domingo, 31 de julho de 2011

Cine Lançamento

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O retrato de Dorian Gray

Recém-chegado em Londres, o jovem Dorian Gray (Ben Barnes) conhece em poucos dias os dois lados da capital inglesa: de um lado, os prostíbulos localizados nos escuros becos, e do outro, as elegantes festas da alta sociedade. Quem apresenta o rapaz a esses mundos é o influente lorde Henry Wotton (Colin Firth). Certo dia é retratado pelo pintor Basil Hallward (Ben Chaplin), que canaliza toda a beleza do jovem em uma pintura impressionista perfeita. Fissurado pelo quadro, Gray faz um pacto com o diabo em busca da eterna juventude, o que o leva a um caminho sobrenatural sem volta.

Da famosa obra do escritor irlandês Oscar Wilde (1854-1900) surge mais uma adaptação no gênero terror, agora rodada na Inglaterra, com visíveis mudanças no original. Só para lembrar, “Dorian Gray” virou filme 15 vezes (o mais famoso é o drama homônimo de 1945, com George Sanders e Hurd Hatfield, no papel-título).
Dirigido por Oliver Parker, que novamente transforma romances notórios em fitas medíocres, essa nova roupagem não chega a ser o tremendo desastre como o péssimo trailer demonstrou. É uma fita B que beira o fantástico, com abertura para o horror, centralizando as ações em um rapaz bonito que vende a alma ao diabo em troca da eterna juventude – o que não acontece no livro, pelo menos fica subentendido lá. Dorian Gray quer ser o que o quadro com sua imagem perfeita sempre será: imortal. Para tanto, faz o pacto com o demônio, para garantir a beleza. O pedido dá certo, ele se torna vigoroso, nunca envelhece, mas apresenta um desvio na personalidade, virando uma pessoa ruim – a tela se modifica ao passo que Gray comete crimes, ficando com a aparência de um monstro (os efeitos visuais ajudam bastante).
Há reviravoltas, tramas paralelas, outros romances do personagem e um desfecho trágico (sem surpresas).
O ator Ben Barnes (o príncipe Caspian de ‘As crônicas de Narnia’) não tem brilho, ofuscado mais ainda pela presença do premiado Colin Firth, no papel de um nobre sem moral, conselheiro de Dorian.
Descartável, não chega a comprometer nem aborrece, e vale uma conferida. Por Felipe Brida

O retrato de Dorian Gray
(Dorian Gray). Inglaterra, 2009, 112 min. Suspense/ Terror. Dirigido por Oliver Parker. Distribuição: Paramount Pictures

sábado, 30 de julho de 2011

Resenha

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Embarque imediato

O jovem Wagner (Jonathan Haagensen) sonha em viver fora do país. Quando tenta fugir clandestinamente no aeroporto, a chefe das aeromoças Justina (Marília Pêra) o impede. Mesmo com a grande diferença de idade, ela, que mantém um relacionamento infeliz com o agenciador de modelos obesas Fulano (José Wilker), fica interessada em conhecer Wagner mais de perto. Só que o rapaz já tem namorada. Será que os planos amorosos de Justina descerão pelo ralo?

Primeiro longa-metragem do inexperiente diretor Allan Fiterman, que erra a mão ao se deixar levar por um roteiro fraco, com piadas sem graça, que nunca fazem rir. Não há menor lógica nos acontecimentos (o romance entre a aeromoça de meia-idade e o garotão, por exemplo), e tudo é encarado como uma chanchada no estilo batido do humorístico “Zorra total”.
Desperdiça o talento da grande atriz Marília Pêra (num papel ingrato, de peruca Channel, maquiada de maneira esquisita), que se esforça para manter a pose. Se alguém tenta salvar a fita, Marília encara a ardilosa missão. Ao mesmo tempo José Wilker fica à vontade, interpretando um discutível sujeito amalucado, de nome Fulano, o agenciador que tem fetiche por gordinhas – e que, para satisfazer seus desejos, aproveita-se delas.
A própria história não chama a atenção, é previsível e não faz muito sentido. Fracasso de público, a comédia não acertou; como resposta, recebeu críticas pesadas, que acabam sendo unânimes. Não é por menos. Por Felipe Brida

Embarque imediato
(Idem). Brasil, 2009, 87 min. Comédia. Dirigido por Allan Fiterman. Distribuição: Europa Filmes

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Morre o diretor Michael Cacoyannis aos 89 anos

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O cineasta e roteirista de origem grega Michael Cacoyannis faleceu na última segunda-feira (dia 25) em Atenas. Ele tinha 89 anos. As causas da morte não foram divulgadas.

