Filhos
Nova estreia da Mares
Filmes nos cinemas brasileiros, distribuidora que trouxe esse ano excelentes longas,
como o ganhador do Oscar de animação ‘Flow’, ‘O bom professor’ e ‘Stella –
Vítima e culpada’. Agora chega às salas das principais praças do país o drama
com suspense psicológico ‘Filhos’ (2024), coprodução Dinamarca, Suécia e França.
É o novo trabalho do diretor do sufocante thriller ‘Culpa’ (2018), o sueco Gustav
Möller, realizador de obras angustiantes. Concorrente ao Urso de Ouro no
Festival de Berlim, o filme aborda questões como dilemas morais e senso de
justiça, a partir de uma trama entremeada por diversas camadas. Em uma cadeia,
a dedicada agente penitenciária Eva (Sidse Babett Knudsen, das séries ‘Borgen’
e ‘Westworld’, em uma atuação magistral) tem um baque ao descobrir que um dos detentos
que acaba de ser levado para lá, Mikkel (Sebastian Bull), esteve envolvido em
uma tragédia em sua família. Atordoada, ela pede transferência para a ala de segurança
máxima, para ficar próximo do rapaz, iniciando com ele um jogo de obsessão e
vingança. O segredo entre os dois nos é revelado na metade do filme – algo até
possível de prever, mas a construção do suspense é de deixar qualquer um com nervos
à flor da pele. A relação dos personagens Eva e Mikkel é visceral, com momentos
tensos. A fotografia casa como uma luva na história, com cores azuladas e enquadramento
fechados em que os dois ficam sempre frente a frente. É um bom filme, de teor
realista, que abre uma forte discussão sobre moralidade.

Humphrey Bogart: A
vida vem em flashes
Um convite para a trajetória
do premiado ator novaiorquino Humphrey Bogart (1899-1957), rosto típico do
cinema noir dos anos 40 e 50, é o mote desse bom documentário britânico de 2024
que foi exibido nos festivais de Roma e do Rio do ano passado. O longa acompanha
os primeiros passos de Bogart até o auge da carreira, que o levou ao panteão da
Sétima Arte e tornou-o ídolo da era de ouro de Hollywood. Seus quatro casamentos,
a relação com os filhos e a perseguição no Macarthismo são momentos-chave do
doc. Bogart, aos 22 anos, trabalhava na bilheteria de um teatro, e lá conheceu
sua primeira esposa, a atriz Helen Menken, já famosa. Ficaram juntos apenas um
ano, e em seguida foi fazer teatro e cinema. O estrelato veio imediatamente, fazendo
com que Bogart, em 25 anos em Hollywood, participasse de 80 filmes, dentre eles
clássicos absolutos, como ‘O falcão maltês’ (1941), ‘Casablanca’ (1942), ‘À
beira do abismo’ (1946), ‘O tesouro de Sierra Madre’ (1948), ‘A condessa
descalça’ (1954) e ‘Horas de desespero’ (1955). Indicado a três Oscars, ganhou um,
pela estupenda atuação em ‘Uma aventura na África’ (1951). A vida conjugal do
ator teve altos e baixos – ele se casou com quatro mulheres, todas atrizes, Helen
Menken, depois Mary Philips, Mayo Methot e o último e mais conhecido, com
Lauren Bacall, também o mais duradouro – Bogart e Bacall fizeram dupla em
vários filmes noir, ficaram casados por 12 anos, de 1945 até a morte dele em 1957,
e tiveram dois filhos. O filme conta com imagens raras de arquivo e depoimentos
antigos de Lauren Bacall, Helen Hayes e John Huston. É narrado pelo filho, que
é produtor de cinema, Stephen H. Bogart, cuja voz rouca e anasalada lembra o
pai. Está disponível no Prime Video.
Comportamento
apropriado
Filme experimental que
marcou a estreia na direção da cineasta autoral norte-americana de origem
iraniana Desiree Akhavan. Ela faria em seguida seu trabalho de maior
repercussão, a adaptação para o cinema do livro ‘O mau exemplo de Cameron Post’
(2018). Lá e aqui a diretora e roteirista trata de temas correlatos pertinentes
a ela, com teor autobiográfico: identidade de gênero, descoberta sexual e
opressão da sociedade a grupos LGBTQIAPN+. Também intitulado no Brasil de ‘Uma
boa menina’, a comédia dramática, de 2014, acompanha a luta de Shirin por
reconhecimento. Ela vem de uma família persa com costumes conservadores, mas se
reconhece como bissexual. Mora no Brooklyn, tem amizades com homens e mulheres
hetero e queer, e se apaixona por uma mulher madura igual a ela. Porém,
questionamentos vem a sua mente, o que a faz esconder seus sentimentos e ocultar
o relacionamento com a jovem com quem pretende namorar. Feminino, misturando
momentos emotivos com outros alto astral e com boas reflexões, o filme é uma
joia do cinema indie, que já demonstrava a sensibilidade para a direção de Desiree
– que, aliás, é uma ótima atriz. Ela voltaria ao tema da bissexualidade na minissérie
escrita e produzida por ela ‘The bissexual’ (2018), em que volta a atuar na
pele de uma personagem semelhante ao do filme ‘Comportamento apropriado’. Exibido
nos festivais de Sundance, Sydney e do Rio, foi indicado ao Film Independent
Spirit Awards, na categoria ‘Melhor primeiro roteiro’. Está em exibição no Sesc
Digital, gratuitamente até hoje, dia 05/08.