sábado, 30 de agosto de 2025

Especial de Cinema


Em outubro, Festival do Rio chega a sua 27ª edição

Outro grande festival de cinema aguardado pelos cinéfilos é o Festival do Rio, que neste ano chega a sua 27ª edição, realizado entre os dias 02 e 12 de outubro. Centenas de filmes em première, brasileiros e internacionais, estarão na programação na capital carioca. Ontem foi anunciado o filme de abertura, que será ‘Depois da caçada’ (2025), o novo trabalho de Luca Guadagnino, longa que integra a programação do Festival de Veneza. O drama de suspense tem no elenco Andrew Garfield, Julia Roberts, Chloë Sevigny e Michael Stuhlbarg, e a sessão será no histórico Cine Odeon – Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro, tradicional palco da Gala de Abertura do Festival do Rio.



O Festival do Rio 2025 contará com uma programação diversa de filmes em apresentações especiais, divididos em seções como ‘Première Brasil’, mostra competitiva dedicada a filmes brasileiros que concorrem ao Troféu Redentor; ‘Panorama Mundial’, com longas que foram destaque em festivais internacionais; sucessos inéditos hors-concours, mostras temáticas, clássicos restaurados e, por fim, filmes LGBTQIAPN+ que concorrem ao Prêmio Felix. A programação com os filmes será divulgada em breve no site do festival, em https://www.festivaldorio.com.br/, e nas redes sociais do evento – Instagram, X/Twitter, TikTok, Facebook e Youtube.


Criado em 1999, o Festival do Rio é apresentado pelo Ministério da Cultura, Shell e Prefeitura do Rio, e conta com patrocínio master da Shell por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e apoio especial da Prefeitura do Rio – por meio da RioFilme, órgão que integra a Secretaria Municipal de Cultura. É uma realização do Cinema do Rio e Ministério da Cultura/Governo Federal.


Temporada França-Brasil 2025

O Festival do Rio participará da Temporada França-Brasil 2025, iniciativa que celebra os 200 anos de relações diplomáticas entre os dois países. Na oportunidade, o festival apresentará programas especiais que abrangem encontro de profissionais, retrospectiva de filmes de três diretoras francesas (Sophie Letourneur, Blandine Lenoir e Romane Bohringer), com debate em seguida, em parceria com a Cinemateca Brasileira e o Forum des Images; uma retrospectiva do cinema de Alberto Cavalcanti, cineasta brasileiro que fez filmes e projetos audiovisuais na França – projeto novamente em parceria com a Cinemateca, com destaque para a exibição da cópia restaurada de ‘Mulher de verdade’ (1954); e um programa de formação para estudantes e comunidade, em colaboração com a Universidade Federal Fluminense (UFF). A Temporada França-Brasil é organizada pelo Institut Français e pelo Instituto Guimarães Rosa, com o apoio das embaixadas e dos ministérios da Cultura e das Relações Exteriores de ambos os países.

Festival do Rio de 2024

Na edição do ano passado, foram exibidos 260 títulos no Festival, como ‘Emília Perez’ (filme de abertura da edição de 2024), ‘O quarto ao lado’, ‘Herege’, ‘Conclave’, ‘A verdadeira dor’, ‘Canina’, ‘O aprendiz’, ‘Bird’, ‘Manas’, Maníaco do Parque' e ‘Parthenope – Os amores de Nápoles’. O circuito de exibição ocupou mais de 20 espaços do Rio de Janeiro, como as salas do circuito Estação NET, o Kinoplex São Luiz e o Cine Odeon.

Especial de cinema

 
Vem aí a 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
 
Festival de cinema dos mais esperados do país, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo chega a sua 49ª edição. O evento, que promete agitar os cinéfilos da capital paulista, acontece de 16 a 30 de outubro. Como de praxe, serão exibidas em diversas salas de SP centenas de produções do Brasil e do mundo, filmes de destaque em festivais como Cannes, Berlim e Sundance. A programação completa deve ser divulgada em breve no site oficial e nas redes sociais da Mostra.
Desde quarta-feira, a equipe de imprensa da Mostra vem publicando as primeiras informações da edição de 2025. Seguem algumas delas, abaixo.
 

- O pôster oficial da 49ª Mostra (abaixo) é assinado pelo escritor e artista plástico angolano radicado em Portugal Valer Hugo Mãe. Como homenagem ao seu trabalho, a Mostra irá exibir o documentário português ‘De lugar nenhum’ (2025), de Miguel Gonçalves Mendes, que retrata a vida do escritor. Outro título anunciado pela Mostra, em exibição esse ano, é ‘O filho de mil homens’ (2025), da Netflix – com direção de Daniel Rezende e protagonizado por Rodrigo Santoro, o filme é adaptado do romance homônimo do referido escritor.
 

- Alguns títulos confirmados para exibição na Mostra são ‘Mirrors no 3’ (2025, drama/suspense alemão, do cultuado cineasta Christian Petzold, de ‘Afire’ e ‘Em trânsito’, exibido nos festivais de Cannes e Sydney), ‘Living the land’ (2025, drama chinês, vencedor do prêmio de melhor diretor no Festival de Berlim), ‘La petite dernière’ (2025, drama franco-alemão da cineasta e atriz Hafsia Herzi, vencedor dos prêmios de melhor atriz em Cannes e do Queer Palm), ‘Dead souls’ (2025, drama/faroeste do conhecido cineasta Alex Cox, dos cult movies dos anos 80 ‘Repo Man: A onda punk’ e ‘Sid & Nancy, o amor mata’), ‘Sound of falling’ (2025, drama de guerra alemão vencedor do prêmio do Júri no Festival de Cannes) e ‘Urchin’ (2025, drama britânico vencedor do prêmio da Crítica e de melhor ator na ‘Mostra Um Certo Olhar’ em Cannes, escrito e dirigido pelo ator de ‘Triângulo da Tristeza’ e ‘Babygirl’ Harris Dickinson).






 
Patrocínio
 
A Mostra de Cinema de SP é uma realização do Ministério da Cultura e conta com o patrocínio master da Petrobras e patrocínio do Itáu, SPCine e Prefeitura de São Paulo. Tem parceria do Sesc, apoio do Projeto Paradiso, apoio técnico da Quanta, Cultura Artística e Cinemateca Brasileira e colaboração da Ancine, Embratur, Netflix, Instituto Guimarães Rosa – IGR e British Council, além da promoção da Globofilmes, Canal Brasil, Folha de S. Paulo, TV Cultura, Arte 1, Bandnews e Revista Piauí.
 
