Grey Gardens
Mãe e filha, Edith Bouvier Beale e Edith ‘Little Edie’ Beale, abrem as
portas de sua mansão decadente e tomada pela sujeira em East Hampton, próximo de Nova York,
para os irmãos documentaristas Albert
e David Maysles registrarem o cotidiano das duas. Elas cantam, recitam
poemas, lembram do passado da era de ouro de Nova York e vivem intensos
conflitos a ponto de discutirem na frente das câmeras. Big Edie e Litlle Edie
eram, respectivamente, tia e prima da ex-primeira-dama Jacqueline Kennedy, e,
na época, estavam prestes a ser despejadas do antigo casarão.
Uma obra-prima do documentário contemporâneo, que explora a conflitante relação de mãe e
filha, presas às memórias do passado. Um vínculo de amor e ódio frente às
câmeras. Edith Ewing Bouvier
Beale (1895-1977) e Edith Bouvier Beale (1917-2002) eram, respectivamente, tia e prima de
Jacqueline Kennedy, a ex-primeira-dama dos Estados Unidos, e voltaram à mídia
dois anos antes, em 1973, quando ilustraram manchetes de jornais americanos
sobre suas dificuldades financeiras. Esse escândalo repercutiu quando
autoridades policiais e a vigilância sanitária interditaram a mansão Grey
Gardens onde lá viviam na pobreza as duas ‘Edies’ – a mãe, conhecida como Big Edie,
e a filha, Little Edie. No casarão decadente à beira-mar num balneário de luxo,
East Hampton, a 160 quilômetros de Nova York, moravam no meio de ratos, gatos e
guaxinins, em precárias condições de higiene. Janelas quebradas, portas tomadas
por mofo, paredes com enormes rachaduras e infiltração é o cenário de
decadência que vemos no documentário. Por muito pouco não foram despejadas –
quando o caso estourou na mídia, as duas tiveram auxílio de Jackie Kennedy por
um curto período, que mandou equipes de limpeza organizarem a casa; no entanto
o local voltou a ser como era, meses depois. Dois anos mais tarde, elas abriram
as portas do decrépito casarão para mostrar seus dias aos documentaristas, os
irmãos Albert e David Maysles.
Entre lixo e memórias do passado glamouroso, elas relatam como era a vida
trinta anos atrás; Big Edie era uma socialite e cantora, e a filha, era modelo
e procurava trabalho em Hollywood. Por ironia do destino, entraram em profunda
crise financeira, isolando-se de tudo e de todos. À frente das câmeras, recitam
poemas, cantam velhas canções e brigam muito. Tudo é captado, sem interferência
dos diretores – o filme foi um marco do ‘cinema direto’, aquele em que os
documentaristas usam câmera móvel e o som direto, captam tudo o que acontece
sem manipular a cena, sendo que a realidade aparece em estado puro, mostrando o
mundo real, como ele é. Big Edie, com 80 anos, está sempre deitada na cama,
doente, com fotografias no colo (ela morreria dois anos depois), e a filha,
divorciada, anda eufórica de lá para cá, vestindo maiôs e roupas coladas em
cores extravagantes, lembrando das histórias de suas vidas, sempre com ar
melancólico e desalentado. Numa cena famosa, ela dança sorridente com uma
bandeira dos Estados Unidos, agitando-a.
É um documentário emblemático,
muito conhecido. Os irmãos Maysles fizeram diversos doc juntos e pelo menos
dois outros entraram para a história do documentário – ‘Caixeiro-viajante’ (1969), sobre vendedores de Bíblia que
batem de porta em porta, num filme que reflete a América profunda e virou
símbolo do ‘cinema direto’ e do ‘filme etnográfico’, e ‘Gimme shelter’ (1970), sobre a turnê dos Rolling
Stones em que se discute o fim da geração ‘paz e amor’ da Woodstock.
‘Grey Gardens’ saiu em
duas versões em DVD – em 2016 pela Obras-primas do Cinema, com quase uma hora
de extras, e em 2020 pelo IMS numa edição em disco duplo, contendo um segundo
filme, ‘As Beales de Grey Gardens’ (2006), em que os diretores, os irmãos
Maysles, trinta anos depois, fizeram um novo longa-metragem com cenas não
usadas do filme de 1975 – o que se assiste é um complemento de ‘Grey Gardens’,
com momentos inéditos daquela gravação, que ficaram guardados.
