quarta-feira, 5 de junho de 2019

Resenhas Especiais



Assassinato num dia de sol

O detetive Hercule Poirot (Peter Ustinov) viaja a uma ilha paradisíaca no Mediterrâneo para investigar o sumiço de uma pedra preciosa. Ele fica hospedado em um hotel luxuoso, frequentado por figurões. Prestes a desvendar o caso da joia, uma atriz de cinema é assassinada numa praia a poucos metros, fazendo com que Poirot abra uma nova investigação em que todos os hóspedes são suspeitos.

Elegante adaptação para o cinema de uma intrigante história policial de Agatha Christie no melhor estilo de suspense da famosa escritora britânica que conquistou milhões de leitores pelo mundo afora, até hoje a mais comentada quando o assunto é investigação. Um dos personagens clássicos do universo Christie retorna com pompa, graça e inteligência: o detetive Hercule Poirot, novamente vivido por Peter Ustinov, ganhador de dois Oscars – o ator interpretou Poirot em três longas-metragens, “Morte sobre o Nilo” (1978), este “Assassinato num dia de sol” (1982) e “Encontro marcado com a morte” (1988), e em três telefilmes na década de 80.
Repetindo o clima de mistério e o mote das histórias, há um crime sem solução aliado a uma série de suspeitos, sendo que todos eles têm um álibi. Aqui a morta é uma atriz de cinema indesejada, arrogante e chata (papel de Diana Rigg), que faz questão de maltratar os outros. Quem a matou e de que forma ocorreu o crime? Você só saberá nos minutinhos finais, e de forma surpreendente!
Como nos dois melhores filmes anteriores baseados em obras de Agatha Christie (“Assassinato no expresso Oriente” e “Morte sobre o Nilo”), o elenco secundário é um charme só, com atores e atrizes ganhadores de Oscar, Bafta e Globo de Ouro, como James Mason, Sylvia Miles, Colin Blakely, Jane Birkin e Maggie Smith. O brilhante roteiro é de Anthony Shaffer, mestre em suspenses de botar o neurônio para funcionar, como “Jogo mortal” e “Frenesi”, ambos de 1972, e a direção, de Guy Hamilton (de várias fitas policiais da franquia James Bond, como “007 contra Goldfinger”).


Saiu no box Agatha Christie, com outros três filmes inferiores: “A maldição do espelho” (1980), e os telefilmes “Um brinde mortal” (1983) e “Treze à mesa” (1985, com Ustinov como Poirot). Conta com extras (entrevistas) e cards colecionáveis.

Assassinato num dia de sol (Evil under the sun). Reino Unido, 1982, 116 min. Suspense. Colorido. Direção de Guy Hamilton. Distribuição: Obras-primas do Cinema


O mistério de Agatha

Em dezembro de 1926 a escritora britânica de histórias policiais Agatha Christie (Vanessa Redgrave) desapareceu misteriosamente após um acidente de carro. A pedido do marido, Archie (Timothy Dalton), a polícia realiza uma busca frenética por seu paradeiro, mobilizando a família, a comunidade e a imprensa. Contratado para cobrir o caso está o jornalista Wally Stanton (Dustin Hoffman), que descobre que Agatha mudou de nome e isolou-se em um resort em Yorkshire, o que o faz investigar a situação por conta própria e em total sigilo.

Um incrível suspense de investigação digno de histórias do universo de Agatha Christie, mas que em partes ocorreu de verdade com a famigerada escritora britânica. Em 1926 ela ficou desaparecida por 11 dias, depois de um acidente de carro, dando origem a uma sucessão de estranhos acontecimentos. Os fatos até hoje não foram totalmente esclarecidos, e o que temos neste filme, vale destacar, é uma mistura de ficção (incluindo um desfecho imaginado) e momentos reais do caso extraídos de uma extensa reportagem da jornalista Kathleen Tynan que originou um livro controverso.
Sabe-se que Agatha era suicida, não tinha uma boa relação com o marido, um oficial militar que depois virou magnata, e dias antes do sumiço foi abandonada por ele, por causa de uma amante. As circunstâncias do desaparecimento lembram as obras policiais da escritora, ela mesma se entregava intensamente a suas histórias fictícias e para piorar teve amnésia, não se recordando do que houve depois do acidente – situação que implicou na falta de consistência de argumentos e provas para a polícia finalizar o caso.
Não leve o filme tão a sério quanto a uma biografia de Agatha, pois não é. E sim entregue-se a um suspense de época de muitas qualidades, charmoso, cheio de mistérios e reviravoltas impressionantes.


Michael Apted, de “O destino mudou sua vida” (1980), “Mistério no parque Gorky” (1981), “Nas montanhas dos gorilas” (1988) e “Nell” (1994), dirige bem Vanessa, que mesmo não tendo a aparência da escritora, protagoniza com energia; tem Dustin Hoffman num papel de destaque, o do jornalista de intenções indefinidas, e participação de Dalton, o ex-007, em início de carreira.
Em 1980 recebeu indicação ao Oscar e ao Bafta de melhor figurino, que realmente chama a atenção. Em DVD pela Classicline.

O mistério de Agatha (Agatha). Reino Unido, 1979, 105 min. Drama/Suspense. Colorido. Dirigido por Michael Apted. Distribuição: Classicline


* Resenhas publicadas na coluna Middia Cinema, da revista Middia, edição de junho e julho de 2019

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