A 48ª Mostra
 
A Mostra de Cinema de São Paulo de 2024 contou com a exibição 419 títulos de 82 países, apresentados nas seções ‘Perspectiva Internacional’, ‘Competição Novos Diretores’, ‘Mostra Brasil’ e ‘Apresentação Especial’. A Mostra foi realizada em 20 salas de cinemas e espaços culturais, além de exibições gratuitas, em salas, ao ar livre e online (nas plataformas Itaú Cultural Play, Sesc Digital e SPcine Play). O filme de abertura foi ‘Maria Callas’, de Pablo Larraín, e na programação estiveram títulos como ‘Anora’, de Sean Baker, ganhador da Palma de Ouro no Festival de Cannes, ‘Dahomey’, de Mati Diop, vencedor do Urso de Ouro em Berlim, ‘Ainda estou aqui’, de Walter Salles, vencedor do prêmio de melhor roteiro em Veneza, a animação ‘Memórias de um caracol’, de Adam Elliot, ‘Grand tour’, de Miguel Gomes, vencedor do prêmio de direção em Cannes, ‘O brutalista’, de Brady Corbet, ganhador de cinco prêmios em Veneza, como melhor diretor e prêmio da crítica, e ‘Vermiglio’, de Maura Delpero, vencedor do Grande Prêmio do Júri em Veneza.
Para mais informações, acesse o site oficial da Mostra - mostra.org

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Especial de cinema

 
Cinema de terror anos 80
 
A distribuidora Obras-primas do Cinema lança, desde 2020, caixas especiais em DVD com filmes de terror dos anos 80. Até agora já saíram oito volumes com quatro longas em cada um deles, totalizando 32 títulos. Tem filme de terror com fantasmas, vampiros, psicopatas, zumbis, monstros gosmentos e palhaços assassinos. Todos os boxes vêm com cards colecionáveis com as capas dos filmes e muitos extras nos discos. Confira abaixo três títulos arrepiantes, recomendados aos fãs do gênero, que estão nesses boxes – disponíveis para compra no site da distribuidora, em https://www.colecioneclassicos.com.br
 

Depois da meia-noite
 
Um grupo de estudantes se matricula em um curso de psicologia do medo, coordenado pelo misterioso professor Edward Derek (Ramy Zada). Trancadas num antigo casarão, as jovens compartilham histórias arrepiantes de terror, para que sintam na pele o medo e consigam, assim, enfrentá-lo. Quando bate meia-noite, as histórias imaginadas viram realidade.
 
Lançado no finzinho dos anos 80, o cultuado filme de terror trazia três histórias macabras a partir de uma tradição oral – um grupo de garotas reunidas numa velha casa para contar casos assombrosos de fantasmas, psicopatas e zumbis. Elas estão num curso, instigadas por um professor sinistro, que tem o poder de fazer com que as histórias criem vida própria, depois da meia-noite. Clima de mistério, gritos e sussurros, sustos pelos cantos das paredes, tudo isso causa frisson no público que assiste. É um horror realista com surpresas mirabolantes que tornam o filme puro horror com fantasia, já que aparecerão na trama caveiras malignas que lutam e feitiços que amaldiçoam os personagens. Percebam a participação da estreante atriz Marg Helgenberger, que depois faria o terror scifi ‘A experiência’ (1995).
Disponível em DVD no box ‘Sessão de terror anos 80 – Vol. 7’, em dois DVDs, que reúnem quatro filmes – os outros são ‘A TV dos mortos-vivos’ (1987), ‘A abominável criatura’ (1988) e ‘O soro do mal’ (1988), além de 40 minutos de extras, como entrevistas, galeria de imagens, making of e outtakes.
 
Depois da meia-noite (After midnight). EUA, 1989, 93 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Jim Wheat e Ken Wheat. Distribuição: Obras-primas do Cinema
 

 
O soro do mal
 
O jovem estudante Brian (Rick Hearst) sente algo estranho em seu corpo. Ele entende que está delirando ao topar, no apartamento onde vive, com um estranho bicho falante. Só que não é delírio – uma estranha criatura alienígena chamada Elmer invadiu a casa do estudante e forma com ele uma estranha relação de simbiose – Elmer injeta pela nuca de Brian uma droga alucinógena, que o torna viciado, enquanto Brian, em troca, tem de caçar pessoas para que o monstro se alimente de cérebros.
 
Cultuadíssima fita de horror, muito bizarra e com tons de humor macabro, adorada por fãs de horror alternativo nos Estados Unidos. Para quem curte, assim como eu, filmes alternativos estranhos pra caramba, vai achar um sarro. Já começa com um casal de velhinhos preparando cérebro humano para dar a alguém, que está numa banheira. Não vemos o que é. De repente, aquilo foge do apartamento dos idosos, causando uma agonia no casal. É uma criatura alienígena parecida com um polvo misturado com serpente, azulado, que tem boca cheia de dentes e um sorriso de deboche. De nome Elmer, ele se esconde no apartamento de um jovem, Brian, vizinho dos idosos. Cria com ele uma relação mútua de dependência – o bicho falante, de voz grossa, se aloja atrás das costas do rapaz. Ele dá uma droga para Brian, injetada diretamente em seu cérebro, e em troca pede humanos, já que seu prato preferido é cérebro fresco. Brian vira um viciado, uma espécie de zumbi, alucinado naquela droga poderosa, e ao mesmo tempo se torna um assassino potencial – já que faz armadilhas para capturar pessoas para Elmer.
Bizarro em todos os sentidos, um dos filmes mais estranhos do cinema, feito por um diretor extremamente alternativo, Frank Henenlotter, de outro filme igualmente bizarro e sanguinário, ‘O mistério do cesto’, que integra a trilogia ‘Basket case’ (feitos entre 1982 e 1991) - de uma criatura que vive num cesto e come pessoas. ‘O soro do mal’ faz analogias sexuais – o bicho é em formato de pênis e satisfaz o personagem por trás, na nuca, fala de dependência química, e pode ter sido inspirado num clássico filme de terror alemão sobre sonambulismo e controle, ‘O gabinete do Dr. Caligari’ (1920), de um médico que utiliza um homem para cometer assassinatos. Esteja preparado, pois é uma fita cult diferentíssima. Em DVD no box ‘Sessão de terror anos 80 – Vol. 7’ - composto por dois DVDs, que reúnem quatro filmes, que são ‘A TV dos mortos-vivos’ (1987), ‘A abominável criatura’ (1988) e ‘Depois da meia-noite’ (1989), além de 40 minutos de extras, como entrevistas, galeria de imagens, making of e outtakes. Disponível na versão sem cortes de 86 minutos, enquanto a de cinema tinha 84 minutos.
 