Cacoyannis tornou-se o grande nome do cinema na Grécia, alcançando o sucesso em Hollywood na década de 60. Ficou famoso por dirigir a obra-prima "Zorba, o grego" (1964), drama querido por pessoas do mundo inteiro. Projetou as atrizes gregas Irene Papas e Melina Mercouri, e ao longo da carreira, que durou 44 anos, recebeu três indicações ao Oscar - todas em 1965 pelo filme "Zorba" (melhor filme, roteiro adaptado e direção). Concorreu sete vezes em Cannes, onde ganhou o prêmio especial por "Elektra - A vingadora" (1961), e também participou de outros nove festivais e premiações de cinema, como Berlim, Bafta, Montreal e Globo de Ouro.

Rodou apenas 14 longas-metragens, um filme para a TV e um documentário, quase todos adaptações de tragédias gregas. Seu último trabalho foi em 1999, com o drama "The cherry orchard".
Abaixo transcrevo texto integral que escrevi especialmente para o meu primeiro blog, "Setor Cinema", publicado em 11 de abril de 2003, sobre o diretor Cacoyannis, um de meus preferidos.


Michael Cacoyannis: Promovendo a cultura grega no cinema mundial

O diretor e suas características:

Nascido em 11 de Junho de 1922, em Limassol (Chipre), com o nome Mihalis Kakogiannis, o diretor, que desenvolveu o cinema grego nos anos 60, tornou-se um ícone grandioso, hoje esquecido. Seu estilo era único e inimitável: utilizava fotografias naturais da Grécia como ponto de partida das histórias realistas, os personagens eram humildes e esperançosos, valorizava as músicas e as danças típicas do local, além de propor finais fatalistas e/ou pessimistas.
Fez uma parceria com o músico Mikis Theodorakis (1925-), realizando "Zorba - O Grego", "Ifigênia" e "Electra - A Vingadora", além de trabalhar bastante com George Foundas (1924-), ator preferido de Cacoyannis.
Atuou como ator (não creditado) em dois filmes: numa pequena participação em "César e Cleópatra" (1945) e "Uma Questão de Dignidade" (1957). Além disso, foi editor e produtor de muitos dos seus filmes.
Seu último trabalho foi "The Cherry Orchard" (1999). Atualmente está afastado das telas.

Principais filmes:

Stella (1955)
Elenco: Melina Mercouri, George Foundas, Alekos Alexandrakis, Voula Zouboulaki, Dionyssis Papayannopoulos.
Sinopse: Stella é uma cantora de vila que começa um relacionamento amoroso com um homem que mora no mesmo local.
Características: Drama com toques de romance, problemas socias envolvendo a população e final trágico.

A Mulher de Negro (To Koritsi me ta mavra - 1956)
Elenco: Ellie Lambeti, Dimitris Horn, George Foundas, Eleni Zafiriou, Stephanos Stratigos.
Sinopse: O drama mostra a vida de Marina, moça que, ainda abalada com a morte da irmã, vive vestida de negro e dificilmente mantêm contato com outras pessoas.
Características: Melodrama, sentimento de angústia totalizante nos personagens e notável agilidade na direção.

Uma Questão de Dignidade (To Telefteo psemma - 1957)
Elenco: Ellie Lambeti, Michalis Nikolinakos, Eleni Zafiriou, Dimitris Papamichael, Athena Michaelidou.
Sinopse: Chloe precisa ajudar sua família pobre, então é forçada a se casar com homem rico, mesmo estando apaixonada por outra pessoa.
Características: Drama emotivo, vingança como meio de sair dos problemas e final inesperado.

Electra - A Vingadora (Ilektra - 1962)
Elenco: Irene Papas, Yannis Fertis, Aleka Katselli, Theano Ioannidou, Notis Peryalis.
Sinopse: Baseado na mitologia, a história mostra a trajetória de Electra, mulher que se une ao irmão desaparecido para se vingar do assassinato do pai.
Características: Um dos filmes mais densos do diretor, saindo de sua linha habitual, criando uma atmosfera perturbadora e incrivelmente mágica. Papas está num papel sinistro e marcante com seu cabelo quase raspado (o close no olhar dela, em várias situações, representa tudo o que se passa com a personagem).

