1999), “Santo forte” (1999), “Edifício Master” (2002) e “Jogo de cena” (2007). Nader recorre à fonte básica de ângulos do cinema de Coutinho: câmera frontal no rosto do entrevistado, que está à vontade para falar de tudo, às vezes o entrevistador no fundo ou intervenção de partes dele (como pés e mãos), além das perguntas que são feitas na hora, sempre aparecendo na gravação.


Coutinho era um mestre na direção, na montagem, na forma de contar histórias simples de vida. Ele tinha uma frase que seguia como matéria-prima na hora de produzir os filmes: “O ser humano tem necessidade de ser ouvido, para assim ser legitimado”. Infelizmente sua trajetória interrompeu-se de forma triste; foi assassinado a facadas aos 80 anos, dentro de casa pelo filho, deixando um legado para a cinematografia do doc brasileiro. E um lema a ser seguido por quem produz cinema:
O filme saiu em DVD pelo Selo Sesc, com um livreto especial.

Eduardo Coutinho, 7 de outubro (Idem). Brasil, 2013, 72 min. Colorido. Documentário. Dirigido por Carlos Nader. Distribuição: Universal: Selo Sesc

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