O soro do mal (Brain damage). EUA, 1988, 86 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Frank Henenlotter. Distribuição: Obras-primas do Cinema
 

 
O cérebro
 
Em uma cidadezinha do interior dos Estados Unidos, dois cientistas mantêm num laboratório um enorme cérebro, que controla a mente dos humanos. O médico responsável pelo temido experimento, Dr. Anthony Blakely (David Gale), influenciado pelo cérebro gigante, é líder de audiência na TV com seu programa que manipula os telespectadores. Certo dia, o cérebro se descontrola, cresce, adquire vida própria e sai caçando pessoas para se alimentar.
 
Dos filmes de terror lançados em DVD pela Obras-primas do Cinema nos boxes ‘Sessão de terror Anos 80’ – até agora foram oito caixas com mais de 30 títulos, ‘O cérebro’ é um dos mais nonsense e bizarros. Uma fita trash muito exibida na TV aberta – lembro-me dela no nostálgico ‘Cine Trash’. Pegou referências das fitas B dos anos 50 e 60, quando existiam uma infinidade de longas cujos vilões eram cérebros malditos, como ‘O cérebro do planeta Arous’ (1957), ‘O cérebro que não queria morrer’ (1962) e ‘The brain’ (1962). Rodada no Canadá, o filme de baixo orçamento traz um roteiro inverossímil e ideias bem malucas – um médico e sua equipe insana mantém num aquário, no laboratório onde trabalham, um enorme cérebro, ligado a fios que mandam para a TV sinais para controlar a mente da população. O líder do experimento é um médico inescrupuloso, disposto a tudo para concluir seus objetivos do mal – papel de David Gale, também o médico de ‘Re-Animator - A hora dos mortos-vivos’ (1985). O cérebro cresce e vira uma ameaça quando se desprende das correntes e, com dentes afiados, sai rastejando por aí atrás de carne humana. Não é para se levar a sério, apenas entretenimento barato com boas doses de diversão – não ligue para os efeitos especiais, que são tosquíssimos (o cérebro é de borracha, e em muitas cenas vemos falhas técnicas e erros de continuidade). Filme que representa o suco do cinema B de terror dos anos 80. A direção de Ed Hunt condiz com sua filmografia – ele fez filmes scifi B e terror nas décadas de 70 e 80, dentre eles um slasher cultuado, no ano-chave dos slasher movies, ‘Aniversário sangrento’ (1981). Disponível em DVD no box ‘Sessão de terror anos 80 – Vol. 1’, caixa composta por dois DVDs, que reúnem quatro outros filmes, que são ‘A bolha assassina’ (1988), ‘Palhaços assassinos do espaço sideral’ (1988) e ‘Shocker: 100 mil volts de terror’ (1989), além de 1h de extras, como entrevistas e making of.




O cérebro (The brain). Canadá, 1988, 94 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por Ed Hunt. Distribuição: Obras-primas do Cinema

Nota de cinema


Animação indicada ao Oscar invade a tela do Cine Debate neste sábado
 
O Cine Debate do Imes Catanduva exibe, neste sábado, dia 30/08, a animação indicada ao Oscar ‘Meu amigo robô’ (2023). Apresentado nos festivais de Cannes e Toronto, o filme conquistou público e crítica e é uma adaptação fiel da popular graphic novel da norte-americana Sara Varon, romancista e ilustradora gráfica infantil. A sessão é a partir das 14 horas, gratuita e aberta ao público, na sala de ginástica do Sesc Catanduva. A mediação do debate será feita pelo idealizador do Cine Debate, o jornalista, professor do Imes e do Senac e crítico de cinema Felipe Brida.
 
Sinopse: O cãozinho Dog mora sozinho em um apartamento em Manhattan. Certa vez, vê na TV um anúncio de venda de robôs que servem de acompanhantes e resolve comprar um. O robô é enviado, e entre eles nasce uma duradoura amizade. Até que num passeio na praia, Dog abandona seu melhor amigo e parte para novos rumos.
 

Cine Debate
 
O Cine Debate é um projeto de extensão do curso de Psicologia do IMES Catanduva em parceria o SESC e o SENAC Catanduva. Completa 13 anos em 2025 trazendo filmes cult de maneira gratuita a toda a população. Conheça mais sobre o projeto em https://www.facebook.com/cinedebateimes

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas e no streaming - Parte 1

 
 
Enigma
 
Exibido no Festival de Sundance em janeiro desse ano, o documentário norte-americano investiga duas personalidades transexuais engajadas em movimentos sociais nos anos 60 e 70, April Ashley (1935-2021) e Amanda Lear (1939-). Elas marcaram a história por sua luta contra a discriminação. A britânica April foi modelo, escritora e depois socialite, enquanto Amanda, de origem francesa, foi cantora – apelidada de ‘Rainha da disco’, dançarina no famoso cabaré Le Carrousel de Paris, atriz e apresentadora de TV, tendo forte vínculo com Salvador Dalí. Cada uma enfrentou o preconceito ao seu modo, levando para a grande mídia discussões em torno de tabus que já pautavam a sociedade, como identidade de gênero e corpo trans. O filme reúne depoimentos atuais das duas e entrevistas antigas, além de reportagens e muitas memórias, que reforçam a luta de ambas por igualdade e reconhecimento, que ajudariam a fortalecer os movimentos LGBTQIAPN+ nas décadas seguintes. Produção caprichada da HBO, que realiza documentários sérios e interessantes. Entrou recentemente no catálogo da HBO Max.
 


 
Moacyr Luz - O embaixador dessa cidade
 
Dirigido por Tarsilla Alves, o documentário brasileiro, que teve sua estreia nesse fim de semana nos principais cinemas do país, revisita a trajetória do cantor e compositor carioca Moacyr Luz, o ‘Embaixador do samba’, hoje com 67 anos de idade. Focado em entrevistas atuais dele e de amigos e parceiros, como Maria Bethânia, Zeca Pagodinho, Jards Macalé e Fafá de Belém, o doc exibe diversos fragmentos de apresentações de samba, em rodas e bares, em que Luz está à frente com elegância e ginga. Boêmio e carismático, Luz incorpora a alma dos cariocas em suas canções, já gravadas por dezenas de cantores e cantoras reconhecidos – um de seus grandes sucessos é ‘Coração do agreste’, uma parceria dele com o ex-vizinho de edifício Aldir Blanc, imortalizada por Fafá de Belém e que foi tema da novela dos anos 80 ‘Tieta’. Além das apresentações musicais, o filme faz uma boa mistura de cenas de arquivo e de Luz hoje explorando espaços da Cidade Maravilhosa, lugares que o inspiram a compor suas canções. Após uma batalha contra o câncer e tendo de lidar com o Parkinson e com sérios problemas cardíacos, o sambista permanece na ativa cantando e encantando o público. Produzido pela Onda Filmes, tem distribuição nos cinemas pela Bretz Filmes.
 