Zorba, o Grego (Alexis Zorba - 1964 - foto ao lado)
Elenco: Anthony Quinn, Alan Bates, Irene Papas, Lila Kedrova, Sotiris Moustakas, George Foundas, Anna Kyriakou.
Sinopse: Basil é um escritor inglês que vai conhecer a Ilha de Creta. Lá, envolve-se com um sujeito excêntrico, Zorba, e suas idéias magníficas.
Características: Drama suntuoso, com belas paisagens das praias gregas; o final é pessimista, mas sugere aquela idéia de "que nunca devemos deixar de lado os nossos sonhos, sempre tentando chegar ao topo" e um pouco do carpe diem ("aproveite o momento"; "não deixe nada para depois"). Considerado o melhor filme do diretor, tornou-se um clássico, reunindo um elenco excepcional: Bates (1934-2003) no início de carreira, Quinn (1915-2001) no seu auge, Papas, numa pequena e marcante participação, e Kedrova (1918-2000), interpretando a cômica Madama Hortense, na qual levou o Oscar de melhor atriz coadjuvante por este filme (e que considero uma das melhores interpretações femininas no cinema). Ganhou também os Oscars de direção de arte e fotografia.

Outros filmes do diretor: Eroica (1960), The Trojan Women (1971), Ifigênia (1977), A História de Jacó e José (1975), The Cherry Orchard (1999), entre outros.

http://www.setorcinema.blogger.com.br

terça-feira, 26 de julho de 2011

Viva Nostalgia!

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Crepúsculo dos deuses

Enfurnada em uma mansão, a ex-estrela do cinema mudo Norma Desmond (Gloria Swanson), hoje esquecida, sente necessidade de retornar às telas. Em uma tarde, o jovem roteirista Joe Gillis (William Holden) deixa o carro quebrado em frente ao casarão da atriz, para quem pede ajuda. Norma recebe o rapaz e aposta nele a grande chance de voltar ao cinema.

Obra-prima do cinema, “Crepúsculo dos deuses” encabeça a lista dos filmes mais importantes produzidos em Hollywood, esculpido com perfeição pelo grandioso cineasta Billy Wilder, exímio diretor por excelência e responsável por preciosidades da Sétima Arte como “Quanto mais quente melhor”, “Sabrina”, “Se meu apartamento falasse” e “Farrapo humano”.
Metalingüístico, o drama une ironia e cinismo formidáveis para criticar os bastidores de Hollywood, focando dois personagens sem brilho: uma atriz do cinema mudo (Gloria Swanson, sinistra com olhar de subestimação), que, com o cinema sonoro, perdeu lugar para outros artistas, e um roteirista em busca de notoriedade (William Holden). A estranha relação entre ambos recria o mundo cruel do cinema, aonde poucos alcançam sucesso, uns caem no ostracismo e outros têm de vender a alma ao diabo para conquistar um lugar ao sol (no mesmo ano de “Crepúsculo”, 1950, outro filme de tema semelhante, ainda mais cínico, ganhava projeção, “A malvada”, com Bette Davis).
O filme é montado em flashbacks, com voz off de Holden, com a mesma estrutura narrativa de “Memórias póstumas de Brás Cubas”, o de um morto contar passagens da vida. Desde a primeira cena o público será guiado para uma trama infernal ostentada por revelações – Gillis está morto afogado na piscina de Norma.
Sombrio, trágico, realista, este lendário filme tem cenas memoráveis (o funeral do chimpanzé, as aparições medonhas de Max, o mordomo taciturno – Erich Von Stroheim, e a sequência final com Norma descendo as escadarias).
Ganhou três Oscars (roteiro, direção de arte e trilha sonora) e ainda foi indicado a outros oito – filme, diretor, ator (Holden), atriz (Gloria, em papel marcante), ator coadjuvante (Stroheim, também excepcional), atriz coadjuvante (Nancy Olson, como a roteirista iniciante), fotografia e edição.
Sai em edição de colecionador com vários extras, como making of, e especiais sobre a estilista Edith Head e outro do compositor Franz Waxman. Por Felipe Brida

Crepúsculo dos deuses
(Sunset Blvd.). EUA, 1950, 110 min. Drama. Dirigido por Billy Wilder. Distribuição: Paramount Pictures

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Cine Lançamento

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Jogo de Poder

A agente da CIA Valerie Plame (Naomi Watts) tem a identidade revelada quando o marido, o diplomata americano Joseph Wilson (Sean Penn), publica um texto no ‘The New York Times’ afirmando que o presidente George W. Bush manipulara informações secretas sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque, uma forma de justificar a invasão das tropas dos EUA no país. Wilson então inicia uma luta para punir os responsáveis, já que um crime federal fora cometido. E Valerie, afastada do cargo, terá de lidar com a nova realidade.

