Sessão documentário
Confira a dica de cinco documentários e uma minissérie em documentário para assistir nessa quarentena.
Um retrato de Woody Allen
Documentário sobre a turnê de Woody Allen e sua banda de jazz pela
Europa, em 1996.
Ganhou o prêmio de melhor documentário no Festival de Sundance em
1998 (indicado também ao Grande Prêmio do Júri) esse excelente filme pessoal sobre
o cineasta Woody Allen, em que explora o outro lado dele, o de músico. Acompanha
a exaustiva turnê de 23 dias dele e da sua banda de jazz, em 1996, onde passaram
por 18 cidades (como Madri, Veneza, Paris). Além das ótimas filmagens das apresentações
do grupo no palco, a câmera da documentarista Barbara Kopple, duas vezes
ganhadora do Oscar - por “Harlan County: Tragédia americana” (1976) e “American
dream” (1990), registra imagens únicas e inéditas de Allen, então com 60 anos: de
roupão pelos quartos de hotel, toma café da manhã com a esposa Soon-Yi Previn, a
relação com os músicos da banda, ele na esteira praticando atividades físicas,
passeando de gôndola em Veneza, dando entrevistas a jornalistas, tirando fotos
com fãs nas ruas e visitando os pais idosos. Ou seja, um Woody Allen comum,
simples como qualquer pessoa, de um jeito que você nunca viu nem verá de novo.
Em estilo confessional, ele também conta curiosidades, com foco na
música e nunca no cinema – Allen é um trompetista de primeira linha, criador da
“Woody Allen’s Jazz Band”, apaixonado desde garoto pelo jazz de Nova Orleans, que
o influenciou.
É um barato total! O mais íntimo retrato dele, ao lado de “Woody
Allen: Um documentário” (2012, de Robert B. Weide, este explorando seu trabalho
como diretor, ator, produtor e roteirista).
Saiu em DVD há muitos anos na “Coleção Woody Allen”, da Flashstar,
com sete filmes do cineasta do final dos anos 90, como “Poderosa Afrodite” e “Poucas
e boas”.
Um retrato de Woody Allen (Wild man blues). EUA, 1997, 98 minutos. Documentário. Colorido/Preto-e-branco.
Dirigido por Barbara Kopple. Distribuição: Flashstar
Os alpinistas Conrad Anker, Jimmy Chin e Renan Ozturk partem para
o maior desafio de suas vidas: escalar o Meru, no Himalaia, constituído por uma
rota mortal, de acesso quase impossível.
Uma injeção de adrenalina e altas emoções nesse documentário de esportes
radicais, em que três famosos alpinistas desafiaram os limites e a própria vida
ao escalar a “Barbatana do Tubarão”, um paredão de pedras em direção ao pico
Meru, no Himalaia (Índia). Na rota desafiadora e mortal, a seis mil metros de
altitude, onde muitos alpinistas morreram nos últimos 30 anos, o trio enfrenta
falta de suprimentos, dá de cara com tempestades de neve e temperaturas abaixo de
zero, para atingir o recorde no mundo das escaladas.
Um grande filme sobre sacrifício, liberdade, obsessão e amizade, com
imagens lindíssimas do Himalaia, de brilhar os olhos, e uma aula de montagem.
Ganhou o prêmio Audience no Festival de Sundance, indicado lá ao
Grande Prêmio do Júri, e foi dirigido por um dos alpinistas que figuram o doc, Jimmy
Chin, junto da esposa, Elizabeth Chai Vasarhelyi – a dupla venceu o Oscar de melhor
documentário no ano passado por outro filme sobre escaladas, “Free solo” (da
National Geographic).
Meru: O centro do universo (Meru). EUA/Índia, 2015, 90 minutos. Documentário.
Colorido. Dirigido por Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi. Distribuição: Universal
Pictures
Roger Waters: The Wall
Documentário sobre a turnê “The Wall Live”, de Roger Waters, que
durou três anos, mesclando um retrato íntimo do fundador da banda Pink Floyd.