 
A última missão
 
Divertida comédia policial com jeitão anárquico, com Eddie Murphy mais contido, em um bom momento da carreira após altos e baixos que se arrastam desde o início dos anos 2000 – o astro já indicado ao Oscar andava sumido, e agora aos 64 anos retorna com menos caricatura nesse filme do Amazon Prime Video, que estreou há duas semanas no streaming. Ele interpreta um motorista de caminhão blindado, que transporta grandes quantias de dinheiro aos bancos. Seu parceiro de andanças é um rapaz bobalhão e meio perdido – papel de Pete Davidson, de ‘A arte de ser adulto’ (2020), esse sim exagerado, sempre com caras e bocas. Num dia aparentemente rotineiro, enquanto dirigem por uma rodovia, os dois são fechados por um grupo de assaltantes, que cercam o blindado para um roubo, comandado por uma jovem expert no crime (Keke Palmer, do filme ‘Um dia daqueles’, de 2025). A líder da ação criminosa tem outros planos além do roubo, e acabará fazendo um inferno para conquistar seus escusos objetivos. Com cenas divertidas e outras de tiroteio, com ação de sobra, o filme é puro passatempo, com reviravoltas e artimanhas, e tudo o que podemos esperar de Eddie Murphy, um astro adorado por gerações. O diretor Tim Story havia feito dois filmes de ‘Buddy cops’, bacanas até, que lembram este aqui, ‘Policial em apuros’ – partes 1 e 2 (2014 e 2016), com Ice Cube e Kevin Hart, e também realizou o último filme da franquia de ‘Shaft’, para a Netflix, em 2019, com Samuel L. Jackson – que gosto bastante. Ou seja, um diretor que sabe conduzir ação com humor na medida certa. É para ver sem compromisso e se jogar na risada com esse elenco que se diverte em cena.

domingo, 17 de agosto de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas e no streaming


O pior homem de Londres
 
O mais recente trabalho do português Rodrigo Areias, diretor que teve praticamente todos os filmes lançados na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, como “Tebas” (2007), “Estrada de palha” (2012), “1960” (2013), “Ornamento e crime” (2015), “Hálito azul” (2018), “Surdina” (2019 – exibido em Cannes) e “Vencidos da Vida” (2020), chega aos cinemas. Na edição de 2024 da Mostra de SP, Areias foi júri e apresentou lá seus dois últimos longas, “A pedra sonha dar flor” (2024) e esse “O pior homem de Londres” (2024), que conta com um elenco de nomes como Albano Jerónimo, Edward Ashley e Victoria Guerra. Falado quase que inteiramente em inglês, com poucos diálogos em outras línguas, como francês e português, o filme é um novo exercício autoral que abre outra frente estética na vasta carreira de Areias – é diferente de tudo o que fez. É um drama de época inspirado num caso real, com ambientação na Londres da época vitoriana, onde conhecemos um homem misterioso que circula entre a arte e a política, Charles Augustus Howell (1840-1890), apelidado de ‘O Português’. Nascido em Porto, de mãe portuguesa e pai inglês, era um cidadão de boa lábia, que atuava como agenciador e vendedor de obras de arte e tinha uma identidade oculta – era um agente secreto que fazia todo tipo de chantagem. Virou inspiração para que o escritor Arthur Conan Doyle criasse o vilão Milverton das histórias de detetive de Sherlock Holmes e foi o mesmo Doyle quem apelidou Howell de ‘o pior homem de Londres’. Com muitos diálogos, figurino bonito, uma fotografia sombria (em tons azulados, em interiores de grandes salões de festas), com enquadramentos distanciados, sem closes ou foco em rostos, o filme de arte é um complexo mergulho na figura excêntrica desse homem enigmático, um personagem forte, de mil camadas e muitos segredos. Para os inseridos no cinema de Areias, vale com certeza conhecer. Produzido pela Leopardo Filmes, a distribuição no Brasil é pela Fênix Filmes.
 


Faz de conta que é Paris
 
Prazerosa comédia italiana que acaba de estrear nos cinemas pela Pandora Filmes, distribuidora especializada na curadoria de bons filmes europeus – neste ano lançaram, por exemplo, ‘O brilho do diamante secreto’ (2025 – exibido no Festival Berlim), ‘Ponto oculto’ (2021 – exibido em Berlim) e ‘Na teia da aranha’ (2023 – exibido em Cannes). Escrito, dirigido e estrelado por Leonardo Pieraccioni, de ‘Il ciclone: Amor e paixão’ (1996), o filme é inspirado numa emocionante história real que parece algo do mundo da fantasia, e trata de temas como reconexão de laços familiares e o poder da imaginação. Nos anos 80, os irmãos Michele e Gianni Bugli disseram para o pai doente que iriam levá-lo para uma inesquecível viagem a Paris, já que era o sonho dele. Porém, inventaram cenários e lugares, locomovendo o idoso de um ponto a outro da cidade italiana onde viviam – e o senhor, no leito de morte, acreditou. A comédia dramática segue essa linha, sobre três distantes que se reúnem criar o ambiente parisiense e assim dar ao pai seu último desejo em vida. Eles forjam tudo em um haras, na área rural da cidade onde moram, perfazendo um trajeto do campo de Florença até Paris. No meio do caminho, paradas para cafés e conversas íntimas. Lembra ‘Adeus, Lenin!’ (2003), só que mais leve e passageiro. Divertido e cativante, conta com uma fotografia ensolarada e momentos de puro ânimo. Participação vigorosa do veterano ator Nino Frassica, como o patriarca da família. Assistam.
 