Baseado na autobiografia da ex-agente da CIA Valerie Plame, este bom thriller político fracassou nas bilheterias mundiais – com orçamento de U$ 22 milhões, rendeu pouco menos da metade. Trata-se de um filme político, abertamente contra o governo intervencionista opressor de Bush quando este invadiu o Iraque, destituindo Saddam Hussein.
Os acontecimentos são inspirados na vida de Valerie, infiltrada da CIA no Oriente Médio e especializada em armas de destruição em massa; tinha a identidade preservada até que o marido, diplomata, causou furor ao publicar o tal texto no maior jornal dos EUA posicionando-se contra a invasão das tropas americanas no Iraque. Por causa disso, foi oprimida por todos os lados, barrada de cumprir as funções na CIA. A revelação da identidade da mulher, em 2003, gerou escândalo nacional, que resultou em perjúrio e obstrução da justiça contra membros do Partido Republicano de Bush.
À medida que a fita recria os fatos, cenas reais de todo esse panorama político aparecem como episódios jornalísticos na TV, resultando em um drama consistente, intercalado com breves momentos de suspense.
Com boas atuações de Naomi Watts e Sean Penn (ela lidera no papel de Valerie e ele, como o diplomata, tem participação mais intensa no final).
Dirigido pelo mesmo de “A identidade Bourne”, Doug Liman, o filme traz teor de espionagem sem ação, de cunho político, mostrando as arbitrariedades cometidas por Bush ao longo de sua política internacional mal intencionada. Por Felipe Brida

Jogo de Poder
(Fair game). EUA/Emirados Árabes, 2010, 107 min. Ação. Dirigido por Doug Liman. Distribuição: Paris Filmes

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Cine Lançamento

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Trabalho sujo

A diarista Rose Lorkowski (Amy Adams) está à procura de um novo trabalho para sustentar o filho pequeno. Quando descobre que pode ganhar muito dinheiro limpando cenas de crime e removendo lixo tóxico, entra na jogada com a irmã mais nova, Norah (Emily Blunt), que mora com o pai, Joe (Alan Arkin). Ambas organizam uma empresa, e passam não só à limpeza da sujeira alheia, mas também a das próprias vidas.

Duas ótimas atrizes do momento em um filme independente curto, original, elogiado pela crítica e que demorou para ser lançado (produzido em 2008, só agora veio em DVD no Brasil). Amy Adams é a jovem mãe solteira que, em busca de melhor qualidade de vida, depara-se com a chance grande de ganhar dinheiro com a limpeza de cenas de crime (suicídio, homicídio, explosões). Convida a irmã rebelde (Emily Blunt) como parceira, e ambas começam a atuar num serviço altamente desconhecido. Juntas em casos inusitados, cada uma aproveitará para limpar de vez o passado desconcertado.
Amy, além de muito bonita, brilha em um papel humano, bem feminino – logo levará para casa um Oscar (já recebeu três nomeações, a última vez esse ano pelo bom drama biográfico sobre boxe “O vencedor”).
Tem ainda participação pequena do premiado ator Alan Arkin, como o pai.
Com o título ambíguo em português, esta simpática comédia dramática é o melhor trabalho de uma diretora neozelandesa pouco famosa, Christine Jeffs. Produzido pela mesma equipe de “Pequena Miss Sunshine”, participou do Festival de Sundance em 2008. Recomendo. Por Felipe Brida

Trabalho sujo
(Sunshine cleaning). EUA, 2008, 91 min. Comédia dramática. Dirigido por Christine Jeffs. Distribuição: Paramount Pictures

terça-feira, 19 de julho de 2011

Resenha

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Tempos que mudam

Enviado para a cidade portuária de Tânger, no norte da África, para supervisionar um canteiro de obras, Antoine (Gérard Depardieu) reencontra o antigo amor de sua vida, Cécile (Catherine Deneuve). Surpreendido pela beleza da mulher que não via há trinta anos, Antoine divide-se entre o trabalho e a tentativa em se reaproximar dela.

Indicado ao Urso de Ouro de melhor diretor (o veterano André Téchiné) no Festival de Berlim em 2005, “Tempos que mudam” tem tudo aquilo que um drama francês tradicional pode apresentar: história familiar com tom triste, narrativa lenta, final comovente. Pense nesses três elementos bem unidos e some dois atores europeus respeitados, Catherine Deneuve e Gérard Depardieu, que estão excepcionalmente brilhantes. A belíssima atriz parisiense dá um show no papel de uma mulher solitária que hoje vive com o filho em Tânger, no Estreito de Gibraltar; e Depardieu é a face oposta da moeda, um senhor cabisbaixo, sério, que, ao chegar naquela cidade, depara-se com o antigo amor que sobreviveu ao tempo; vê-la brota dentro dele uma paixão febril. Movido a esse sentimento tentará tocá-la pela última vez durante os poucos dias de passagem por lá.
Com uma bonita trilha sonora de canções marroquinas, a fita francesa enaltece temas universais, sobre a distância do amor, a tentativa de reconciliação etc.
Tem uma singularidade tocante, com elenco de primeira linha e fotografia primorosa que reflete a falta de calor humano. Não espere final feliz (os filmes europeus não cogitam happy end).
Também recebeu indicação ao César, o Oscar francês, de ator promissor para Malik Zidi (o filho de Cécile). Conheça. Por Felipe Brida

