O
poço
Num
sistema prisional vertical, os encarcerados vivem de dois em dois em
plataformas numeradas. Quando são obrigados a racionar alimentos, instala-se
uma crise social, gerando motins e uma onda de violência e assassinatos.
Nesses
dias de isolamento social devido à pandemia do Covid-19, o Netflix comprou os
direitos de um filme espanhol violento e sombrio sobre cárcere, ganhador de
prêmios em festivais como Toronto, Sitges, Gaudí e Goya, que havia sido lançado
na Espanha em 2019, mas pouca gente assistiu. Ou seja, não é uma produção
original do Netflix, e sim a distribuição no Brasil e em outros países foi
realizada por ela.
Foi
filmado dentro de uma câmara fechada com poucos cenários e personagens, que vão
enlouquecendo durante o longo confinamento. As pessoas dali recebem uma mesa
farta de comida, por meio de uma plataforma móvel, que desce, e que deve ser
consumida em tempo recorde – ela vem cheia no primeiro nível, e vai descendo,
deixando as sobras para outros níveis, para os debaixo se alimentarem. O foco é
no personagem Goreng (Ivan Massagué), que divide a cela com um velho
misterioso. Chega o dia em que ele decide subir para ver os outros níveis, e
quando todos precisam racionar comida, instala-se uma crise social sem
precedentes. Pessoas vão se espancar até a morte, a trama fica sinistra,
obscura, violenta, até atingir o ápice num desfecho sombrio, uma triste
alegoria, aberta a interpretações. Fica a pergunta: “O que deixaremos para as
próximas gerações?”
Em
seu primeiro longa-metragem, o criativo e ousado diretor espanhol Galder
Gaztelu-Urrutia realizou um filmaço que apela para uma crítica às camadas
sociais, ao isolamento, às atitudes desumanas que as pessoas podem ter diante
do caos, a disputa por comida num sistema cruel que devora a gente. No ponto em
que o protagonista pretende escalar até o andar de cima, há uma metáfora sobre
o atual sistema que não permite que os pobres possam ascender na sociedade (como
diz na abertura, “Existem três tipos de pessoas: as de cima, as de baixo e as
que caem”), ou seja, a única mudança de estágio é para baixo...
Misturando
terror, ação e scifi (a história é num futuro incerto), com uma fotografia
apreensiva, bem escura com tons avermelhados, é um tapa na cara, que serve como
reflexão nessa terrível época de pandemia, onde muita gente estoca alimentos e
não tem um pingo de solidariedade com o próximo.
Ao
público claustrofóbico e àqueles que se impressionam com fitas violentas,
cuidado ao assistir!
O
poço (El hoyo/ The
platform). Espanha, 2019, 94 minutos. Horror/Ação. Colorido. Dirigido por Galder
Gaztelu-Urrutia. Distribuição: Netflix
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