 
Tóxico
 
Com uma infinidade de filmes cult no catálogo, a Mubi, que se tornou queridinha dos cinéfilos, lança mais um filme europeu diferente no streaming. Se não fosse na Mubi, essa obra talvez nunca chegaria ao Brasil, já que é um filme cult de festival – ganhou, ano passado, o principal prêmio do Festival de Locarno, o Leopardo de Ouro. O drama retrata uma juventude marcada por traumas e desafios. No filme, duas garotas de 13 anos, Marija (Vesta Matulyte) e Kristina (Ieva Rupeikaite), refletem a possibilidade de deixar a cidade industrial onde vivem, na Lituânia, para buscar novos rumos. As duas enfrentam problemas familiares, uma delas foi abandonada pela mãe e é criada pela madrasta, enquanto a outra é fechada, sem amigos. Ligadas por um forte vínculo na escola de modelos onde tentam carreira, atritam-se com colegas da turma enquanto se entregam de corpo e alma para o corpo perfeito, ultrapassando todos os limites de dieta e exercícios físicos. Escrito e dirigido pela lituana Saulė Bliuvaitė, jovem cineasta em sua estreia no cinema, que antes só fez curtas, o filme é um estudo impactante sobre as dores da adolescência e a desgastante indústria da moda que explora crianças e jovens. As duas atrizes, também estreantes, são ótimas e são a essência dessa juventude desamparada. A diretora trabalha bem a paleta de cores claras, com uma inebriante fotografia do interior da escola de moda, e há sacadas caprichadas que misturam coreografia de dança contemporânea com ensaios de passarela onde as personagens ficam frente a frente com a câmera e, portanto, olhando para o espectador, que somos nós – ou seja, a proposta estética é desafiadora.

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Especial de cinema


À caça dos desavisados – Uma análise de ‘Armadilha para turistas’ *

Por Felipe Brida

Se você dirigisse por uma longa estrada deserta e percebesse que seu carro furou o pneu, pediria ajuda em um museu abandonado à beira da estrada? É o único lugar próximo, pense bem! Bom, para ajudar, os bonecos de gesso lá guardados se mexem sozinhos, sem energia elétrica ou manipulação de cordas. Alguns até riem alto e gritam. Aposto que você e eu não pisaríamos nunca nesse lugar medonho, mas os amigos desavisados Molly, Eileen, Becky, Jerry e Woody sim, se aventurariam no museu particular do Sr. Slausen.
‘Armadilha para turistas’ (1979) é um proto-slasher assustador, reverenciado pelos fãs do cinema de horror alternativo, e que ajudaria a abrir as portas do inferno para a década do slasher movie a partir do ano seguinte. Traz a trama básica dos filmes sangrentos: um grupo de amigos, na flor da idade, presos num lugar misterioso e caçados impiedosamente por um serial killer mascarado. Só que há ingredientes originais e até disruptivos na concepção do assassino aqui, o maquiavélico Sr. Slausen (papel do veterano ator Chuck Connors, de ‘Furacão de emoções’, de 1953, e ‘No mundo de 2020’, de 1973): ele tem poder telecinético, revelado no decorrer da trama. Assim, foge do tipo comum de psicopata com perfil realista, adquirindo uma aura sobrenatural, mística. Ele é um rancheiro manco, de rosto quadrado, que usa chapelão e calças jeans com suspensório e carrega consigo uma velha espingarda. Aparentemente um bom cidadão, que se aproxima dos jovens da história assim que o carro deles apresenta problemas e estão perdidos nos arredores de sua fazenda. Ele dá conselhos sobre os perigos naturais da região, como animais peçonhentos e lobos. Prontifica-se a ajudar no carro quebrado, conduzindo os jovens ao velho museu de sua família, um local turístico chamado ‘Old West Museum’, que não funciona mais – Slausen mora nos fundos. O grupo de amigos se depara com quinquilharias acumuladas, restos de bonecos, ferramentas enferrujadas e mesas no chão. Slausen então conta que o irmão, Davey, que não reside mais ali, fabricou os bonecos de gesso com aparência humana. É um contador de ‘causos’, um bom papo, que vai levando os jovens na lábia, com histórias que nunca sabemos se são verdadeiras, incluindo a da esposa falecida. Passadas algumas horas da ausência de Slausen, os jovens, sozinhos no museu, são mortos um a um, por objetos que adquirem vida – uma barra de aço que sai a toda velocidade de um armário atingindo as costas de um coitado, um lenço que estrangula uma das meninas e por aí segue. E tanto os bonecos do Old West Museum quanto manequins empoeirados aparecem com risos mortais para dar calafrios nas vítimas.




O assassino é, na verdade, Sr. Slausen, que utiliza a telecinese para atacar – nunca ficam claros os motivos de como ele adquiriu tais poderes. Percebe-se que ele, à distância, usa a força da mente para afogar o carro dos turistas, além de fazer janelas abrirem e fecharem sozinhas e atirar objetos. O que sim é evidente são seus traços de Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI), semelhantes ao de Norman Bates, de ‘Psicose’, embaralhando realidade com fantasia. Davey, o irmão, não existe, tudo vem de Sr. Slausen. Ele manipula, cria as armadilhas, joga a culpa no irmão endoidecido e desaparece. Quando retorna para matar, traja capote, chapéu e uma máscara de gesso bizarra, tornando-o um psicopata de primeira e único. E também um personagem complexo, de inúmeras camadas – nós, espectadores, nunca sabemos os limites desse serial killer, e o que é verdade e mentira em suas falas.
Stephen King, o mestre do terror literário, relata no livro ‘Dança macabra’ (1981) sua relação com a indústria de entretenimento, com o cinema de horror e as influências que teve. Segundo ele, ‘Armadilha para turistas’ o marcou, apontado como um dos poucos filmes que realmente sentiu medo. Ele cita a abertura do filme, aterrorizante e que já induz o tom maléfico da obra – na abertura, um carro com o pneu furado está ao léu numa estrada de terra. O motorista caminha até um bar vazio, não encontra ninguém e perambula por ali, deparando-se com bonecos que parecem animados, que riem dele. O rapaz fica preso num dos cômodos, até que o armário de ferramentas chacoalha, os risos aumentam, e uma barra de ferro trepida, levita e voa, perfurando a vítima, que morre. É o poder da telecinese do vilão, que nunca vemos, só escutamos seus passos – ele só é revelado na metade, e até lá o filme soa enigmático e estranho, deixando a pergunta “como os bonecos do nada riem e vidros e objetos se movimentam sem a mão humana?”
O museu de Sr. Slausen carrega o duplo sentido do termo “armadilha para turistas”: tem o conceito de um lugar com atrativos para chamar a atenção de viajantes e levá-los para gastar e comprar, ou seja, fisgar o turista, mas também tem o sentido do mal, um espaço de sacrifícios humanos, com armadilhas mortais para trucidar com as pobres vítimas. Vítimas essas que serão transformadas em bonecos de gesso!
Fortemente influenciado por ‘Psicose’, ‘O massacre da serra elétrica’ (1974) e, claro, ‘Museu de cera’ (1953), esse “slasher antes do slasher” traz uma trama macabra, um assassino de arrepiar, sustos e bonecos assustadores. Tem mais coisas boas? Sim, uma trilha sonora caprichada, que lembra algo circense, do italiano Pino Donaggio, compositor-parceiro de Brian De Palma em ‘Carrie, a estranha’ (1976), ‘Vestida para matar’ (1980) e outros trabalhos. Chuck Connors é a força-motriz do longa, num papel sinistro (antes oferecido aos atores Jack Palance e Gig Young), que puxa o restante do elenco, composto por nomes que se destacariam na década de 80, como Jocelyn Jones, Jon Van Ness, Tanya Roberts e Robin Sherwood.
O diretor David Schmoeller conta que reaproveitou um roteiro seu de três anos antes, do curta-metragem de conclusão da faculdade, ‘The spider will kill you’ (1976), sobre um homem cego trancado num sótão com manequins, até se apaixonar por um deles. Convidou um amigo roteirista, J. Larry Carroll, e escreverem juntos ‘Armadilha para turistas’. Barato para a época, orçado em U$ 800 mil, foi produzido por Charles Band, que tem no currículo 440 filmes e telefilmes, muitos deles terror independente, incluindo ‘O mestre dos brinquedos’ (1989), fita para home video dirigida por Schmoeller, muito reprisada na TV e que ganharia continuações – realmente, Schmoeller era fascinado por bonecos malditos!
‘Armadilha para turistas’ chega agora em versão restaurada, numa cópia fiel pela Versátil Home Video, na metragem original de cinema, de 90 minutos –países como a Itália proibiram a exibição, por conter cenas discutíveis de violência e tortura, enquanto outros editaram cenas e lançaram uma versão com cortes, de 85 minutos. Um filme autoral e cultuado, que ajudou a introduzir o slasher no cinema norte-americano, e reúne ainda hoje legião de adoradores.