Tempos que mudam
(Les temps qui changent). França, 2004, 95 min. Drama. Dirigido por André Téchiné. Distribuição: Europa Filmes

domingo, 17 de julho de 2011

Cine Lançamento

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Justin Bieber: Never say never

Documentário sobre as turnês de 2010 de Justin Bieber, cantor teen de estrondoso sucesso. Depoimentos de familiares, amigos e fãs também ajudam a construir a trajetória desse jovem no mundo da música.

Não há como negar o fenômeno Justin Bieber. Não sou fã tampouco simpatizo com as músicas melosas do rapaz, atualmente com 17 anos (Justin nasceu em 1994, de família simples do sul do Canadá). Mas as canções românticas dançantes, aliadas à simpatia de um menino descolado, com tênis coloridos e estilo de penteado próprio, influenciaram legiões ao redor do mundo. Ou seja, o garoto conquistou espaço e é uma das grandes revelações recentes. Não sabemos se será meteórico – há diversos casos em que um artista bomba por um período na mídia e depois cai no esquecimento.
Vencedor do MTV Award em 2010, o documentário leva o nome de uma das canções famosas de Justin e é um objeto de puro marketing. Serve apenas para projetá-lo ainda mais; o filme, um painel biográfico, acompanha desde o nascimento, a infância em uma pequenina cidade de Ontário, até os seus 13 anos, quando teve um vídeo postado no Youtube pela mãe aonde soltava a voz. Um agente pegou o material e levou para o famoso cantor Usher, que logo incentivou Justin a gravar no estúdio. Boom imediato!
A fita retrata esses momentos, comprovando que Justin é um músico completo: canta, toca bateria, guitarra, piano, violão e trompete, pula, dança e contagia milhares de fãs.
Descolado, tem a típica imagem de boys da New Era – boné virado e tênis colorido, cabelos jogados na testa, arrebanhando gerações que caem na graça do rapaz e adotam uma moda duvidosa como estilo de vida.
Ele carrega na bagagem dois álbuns de estúdio, dois de compilação e duas coletâneas musicais gravadas em apenas três anos (um recorde), além de três singles. Hoje suas músicas continuam no top das rádios mundiais, como “Baby”, “Never say never”, “One less lonely girl” e “One time”.
Enfim, o documentário é um produto comercial bem feitinho, para fãs e ponto final, ou seja, uma arma poderosa de marketing, que, como prova disso, lotou salas de cinema nos quatro cantos do planeta. Por Felipe Brida

Justin Bieber: Never say never
(Idem). EUA, 2011, 105 min. Documentário. Dirigido por John M. Chu. Distribuição: Paramount Pictures

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Cine Lançamento

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Deixe-me entrar

Desprezado pelos amigos por ser um garoto tímido, Owen (Kodi Smit-McPhee) mora com a mãe na gélida cidade de Novo México, nos EUA. Todos os dias apanha dos colegas de sala. Numa noite conhece a nova vizinha, Abby (Chloe Moretz), uma menina misteriosa. Ambos se aproximam, e Owen desconfia que ela guarda um segredo. Um dia a vê tomando sangue humano, colhido pelo pai (Richard Jenkins). Paralelamente a polícia local recebe informação sobre uma série de desaparecimentos. Então um veterano investigador (Elias Koteas) aparece para desvendar o caso.

Remake sem novidades do exemplar cult sueco de drama que mistura terror “Deixe ela entrar” (2008), inédito em DVD. Realmente a crítica não exagerou em afirmar que o filme original, que assisti nos cinemas em São Paulo, é uma pequena obra-prima, com horror sutil e um texto magnífico sobre vampirismo infantil (só para ter ideia concorreu em 44 festivais de cinema no mundo, dentre eles o Bafta de filme estrangeiro).
Enquanto isso, a refilmagem americana “Deixe-me entrar” extrai a sutileza do macabro e substitui aquilo que ficava no ar pelo terror convencional, sanguinário por sinal. Não é ruim e está longe de ser uma decepção – o filme é bonzinho, mas inferior ao sueco. A produção é bem cuidada, a história difere-se da avalanche de filmes pavorosos do gênero que vemos por aí, tem suspense, sustos etc. O grande problema é: refaz um trabalho sem acrescentar nada até porque o original nasceu espetacular.
Restaura com eficiência a clássica história sobre vampiros, que sugam sangue, só que em versão moderna (nada a ver com “Crepúsculo” e “Lua nova”, oche!). Por trazer reviravoltas marcantes, deixo de explorar mais para não estragar as surpresas. Preste atenção em cada cena, nos detalhes, em especial na atuação dos dois garotos centrais, e no desfecho assustador na piscina do colégio.
Dirige o filme Matt Reeves, de “Cloverfield – Monstro” (2008), com roteiro dele, adaptado do romance “Deixe ela entrar”, do sueco John Ajvide Lindqvist. Pela falta do original nas locadoras, procure este aqui. Por Felipe Brida

