sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Resenha Especial



O inquilino

Um serial killer ataca mulheres loiras em Londres. Alvoraçadas, a polícia e a comunidade se mobilizam para caçar o perigoso assassino.

Terceiro filme de Alfred Hitchcock, o mestre máximo do suspense, em sua fase inglesa, e seu primeiro thriller (e também o primeiro em que ele faz a famosa aparição, de segundos). É um filmão de mistério, preto-e-branco e mudo, sobre um serial killer que ataca mulheres em Londres, apelidado pela mídia de “O Vingador”, e a investigação da polícia para prender o criminoso.
Neste exercício de iniciante, Hitchcock já incursiona pelas técnicas e temáticas que o consagrariam, principalmente na fase norte-americana a partir dos anos 40. Em “O inquilino”, também conhecido no Brasil como “O pensionista”, há elementos preciosos do seu suspense, como o cuidado cirúrgico com a montagem, recursos de câmera originais (como angulações inusitadas para realçar pontos de vista), humor jocoso, com possibilidades burlescas, extensas camadas psicológicas dos personagens centrais (dos bons e dos maus), um jogo mortal com pistas falsas, forte apelo às expressões faciais e gestuais dos atores e figuras femininas louras (uma fixação do diretor, e aqui, na trama, elas são chamadas de ‘cachinhos dourados’). Hitchcock aproveita para outros contornos no filme, como uma crítica à polícia da época, e possibilita efeitos originais curiosos, como os infográficos na abertura e nas passagens de cenas. Para o papel principal, o tal do inquilino do título, suspeito número um, contratou Ivor Novello, um artista galês de mil facetas, que trabalhou como ator, roteirista, dramaturgo, cantor e compositor. E deu certo, principalmente pela corpulência do astro, que se enquadrava bem na câmera.


O filme foi baseado no livro homônimo de Marie Belloc Londres, que por sua vez havia se inspirado no caso verídico de “Jack, o estripador”. Quatro décadas mais tarde Hitchcock voltaria com um filme semelhante de serial killer de mulheres, “Frenesi” (1972), seu penúltimo trabalho e um de meus favoritos dele.
A melhor cópia do filme disponível no Brasil é a da Versátil, lançada num box de disco duplo em homenagem ao diretor, chamado “A arte de Alfred Hitchcock”, com quatro títulos restaurados do cineasta na fase inglesa: este “O inquilino”, “O marido era o culpado” (1936), “Jovem e inocente” (1937) e “A estalagem maldita” (1939). Dois pontos fortes desta magnífica cópia são a boa restauração, realizada em 2012 pelo reputado British Film Institute, em que nela foi adicionada uma trilha sonora moderna do músico Nitin Sawhney, e a metragem estendida, de 90 minutos (a original tinha 68 minutos, editada na época pelo Conselho Britânico de Censura). Por todas essas questões é dever dos amantes da Sétima Arte assistir a este filme de início de carreira do mestre dos mestres do suspense mundial!

O inquilino (The lodger: A story of the London fog). Reino Unido, 1927, 90 minutos. Suspense. Preto-e-branco. Dirigido por Alfred Hitchcock. Distribuição: Versátil


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