* Resenha escrita especialmente para o livro "Psicopatas no cinema - Filmes essenciais", lançado pela Versátil Home Video em julho desse ano. Livro disponível para venda no site da Versátil, diretamente no link hhttps://www.versatilhv.com.br/produto/livro-psicopatas-no-cinema-filmes-essenciais/5572486. Livro lançado junto aos boxes 'Slashers vol. XVI', 'Slashers vol. XVII' e 'Obras-primas do terror - Psicopatas - Vol.2'.








quinta-feira, 14 de agosto de 2025

Resenhas especiais

 
A última loucura de Claire Darling
 
No verão francês, próximo de completar 80 anos, Claire Darling (Catherine Deneuve) abre mão dos bens, incluindo sua mansão. Ela acredita que está prestes a morrer em breve. Decide, então, sair de casa e colocar na calçada para venda e doação os móveis e toda a coleção de arte. A filha, Marie (Chiara Mastroianni), que não vê há 20 anos, retorna para a cidade natal para se reencontrar com a mãe e entender os motivos que a levaram a cometer tal ‘loucura’.
 
Baseado no livro de Lynda Rutledge ‘Faith bass Darling's last garage sale’, cuja história se passava no Texas e agora vai para a França, o filme é um drama com tons de humor que ora é espirituoso e leve, ora melancólico e estranho. A ideia central gira em torno de uma quase octogenária que comete uma ‘loucura’, segundo vizinhos, de sair de casa, colocar tudo à venda, como sua chique coleção de quadros e móveis rústicos, para esperar a morte – ela acredita que está em seus dias finais e, portanto, quer se desprender das coisas. Solitária, sem muitos amigos, recebe a visita da filha distante, que não vê há tempos – e atritos entre elas voltam a ocorrer. O brilho desse filme cult europeu está na presença solar de duas atrizes que admiro, mãe e filha na vida real, Catherine Deneuve, ícone do cinema francês e italiano dos anos 60 e 70, de filmes como ‘A bela da tarde’ (1967), e Chiara Mastroianni, nascida do casamento de Catherine com Marcello Mastroianni, e atriz de ‘Canções de amor’ (2007). Em cena, as duas personagens se completam naquilo que falta uma a outra, tornando o filme uma joia de protagonismo feminino. Da diretora de dois bons filmes, os premiados ‘Desde que Otar partiu’ (2003) e ‘A árvore’ (2010), Julie Bertuccelli, que dirige histórias diferentes de mulheres fortes, em busca de um sentido.




Em 2018 o filme saiu em DVD pela A2 Filmes e recentemente entrou em duas plataformas de streaming – no Prime Video e na Reserva Imovision, após relançamento do longa pela Imovision.
 
A última loucura de Claire Darling (La dernière folie de Claire Darling). França, 2018, 94 minutos. Drama. Colorido. Dirigido por Julie Bertuccelli. Distribuição: A2 Filmes e Imovision


Spirit: O indomável
 
A garotinha Lucky Prescott (voz de Isabela Merced) muda-se para uma pequena cidade na fronteira dos Estados Unidos e México chamada Miradero, após retomar o contato com o pai distante. A menina perdeu a mãe quando pequena e descobre que ela foi uma habilidosa treinadora de cavalos, chegando a ser uma premiada dublê de equitação. Em terras desconhecidas, Lucky explora o lugar até se tornar próxima de um mustang selvagem chamado Spirit. Certo dia, um forasteiro aparece ao local disposto a roubar o mustang Spirit, ameaçando a família de Lucky.
 
Indicado ao Annie Awards, conhecido como o Oscar infantil, a animação é um entretenimento legalzinho para a criançada, um filme inspirado na série ‘Spirit: Cavalgando livre’ (2017–2020), da Netflix, mas aqui sem participação do streaming na produção. Tanto o seriado quanto o filme são novas versões de um pequeno clássico da animação dos anos 2000, indicado ao Oscar na época, ‘Spirit: O corcel indomável’ (2002), um dos primeiros sucessos da DreamWorks, concorrente da Disney – a DreamWorks estava no auge, tinha lançado ao mundo os divertidíssimos ‘A fuga das galinhas’ (2000) e ‘Shrek’ (2001). ‘Spirit: O indomável’ traz novas aventuras da garota Lucky Prescott, que já protagonizava a referida série, agora mudando de cidade e conhecendo o passado da mãe falecida. A guinada na trama ocorre na metade com a apresentação de um vilão, um cowboy destemido e seu bando, que querem roubar o Mustang Spirit, que se tornou amigo de Lucky.



