quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Cine Lançamento



Rodin

O escultor francês Auguste Rodin (Vincent Lindon), enquanto cria uma de suas principais obras, “A porta do inferno”, apaixona-se pela sua aprendiz, Camille Claudel (Izïa Higelin), que se tornaria depois uma grande escultora.

Curioso drama biográfico francês, coprodução entre Bélgica e Estados Unidos, que recorta uma parte da vida de Auguste Rodin (1840-1917), pai da escultura moderna, com destaque para o relacionamento de altos e baixos que teve por 12 anos com sua musa inspiradora, Camille Claudel (1864-1943). A história parte do ano de 1880, quando o governo parisiense encomendou pela primeira vez uma obra de arte para Rodin, a escultura “A porta do inferno”, inspirada na “Divina Comédia”, de Dante Alighieri. Rodin demorou 37 anos para construí-la (terminando meses antes de morrer), uma escultura monumental, composta por 180 obras menores em bronze que formavam um portal - nela se encontravam as famosas “O pensador” e “O beijo” e foi instalada no Cour de Comptes, no Museu de Artes Decorativas de Paris, que havia sofrido incêndio. Durante o desenvolvimento das peças, aparece no ateliê/oficina do artista uma jovem interessada por arte chamada Camille Claudel, de apenas 16 anos, que começou a ajudá-lo (Rodin tinha 40 anos, 24 a mais que ela). Camille rapidamente tornou-se a modelo oficial do escultor, também sua confidente e amante, fazendo-o mudar radicalmente seu jeito de criar. Nunca moraram juntos, pois Rodin era casado - ele destratava a esposa, batia nela e a considerava sua empregada. O relacionamento durou 12 anos, e em 1892 terminaram quando Camille abortou, porém mantiveram contato até o fim da vida de Rodin. O filme, indicado à Palma de Ouro em Cannes em 2017, retrata todas essas passagens reais, umas com mais outras com menos intensidade, sob as lentes do diretor francês Jacques Doillon, de “Ponette – À espera de um anjo” (1996), que também escreveu o roteiro – ele já venceu prêmios especiais nos principais festivais europeus, como Cannes, Berlim e Veneza. Seu estilo é marcante, mas rejeitado por parte do público: câmera aberta e distante filmando grandes ambientes, que se movimenta de lá para cá, certa aridez e frieza nos roteiros para realçar a falta de emoção dos personagens, fotografia acinzentada, com pouco destaque para cores. Gosto quando Doillon focaliza o olhar concentrado de Rodin para o trabalho com os materiais no ateliê, em especial a argila (o artista revolucionou o campo plástico ao utilizar um dos materiais menos nobres), assim como capta discretamente as trocas de olhares com Camille, uma garota bem sedutora. Outras passagens intensas é quando Rodin faz dois bustos que marcaram sua carreira, a de Victor Hugo e a de Balzac, que virou polêmica na época.


É um bom filme cult europeu, para quem gosta de arte, com um trabalho inesperado do francês Vincent Lindon, um dos mais proeminentes do país.
Outro filme adequadíssimo sobre o relacionamento entre eles é “Camille Claudel” (1988), de Bruno Nuytten, indicado ao Oscar de fita estrangeira e que rendeu a Isabelle Adjani sua segunda indicação na Academia, no papel da escultura – e quem interpreta Rodin é Gérard Depardieu.

Rodin (Idem). França/Bélgica/EUA, 2017, 119 min. Drama. Colorido. Dirigido por Jacques Doillon. Distribuição: Mares Filmes

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