sábado, 21 de março de 2020

Cine Lançamento


Bacurau

Chocados com uma série de assassinatos sem explicação, moradores do vilarejo de Bacurau, no Nordeste brasileiro, preparam uma guerra contra invasores estrangeiros que desejam atacar o local.

Intenso, criativo, insano, violento... uma porrada! São muitos adjetivos para “Bacurau” (2019), uma esmagadora alegoria em torno da política brasileira, que se torna atual a cada revisão - até o título é profundamente simbólico, uma alusão ao pássaro arisco que só sai à noite.
Ganhador do Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes do ano passado (indicado também à Palma de Ouro e ao Queer Palm), virou sensação no mundo inteiro depois do lançamento, e aqui no Brasil somou milhões de reais de bilheteria numa campanha avassaladora e nunca antes vista para um filme de arte.
Difícil até de classificar seu gênero. Eclético, imprime temas/tipos de cinema praticamente impossíveis de serem unidos: terror gore, western, ficção científica lado B (a história se passa num futuro, incerto), ação, drama, fantasia. Para se ter noção, vai de emboscadas a OVNIs, tem gangue urbana motorizada, gente nua, cabeças explodindo, tudo rolando na secura do Nordeste (o filme teve como locação a comunidade de Barra, no Rio Grande do Norte, onde os verdadeiros habitantes participaram como figurantes).
Escalando um elenco diferenciado, de nomes atuais e veteranos, a destacar Bárbara Colen, Thomas Aquino, Silvero Pereira, Karine Teles, Sonia Braga e o alemão Udo Kier (num papel memorável), o cineasta e roteirista Kleber Mendonça Filho, dirigindo e escrevendo o roteiro em parceria com Juliano Dornelles, homenageia a Nouvelle Vague e o nosso Cinema Novo, os filmes B, o scifi movie, o faroeste, o horror e a fantasia, adequando-os ao modo tupiniquim. Mendonça Filho, dos soberbos e meus preferidos “O som ao redor” (2013) e “Aquarius” (2016, indicado à Palma de Ouro), estiliza a violência, abandona rigores técnicos dos projetos anteriores, e em seu filme mais pessoal dá abertura a interpretações variadas, nessa saga eletrizante de um povo entregue ao Deus-dará, enfurnados numa pequenina vila isolada do país (tão isolada e minúscula que até “sumiu” do mapa!), que organiza um revide contra os abusos de autoridade, vindos tanto de políticos brasileiros quanto de invasores americanos.
Um dos melhores filmes de 2019, forte, de impacto, sobre luta, resistência e uma crítica ao atual quadro político que vivemos (e sobrevivemos).
Lançado recentemente em DVD pela Vitrine Filmes, a distribuidora anunciou que em breve também estará disponível em Bluray. Aliás, um parabéns à Vitrine, que em meio à crise das mídias em disco, resolveu entrar no mercado de DVDs com “Bacurau”, para saciar os desejos dos colecionadores (até então só lançava filmes nos cinemas). No disco, extras variados, como trailer, vídeos promocionais, making of etc

Bacurau (Idem). Brasil/França, 2019, 131 minutos. Drama/Ação. Colorido. Dirigido por Kleber Mendonça Filho. Distribuição: Vitrine Filmes

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