Deixe-me entrar (Let me in). EUA/Inglaterra, 2010, 115 min. Horror/ Drama. Dirigido por Matt Reeves. Distribuição: Paramount Pictures

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Cine Lançamento

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127 horas

Em 2003, o alpinista americano Aron Ralston (James Franco) parte sozinho para as montanhas de Utah, onde fará uma escalada. Certo dia, tropeça, cai dentro de uma fenda e fica com o braço preso em uma rocha. Com o passar dos dias, aprisionado naquele buraco, com o membro superior estilhaçado, o jovem enfrentará uma verdadeira batalha pela vida.

Exemplar fita dramática sobre sobrevivência, “127 horas” recebeu seis indicações ao Oscar desse ano: melhor filme, ator (James Franco – nomeado ainda ao principais prêmios do cinema, como Globo de Ouro, SAG e Bafta), roteiro adaptado, edição, trilha sonora e canção original (“If I Rise”). Um grande feito do exímio diretor Danny Boyle, um dos meus preferidos, que também assina a produção e o roteiro, baseado no livro autobiográfico do alpinista Aron Ralston, cuja história de vida chocou o mundo.
De espírito aventureiro, Ralston, na escalada das montanhas de Utah, passou por cinco dias de tensão depois de escorregar numa fresta, ficando preso pelo braço, esmagado por uma imensa rocha. Nessas 127 horas, o alpinista gravava vídeos com uma câmera portátil, dia e noite, as peripécias pra sair com vida do local, vale lembrar isolado do mundo. Enfrentou sol, chuva, passou fome, teve anemia, infecções, desnutrição, até culminar com um ato impensável: amputar o próprio braço para poder fugir. Tal membro, o vilão da história, “aprisionava” Ralston, imobilizado, embaixo do mundo, no meio da fenda escura da montanha.
Ao longo do filme, sonha com a vida normal, festas regadas a bebedeiras, tem alucinações com a morte etc – tudo o que, realmente, aconteceu com o alpinista real conforme relatado no seu livro “Between a rock and a hard place”.
É uma lição de sobrevivência amarga, triste, muito bem interpretada pelo ator James Franco em um tour-de-force excepcional. Percebam a transformação do personagem desde o primeiro dia até o último, com uma maquiagem surpreendente (o rosto queimado pelo sol, os lábios secos, o braço apodrecendo).
A cena estarrecedora da amputação do braço, com cerca de cinco minutos, chocou platéias e ainda causa aflição – é a sequência mais comentada do filme.
Hoje, Ralston está casado, tem 35 anos, usa uma prótese e ministra palestras em universidades. Os vídeos reais dele estão disponíveis na internet, no Youtube por exemplo.
Um dos destaques do cinema nesse ano. Procure já. Por Felipe Brida

127 horas (127 hours). EUA, 2010, 94 min. Drama. Dirigido por Danny Boyle. Distribuição: Fox Home

sábado, 9 de julho de 2011

Cine Lançamento

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Santuário

Grupo de expedicionários inicia uma descida a uma misteriosa caverna chamada de “Santuário”, no meio de uma floresta inóspita. No caminho, os membros da equipe, liderada pelo aventureiro Frank (Richard Roxburgh), sofrem um incidente, perdendo contato com o mundo exterior, o que os deixa isolados por vários dias. O grupo então arma estratégias para escapar do local.

