Ouvindo imagens
Dentro
de um taxi chamado “Auto PSi” que perambula as ruas de São Paulo, passageiros
contam histórias a partir de imagens que são mostradas a eles (mas que nunca
vemos).
Exibido
no Festival “É Tudo Verdade” e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo,
em 2006, o documentário teve início com uma intervenção urbana de Fabiana de
Barros (artista suíça de origem brasileira, filha do multiartista Geraldo de
Barros, grande expoente da arte moderna), realizada em 2003 na cidade de São
Paulo dentro da programação da Mostra Sesc de Artes – Latinidades. O título da
intervenção era “Auto PSi”, com um taxi que pegava pessoas pelas ruas, e como
pagamento da corrida o indivíduo tinha de contar uma história tendo como base
imagens extraídas de testes psicológicos, adaptadas do Teste de Apercepção
Temática (TAT) do Dr. Henry Murray (entre 1935 e 1943 este médico catalogou
imagens responsáveis por ativar a fabulação de seus pacientes). Daí nascia este
filme repleto de signos urbanos sobre a metrópole de São Paulo. São histórias
singelas de pessoas comuns e de gente conhecida - como o cantor Paulo Ricardo e
o falecido cineasta Hector Babenco, intercalando cenas de dentro do taxi com gravações
de fora dele, de uma São Paulo em movimento, das ruas congestionadas, de gente
lotando as calçadas e de prédios imensos, ou seja, um resumo da feroz selva de
pedra e seus extensos problemas.
Nós,
telespectadores, nunca vemos as imagens, somente ouvimos os passageiros do taxi
narrando as histórias, o que faz com que criemos imagens mentais. Por isto o
doc é sinestésico, simbólico e muitíssimo pessoal, feito de forma rara por um
diretor suíço, Michel Favre.
Saiu
em DVD pelo Selo Sesc, com um livreto em três línguas - português, francês e
inglês. Uma preciosidade para sua coleção!
Ouvindo imagens (L'image à paroles). Brasil/Suíça, 2006,
90 min. Colorido/Preto-e-branco. Documentário. Dirigido por Michel Favre.
Distribuição: Universal: Selo Sesc
Eduardo Coutinho, 7 de outubro
O documentarista
brasileiro Eduardo Coutinho é entrevistado por outro diretor de documentários,
Carlos Nader, em que fala sobre seus filmes e sua forma única de contar
histórias.
Meses
antes de ser assassinado pelo próprio filho, o premiado documentarista
brasileiro Eduardo Coutinho (1933-2014) participou das primeiras gravações de
uma série de cinco entrevistas para o SESCTV, que infelizmente, com a tragédia,
não foram concluídas. No entanto, o diretor responsável pelo projeto, Carlos
Nader (de “Homem comum”), não abandonou o material, e sim editou uma das
entrevistas e lançou-a neste ótimo doc, essencial aos amantes do cinema
documental.
Uma
tarde, numa única locação, Nader senta-se à frente de Coutinho, enquadrado em
diferentes ângulos, porém sempre presente em cena. É uma inversão do jogo coutiniano,
do diretor que sempre entrevistou agora sob a mira como o personagem principal,
num filme-homenagem onde ele discute a diferença entre ficção e documentário, discorrendo
sobre seu processo de criação ímpar, recordando histórias marcantes de personagens
dos seus documentários de maior impacto, como “Babilônia 2000” (1999), “Santo
forte” (1999), “Edifício Master” (2002) e “Jogo de cena” (2007). Nader recorre à
fonte básica de ângulos do cinema de Coutinho: câmera frontal no rosto do entrevistado,
que está à vontade para falar de tudo, às vezes o entrevistador no fundo ou intervenção
de partes dele (como pés e mãos), além das perguntas que são feitas na hora, sempre
aparecendo na gravação.
Coutinho
era um mestre na direção, na montagem, na forma de contar histórias simples de
vida. Ele tinha uma frase que seguia como matéria-prima na hora de produzir os
filmes: “O ser humano tem necessidade de ser ouvido, para assim ser legitimado”.
Infelizmente sua trajetória interrompeu-se de forma triste; foi assassinado a
facadas aos 80 anos, dentro de casa pelo filho, deixando um legado para a cinematografia
do doc brasileiro. E um lema a ser seguido por quem produz cinema:
O
filme saiu em DVD pelo Selo Sesc, com um livreto especial.
Eduardo Coutinho, 7 de outubro (Idem). Brasil, 2013, 72 min.
Colorido. Documentário. Dirigido por Carlos Nader. Distribuição: Universal:
Selo Sesc
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