O
escultor francês Auguste Rodin (Vincent Lindon), enquanto cria uma de suas
principais obras, “A porta do inferno”, apaixona-se pela sua aprendiz, Camille
Claudel (Izïa Higelin), que se tornaria depois uma grande escultora.
Curioso
drama biográfico francês, coprodução entre Bélgica e Estados Unidos, que
recorta uma parte da vida de Auguste Rodin (1840-1917), pai da escultura
moderna, com destaque para o relacionamento de altos e baixos que teve por 12
anos com sua musa inspiradora, Camille Claudel (1864-1943). A história parte do
ano de 1880, quando o governo parisiense encomendou pela primeira vez uma obra
de arte para Rodin, a escultura “A porta do inferno”, inspirada na “Divina
Comédia”, de Dante Alighieri. Rodin demorou 37 anos para construí-la
(terminando meses antes de morrer), uma escultura monumental, composta por 180
obras menores em bronze que formavam um portal - nela se encontravam as famosas
“O pensador” e “O beijo” e foi instalada no Cour de Comptes, no Museu de Artes
Decorativas de Paris, que havia sofrido incêndio. Durante o desenvolvimento das
peças, aparece no ateliê/oficina do artista uma jovem interessada por arte
chamada Camille Claudel, de apenas 16 anos, que começou a ajudá-lo (Rodin tinha
40 anos, 24 a mais que ela). Camille rapidamente tornou-se a modelo oficial do
escultor, também sua confidente e amante, fazendo-o mudar radicalmente seu jeito
de criar. Nunca moraram juntos, pois Rodin era casado - ele destratava a
esposa, batia nela e a considerava sua empregada. O relacionamento durou 12
anos, e em 1892 terminaram quando Camille abortou, porém mantiveram contato até
o fim da vida de Rodin. O filme, indicado à Palma de Ouro em Cannes em 2017,
retrata todas essas passagens reais, umas com mais outras com menos
intensidade, sob as lentes do diretor francês Jacques Doillon, de “Ponette – À
espera de um anjo” (1996), que também escreveu o roteiro – ele já venceu prêmios
especiais nos principais festivais europeus, como Cannes, Berlim e Veneza. Seu
estilo é marcante, mas rejeitado por parte do público: câmera aberta e distante
filmando grandes ambientes, que se movimenta de lá para cá, certa aridez e
frieza nos roteiros para realçar a falta de emoção dos personagens, fotografia
acinzentada, com pouco destaque para cores. Gosto quando Doillon focaliza o
olhar concentrado de Rodin para o trabalho com os materiais no ateliê, em
especial a argila (o artista revolucionou o campo plástico ao utilizar um dos
materiais menos nobres), assim como capta discretamente as trocas de olhares
com Camille, uma garota bem sedutora. Outras passagens intensas é quando Rodin
faz dois bustos que marcaram sua carreira, a de Victor Hugo e a de Balzac, que virou
polêmica na época.
É um
bom filme cult europeu, para quem gosta de arte, com um trabalho inesperado do francês
Vincent Lindon, um dos mais proeminentes do país.
Outro
filme adequadíssimo sobre o relacionamento entre eles é “Camille Claudel”
(1988), de Bruno Nuytten, indicado ao Oscar de fita estrangeira e que rendeu a
Isabelle Adjani sua segunda indicação na Academia, no papel da escultura – e
quem interpreta Rodin é Gérard Depardieu.
Rodin (Idem). França/Bélgica/EUA, 2017, 119
min. Drama. Colorido. Dirigido por Jacques Doillon. Distribuição: Mares Filmes
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