Resenhas dedicadas ao jornalista, crítico de cinema e amigo Rubens Ewald Filho, falecido anteontem aos 74 anos.
Um homem comum
Um general
acusado por crimes de guerra (Ben Kingsley) é procurado pelos quatro cantos do
mundo. Ninguém sabe de seu paradeiro. Hoje, com setenta anos, vive numa cidade distante,
com outra identidade. Sua rotina muda quando desenvolve uma estranha relação
com a nova camareira, Tanja (Hera Hilmar), 40 anos mais jovem que ele. Até que a
garota fica sabendo, pelas páginas de um periódico, sobre uma grande recompensa
pela cabeça do general.
Modesto
drama de ação com um Ben Kingsley em plena forma, ele que é o eterno Gandhi do
cinema, em uma trama chamativa, que se passa na antiga Iugoslávia, exatamente
no fim do Comunismo, quando rivalidades étnicas e religiosas dividiram o povo. Explodiram,
na época, crimes contra a humanidade (torturas, estupros e assassinatos em
massa), muitos cometidos por generais, que fugiam para outros lugares do mundo
para não serem julgados. Um deles é o protagonista do filme (que não tem nome,
apenas se referem a ele como ‘general’), que vive há muito tempo com nova identidade
e fisionomia. Ele é o tal do “homem comum”, um anti-herói de alto calibre, que
no passado assassinou gente inocente, agora tenta esquecer esse período sombrio
fugindo dos atos cometidos. Sua aparência é de um cidadão do bem, com cara de
vovô cuidadoso e gosta de cozinhar. Ao mesmo tempo é sarcástico, chega a ser
desagradável, e tem plena consciência de que é procurado vivo ou morto – por isso
redobra os olhares na porta com receio de ser preso ou assassinado a qualquer
instante. Um dia chega até sua casa uma camareira jovem, atenciosa (a atriz
Hera Hilmar, de “Máquinas mortais”), disposta a ajudá-lo nos afazeres diários. Mesmo
duro com a garota, abre-se para uma aproximação, enquanto ela, que também tem
um segredo escondido, descobre que o general é um foragido, com uma grande recompensa
por trás, o que altera a relação entre os dois - e um desfecho que indica
tragédia à vista.
Prometia
ser uma fita de ação, no entanto parte para um profundo drama sobre quem
realmente somos, como o passado nos assombra, além de pincelar um pouco sobre a
amarga História da ex-Iugoslávia, na época da desintegração (1991 a 2001), que
culminou numa triste guerra civil com limpeza étnica nos Balcãs, gerando uma
onda de violência tamanha e que marcou um triste capítulo na Europa. Não é uma
aula sobre o episódio, fica num nível da menção nos créditos e no clima de
perturbação dos personagens – e mesmo assim permite relembrarmos estes horríveis
acontecimentos dos anos 90, hoje esquecidos.
Gravado
em Belgrado, capital da Sérvia (um dos seis países desmembrados da antiga
Iugoslávia), reúne um elenco de atores sérvios e uma participação do filho de
Ben, Edmund Kingsley. Escrito e dirigido por Brad Silberling, de “Cidade dos
anjos” (1998) e “Desventuras em série” (2004), que realizou “Um homem comum” com
baixo orçamento - teve pouca divulgação e ficou míseros dias em cartaz no
Brasil saindo recentemente em DVD pela Focus Filmes. Curiosidade: em 2013 saiu uma
fitinha fraca de ação com Ben Kingsley com o mesmo título, “Um homem comum”,
por isto não confunda - este de 2017 é muito melhor.
Um homem comum (An ordinary man). EUA/Sérvia, 2017,
90 min. Drama/Ação. Colorido. Dirigido por Brad Silberling. Distribuição: Focus
Filmes
Letras da morte
O
detetive Will Ruiney (Karl Urban) convida um investigador aposentado chamado
Ray Archer (Al Pacino) para ajudá-lo na caçada de um assassino em série que vem
espalhando o terror em uma cidade. O modus operandi do criminoso é o antigo jogo
da forca, em que suspende a vítima com uma corda no pescoço e inscreve em seu
corpo uma letra do alfabeto para formar no futuro uma misteriosa palavra.
Suspense
lado B cujo atrativo é a participação de Al Pacino como um detetive que sai da
aposentadoria para caçar um terrível serial killer. Quando gravou o filme,
Pacino estava com 77 anos, com disposição para correr, lutar, repetindo-se num
papel já visto centenas de vezes, do investigador linha dura (muito parecido com
o de “Fogo contra fogo”). É ajudado em cena por dois talentos, os outros dois
detetives, Karl Urban (neozelandês das franquias de cinema “O senhor dos anéis”
e “Star Trek”) e Brittany Snow (da trilogia “A escolha perfeita”), todos
inseridos numa trama complexa de investigação, com mortes violentas, e a velha
fórmula, ainda muito estimulante para fitas como essa, “quem é o assassino”.
Envolve
e tem duração rápida (98 minutos). É um passatempo de suspense com cara dos
anos 90, como aquelas exibidas no antigo Supercine. Não deseje nada além
disto...
Em
2001 houve um telefilme com trama idêntica e, pasmem, mesmo título original, “Hangman”
(aqui lançado como “O jogo da forca”, com Lou Diamond Phillips, bem inferior a
este). Opte por esta produção de 2017, dirigida por Johnny Martin, que
trabalhou como ator e teve uma sólida carreira como dublê de centenas de fitas
de ação da década de 90.
“Letras
da morte” saiu em DVD discretamente há pouco meses pela distribuidora
Flashstar, do grupo A2 Filmes.
Letras da morte (Hangman). EUA, 2017, 98 min. Ação/Suspense.
Colorido. Dirigido por Johnny Martin. Distribuição: Flashstar
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