Mais alegre, a animação em computação gráfica carrega um apelo bem infantil, com traços sutis de efeitos visuais. Não chega a ser uma novidade, no entanto é rápido, engraçadinho, movimentado, e as crianças se empolgarão. As vozes originais foram trocadas em relação à série, e aqui no elenco há nomes conhecidos, como Isabela Merced, Mckenna Grace, Walton Goggins, Julianne Moore, Jake Gyllenhaal e Andre Braugher. Disponível em DVD e em streamings.
 
Spirit: O indomável (Spirit Untamed). EUA/Reino Unido, 2021, 87 minutos. Animação. Colorido. Dirigido por Elaine Bogan e Ennio Torresan. Distribuição: Universal Pictures/DreamWorks

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

Resenhas especiais


Barquero

Um barqueiro, Travis (Lee Van Cleef), que conduz passageiros de um lado a outro de um rio no Oeste americano, na divisa com o México, recusa-se a ajudar um grupo de criminosos desalmados, liderado por Remy (Warren Oates). Eles acabaram de assaltar um banco a poucas milhas de lá e precisam atravessar o rio. O bando toca o terror ameaçando a população, enquanto Travis reúne aos poucos os moradores do vilarejo para levá-los até a outra margem. Quando o barqueiro é feito prisioneiro dos algozes, planeja virar o jogo e acabar com a farra dos bandidos.

Faroeste sujo e violento rodado nos Estados Unidos, com fortes traços do western spaghetti, feito no auge do cinema bangue-bangue da Itália. Inclusive com uma figura frequente desses filmes, Lee Van Cleef, com sua cara de mau, olhar ameaçador e aquele bigode único. Cleef, que fazia papéis de bandidos, como o ‘Angel Eyes’ (ou ‘The bad’), de ‘Três homens em conflito’ (1966), primeiro filme da Trilogia do Dólar de Sérgio Leone, aqui é o salvador, um barqueiro solitário que trabalha duro e tenta salvar um vilarejo de perigosos bandidos, levando-os, em fuga, de um lado a outro de um rio na divisa com o México. Cada minuto conta, enquanto a ameaça de um bando de criminosos aumenta. Warren Oates, ator dos filmes duros de Sam Peckinpah, como ‘Meu ódio será sua herança’ (1969) e ‘Tragam-me a cabeça de Alfredo Garcia’ (1974) - um de meus diretores favoritos, interpreta o vilão, o bandido cruel que desafia o barqueiro e inicia uma onda de violência na região. Com muita ação, tiros para todos os lados, uma fotografia de cores quentes – já que os personagens enfrentam a insolação no rio, chama a atenção os closes sorrateiros no rosto dos personagens, recurso utilizado com frequência no faroeste italiano. Para quem gosta desse gênero ‘morto’, o western, que ficou no passado, vale ver – a direção é de Gordon Douglas (1907-1993), um cineasta versátil, que fez de tudo um pouco, mas ficou reconhecido pelo cinema policial, parte dele noir.



PS - Existem duas versões de ‘Barquero’ em termos de metragem: a mais violenta, de 115 minutos, e uma com cortes, de 109 minutos, essa a única disponível no Brasil. Saiu em DVD pela Versátil Home Video no box ‘Cinema faroeste – vol.4’ contendo outros cinco longas, como ‘O homem do oeste’ (1958) e ‘Fúria selvagem’ (1971). Uma curiosidade: o título é ‘Barquero’, em função das origens espanholas do personagem principal, Travis.

Barquero (Idem). EUA, 1970, 109 minutos. Faroeste. Colorido. Dirigido por Gordon Douglas. Distribuição: Versátil Home Video



A bruma assassina

A cidadezinha litorânea de Antonio Bay, nos Estados Unidos, é tomada por uma densa névoa que vem do oceano, exatamente 100 anos depois de um navio ter naufragado misteriosamente nas proximidades. A névoa carrega os fantasmas do naufrágio, piratas amaldiçoados que retornam para se vingar e que estão em busca de uma relíquia guardada em uma igreja.

Um de meus filmes de terror preferidos, que assistia quando criança na TV e que até hoje me causa arrepios. É uma fita de horror sobrenatural, que dá medo, tem jumpscares espalhados pela instigante trama, e por vezes sugestionado, já que nunca vemos os fantasmas – aparecem fragmentos de partes dele e só no desfecho uma rápida aparição. Começa com um velhinho sentado nas pedras ao lado de crianças à noite, Mr. Machen (John Houseman, numa participação de segundos), que conta a elas uma macabra história de terror. É justamente essa a história que vemos se desenrolar, de uma cidade pesqueira americana tomada por uma estranha névoa. Ninguém sabe, mas ela leva junto fantasmas de piratas malignos. Eles estão em busca de um tesouro e passam a eliminar quem aparece pela frente. Tudo é recriado com forte tensão e impacto, com uma fotografia escurecida, a névoa como elemento do medo e pavor, as pessoas fugindo sem saber o que há por trás disso tudo. Aos poucos entendemos quem são aqueles homens, da tripulação de um barco que naufragou 100 anos atrás. John Carpenter, o diretor e roteirista, e também o compositor da sinistra música, que fica grudada na mente, rodou o filme independente com baixo orçamento, dois anos após ganhar um dinheiro milionário de bilheteria com o clássico absoluto dos horror movies, ‘Halloween – A noite do terror’ (1978). De ‘Halloween’ trouxe a roteirista e produtora Debra Hill, a atriz Jamie Lee Curtis, que protagoniza o filme, e o ator Charles Cyphers. Além desses dois, o elenco reunia Adrienne Barbeau, Tom Atkins, Hal Holbrook, James Canning e a mãe de Jamie Lee, Janet Leigh. Com uma trama diferente ligada ao horror sobrenatural, que nos prende, um elenco de feras e a marca John Carpenter, o resultado não podia ser outro: uma joia caprichada, de causar susto, medo e marcar na memória.





Depois de sair em DVD pela Universal Pictures há mais de 15 anos, ganhou versão restaurada em bluray no Brasil, pela Versátil Home Video, no box ‘Carpenter Essencial’, que reúne dois filmaços dele em boa qualidade de som e imagem, também reprisados aos montes na TV aberta – ‘O enigma de outro mundo’ (1982) e ‘Christine – O carro assassino’ (1983). Em 2005 fizeram um remake horrível do filme, ‘A névoa’, com Tom Welling.