Aventura corriqueira rodada por um diretor de origem australiana desconhecido no mundo do cinema (Alister Grierson só dirigiu alguns curtas). O nome do famoso cineasta bilionário James Cameron na produção tenta dar destaque para a fita, já que ele foi responsável por produções caras e de grande bilheteria, como “Titanic” e “Avatar”. Só que a menção de Cameron não traduz muita coisa, devido ao filme ser médio, com um elenco duvidoso cheio de jovens atores fracos.
A ação ronda uma equipe de expedicionários que adentra uma caverna abaixo d’água, no alto de uma floresta perdida. Eles ficam ilhados após uma forte tempestade que termina com a pane no circuito de comunicação. E daí para frente o grupo faz das tripas coração pra sair com vida do escuro da caverna.
Tem um ritmo ágil com breves momentos de tensão (a do primeiro afogamento nos deixa aflito), no entanto fica um gostinho de entretenimento descartável, com pouquíssimos efeitos visuais e mote de enredo já visto outras vezes no cinema (“Abismo do medo” e “O segredo do abismo” têm resultados com impactos maiores). Não chega a ser um desastre, mas uma aventura menor, passageira e de pouca originalidade. Por Felipe Brida

Santuário (Sanctum). EUA/Austrália, 2011, 109 min. Aventura. Dirigido por Alister Grierson. Distribuição: Paris Filmes

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Resenha

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Tolerância zero

Nova York, anos 60. O jovem Danny Balint (Ryan Gosling) estuda em uma escola judaica que, aos poucos, desapega-se da religião e se torna um violento seguidor dos ideais neonazistas. A personalidade do rapaz muda por completo, assim como seu cruel comportamento, levado às últimas conseqüências, começa a chamar a atenção da comunidade local.

Considerado pela crítica estrangeira como um dos grandes filmes da década passada, “Tolerância zero” (produzido em 2001) é baseado em um caso real ocorrido em Nova York na segunda metade da década de 60. Narrado com frieza, mostra a trajetória de um jovem, Danny Balint, criado desde a infância na religião judaica, porém, quando adolescente, envolve-se com um grupo de neonazistas, adotando a ideologia. Dentro do padrão habitual, o rapaz raspa a cabeça, veste roupas com o símbolo da suástica, repudia homossexuais e judeus e passa a atacá-los em plena luz do dia (tais seguidores ainda existem espalhados pelo mundo inteiro cometendo crimes como agressão e assassinato). Só que Balint desenvolve perturbações mentais ao questionar religião, fé e moral, pois estaria ele propagando a violência (aquilo que a sociedade condena) e desrespeitando os ensinamentos do Torá (a cartilha-base do Judaísmo).
Com final metafórico, o drama surpreende pela história que aproxima duas ideologias tão distintas em um personagem único. Por isso, o filme serve para reflexão em torno da intolerância religiosa.
Tudo se encaixa graças ao ator Ryan Gosling em uma atuação precisa, sem exageros, num papel difícil em que o público não terá simpatia por ele. Um momento notório de sua brilhante carreira (é o mesmo ator de “Um crime de mestre”, “Diário de uma paixão”, e indicado ao Oscar por “Half Nelson – Encurralados”, de 2008, ainda não distribuído no Brasil).
“Tolerância zero” ganhou prêmios em festivais de cinema, como ator e diretor (este levou o Grande Prêmio do Júri em Sundance, também concorrendo, com Gosling, ao Independent Spirit Awards). Procure conhecer esse filme independente de grande sucesso de crítica. Por Felipe Brida

Tolerância zero (The believer). EUA, 2001, 98 min. Drama. Dirigido por Henry Bean. Distribuição: Europa Filmes

terça-feira, 5 de julho de 2011

Resenha

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A sombra e a escuridão

África, 1898. O engenheiro John Patterson (Val Kilmer) chega ao vilarejo queniano de Tsavo para construir uma ponte. Poucos dias depois, com as obras em andamento, depara-se com dois leões assassinos que aterrorizam os operários. Toda a comunidade fica acuada com medo daqueles animais, apelidados de Sombra e Escuridão. Até que um experiente caçador, Charles Remington (Michael Douglas), é designado para matar os temíveis bichos.

Exemplar fita de aventura com clima de suspense, baseada na história verídica dos leões de Tsavo, que mataram cerca de 130 pessoas no Quênia, no fim do século XIX. Os animais, sem explicação, devoravam as pessoas no calar da noite, não para se alimentar, mas com instinto de vingança. Até hoje os fatos são inexplicáveis – acredita-se que os bichos protegiam aquela área e, com a vinda dos operários para a construção da ponte, sentiram-se ameaçados em seu hábitat natural. Para se ter uma idéia da proporção que isto atingiu, os 130 africanos foram atacados e mortos em nove meses (uma média de 14 por mês, ou seja, uma vítima a cada dois dias!).
O filme, lançado em 1996, acompanha dois homens na caçada dos leões para coibir a carnificina. Um é o engenheiro encarregado das obras (Val Kilmer), que sabe manejar armas, e o outro é o caçador com trajes típicos, interpretado pelo sempre interessante Michael Douglas. Os momentos notórios da fita ficam para os ataques dos animais, sempre mostrados como diabólicos e inteligentes, já que conheciam as armadilhas dos seres humanos e, no final das contas, venciam ilesos as batalhas.
Com história escrita por William Goldman, “A sombra e a escuridão” chega de novo no mercado pela Paramount, que relançou o filme com capa diferente da original dos cinemas. Em 1997 ganhou o único Oscar que concorreu, o de efeitos sonoros (e Val Kilmer concorreu como pior ator no Framboesa de Ouro, junto com ‘ A ilha do Dr. Moreau’). Intrigante e tenso. Procure já. Por Felipe Brida

