quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Resenhas especiais


Barquero

Um barqueiro, Travis (Lee Van Cleef), que conduz passageiros de um lado a outro de um rio no Oeste americano, na divisa com o México, recusa-se a ajudar um grupo de criminosos desalmados, liderado por Remy (Warren Oates). Eles acabaram de assaltar um banco a poucas milhas de lá e precisam atravessar o rio. O bando toca o terror ameaçando a população, enquanto Travis reúne aos poucos os moradores do vilarejo para levá-los até a outra margem. Quando o barqueiro é feito prisioneiro dos algozes, planeja virar o jogo e acabar com a farra dos bandidos.

Faroeste sujo e violento rodado nos Estados Unidos, com fortes traços do western spaghetti, feito no auge do cinema bangue-bangue da Itália. Inclusive com uma figura frequente desses filmes, Lee Van Cleef, com sua cara de mau, olhar ameaçador e aquele bigode único. Cleef, que fazia papéis de bandidos, como o ‘Angel Eyes’ (ou ‘The bad’), de ‘Três homens em conflito’ (1966), primeiro filme da Trilogia do Dólar de Sérgio Leone, aqui é o salvador, um barqueiro solitário que trabalha duro e tenta salvar um vilarejo de perigosos bandidos, levando-os, em fuga, de um lado a outro de um rio na divisa com o México. Cada minuto conta, enquanto a ameaça de um bando de criminosos aumenta. Warren Oates, ator dos filmes duros de Sam Peckinpah, como ‘Meu ódio será sua herança’ (1969) e ‘Tragam-me a cabeça de Alfredo Garcia’ (1974) - um de meus diretores favoritos, interpreta o vilão, o bandido cruel que desafia o barqueiro e inicia uma onda de violência na região. Com muita ação, tiros para todos os lados, uma fotografia de cores quentes – já que os personagens enfrentam a insolação no rio, chama a atenção os closes sorrateiros no rosto dos personagens, recurso utilizado com frequência no faroeste italiano. Para quem gosta desse gênero ‘morto’, o western, que ficou no passado, vale ver – a direção é de Gordon Douglas (1907-1993), um cineasta versátil, que fez de tudo um pouco, mas ficou reconhecido pelo cinema policial, parte dele noir.



PS - Existem duas versões de ‘Barquero’ em termos de metragem: a mais violenta, de 115 minutos, e uma com cortes, de 109 minutos, essa a única disponível no Brasil. Saiu em DVD pela Versátil Home Video no box ‘Cinema faroeste – vol.4’ contendo outros cinco longas, como ‘O homem do oeste’ (1958) e ‘Fúria selvagem’ (1971). Uma curiosidade: o título é ‘Barquero’, em função das origens espanholas do personagem principal, Travis.

Barquero (Idem). EUA, 1970, 109 minutos. Faroeste. Colorido. Dirigido por Gordon Douglas. Distribuição: Versátil Home Video



A bruma assassina

A cidadezinha litorânea de Antonio Bay, nos Estados Unidos, é tomada por uma densa névoa que vem do oceano, exatamente 100 anos depois de um navio ter naufragado misteriosamente nas proximidades. A névoa carrega os fantasmas do naufrágio, piratas amaldiçoados que retornam para se vingar e que estão em busca de uma relíquia guardada em uma igreja.

Um de meus filmes de terror preferidos, que assistia quando criança na TV e que até hoje me causa arrepios. É uma fita de horror sobrenatural, que dá medo, tem jumpscares espalhados pela instigante trama, e por vezes sugestionado, já que nunca vemos os fantasmas – aparecem fragmentos de partes dele e só no desfecho uma rápida aparição. Começa com um velhinho sentado nas pedras ao lado de crianças à noite, Mr. Machen (John Houseman, numa participação de segundos), que conta a elas uma macabra história de terror. É justamente essa a história que vemos se desenrolar, de uma cidade pesqueira americana tomada por uma estranha névoa. Ninguém sabe, mas ela leva junto fantasmas de piratas malignos. Eles estão em busca de um tesouro e passam a eliminar quem aparece pela frente. Tudo é recriado com forte tensão e impacto, com uma fotografia escurecida, a névoa como elemento do medo e pavor, as pessoas fugindo sem saber o que há por trás disso tudo. Aos poucos entendemos quem são aqueles homens, da tripulação de um barco que naufragou 100 anos atrás. John Carpenter, o diretor e roteirista, e também o compositor da sinistra música, que fica grudada na mente, rodou o filme independente com baixo orçamento, dois anos após ganhar um dinheiro milionário de bilheteria com o clássico absoluto dos horror movies, ‘Halloween – A noite do terror’ (1978). De ‘Halloween’ trouxe a roteirista e produtora Debra Hill, a atriz Jamie Lee Curtis, que protagoniza o filme, e o ator Charles Cyphers. Além desses dois, o elenco reunia Adrienne Barbeau, Tom Atkins, Hal Holbrook, James Canning e a mãe de Jamie Lee, Janet Leigh. Com uma trama diferente ligada ao horror sobrenatural, que nos prende, um elenco de feras e a marca John Carpenter, o resultado não podia ser outro: uma joia caprichada, de causar susto, medo e marcar na memória.





Depois de sair em DVD pela Universal Pictures há mais de 15 anos, ganhou versão restaurada em bluray no Brasil, pela Versátil Home Video, no box ‘Carpenter Essencial’, que reúne dois filmaços dele em boa qualidade de som e imagem, também reprisados aos montes na TV aberta – ‘O enigma de outro mundo’ (1982) e ‘Christine – O carro assassino’ (1983). Em 2005 fizeram um remake horrível do filme, ‘A névoa’, com Tom Welling.

A bruma assassina (The fog). EUA, 1980, 89 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por John Carpenter. Distribuição: Versátil Home Video

* Textos publicados na coluna 'Middia Cinema', na revista Middia - edição de junho-julho de 2025

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