A bruma assassina (The fog). EUA, 1980, 89 minutos. Terror. Colorido. Dirigido por John Carpenter. Distribuição: Versátil Home Video

* Textos publicados na coluna 'Middia Cinema', na revista Middia - edição de junho-julho de 2025

terça-feira, 12 de agosto de 2025

Estreias da semana – Nos cinemas e no streaming

 


A prisioneira de Bordeaux
 
Com 72 anos de idade e 45 de carreira, a atriz francesa Isabelle Huppert já recebeu os principais prêmios do cinema, como honorário em Berlim, atriz estreante no Bafta, atriz em Cannes, Globo de Ouro e vários de atriz em Veneza, além de ter sido indicada ao Oscar. Versátil, sabe fazer bem comédia, drama e suspense, chegando a participar de cinco filmes num mesmo ano. Um de seus últimos trabalhos estreou nos cinemas brasileiros no último fim de semana, ‘A prisioneira de Bordeaux’ (2024), drama francês exibido na Quinzena dos Realizadores em Cannes. Ao lado de outra grande atriz, a também francesa, mas descendente de algerianos e tunísios Hafsia Herzi (que é uma ótima cineasta, dirigindo quatro anos atrás o excelente ‘A boa mãe’), Huppert exibe charme e vigor nessa obra de olhar feminino sobre o encontro de duas mulheres de classes sociais diferentes, com algo em comum: seus maridos estão presos na mesma cadeia. Isabelle é Alma, uma senhora rica e solitária, que espera a saída do marido da prisão; Hafsia é Mina Hirti, uma jovem mãe solo que viajou longa distância para rever o companheiro atrás das grades, mas que é barrada na visita. Elas se conhecem nesse dia e ficarão juntas pelos próximos dias. A veterana diretora Patricia Mazuy, de ‘Um homem marcado’ (1989), realiza um filme maduro sobre diferenças de classe numa França patriarcal, em que duas mulheres diferentes se aproximam e lutam para ocupar seus espaços de direito. Um filme sensível com bela montagem, um roteiro com surpresas e bons diálogos, além da presença marcante de duas grandes personagens. Nos cinemas pela Autoral Filmes.



 
Pacto da viola
 
Escrito e dirigido por Guilherme Bacalhao, o longa brasileiro sobre tradição X modernidade estreia nos principais cinemas brasileiros. Assinado pela produtora 400 Filmes, deu a Wellington Abreu o prêmio de melhor ator no Festival de Brasília de 2024, e o longa foi exibido em festivais como Chile, Rússia, México, Bélgica e Uruguai. No enredo, Alex (Wellington Abreu), um compositor sertanejo que busca sucesso na carreira musical, volta para a cidade natal, numa pequena comunidade no sertão de Minas Gerais. Lá, a indústria ameaça o meio ambiente. O pai dele, Lázaro (Sérgio Vianna), é um velho músico, membro organizador da Folia de Reis da região. Ao retornar para a cidade depois de longa ausência, Alex ouve histórias sobre o pai, de que ele teria dívidas após um pacto com o diabo, o que leva o rapaz a conhecer mais sobre as tradições da festa religiosa de Folia de Reis. O título do filme faz alusão ao pacto com o diabo e a viola com as tradições culturais do interior do Brasil – e representa a dualidade do velho músico e do filho, um cantor da música sertaneja moderna. Trabalhando temas como espiritualidade, crença e tradições do sertão brasileiro, é uma pequena obra que permite conhecermos a presença da viola e da Folia de Reis na cultura centenária dos rincões do Brasil. A fotografia alternada entre tons claros e escuros remete a essa dualidade de mistério e realidade, real e sobrenatural do contato entre pai e filho que se reencontram.


 
 
Diamantes roubados: O golpe do século
 
Interessantíssimo documentário produzido pela Amblin Entertainment (de Steven Spielberg) em parceria com a Netflix, que o lançou dias atrás na plataforma de streaming. Registra minuciosamente o caso do roubo de diamantes na Antuérpia, ocorrido em 2003, chamado pela mídia de ‘O Assalto do Século’. Com entrevistas de policiais, investigadores, jornalistas e até de membros da meticulosa e destemida organização que fez o assalto, o filme investiga como se deu os preparativos e o ato em si do roubo de diamantes no bairro Schupstraat, que abriga o Centro de Diamantes da cidade belga da Antuérpia, conhecida pela venda de pedras preciosas. O grupo organizou o assalto por dois anos, alugando um escritório no andar de cima do cofre principal do bairro. Entre os dias 15 e 16 de fevereiro de 2003, entraram na sala do cofre, superprotegido por fechaduras com milhões de combinações possíveis, infravermelho, radares e campo magnético. Ou seja, um golpe de mestre. Levaram ainda ouro e joias, num total avaliado em US$ 100 milhões. Uma semana depois quatro pessoas foram presas por integrar o grupo criminoso, cada um especializado num crime, como arrombamento, falsificação de chaves e fechaduras e ataque a sistemas de alarme. A maior parte dos diamantes nunca foi recuperado e até hoje o mistério de seu paradeiro permanece. Um documentário excitante da Netflix, bem conduzido, com uma fotografia de filmes de época e bons depoimentos colhidos que refazem o passo a passo dos criminosos e da polícia.
 

 
A única sobrevivente
 
Estreou no último fim de semana na plataforma Adrenalina Pura esse mediano drama scifi com roupagem de filme histórico, que evoca os disaster movies. A história se passa em 1981, quando uma passageira sobrevive a um acidente de avião – na verdade, a aeronave em que ela está com o marido colide lateralmente, no ar, com um bombardeiro soviético, faltando pouco para aterrissar, e cai. Todos os 36 ocupantes do avião morrem, exceto Larisa (Nadezhda Kaleganova), que fica desacordada por dias numa floresta. Ela então, com frio e fome, tenta sobreviver na mata enquanto busca ajuda. É uma produção russa, dirigida por Dmitriy Suvorov, inspirada num caso real ocorrido em 1981. Melodramático, em tom de telefilme B, com falhas visíveis na edição/montagem, está disponível na plataforma online Adrenalina Pura, streaming especializado em fitas de ação, thriller, suspense e terror - são mais de 400 títulos no catálogo, com filmes originais e exclusivos, com estreias semanalmente, e disponível na Prime Video Channels, Apple TV e Claro TV+. O canal é uma parceria entre Sofa Digital e Califórnia Filmes, e dentre os títulos do catálogo estão ‘As duas faces da lei’ (2008), ‘Assassino a preço fixo’ (2011), ‘Dublê do diabo’ (2011), ‘No olho do furacão’ (2018), ‘Invasão ao serviço secreto’ (2019), ‘Mar em chamas’ (2021) e ‘Criaturas do senhor’ (2022).

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