A sombra e a escuridão (The Ghost and the Darkness). EUA, 1996, 109 min. Ação. Dirigido por Stephen Hopkins. Distribuição: Paramount Pictures

domingo, 3 de julho de 2011

Cine Lançamento

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Roqueiros

O cotidiano de um grupo de jovens skatistas e punks latinos na periferia de Los Angeles, envolvidos em sexo, droga, assassinatos e confusões com a polícia.

Lembrado pelo polêmico filme sobre drogas “Kids” (1995), o cineasta junkie Larry Clark caiu no esquecimento depois de fitas menores que foram fracasso de público. Como projeto pessoal, rodou em 2005 esse curioso “Roqueiros”, com roteiro dele mesmo, que é um panorama sobre os skatistas de origem latina que moram na linha divisória entre a parte glamourosa e pobre de Beverly Hills, em Los Angeles. Portando a câmera nos ombros e utilizando recursos mínimos de cinema, acompanha a difícil rotina dos joens em meio à violência e drogas. Tudo contado de forma natural, sem o impacto febril visto em “Kids”.
A fita mistura documentário (inúmeras cenas reais em locações) e atuação de atores que nada mais são do que eles próprios, ou seja, o personagem é o elenco real. Assim Clark transmite um retrato fiel daquela tribo urbana composta por skatistas e punks em busca de seus sonhos e prazeres – o engraçado é que de roqueiros não têm nada, como o infeliz título brasileiro sugere.
Ao longo do filme os jovens exibem um pouco do dia-a-dia com a família desestruturada, os namoros supérfluos e o hobby do skate, e ao mesmo tempo os acercam a violência de gangues rivais e a rebeldia que germina no corpo frágil de cada um.
Desconhecida do grande público, chega às locadoras pela Europa Filmes essa fita independente, curiosa e bem realista. Principalmente a moçada deve conhecer e refletir. Em DVD. Por Felipe Brida

Roqueiros (Wassup rockers). EUA, 2005, 111 min. Drama. Dirigido por Larry Clark. Distribuição: Europa Filmes

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Resenha

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Império dos sonhos

A atriz veterana Nikki Grace (Laura Dern) recebe a proposta para atuar no remake de um filme polonês onde parte da equipe morreu misteriosamente. Aos poucos, ela assume o lado doentio da personagem, atormentada por estranhos sonhos.

O mais ousado filme experimental do cultuado diretor David Lynch, famoso por fitas esquisitas e super tétricas, como “Cidade dos sonhos”, “Duna” e “Veludo Azul” (mas também de um dos meus preferidos, o excelente “O homem elefante”). Aqui, exagera em um longo delírio surrealista com visual alucinado, sem referentes, desconexo, difícil de explicar e de entender. Interminável, tem três horas de duração.
A apresentação básica é bem explicada: uma atriz em má fase da carreira (a ótima Laura Dern) começa a trabalhar em um filme, a convite de um diretor (rápida aparição de Jeremy Irons). Aos poucos ela descobre histórias de bastidores (a morte da equipe do projeto original, na Polônia) e rapidamente absorve a identidade da personagem que interpreta, tornando-se uma mulher perturbada à beira da loucura. Porém o roteiro explode numa série de esquisitices, com pesadelos coloridos, gente com forma de animal e outras bizarrices, que nada mais é do que um difícil exercício de estilo de Lynch, repleto de imagens retorcidas e closes absurdos. Como a maioria de suas obras, o cineasta não faz questão de explicar nada; ele mesmo diz de boca cheia que os filmes que lança mescla tendências abstracionistas com Dadaísmo e Surrealismo.
Complexo para o público comum, muitos encontrarão dificuldade em chegar ao final.
Ganhou prêmio menor numa mostra paralela dentro do Festival de Veneza. Quem vai arriscar? Por Felipe Brida

Império dos sonhos (Inland empire). EUA/França, 2006, 180 min. Drama. Dirigido por David Lynch. Distribuição: Europa Filmes