Em 2009 a HBO lançou ‘Grey Gardens: Do luxo
à decadência’, um telefilme de drama em que as atrizes Jessica Lange e Drew
Barrymore interpretam, respectivamente, Edith mãe e Edith filha. A série
ficcional, que ganhou seis prêmios Emmy e dois Globos de Ouro, reproduz os
principais momentos do documentário – as atrizes estão brilhantes, e traz
flashbacks dos anos dourados das Beales.
Grey Gardens (Idem). EUA, 1975, 94 minutos. Documentário. Colorido. Dirigido por Albert Maysles e David Maysles. Distribuição: Obras-primas do Cinema (DVD de 2016) e IMS (DVD de 2020)
As Beales de Grey Gardens
Na mansão decadente de Grey Gardens, num balneário de luxo próximo a
Nova York, mãe e filha vivem no meio do lixo e do abandono, cercadas por
memórias dos anos dourados, de quando integravam a alta sociedade dos Estados
Unidos. As Beales eram tia e prima de Jaqueline Kennedy Onassis, a
ex-primeira-dama dos Estados Unidos.
Trinta anos depois do fabuloso documentário ‘Grey Gardens’ (1975), obra máxima do ‘cinema direto’
contemporâneo, os irmãos documentaristas Albert e David Maysles lançaram um segundo filme sobre Edith Ewing Beale
e Edith Beale, mãe e filha que eram tia e prima da ex-primeira-dama Jacqueline
Kennedy Onassis e que viveram reclusas numa mansão chamada Grey Gardens, tomada
por mato, sujeira e bichos selvagens. O filme ‘As Beales de Grey Gardens’ (2006)
traz novas e nunca exibidas imagens daquele documentário passado, que ficaram
guardadas nos arquivos dos Maysles. Em 1975, eles captaram mais de quatro horas,
em vídeo, da relação de amor e ódio entre as Beales, e utilizaram parte do
material audiovisual, cerca de 1h35, para o filme original. Na nova obra, cortaram
mais 1h30 para retomar a história de vida de Big Edie e Little Edie, do luxo à
decadência. O protagonismo desse segundo documentário é com a filha, que volta
a falar sobre a quase carreira de atriz – ela era modelo nos anos 50, e por
pouco não foi chamada para fazer filmes em Hollywood. Tomada por um misto de
raiva e desilusão, ela revela novos fatos de seu passado, enquanto perambula
pela casa e por fora – os jardins ao redor do casarão Grey Gardens aparecem
pouco no primeiro documentário, e agora temos a noção da dimensão do lugar, que
ficava à beira-mar, isolado da cidade – lá, Jackie Kennedy passava a infância
com seus pais. Já Big Edie, na cama, traz outras lembranças dos anos dourados,
quando integrava a alta sociedade, era cantora e se sentava à mesa de
celebridades artísticas e políticos.
Os gatos, guaxinins, álbuns de fotografia e restos de lixo continuam
aparecendo nas gravações – dois anos antes do lançamento do original ‘Grey
Gardens’, mãe e filha estamparam as manchetes dos noticiários, em 1973, pois a mansão não tinha
condições de higiene para moradia, estava tomada pelo abandono e por animais.
Essa desorganização do ambiente reflete o estado mental das personagens, presas
ao passado, que contam as mesmas histórias, usam roupas de antigamente e
guardam ressentimentos.
O filme é um ótimo
complemento do anterior, e está disponível em DVD pelo IMS, numa edição lançada
em 2020, em dois discos – no primeiro, o original ‘Grey Gardens’ (1975), e no
segundo disco, ‘As Beales de Grey Gardens’ (2006), além de 30 minutos de extra
e um livreto de 44 páginas com textos de Albert Maysles e outros. Num dos
trechos de seu texto, que está no livreto, Maysles diz assim sobre os dias que
conviveu com as Beales para fazer os dois documentários: “Elas passavam seus dias não a perseguir o
sucesso ou o reconhecimento social, mas, sim, cultivando as próprias relações
amorosas conflituosas, entretendo uma à outra (e a nós) com tiradas
espirituosas, trocadilhos, canções, poesia, dança e a recitação de memórias de
seu passado. Elas encontram beleza até no inevitável envelhecimento da carne,
que a maioria de nós tem pavor de enfrentar”.
As Beales de Grey Gardens (The
Beales de Grey Gardens). EUA, 2006, 91 minutos. Documentário. Colorido/Preto-e-branco.
Dirigido por Albert Maysles e David Maysles. Distribuição: IMS
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