Santiago
* Reedição, de uma resenha publicada em 2007
Documentário
sobre as memórias do mordomo Santiago, que por 30 anos trabalhou para a família
Moreira Salles, na mansão deles na Gávea, Rio de Janeiro.
O
novo documentário do cineasta João Moreira Salles, “Santiago”, exibido na abertura
da edição desse ano do Festival “É tudo verdade”, retrata momentos do dia a dia
de um mordomo. Não um mordomo qualquer, mas um homem que trabalhou por três décadas
na residência dos pais do próprio diretor da película de não-ficção em questão.
Ou seja, uma pessoa extremamente vinculada àquele que captou as imagens para
serem transformadas em documentário.
Para
montar o filme, que demorou 15 anos para ser concluído, Moreira Salles usou-se
da técnica de manipulação do personagem central. Ele faz o que quer com seu
mordomo, e como é o diretor da fita, corta bruscamente as falas de seu objeto de
análise e edita as imagens de maneira individualista. Mostra uma forte relação,
porém ao mesmo tempo distanciada, entre Santiago (que era nascido na Argentina,
sabia falar cinco línguas e lia muito) e ele mesmo, que fica sempre atrás das
câmeras, sem nunca aparecer. Tudo numa magnífica fotografia em preto-e-branco
(do mestre Walter Carvalho).
A figura
do mordomo lembra outro personagem, que, coincidentemente, tem o mesmo nome.
Refiro-me ao pescador do livro “O velho e o mar”, best seller de Ernest Hemingway.
Os dois carregam um imenso vazio. O pescador de Hemingway, já velho e sem oportunidades
na vida que lhe resta, busca um sonho: pescar um peixe grande, ou melhor, um
peixe jamais pescado antes. O Santiago de Moreira Salles é igualmente solitário,
vive alimentando velhos sonhos, cercado de livros e manuscritos raros. E ambos,
no fim, tornam-se esquecidos, abandonados, sem oportunidade de expressar quem
realmente são.
Moreira
Salles fez um filme-ensaio único sobre solidão e memória, e antes havia
dirigido pelo menos dois grandes doc, “Notícias de uma guerra particular”
(1999) e “Nelson Freire” (2003). “Santiago” (2007) é considerado sua
obra-prima, e um dos grandes filmes brasileiros dos últimos anos. Merecidamente
recebeu indicação a prêmios nacionais e internacionais, como no famoso Tribeca
Film Festival, em 2007.
Santiago (Idem). Brasil, 2007, 78 minutos.
Documentário. Preto-e-branco. Dirigido por João Moreira Salles. Distribuição: Bretz
Filmes
* Reeditado a partir de uma resenha originalmente publicada em 20/10/2007, no boletim informativo “Voz dos Jardins” (São José do Rio Preto/SP)
* Reeditado a partir de uma resenha originalmente publicada em 20/10/2007, no boletim informativo “Voz dos Jardins” (São José do Rio Preto/SP)
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