Um documentário musical desconcertante, político, pessoal e
poderoso, único no gênero, indicado ao Grammy em 2016. Roger Waters, o
compositor e líder do Pink Floyd, dirige ao lado de Sean Evans, unindo trechos
dos shows da turnê “The Wall Live”, baseada no álbum conceitual de mesmo título,
com longas sequências de viagens de Waters dentro de um carro, como se fosse um
road movie existencial, onde ele analisa as perdas que sofreu durante a vida
por causa da guerra – dentre os traumas, a morte do avô e do pai, militares que
sucumbiram respectivamente na Primeira e Segunda Guerras Mundiais. Em homenagem
aos dois, e como forma de protestar contra as guerras pelo mundo, Waters escreveu
uma série de canções imortalizadas pelo Pink Floyd.
“The Wall Live Tour” foi uma turnê caríssima, que custou R$ 55
milhões, durando três anos (2010 a 2013), num total de 192 apresentações em três
continentes. Ao longo dos 132 minutos do doc, faz-se um recorte com partes principais
do show, com cenas de palco na Grécia, França e a épica montagem na Argentina, trazendo
músicas importantes da carreira dele, como “Another brick in the Wall”, “Hey
you”, “Comfortably numb”, “Mother” e “Goodbye Blue Sky” – só para ter uma noção
do engajamento de Waters, em dado momento ele sobe ao palco com uniforme
nazista, de óculos escuros, empunhando uma metralhadora que atira para todos os
lados da plateia.
Fora das imagens dos shows (cuja direção de arte é um arraso), tem
o lado documental, Waters músico se confunde com o Waters pessoa comum, que
chora diante do túmulo do pai morto, e há encenações típicas de cinema, quando
ele conversa com um fantasma, procurando compreender o mundo cruel onde vivemos.
Nos créditos finais, ele homenageia pessoas do mundo inteiro
mortas em algum tipo de guerra, chacina ou terrorismo – aparecem, no painel fotográfico
com mais de 100 pessoas, três brasileiros, Chico Mendes, Jean Charles e Sergio
Vieira de Mello.
Roger Waters: The Wall (Idem). Reino Unido, 2014, 132 minutos. Documentário. Colorido. Dirigido
por Sean Evans e Roger Waters. Distribuição: Universal Pictures
Buena Vista Social Club
Os membros do lendário grupo cubano Buena Vista Social Club, com idades
entre 70 e 90 anos, são convidados pelo guitarrista Ry Cooder para gravar um
novo CD e fazer duas turnês, que entrariam para a história da música.
Importante documentário musical que celebra a contagiante música
cubana, por meio da banda de maior notoriedade do país, a Buena Vista Social
Club – que começou nos anos 40 como um clube de dança onde reunia semanalmente músicos
de Havana, até ser fechado de maneira permanente, na década de 50, pelo regime
de Fidel Castro.
Quem teve a ideia de reunir os membros do grupo foi o célebre guitarrista
Ry Cooder, compositor americano que realizou muitas trilhas sonoras para
cinema, como “A encruzilhada” (1986). Reuniu-se com um amigo de longa data, o
diretor e roteirista alemão Wim Wenders, com quem já havia trabalhado em “Paris,
Texas”, e juntos fizeram essa maravilhosa viagem musical sobre os quase setenta
anos da banda cubana.
A ideia de Cooder era retomar o grupo para lançar um novo CD e em
sequência abrir uma turnê (ao todo eram seis integrantes vivos, dentre eles o
líder, Compay Segundo, todos aposentados, alguns esquecidos, com idade entre 70
e 90 anos). O objetivo demorou, mas saiu do papel – houve duas turnês do Buena
Vista em 1998, a primeira na Europa e a segunda nos Estados Unidos (eles
tocaram no Carnegie Hall), e o CD ganhou o Grammy de melhor álbum latino
tropical.
No doc, Wenders capta cenas dos shows, depoimentos dos membros da
banda, de seus familiares, e também percorre com a lente as ruas de Havana, para
contar um pouco sobre os costumes do povo cubano.
Vencedor de mais de 10 prêmios em festivais, recebeu indicação ao
Oscar de documentário em 2000, além do Bafta na mesma categoria.
Saiu há tempos em DVD pela Europa Filmes, depois pela extinta
Spectra Nova, e em seguida numa coleção de Wim Wenders pela Vinny Filmes.
Buena Vista Social Club
(Idem). Alemanha/ Cuba/ França/ EUA/ Reino Unido, 1999, 100 minutos. Documentário.
Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Wim Wenders. Distribuição: Europa Filmes/
Vinny Filmes/ Spectra Nova
Buena Vista Social Club: Adios
Dezoito anos depois do reencontro dos integrantes do Buena Vista
Social Club, os remanescentes originais se juntam para uma nova turnê de
despedida do grupo.
O primeiro doc “Buena Vista Social Club” (1999) recebeu indicação
ao Oscar, foi celebrado no mundo inteiro e exibido no Brasil. Em 2017, portanto
18 anos depois, saiu a segunda e última parte, o “Adios”, a despedida do grupo
cubano que revolucionou o cenário da música em Havana. Para contar essa
história veio a duas vezes indicada ao Oscar Lucy Walker, documentarista inglesa
do incrível “Lixo extraordinário” (2010). Com uma nova técnica cinematográfica,
ela acompanhou a turnê de despedida, realizada nos Estados Unidos e em Cuba entre
2016 e 2017. Mas antes do reencontro dos lendários músicos, ela volta-se para fatos
do filme anterior, utilizando um material inédito da outra turnê, de 1998, fazendo
uma forte ligação com a História de Cuba, desde os movimentos de independência do
país no finalzinho do século XIX à escravidão, ao apogeu da música cubana nos
anos 40, onde se insere o Buena Vista, e por fim o regime comunista de Fidel Castro
(que acabou com a banda nos anos 50). Ela ocupa mais da metade do documentário
tratando velhas questões, para, finalmente, chegar ao ponto alto, o reencontro
dos membros para a turnê de despedida - muitos deles, que já eram bem idosos no
primeiro doc, haviam falecido, como Compay Segundo, Ibrahim Ferrer e Rubén González,
restaram pouquíssimos da formação original, como Omara Portuondo e Eliades
Ochoa, outros entraram no lugar, para que a banda não acabasse. Sob o nome de “Orquestra
Buena Vista Social Club – Adios Tour”, deram conta do recado, viajaram centenas
de quilômetros para levar o tom da música de Cuba para milhares de pessoas nos
dois países visitados - em uma das apresentações, recepcionaram o presidente Barack
Obama.
É um complemento interessante, bem editado, ilustrativo, mas
inferior ao primeiro, que tinha sido um fenômeno cultural! Em DVD pela
Universal.
Buena Vista Social Club:
Adios (Idem). Cuba/EUA, 2017, 110 minutos. Documentário.
Colorido/Preto-e-branco. Dirigido por Lucy Walker. Distribuição: Universal
Pictures
E a minissérie
O Chaplin que ninguém viu
Minissérie em três capítulos sobre os filmes perdidos de Charles
Chaplin.
Nessa épica minissérie documental britânica ganhadora do Emmy e narrada
pelo ator James Mason (meses antes de falecer), conhecemos um outro lado do gênio
da comédia Charles Chaplin, com foco nele trabalhando fora da cena, no caso como
diretor. A dupla de cineastas Kevin Brownlow e David Gill, historiadores do
cinema mudo que ganharam quatro Emmys e criadores da série “American masters”,
recuperaram um imenso material raro de Chaplin, nunca antes visto, com cenas
editadas de seus filmes e curtas engavetados, que só foram encontrados na década
de 80 – a minissérie é de 1983, seis anos depois da morte de Chaplin.
Dividido em três capítulos, “Os anos mais felizes”, “O grande
diretor” e Tesouro escondido”, a série também explora com detalhes o processo
de criação do diretor e ator quando fez obras-primas como “Tempos modernos, “Luzes
da cidade”, “O garoto” e “O grande ditador” – como making of mesmo, Chaplin dirigindo,
orientando o elenco em cena, refazendo passagens etc
Indicado a dois Baftas (melhor série e desenho de produção), é uma
obra preciosa para os fãs do maior ator da comédia muda, disponível em DVD pela
Obras-primas do Cinema em sua metragem original (156 minutos).
O Chaplin que ninguém viu (Unknown Chaplin). Reino Unido, 1983, 156 minutos. Minissérie/ Documentário. Colorido/Preto-e-branco.
Dirigido por Kevin Brownlow e David Gill. Distribuição: Obras-primas do Cinema
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