Chocados
com uma série de assassinatos sem explicação, moradores do vilarejo de Bacurau,
no Nordeste brasileiro, preparam uma guerra contra invasores estrangeiros que
desejam atacar o local.
Intenso,
criativo, insano, violento... uma porrada! São muitos adjetivos para “Bacurau”
(2019), uma esmagadora alegoria em torno da política brasileira, que se torna
atual a cada revisão - até o título é profundamente simbólico, uma alusão ao
pássaro arisco que só sai à noite.
Ganhador
do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes do ano passado (indicado também
à Palma de Ouro e ao Queer Palm), virou sensação no mundo inteiro depois do
lançamento, e aqui no Brasil somou milhões de reais de bilheteria numa campanha
avassaladora e nunca antes vista para um filme de arte.
Difícil
até de classificar seu gênero. Eclético, imprime temas/tipos de cinema praticamente
impossíveis de serem unidos: terror gore, western, ficção científica lado B (a
história se passa num futuro, incerto), ação, drama, fantasia. Para se ter
noção, vai de emboscadas a OVNIs, tem gangue urbana motorizada, gente nua, cabeças
explodindo, tudo rolando na secura do Nordeste (o filme teve como locação a
comunidade de Barra, no Rio Grande do Norte, onde os verdadeiros habitantes participaram
como figurantes).
Escalando
um elenco diferenciado, de nomes atuais e veteranos, a destacar Bárbara Colen, Thomas
Aquino, Silvero Pereira, Karine Teles, Sonia Braga e o alemão Udo Kier (num
papel memorável), o cineasta e roteirista Kleber Mendonça Filho, dirigindo e
escrevendo o roteiro em parceria com Juliano Dornelles, homenageia a Nouvelle
Vague e o nosso Cinema Novo, os filmes B, o scifi movie, o faroeste, o horror e
a fantasia, adequando-os ao modo tupiniquim. Mendonça Filho, dos soberbos e
meus preferidos “O som ao redor” (2013) e “Aquarius” (2016, indicado à Palma de
Ouro), estiliza a violência, abandona rigores técnicos dos projetos anteriores,
e em seu filme mais pessoal dá abertura a interpretações variadas, nessa saga eletrizante
de um povo entregue ao Deus-dará, enfurnados numa pequenina vila isolada do
país (tão isolada e minúscula que até “sumiu” do mapa!), que organiza um revide
contra os abusos de autoridade, vindos tanto de políticos brasileiros quanto de
invasores americanos.
Um
dos melhores filmes de 2019, forte, de impacto, sobre luta, resistência e uma
crítica ao atual quadro político que vivemos (e sobrevivemos).
Lançado
recentemente em DVD pela Vitrine Filmes, a distribuidora anunciou que em breve
também estará disponível em Bluray. Aliás, um parabéns à Vitrine, que em meio à
crise das mídias em disco, resolveu entrar no mercado de DVDs com “Bacurau”,
para saciar os desejos dos colecionadores (até então só lançava filmes nos
cinemas). No disco, extras variados, como trailer, vídeos promocionais, making
of etc
Bacurau (Idem). Brasil/França, 2019, 131
minutos. Drama/Ação. Colorido. Dirigido por Kleber Mendonça Filho.
Distribuição: Vitrine Filmes
Nenhum comentário:
Postar um comentário